Ter-lhe-ão agradado no jovem semina rista a magreza distinta, o ar reservado, o azul das olheiras, o perfil sherlockiano. O certo é que Felismina, recém-estreada a dar aulas às poucas crianças que então frequentavam a escola oficial, se sentiu de imediato atraída pelo rapaz três anos mais novo, sempre vestido de negro, com quem se cruzava por vezes na Rua Direita e no Rossio. Ambos falavam sibilantemente, como toda a gente em Viseu e arredores. E nesse ano de 1905, a Beira Alta era um microcosmo de pinheirais e granito, povoado de homens e bichos numa comunhão de espaço sem limites, tão distante da Cascais das realezas, do Terreiro do Paço dito opressor e das conspirações republicanas, como o céu dos catecúmenos das brasas de Satanás.
Veio a apurar que o rapaz se chamava António e que era de Santa Comba, freguesia do Vimieiro. Da família falou–lhe ele mesmo quando se tornaram mais íntimos — do pai, feitor das terras dos Perestrelos, da madrinha, castelã, da mãe, Maria do Resgate, que o dera à luz aos 44 anos e que nele investira todos os mimos que não dispensara às quatro irmãs mais velhas, da casa de pedra e taipa, das couves e
das galinhas.
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