O sol brilha e as temperaturas são amenas mas, à medida que o autocarro avança pelos Alpes, a cor dominante, a meio de março, ainda é o branco da neve. À chegada à aldeia de Pragelato, já perto do fim da tarde, o ambiente é o habitual em qualquer estância de inverno, com uma pequena multidão de esquiadores, acabada de regressar das pistas, a reunir-se nos bares, para um copo e dois dedos de conversa sobre as aventuras do dia é o chamado après ski, como se designa este animado período do dia. No Club Med de Pragelato, que nos serviria de base nesta incursão pelos Alpes italianos, há até música ao vivo e cadeiras de praia no exterior, para apanhar os últimos raios de sol.
Com o aproximar da primavera, a temperatura varia entre 5º e 10º durante o dia, o que é bastante agradável, quando comparado com os 20º negativos sentidos no pino do inverno.
Não é por isso de admirar que a reta final da temporada de esqui seja cada vez mais concorrida, em especial nesta região, conhecida por ser a zona com maior número de dias de sol de todos os Alpes. Acabados de chegar e vestidos, portanto, como habitualmente, é impossível ficar indiferente à animação que nos rodeia e aceitamos um copo de vinho quente. Mesmo antes de nos instalarmos ou sequer levantar o equipamento (esquis, botas e bastões) com que, nos dias seguintes, iríamos explorar a segunda maior área esquiável da Europa cerca de 400 quilómetros, sempre com esquis nos pés, entre território italiano e francês.
Manhã bem cedo e já equipados a rigor, apanhamos o teleférico para a montanha, com Yme, o professor de esqui que nos acompanhará durante os próximos dias. A primeira aula serve apenas para avaliar a experiência de cada um. O grupo reúne elementos de diversas nacionalidades (de israelitas a brasileiros) e, apesar de quase todos serem estreantes, cedo se percebe que existem diferentes níveis de aptidão entre os presentes.
Ao fim do dia, o grupo seria dividido em dois: uns ainda terão de aprender o básico, enquanto outros seguem com Yme para continuar a formação em pistas mais avançadas. “Em dois dias, vou conseguir que vocês consigam esquiar como deve ser”, promete o professor, que, no verão, trabalha também como certificador de instrutores de mergulho mas noutras paragens, claro.
No dia seguinte, seguimos de autocarro para Sestrieri, uma das principais estâncias da região, que, em 2006, recebeu uma das vilas olímpicas dos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim. Junto dos meios mecânicos, as filas são enormes, mas rapidamente escoadas montanha acima. As horas passam rapidamente, sempre sob um sol esplendoroso, enquanto aprendemos as diferentes técnicas de travar ou curvar. “Ok, agora, vão tentar descer com os esquis paralelos, para ganhar velocidade “, ordena Yme, antes da última lição do dia que, incrivelmente, terminaria sem uma única queda.
Ainda com algumas horas de sol pela frente, optámos por um passeio pela região, que não se abre apenas à prática de esqui.
A comuna de Pragelato foi uma das zonas alpinas que, entre o século XIV e XVIII, fez parte da república dos Escartons, uma federação semi-independente, também conhecida como dos “Homens Livres”, por nele se viver numa protodemocracia.
E nas aldeias circundantes são diversos os monumentos e museus relacionados com esse período. Conta ainda com três áreas protegidas que fazem as delícias dos amantes da natureza, os parque naturais de Orsiera Rocciavrè, Val Troncea e Gran Bosco di Salbertrand.
Também imperdível é o Forte de Fenestrelle, situado a mais de mil metros de altura, na vizinha comuna com o mesmo nome.
Construída no final do século XVII, a maior fortaleza dos Alpes ocupa uma área de 135 hectares, e servia para guardar o acesso a Turim através do vale de Chisone.
Na manhã seguinte, à hora marcada, voltamos ao encontro de Yme. Para hoje, está prometida uma surpresa, mas o dia começa, como sempre, com mais uma aula intensiva de esqui, que se prolonga até meio da tarde. Seguimos, depois, até um ponto mais alto, a meio de uma pista azul. “Estão preparados? Vamos. Não se preocupem, é azul, mas é como se fosse uma verde”, esclarece Yme. O grau de dificuldade das pistas é indicado por cores, do verde das muito fáceis ao preto das muito difíceis. Descemos ao longo de 5 quilómetros, até à aldeia de Borgata. “Não disse que vos ia pôr a esquiar? Já não precisam de mim para nada”, atira Yme, com um sorriso, enquanto aponta, de novo, para a telecadeira: “Querem descer outra vez?” Vamos a isso.
Pelos palácios de Turim
Após uns dias no sossego da neve da montanha, a chegada a uma grande cidade como Turim é quase um choque, que nos devolve, de forma abrupta, à realidade mas apenas por alguns momentos. A capital da região do Piemonte é uma cidade monumental, onde a história espreita a cada esquina e com uma vida social vibrante, merecedora de uma visita atenta e tão demorada quanto possível.
A primeira paragem é em Nichelino, uma pequena localidade nos arredores da cidade, para uma visita ao Palácio de Stupinigi, a residência de caça da família Sabóia. Projetado no século XVII por Filipe Juvarra, o mesmo autor do Palácio de Mafra, foi transformado numa residência real por ordem do duque Vítor Amadeu II. Alberga, desde 1919, o Museu do Mobiliário, reunindo inúmeras peças do espólio dos Sabóia, a dinastia que, durante mil anos, decidiu os destinos desta região, de Itália e de grande parte da Europa. O imóvel faz parte das Residências Reais de Torino e Piemonte, elevadas a Património da Humanidade pela UNESCO, em 1997.
O conjunto engloba 23 palácios, dos quais sete se situam em Turim. É o caso da recuperada Villa della Regina, recentemente aberta ao público e que, até ao século XIX, serviu de residência às duquesas, princesas e rainhas da casa de Sabóia. Situada numa colina fronteira à cidade, surpreende pela vista deslumbrante sobre Turim, com os Alpes em fundo.
Mas a joia da coroa do circuito é o Palácio Real, o centro e símbolo do poder dos Sabóia, que, com a sua imponente fachada setecentista, continua, ainda hoje, a marcar toda a atmosfera da cidade. Ampliado e aumentado ao longo dos séculos, o palácio é uma mescla de diversos estilos arquitetónicos, com os seus salões ricamente mobilados e ornamentados a revelarem o luxo da vida na corte.
Além dos aposentos, visitáveis, engloba, no seu interior e alas adjacentes, os diversos museus das chamadas Coleções Reais, como a Armaria Real, a Biblioteca Real (onde está exposto o famoso autorretrato de Leonardo da Vinci) ou o Museu Egípcio, um dos mais importante da Europa, dedicado ao antigo Egito, resultante das expedições financiadas pela família Sabóia.
Com o aproximar do fim da tarde, é agora tempo de ir conhecer outro património de Turim.
Foi aqui que, em 1786, o destilador Antonio Benedetto Carpano inventou o vermute e com ele o conceito de aperitivo, hoje uma verdadeira instituição da cidade. Todos os dias, entre as 18 e as 21 horas, os bares e cafés da cidade servem um sem fim de pequenos pratos e petiscos, a acompanhar as bebidas. Há-os para todos os gostos e bolsas, mas o melhor é experimentá-los num dos muitos cafés históricos da cidade, como o Mulasano, debaixo das arcadas da Piazza do Castello, onde o Rei Vítor Emanuel, primeiro monarca da Itália unificada, e o guerrilheiro Giuseppe Garibaldi beberam um vermute, acompanhado de uma torrada. Salute!
GUIA DO VIAJANTE
Pragelato/Via Lattea
FICAR E COMER
Club Med Pragelato Vialattea Resort familiar de luxo, no coração dos Alpes italianos, com três tipos de chalets familiares e ainda quartos duplos, triplos e quádruplos. Conta com três restaurantes (buffet, italiano e à carta), três bares, kids club, ski center, ginásio e piscina. Está aberto de 14 de dezembro a 15 de abril e nos meses de junho, julho e agosto. Via Rohbach Frazione Plan 10060 T. 21 330 96 96 www.clubmed.pt Tarifas a partir de €1340 para uma estadia de 8 dias/ 7 noites em regime “tudo incluído”, sem transporte
Turim
FICAR
Hotel Piemontese Via Berthollet, 21, Turim T. 00 39 011 6698101 www.hotelpiemontese.it Quartos a partir de €65
COMER
Locanda da Betty Via Bogino, 17/E, Turim T. 00 39 011 8170583 www.locandadabetty.it/
Taverna Dell Oca Via dei Mille, 24, Turim T. 00 39 011 837547
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