O Rio Ganges acordou tranquilo, com o sol a tentar romper por entre um gigantesco manto de nevoeiro.
Depois de 24h num comboio, percorrendo os 1150km que separam Amritsar de Varanasi, o quarto do Hostel está tão perto do paraíso.
Através do terraço, assistimos ao corrupio matinal. Um grupo de búfalos, completamente imundos, aproveita para fazer a higiene matinal no exato sítio onde as pessoas ainda se banham, fazendo as preces da manhã.
Varanasi pertence ao estado de Uttar Pradesh (UP), um dos estados mais populosos da Índia. O Estado de UP faz fronteira com o Nepal, e Varanasi é uma das principais portas de entrada por terra no Nepal.
Os viajantes que fomos conhecendo diziam-nos que o nível das águas do Ganges estava demasiado alto e os Ghats completamente inundados, afinal estamos no final da época das monções. Ainda assim, não conseguimos deixar de vir a uma das 7 sete cidades sagradas para os Hindus, ou talvez mesmo, a mais importante.
Varanasi vale por isso mesmo, pelo Ganges e pela espiritualidade. Enganem-se os que procuram tranquilidade nestas margens. Varanasi é uma das cidades mais caóticas da Índia, com milhares de pessoas, macacos, vacas, cães e todo tipo de animais passeando-se pelas ruas imundas.
Agora, com o Gulu e com a Inês, que se juntaram a nós, percorremos as estreitas ruelas desta cidade sagrada.
Entre cânticos e choros, um grupo de pessoas leva em ombros os seus mortos, em improvisadas padiolas de bambu. Estes, até na morte, vão vestidos com as cores mais garridas.
No Ghat sente-se o cheiro a carne queimada e as pilhas de lenha irrompem pelas ruas dentro. Junto ao Ganges, o fogo queima os corpos, cujas cinzas se misturam instantaneamente com as águas. Dizem-nos que este mesmo fogo eterno queima, purifica há milhares de anos, ininterruptamente…
Morrer e ser cremado no Ganges é, para os Hindus, a forma mais elevada de purificação. Por isso, são muitos os que querem passar à beira do Gangues os últimos dias da suas vidas, dando origem, nesta área, a um gigantesco complexo de casas que alberga Hindus vindos de todos os pontos da Índia. Se o comum dos mortais necessita da cremação, como purificação para entrar no Paraíso, as mulheres grávidas e crianças são puras. À sua morte, são embrulhadas em panos e lançadas ao rio…
Os barcos que todos os dias sobem e descem o Ganges, nesta zona de Varanasi, estão, por ordem policial, “completamente” parados. O Governo interditou os passeios de barco pelo Ganges. No dia anterior morreram 5 pessoas nestas águas agitadas, sinal da força incontrolável dos resquícios da monção.
O crepúsculo é irresistível e as águas do Ganges não são suficientemente fortes para estes destemidos portugueses.
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