Província de Yúnnán – Sem sombra de dúvida a mais atrativa como destino de viagens de toda a China. É geograficamente a mais variada, abrangendo desde florestas tropicais até aos cumes gelados do Tibete. É a sexta maior província da China com um terço de todas as suas minorias étnicas e possui um clima temperado durante todo o ano.
LÍJIANG – A norte de Dali, junto à fronteira com o Tibete, está situada num bonito vale e é a pátria da minoria étnica NAXI, descendente de nómadas tibetanos, onde as matriarcas ainda mantêm um controlo sobre os homens, em negociações flexíveis sobre o amor e os negócios. E foi a mais bela cidade que visitámos.
A Cidade Velha, a que importa, fica a leste de Shízi Shàn (a Colina do Lião) que a divide da cidade nova, (sem interesse) e está inscrita como património mundial da UNESCO desde 4 de Dezembro de 1997. Depois de um terramoto de grau 7 na escala de Richter, em Fevereiro de 1996 a ter destruído, matando cerca de 300 pessoas, o governo chinês empenhou-se na sua reconstrução, respeitando a tradicional arquitetura Naxi original e gastando milhões de yuans. As Nações Unidas, largamente impressionadas pela recuperação e salvação desta obra-prima de arquitetura, consideraram-na Património da Humanidade.
Atravessada por canais e pontes que ligam as casas às ruas estreitinhas e empedradas que formam um delicioso labirinto cheio de curvas, e de instáveis casas de madeira e pedra seca, algumas com telhados muito antigos de madeira, que em certos sítios quase se tocam e onde as mulheres se vestem com os seus trajes tradicionais de blusas azuis e calças cobertas por aventais azuis ou pretos e a capa em forma de “T”, cruzada à frente por fitas, que além de proteger as costas do peso dos cestos que carregam, simboliza o céu. Na cabeça usam um toucado enfeitado de flores simbólicas. Claro que as mais novas adaptaram-se aos jeans! A praça do Mercado é a maior e o local onde todos se juntam. O nosso hotel era um encanto de arquitetura tradicional. O Líjiang Jian Nan Chun, faz parte das atrações, assim como, à saída da cidade, o Parque do Lago do Dragão Negro e o Teatro de Concertos de música Naxi, executados por 20 ou 24 membros, onde a idade média ronda os 80 anos (!) (o primeiro idoso a entrar para o palco vinha acompanhado de uma jovem que o conduziu ao lugar. Era cego) e onde se pode escutar música dos templos Taoístas, perdida no resto da China, tocada em instrumentos originais que sobreviveram à Revolução Cultural por terem sido enterrados pelos seus proprietários. Uma das raras oportunidades de escutar música chinesa tal como deve ter sido ouvida na China clássica. O edifício por si só vale a visita!!! Uma relíquia!!! Como curiosidade menciono que esta Orquestra de Músicos já atuou pela Europa e Estados Unidas e até no Centro Cultural de Belém. E não podia deixar de falar da cozinha Naxi. Como a sanduíche naxi feita com queijo de cabra, tomate e ovo frito entre dois pedaços do local “baba”, um pão chato sem fermento. Mas o melhor foi mesmo no restaurante da Ma Ma Fu na beira de um canal onde comemos na esplanada, uma espécie de deliciosa empada recheada também com queijo de cabra e carne, tão boa que fomos lá duas vezes! Aliás aqui já muita coisa é feita a pensar no turista e encontrámos mesmo pizzarias. Porque aqui turistas ocidentais já há muitos!
Encantadores os arredores, como a pitoresca aldeia vizinha de Longquan, o Mosteiro de Yufeng, a aldeia de Baisha, a Montanha do Pico de Jade e a residência do representante do imperador, o palácio do Senhor Mu, no sul da cidade velha. Notável pela sua arquitetura, construído à semelhança da Cidade Proibida, encaixado na montanha que se eleva sobre a cidade, é muito bonito e está muito bem preservado.
E depois de uma estadia em que o nosso guia de pouco ou nada serviu e em que, felizmente, andámos à solta por nossa conta, para vaguear, bisbilhotar e descobrir à vontade esta encantadora cidade, seguimos por estrada para DALÍ.
Construída nas margens do Lago Erhai que domina os altos picos dos montes Cangshan, a cidade, conhecida pelos seus mármores, está situada na encruzilhada que liga o Yúnnan ao Tibet e ao Myanmar (Birmânia). Além de um passeio de barco à ilha de Jínsúo Dão no lago, visitámos o espantoso Templo de Chongsheng – Sántási – os Três Pagodes. Embora o Templo hoje já não exista, os Três Pagodes erguem-se perfilados em frente da montanha e são das construções mais antigas da China. O pagode maior, Qianxun, forma um quadrado de tijolos com 69,13m de altura e 16 renques e foi construído no período Feng Yu no ano 824 a.C. a 859 d.C. Os dois mais pequenos são octógonos ocos de tijolo com 42,19m de altura e 10 renques e foram construídos mais tarde no séc. XII d.C. Cidade muito simpática onde predomina a etnia Bai.
E voámos para KUNMING, capital do Yúnnan para uma curta visita que incluiu o Templo Budista Yuantongsi, fundado no séc. VII, um dos mais antigos da cidade, muito procurado por peregrinos. Tem cerca de 1000 anos e já foi renovado várias vezes. No meio tem um lago cruzado por caminhos e pontes onde habitam centenas de tartarugas, consideradas símbolo de longevidade e no centro deste fica o Pavilhão Octogonal. Visita ainda ao Templo do Ouro, Jín Diàn, taoista, que se ergue na colina chamada Phoenix Song, entre pinheiros e ciprestes, a um quilómetro de Kunming. Possui um elegante pavilhão de bronze, que outrora estava coberto de ouro. Hoje, os pilares, as paredes, o telhado, as ombreiras das portas, tudo é de cobre e está assente numa fundação de mármore. Tem um peso estimado de 300 toneladas e uma altura de seis metros. Pertence à dinastia Ming. E aqui comemos também o que deve ser o mais famoso prato de Kunming. “Guòqiáo Mixían” ou seja, “massas através da ponte”. Consiste numa tigela com caldo de frango (também pode ser de pato) a ferver onde flutua a gordura do mesmo. Em pratos separados servem-nos vegetais, gema de ovo, pedaços de frango, etc. e meadas de massa de arroz, tudo cru. Então colocamos rapidamente estes ingredientes na sopa onde são cozidos pelo calor do caldo a ferver. Este prato é baseado num conto tradicional. Como segue:
“Era uma vez um estudante que vivia no sul do Lago Méngzi (no sudeste do Yúnnan) e que se sentiu atraído pela paz e sossego duma ilha que havia aí. Instalou-se numa cabana da ilha preparando-se para os exames finais. A sua mulher, entretanto, tinha que atravessar uma longa ponte de madeira para lhe levar as refeições todos os dias. A comida chegava sempre fria no Inverno. Então uma noite ela fez uma descoberta. Depois de ter cozido um frango, que formou uma capa de gordura à superfície, verificou que no dia seguinte o caldo ainda se encontrava quente, uma vez que a gordura não deixava passar o vapor, mantendo o caldo quente. Subsequentes experiências mostraram-lhe que podia cozinhar os ingredientes para a refeição do marido no caldo quente, depois de atravessar a ponte. E assim o marido passou a ter comida quente…” ou nasceu a lenda das “Massas através da Ponte”. Lenda ou não é muito bom!
Daqui partimos de avião para Guilin, nas margens do Rio Li, na província de Guangxi e a visita ao país dos “Dongs”, com Sangjiang, Chenyang e Mapang, de que falarei na próxima crónica.