Não temos de nos preocupar. Mais uma vez, aquilo que procuramos encontra-nos e advinha os nossos planos. Há dezenas de oportunidades de ir de táxi até à cerimónia de Waga Border, perto de Lahore. Resta-nos aceitar a oferta que parece ser a mais acessível e próxima dos valores que nos foram aconselhados.
Na hora marcada, mal chegamos somos reencaminhados para a carrinha branca, onde para além de nós e do condutor ainda caberia uma família indiana com dois filhos e dois amigos que se sentam no banco da frente. Apertados, num calor tórrido arrancamos…
Os últimos kms de estrada até à fronteira revelam uma interminável fila dos famosos camiões TATA, estacionados na berma, aguardando que a fronteira abra. Da Índia levam muita fruta e legumes. Quando regressam vêm carregados de produtos químicos.
Na base da confiança, podemos deixar os pertencentes nas bancadas montadas à beira da estrada, mas avisados que estávamos os nossos ficaram no templo… Seguimos de garrafa de água na mão, passaporte no bolso e com os telemóveis sem rede.
Em pouco tempo a multidão adensa-se e podemos assistir à reação dos indianos que caminham e correm a passos largos, preocupados em conseguir o melhor lugar, uma posição que permita assistir a todo o espetáculo.
Nas longas filas de revista obrigatória abordam-nos em português, continuamos juntos até à bancada onde assistiremos ao cerimonial.
Em linhas muito breves a cerimónia – única no mundo – ocorre diariamente na única fronteira de estrada entre a Índia e o Paquistão e marca abertura dos portões, passando a circular os camiões que transportam as mercadorias para ambos os países. Mas no fundo é uma manifestação de orgulho e nacionalismo que marca cada uma das nações, outrora unidas, mas agora cada vez mais afastadas por conflitos culturais e profundas diferenças religiosas.
Mas a verdade é que as relações conturbadas entre a Índia e o Paquistão sofrem um período de tréguas, todos os fins de tarde.
Do lado indiano o programa começa com as tradicionais canções e danças “boolliwdescas”, onde jovens dançam e correm hasteando a bandeira indiana. Os gritos da multidão quase nos abafam quando entoam “Hindustão Zingabad”, como quem diz, “viva a Índia”.
Já no Paquistão reina a sobriedade, mulheres separada de homens, cobertas.
Duas mulheres dão início à cerimónia propriamente dita e dirigem-se marcham até ao portão. Os soldados são todos imponentes e elegantes marchando em passos ensaiados, repetidos diariamente por uma multidão que os aplaude euforicamente.
De regresso encontramos o motorista que nos trouxe e depois, já com todos os passageiros a bordo, arrancamos no calor do momento, arrastados por dezenas de outros veículos. O motorista faz duas ou três travagens brusca que nos deixam em alerta, mas já conversando com os nossos colegas de viagem abstraímo-nos até que o embate nos projecta uns contra os outros…segundos de impasse e confusão. Havíamos batido no carro da frente.
Acompanhem os nosso passos em:
http://trilhos.wordpress.com | www.facebook.com/osmeustrilhos