A Patagónia não se esgotou no Chile. Na Argentina, a região PATAGONIA inclui a província da Tierra del Fuego. No dia em que começamos a pedalar, está um dia perfeito nesta ilha encantada: sente-se mais o sol do que o vento e isso e ótimo para a nossa moral. A ilha surpreende pelo verde e pelo relevo, ligeiramente acidentado, que quebra a monotonia dos largos horizontes.
Apenas tínhamos previsto 100kms, mas Onaissin não era mais do que uma estância muito solitária, e por isso fomos obrigados a seguir para Cameron, onde chegamos esgotados por mais um longo dia. Daqui para o Lago Blanco, a chuva não dá tréguas Uma casa abandonada serve-nos de refúgio para trocar de roupa, beber algo quente e ficar por um bocado. Ao aproximarmo-nos do Lago Blanco, famoso pela pesca de truta, entramos num fabuloso bosque de “lengas”, um ecossistema único no coração da Tierra del Fuego. Avistamos a Hosteria e so de olhar da para perceber a exclusividade deste local. Agora temos dinheiro, mas não é suficiente… Desesperamos, dialogamos, e equacionamos as variáveis “No pasa nada“, o proprietário ajusta o preço à nossa medida. Mas dele também recebemos a notícia de que o Paso da Bela Vista, a fronteira para a Argentina, esta intransitável Isto significava recuar no mínimo dois dias. Impossível. Mais uma vez “no pasa nada“. Não sabemos se será da latitude, da sorte ou da coincidência, mas o Sr. Alfonso tem de se deslocar para lá amanhã, e temos boleia garantida. Cada vez nos encanta mais a expressão “Que les vaya bien“. Vamos ter saudades deste país que não é o nosso.
No vigésimo dia da nossa viagem, já em solo argentino, de Rio Grande para Tolhuin, escolhemos sair do conforto do alcatrão outra vez e seguir pelo rípio ate ao nosso destino, bem no interior desta ilha. Em Tolhuin, na padaria “La Union”, local de encontro de ciclistas de todo o mundo, somos convidados a entrar e a ficar.
Eis-nos no último dia, rumo a Ushuaia e ao fim do mundo. O que pensávamos vir a ser um dia mais fácil, revelou-se, como sempre aqui na Patagónia, mais um duro dia em cima do selim. Alcançamos, por fim, Ushuaia, a cidade mais austral do mundo. Tudo o que passámos, tudo o que sofremos, mas também tudo com que nos deliciámos, não é condensável num parágrafo. É preciso conhecer para opinar; é preciso visitar para assim não olvidar; É PRECISO PEDALAR PARA VIAJAR!
EPÍLOGO: Se fecharmos os olhos e imaginarmos um lugar, voltamos à Patagónia. Continuaremos a viajar porque precisamos; porque a bicicleta torna todas as viagens possíveis; torna-nos mais humanos, e o mundo não fica mais pequeno; fica, sim, mais real.
A nossa principal motivação, desde o primeiro dia, foi saber que o valor ambicionado para doar à ONV foi plenamente alcançado no dia em que começámos a pedalar… Assim, nenhum quilómetro foi em vão.