Berbéres, sedentários ou nómadas, manifestaram, desde a sua origem, um enorme gosto pelo “excesso”. Um aparato belo, cheio de cor, exuberante e quente, e muito enigmático, traduzido nas roupas e nos acessórios usados. São as suas vestes que, afinal, atestam a sua identidade, os seus códigos de vida, a sua condição social.
Os imazighen ou berbéres são os habitantes da África do Norte e a sua cultura é antiga, originária da longínqua proto-história marroquina. Por isso, que outro país podia pensar em erguer-lhes um museu? Naturalmente, Marrocos, a terra onde os contrastes sentidos na terra são suavemente diluídos pela imensidão do céu e pelas areias do Sahara. Pierre Bergé, o presidente da Fundação que leva o seu nome e o do seu ex-amante Yves Saint-Laurent, ambos responsáveis pela preservação do Jardin Majorelle, em Marrakech, onde, aliás, viveram por longas temporadas, é o impulsionador desta obra. O seu fascínio e admiração pela cultura e arte berbéres, ajudaram-nos a querer partilhar com o público todos os artefactos e obras de arte que, ao longo dos anos, também ele foi colecionando.
Assim, pela primeira vez em Marrocos, um museu apresenta exclusivamente uma coleção de objetos berbéres, provenientes de diferentes regiões marroquinas; de Rif até ao Sahara, A equipa científica que acompanhou a conceção deste espaço é composta por gente daquela terra: Salima Naji, arquiteto e doutor em antropologia em Rabat, Romain Simenel, etnólogo e investigador do Institut de Recherche et de Développement (Rabat); e por Ahmed Skounti, antropólogo do Institut National des Scienses de L’Archéologie et du Patromoine (Rabat). A renovação do museu (no seu lugar funcionava o antigo Museu de Arte Islâmica), bem como a decoração esteve a cargo de Christophe Martin, arquiteto francês, que concebeu a apresentação da mostra Yves Saint-Laurent et le Maroc (que decorreu no Jardin Majorelle até março deste ano, tendo depois sido levada para Casablanca).
Um oásis marroquino
No coração do Jardin Majorelle, encontram-se agora expostos mais de 600 objetos, bem como mapas e textos explicativos da cultura berbére, fotografias, filmes e outros documentos audiovisuais que ajudam os visitantes a melhor perceberem a história deste povo.
São quatro as salas temáticas do museu: a primeira dedica-se à “Introdução ao mundo berbére “; na segunda, o tema é o “savoir faire” onde estão expostos os objetos domésticos do quotidiano ou de festa, como os usados nos rituais, onde a decoração geométrica é predominante; na terceira, dá-se a conhecer um panorama exaustivo sobre as joias e as bijutarias berbéres de Marrocos; na quarta e última sala, mostram-se os fatos, as armas, os tapetes e os instrumentos musicais.
Neste este oásis marroquino que é o Jardin Majorelle, encantado e mistico, e onde as cinzas de Yves Saint-Laurent foram depositadas, o tempo é quase sempre de festa. Assim o quis, o criador de moda; assim o quer Pierre Bergé; assim o mantêm os manequins dos homens e das mulheres berbéres expostos que nos oferecem uma calorosa e exuberante variedade de silhuetas. A cor do Norte de África está ali bem representada.
Musée Berbère
Jardin Majorelle, Rue Yves Saint-Laurent, Avenue Yacoub El Mansour, Guéliz, Marrakech.
Horário de inverno: das 8 às 17 e 30 Horário de verão: das 8 às 18 horas
Horário dos meses de Ramadão: das 9 às 17 horas