O aleatório e o fortuito fascinam-me. Não gosto de dados adquiridos nem de previsibilidade. É com este espírito que parto para a minha viagem pela Tailândia, Laos, Camboja e Vietname (pelo menos é esse o plano).
Sendo português, estou habituado à burocracia exacerbada, que desconfio ser um resquício da permanência dos árabes em Portugal, que chegou a durar 6 séculos no Algarve (ou Allgarve, para quem fala inglês). O nosso sistema burocrático preocupou-se de tal maneira em não ter lacunas, que se tornou um pandemónio. Ninguém estranha as intermináveis filas para se tirar senha para ir para outra fila, para depois se ser mandado para outra fila, não evitando, no caminho, ir para outra fila para tirar senha para ir para a fila que se espera ser a última mas onde, afinal, nos aconselham a ir almoçar porque ainda está muita gente à nossa frente.
Desconfio que vou perder alguma coisa (perco sempre) e que vou ter problemas com os documentos. Não me assusta. Já tenho alguma experiência com problemas burocráticos, que atingiram o seu auge quando fui expulso da Eslováquia por uma guarda, cuja parede do posto tinha mais pegadas do que o passeio da fama de Hollywood.
Encanta-me o desconhecido e o subdesenvolvido. São sinais de que os países se mantêm fiéis às suas raízes, alheados do turismo intrusivo e colonizador que vai roubando a identidade aos países, ocidentalizando-os. Não deixa de ser paradoxal que se viaje para um país – pretensamente para o conhecer – mas que se procure encontrar semelhanças com o país de origem que, a existirem, são quase todas forçadas e descaracterizam o mundo, homogeneizando-o cada vez mais.
Quero conhecer as gentes, as comidas e a cultura em geral. Prefiro comer um gafanhoto a comer um Big Mac. Espero ter aflições causadas pela falta de comunicação. Se isso implicar perder-me, seja. Não há melhor maneira de se conhecer verdadeiramente um sítio do que pôr de parte o mapa e partir para o desconhecido.
Parte da viagem vou fazer sozinho e outra acompanhado. Solidão rima com introspeção e numa viagem também se quer espaço para pensar, para absorver o que vamos vendo e para nos refugiarmos quando não estamos de bom humor. Tenciono escrever muito, para aproveitar a introspeção ao máximo e para poder partilhar ao máximo o que vou vivenciar.
Sócrates (o grego, não o engenheiro), bem avançado no seu tempo, disse: “não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do Mundo”. Li esta frase no metro durante muitos anos, bem antes do bichinho das viagens me contagiar. Eu considero-me português, acima de tudo, e gosto muito do meu país. Mas quero conhecer o Mundo…