Às vezes torna-se inevitável não constatar que Portugal é, um bocado, um país de Chico-Espertos. Simplesmente gostamos demasiado daqueles que fintam as suas obrigações – do empresário que foge aos impostos, do prestador de serviços que não cobra fatura ou apenas daquele colega de escola que se safava sempre nos testes, mesmo sem estudar.

Não admira que estejamos, tão complacentemente, a aceitar ser governados por um. Porque essa é a maior qualidade do nosso primeiro-ministro, é um verdadeiro Chico-Esperto, ora vejamos: arranjou um esquema para faturar milhares, com um escritório de advogados, entre a câmara de Espinho do seu Partido e outras empresas locais com interesses conflituosos; arranjou um esquema para manter na família uma empresa com avenças de mais uns milhares que cresceram quando se tornou Presidente do PSD e, acima de tudo isto, para não ter de explicar os seus esquemas, arranjou um esquema para fugir de uma Comissão Parlamentar e mergulhar o País em eleições.

E o mais impressionante é que o Chico-Esperto mor continua a ser avaliado positivamente em índices como honestidade e seriedade. É mesmo sinal que Portugal gosta de Chico-Espertos. Mas a novidade nisto é nenhuma.

Vejamos o, também, impressionante caso de Isaltino Morais, por comparação. Isaltino é investigado por crimes de corrupção. Depois de julgado e preso, recandidata-se à Câmara Municipal de Oeiras e ganha com maioria absoluta. Passados uns anos, Isaltino depara-se com o esotérico caso das faturas em almoços de trabalho – centenas de milhares de euros, vereadores com três a quatro almoços num dia, refeições regadas a vinho Pêra Manca pago pelos contribuintes e preços escandalosos por refeição.

O que faz um Chico-Esperto com um caso destes? Assume-o. Isaltino tornou um defeito na sua maior qualidade e abriu um novo capítulo nos manuais de gestão de crises políticas. Não só reconheceu o caso como aproveitou o embalo para se tornar num dos maiores influencers da gastronomia portuguesa da atualidade. Foi esperto, aumentou a parada e ganhou. E, no fundo, é isso que Montenegro está a tentar fazer.

O hino de campanha da AD “Deixa o Luís trabalhar” é um apelo àquele Portugal bazaruco que adora Chico-Espertos porque, no fundo, quer ser um – quer dobrar o sistema, subverter as regras, para poder ganhar com isso. É uma assunção de culpa e uma relativização da gravidade. Tem o duplo sentido de apelar à continuidade do governo perante a “injustiça” do escrutínio democrático e de reconhecer que Montenegro tem todo o direito a ganhar dinheiro com o seu “trabalho”, seja de que forma for e haja ou não incompatibilidades éticas com a função de primeiro-ministro.

Para quem gosta de Chico-Espertos e pensa em votar num, tenho também a relembrar uma qualidade detestável dos Chicos-Espertos – São todos um bocado Calimeros. E ninguém gosta de Calimeros.

Passam a vida a queixar-se, não fazem nada, a culpa é sempre dos outros e nunca deles próprios. Podem ser divertidos de ver na televisão. Mas, talvez, no Governo de Portugal, perante o risco de uma nova crise com o crash das bolsas por causa das tarifas de Trump e a instabilidade geopolítica que se centra na Guerra da Ucrânia, talvez precisemos de um primeiro-ministro que faz e não um Calimero, ainda para mais Chico-Esperto.

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“Mahmoud Ajjour, Aged Nine”, da fotógrafa do The New York Times, Samar Abu Elouf, foi a imagem do ano eleita pelo júri do World Press Photo. A fotografia – vencedora da categoria Singles pela Ásia Central e Ocidental – ilustra Mahmoud, um rapaz de Gaza, com nove anos, que vive no mesmo complexo de apartamentos que a fotógrafa, em Doha, e que ficou gravemente ferido enquanto fugia de um ataque israelita a Gaza, em março de 2024. Após perder os braços numa explosão, a família de Mahmoud foi evacuada para o Qatar onde viviam quando a fotografia foi tirada. “Esta é uma fotografia discreta que fala alto. Conta a história de um rapaz, mas também de uma guerra mais alargada que terá impacto durante gerações. Olhando para o nosso arquivo, no 70º ano da World Press Photo, vejo-me confrontado com demasiadas imagens como esta”, referiu Joumana El Zein Khoury, Diretor executivo World Press Photo.

A fotógrafa, Samar Abu Elouf, foi evacuada de Gaza em dezembro de 2023 e tem-se dedicado a documentar as pessoas de Gaze que ficaram gravemente feridas e que, tal como Mahmoud, conseguiram sair da região para receber tratamento. “Continuo infinitamente grato aos fotógrafos que, apesar dos riscos pessoais e dos custos emocionais, registam estas histórias para nos dar a todos a oportunidade de compreender, sentir empatia e sermos inspirados a agir”, acrescentou Joumana El Zein Khoury, num comunicado.

Para além da vencedora, foram também escolhidas duas finalistas, “Night Crossing”, do norte-americano John Moore – vencedora na categoria Singles, pela América do Norte e Central – e “Droughts in the Amazon”, do mexicano Musuk Nolte, vencedora pela América do Sul, na categoria de Stories. 

As fotografias premias, bem como os vencedores regionais, serão expostas a milhões de pessoas através da exposição itinerante anual do World Press Photo, prevista em mais de 60 locais em todo o mundo. Entre os vencedores regionais da Europa desta edição, na categoria de Stories, está uma imagem portuguesa. Maria, um projeto fotográfico de Maria Abranches, que ilustra a vida de Ana Maria Jeremias, uma trabalhadora doméstica em Portugal, que foi traficada de Angola para Portugal aos nove anos, sob falsas promessas de educação.

“Quando o júri global começou a selecionar os diferentes candidatos a Foto do Ano, começámos com uma vasta seleção de cada uma das seis regiões. Desse conjunto emergiram três tópicos que definem a edição de 2025 do World Press Photo: conflito, migração e alterações climáticas. Outra forma de os ver é como histórias de resiliência, família e comunidade”, Lucy Conticello, Presidente do júri.

A diminuição da jornada laboral ressurge neste momento em Portugal pela mão do Partido Socialista com a apresentação de um dos seus compromissos eleitorais: a redução da jornada laboral semanal no setor privado para 37 horas e meia. Importa contextualizar para se perceber que importância pode ter esta medida para os trabalhadores e para a economia. 

Em 1996, o governo socialista liderado por António Guterres deu um passo importante neste âmbito ao fixar o limite máximo de 40 horas semanais de trabalho. A transição foi feita em duas fases: em 1997, passou-se das 44 para as 42 horas, e no ano seguinte, atingiu-se o objetivo das 40 horas. Na altura, também se levantaram receios: diziam que as empresas sofreriam com os custos, que a produtividade cairia e que o desemprego aumentaria. Nenhum desses cenários se concretizou.

No início deste século a França introduziu o limite de 35 horas semanais de jornada de trabalho. Hoje, duas décadas depois, o debate volta à agenda política com novos dados e novas experiências. O governo espanhol anunciou recentemente a redução da jornada para 37,5 horas semanais. Em Portugal, a Administração Pública já pratica, em quase todas as suas carreiras, as 35 horas semanais, sem prejuízo da produtividade e com ganhos reais na qualidade de vida dos trabalhadores.

Ao longo das últimas décadas, a produtividade aumentou substancialmente graças à tecnologia, à automação e à reorganização do trabalho. No entanto, esses avanços não se refletiram proporcionalmente na vida dos trabalhadores — nem nas suas remunerações, nem na sua disponibilidade de tempo. Mantemo-nos presos a um modelo de 40 horas, que ignora as transformações profundas do mundo laboral e os conhecimentos atuais sobre saúde física e mental.

Reduzir a jornada de trabalho é, acima de tudo, devolver tempo às pessoas: tempo para estar com a família, cuidar da saúde, descansar, estudar, participar na vida cívica. Tempo para viver com dignidade. Experiências realizadas em diversos países mostram que jornadas mais curtas aumentam a satisfação, reduzem os níveis de stress e promovem a saúde mental. Trabalhadores mais felizes são também mais criativos, mais comprometidos e menos vulneráveis ao esgotamento. Esta mudança não beneficia apenas os trabalhadores — beneficia também as empresas e a economia. 

Como é que as empresas se vão adaptar? Nas empresas de laboração contínua, a única coisa que é necessário fazer é ajustar os turnos à nova condição em que cada trabalhador terá mais um dia de folga. Nas restantes empresas bastará ajustar o horário de serviço em meia hora. Os ganhos associados a trabalhadores mais saudáveis – porque estão mais descansados – levam as organizações a obter ganhos de produtividade que compensam os custos iniciais.

Acresce a evidência que os mercados de trabalho mais próximos de Portugal, Espanha e França, não só remuneram melhor os seus trabalhadores como têm jornadas de trabalho mais curtas. Ganham mais, trabalhando menos.  Neste contexto, a proposta de redução para 37,5 horas semanais — ou seja, apenas meia hora a menos por dia — não representa qualquer ameaça à economia. Pelo contrário: representa um avanço civilizacional, um sinal de maturidade social e uma vitória para os trabalhadores.

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Quando nasceu, em 1979, o Centro de Estudos Judiciários (CEJ) constituiu-se como o estabelecimento incumbido de assegurar a formação inicial e contínua de juízes e magistrados do Ministério Público. Até hoje o CEJ assume o papel cimeiro na formação e preparação de magistrados, mas também no seu recrutamento mediante organização dos respetivos concursos de acesso. O seu nascimento surge num contexto de forte ebulição social e política em que muita da estrutura do Estado, desenhada no pós 25 de abril, começa a dar os seus primeiros passos. A própria filosofia em torno daquilo que deveria ser o papel do juiz era ainda objeto de discussão e debate. Nas palavras de Laborinho Lúcio, aquando do 25º aniversário do CEJ, “aos tempos empobrecedores nos quais a magistratura proclamava a sua independência ao espelho da lei e a partir de uma leitura formalista dos textos, acolhendo-se à sombra da máxima de Montesquieu de que ‘o juiz é a boca que pronuncia as palavras da lei’, sucederam-se outros, nos quais, sem quebra do respeito devido ao princípio fundamental do primado da lei, novas exigências de justiça, de eficácia, de exercício democrático do poder soberano próprio dos tribunais e de procura de uma mais próxima conformação da lei à realidade, vieram projetar-se na questão, agora também nova, da formação do magistrado”.

Sem prejuízo da sua ligação direta, desde a fundação, à tutela do Ministério da Justiça, mesmo em desalinho com recomendações do Conselho da Europa que apontavam no sentido da existência de uma autoridade competente em matéria de seleção e de carreiras dos juízes que fosse independente do governo e da administração (Recomendação nº R (94) 12), o que não é isento de crítica, o CEJ foi progressivamente consolidando o seu papel, formando múltiplas gerações de magistrados até aos dias de hoje.

Oriundos de vários pontos do País, durante décadas, os auditores de justiça fixavam-se em Lisboa, espalhando-se, em regra, por casas arrendadas pelos diversos senhorios da Graça até Alfama, constituindo o CEJ o culminar da superação de exigentes provas, mediante rigorosa avaliação por júris de composição plural com prestigiados representantes de várias áreas do saber jurídico.

O crivo apertado e a exigência avaliativa constituíam, então como hoje, garantias incontornáveis de capacidade técnica e humana e de legitimidade académica, científica e constitucional a cada curso de magistrados que se formava.

A bolsa paga aos auditores de justiça, ao longo dos tempos, permitia assegurar o básico: pagar a alimentação, a renda da casa, alguns livros de apoio ao estudo, os bilhetes do comboio ou do autocarro para o regresso às terras de origem aos fins de semana. Asseguradas as despesas da estadia em Lisboa, não permitia comprar viatura própria, não permitia comprar ou arrendar casa na cidade natal. Não permitia sustentar um filho ou pagar um infantário. Só o básico, mas ao menos o básico, estava assegurado.

Ainda assim, publicidade não era necessária. Recuando um pouco, em 2007, por exemplo, 2065 candidatos apresentaram-se ao CEJ para 50 vagas disponíveis para a Magistratura Judicial e outras tantas para a Magistratura do Ministério Público. Os melhores alunos das faculdades, sem prejuízo de outras saídas, equacionavam quase sempre as magistraturas como um percurso possível a abraçar.

Com o passar dos anos, tem-se assistido a uma quebra do número de candidatos e, como tal, objetivamente, a uma perda de interesse em considerar a Magistratura como uma opção. Algumas causas são patentes e impossíveis de ignorar. Com efeito, sabendo-se da exigência imposta no acesso ao CEJ, a verdade é que, ao longo de décadas esse fator não dissuadiu milhares de candidatos de se apresentarem às provas, mesmo sabendo que a probabilidade de entrada, face ao número de vagas, era necessariamente baixa. E na verdade, a nosso ver, essa não é a questão fulcral que explica a quebra acentuada no número de candidatos que se verificou na última década. Com o passar dos anos, começaram a surgir para os jovens licenciados melhores oportunidades no setor privado, designadamente em sociedades ou multinacionais, com oportunidades profissionais que lhes permitem contacto com outras realidades, designadamente a nível internacional, bem como melhores e mais rápidas hipóteses de progressão. Do mesmo modo, aqueles que equacionam as várias possibilidades de carreira após a Universidade têm conhecimento que as magistraturas enfrentam pesadas cargas de trabalho, aliadas a uma crescente pressão estatística e a números relevantes em termos de risco de burnout, ao que não é alheia também a progressiva redução do número de juízes e a inexistência efetiva de assessorias ao nível da primeira e segunda instâncias.

Por outro lado, apesar do prestígio ainda associado às funções de soberania em geral, a verdade é que as remunerações, numa carreira de absoluta exclusividade profissional, não são apelativas tendo em conta as exigências e responsabilidades das funções, sobretudo para jovens talentos e com perspetivas de poderem singrar noutras profissões e noutras latitudes. Estes preferem, cada vez mais, percursos profissionais mais flexíveis, com progressões mais rápidas e compensadoras, sendo que a perceção da desvalorização do papel dos magistrados e das tensões associadas ao exercício da sua função também constituem fatores de dissuasão a ter em conta.

Urge por isso que se repense com cuidado a carreira das magistraturas, sendo que esta questão deve ser vista com seriedade e sem a habitual tendência para a sua redução a uma mera reivindicação socioprofissional. Trata-se, na verdade, de uma questão de Estado e de como esse mesmo Estado pretende fazer valer a Constituição e de como pretende assegurar que os seus cidadãos façam valer os seus direitos. E a questão é simples: se, efetivamente, se quiser pugnar por um melhor serviço, o sistema deve estar preparado para atrair os melhores e não se deixar colapsar pelos insistentes défices de recrutamento face ao número previsível de jubilações.

Terminou na semana que passou o prazo para apresentação de candidaturas ao mais recente concurso de acesso ao CEJ. Assistiu-se, desta vez, a um ligeiro aumento, sendo cerca de 1000 os candidatos ao 42º Concurso de Ingresso em Curso de Formação de Magistrados para os Tribunais Judiciais e ao 12º Concurso de Ingresso em Curso de Formação de Magistrados para os Tribunais Administrativos e Fiscais, com preponderância para o 42º Curso, com cerca de 800 candidatos. Melhor estudo sobre a caracterização e proveniência destas candidaturas será feito a seu tempo, porém, ao aumento verificado poderá estar associada, além do mais, a abertura do novo polo do CEJ em Vila do Conde, que permitirá que os auditores de justiça residentes na zona norte do país vejam mitigado o problema do valor das rendas a pagar, sobretudo se não tiverem necessidade de mudar de residência. Todavia, o valor da bolsa do Auditor de Justiça continua a não lhe permitir pagar uma renda em Lisboa ou no Porto, continuando a constituir um entrave para muitos candidatos que não têm possibilidades financeiras ou que, optando pelas magistraturas, dependam do valor da bolsa como única fonte de rendimento. E este problema não se cinge ao início de carreira, atravessando uma estagnação persistente que, na perspetiva de atração de novos valores para a magistratura, não constitui o melhor dos cartões de visita.

Do mesmo modo, o novo polo do CEJ não se encontra ainda plenamente alocado a instalações definitivas, sendo muito importante que se empreendam as necessárias medidas para que a formação que ali vai ser ministrada tenha, sem experimentalismos, a mesma qualidade, os mesmos meios e as mesmas soluções que a ministrada no Limoeiro.

Os tempos e as mentalidades mudaram rapidamente nas últimas décadas, mas não mudou o que queremos enquanto país. Se o nosso desejo coletivo é prosseguir como uma sociedade democrática, progressista e bem firmada na salvaguarda dos direitos constitucionais dos cidadãos, impõe-se uma adaptação rápida à nova realidade e que a tão falada atratividade da carreira das magistraturas não seja politicamente relativizada e olhada como algo de somenos. Trata-se de conseguir os melhores para os colocar ao serviço do Povo e de os manter ao longo de uma carreira de dedicação exclusiva a um pilar essencial da soberania nacional, o poder judicial. Trata-se, em suma, de dar à comunidade aquilo a que ela tem direito, e que o Estado, sem tentações populistas, tem o dever de providenciar.

Voltando às palavras de Laborinho Lúcio: “Ao cidadão deixado Kafkianamente à entrada da lei, sucede o cidadão moderno reclamando o conhecimento daquela, e o seu direito à interioridade, ou à participação ativa no interior dos sistemas que visam, afinal, servi-lo”.

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A Deezer, um serviço alternativo ao Spotify, anunciou que são carregadas todos os dias 20 mil músicas completamente geradas por Inteligência Artificial para a plataforma. Este volume representa 18% do total de músicas carregadas, ou seja, praticamente uma em cada cinco novas músicas são criadas por IA.

A plataforma de música tem métodos para artistas independentes poderem publicar os seus trabalhos sem terem uma editora por trás. Esta opção alivia os requisitos e está a ser aproveitada para permitir o upload de músicas feitas sem intervenção humana, explica o Engadget.

No início do ano, a Deezer estreou uma ferramenta para detetar e classificar os conteúdos gerados por Inteligência Artificial. Em janeiro, constatou-se que a música gerada por IA constituía apenas 10% de todos os carregamentos. O aumento de volume agora levanta o tom da discussão sobre se músicas feitas por algoritmos devem ser permitidas na plataforma.

Recorde-se que as editoras Suno e Udio, especializadas em música gerada por IA, foram processadas por violação de direitos de autor em 2024 e já vários músicos falaram sobre os seus trabalhos estarem a ser usados de forma não autorizada para treinar modelos de IA.

Também a Spotify enfrenta a ‘praga’ da invasão de trabalhos feitos por IA, mas a gigante não parece querer hostilizar para já: “se os criadores estão a usar estas tecnologias – onde estão a criar música de forma legal e pela qual pagamos e as pessoas ouvem – e são bem sucedidas, devemos deixar as pessoas ouvir” afirmou o co-presidente Gustav Söderström num podcast em novembro.

Os utilizadores da Xbox que têm o serviço Game Pass Ultimate vão poder tirar partido mais rápido dos jogos que já tenham comprado. A Microsoft anunciou uma funcionalidade que permite aos utilizadores jogar os seus jogos em streaming, sem terem de descarregar um pesado ficheiro e ocupar espaço em disco para o guardar.

Entre os mais de cem jogos que podem ser desfrutados em streaming, estão títulos populares como Assassin’s Creed ShadowsAnimal WellBaldur’s Gate 3 e Hogwarts Legacy.

Os jogos que podem ser jogados em streaming aparecem na biblioteca com um ícone de uma nuvem e podem ser filtrados na pesquisa. A aplicação da Loja mostra também o ícone, permitindo jogar diretamente assim que a compra é efetuada.

O Engadget lembra que esta hipótese já estava ao alcance dos jogadores, mas em dispositivos que não as consolas Xbox, surgindo em equipamentos como televisores inteligentes, Amazon Fire TV ou Meta Quest VR e em aparelhos com navegadores, como computadores, tablets e smartphones. Os testes para a funcionalidade chegar à Xbox arrancaram em dezembro.

Outra novidade neste domínio é que os jogos compatíveis da Xbox e da Xbox 360 também vão poder ser jogados em streaming nos aparelhos suportados, o que irá alargar significativamente o catálogo de jogos disponíveis.

De acordo com um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, a imposição repetida de taxas dos Estados Unidos aos produtos chineses tornou-se “um jogo de números” sem “qualquer significado económico prático” que o país vai “ignorar”. A Casa Branca anunciou tarifas sobre Pequim até 245%, em alguns produtos.

O Governo chinês acusa ainda Washington de táticas de “intimidação e coerção” ao instrumentalizar a aplicação de tarifas. “Não há vencedores numa guerra tarifária ou comercial. A China não quer travar esta guerra, mas também não tem medo dela”, referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiro.

O país asiático já anunciou que “vai ripostar resolutamente” e avisou que, se Washington quiser negociar, deve “parar de usar ameaças e chantagem”.

A guerra comercial entre Pequim e os Estados Unidos intensificou-se na última semana, após Donald Trump anunciar uma pausa de 90 dias nas “tarifas recíprocas” para o resto do mundo, excluindo a China. Desde então que as tarifas têm vindo a ser aumentadas, por ambos os lados, enquanto medidas de retaliação. 

Os endereços do motor de busca Google específicos por país, e que usam os domínios de topo das diferentes nações, como google.pt (para Portugal) ou o google.co.jp (para o Japão), vão deixar de ser mostrados aos utilizadores e vão passar a redirecionar para o domínio principal do serviço, o google.com.

A tecnológica revela que vai deixar de usar os domínios de topo para cada país nas pesquisas e passar a disponibilizar todos os serviços de pesquisa no google.com, mas com a garantia de que os resultados localizados continuam a ser mostrados.

A estratégia de usar informação de localização para fornecer resultados baseados na geografia começou em 2017. Nessa altura, em qualquer pesquisa que fosse feita num endereço de país ou no google.com o utilizador veria sempre a versão dos resultados para o local onde estava localizado. Com o fim da utilização dos domínios de topo, a Google parece chegar a uma conclusão neste processo, noticia o Engadget.

Em comunicado, a gigante explica que “é importante realçar que embora esta atualização vá mudar o que os utilizadores veem na barra de endereços do navegador, não irá afetar a forma como a Pesquisa funciona, nem vai mudar a forma como lidamos com as obrigações a que estamos sujeitos pelas legislações nacionais”.

Já era considerado há muito dos mais prestigiados escritores de língua portuguesa da atualidade e, na semana passada, tornou-se o primeiro a vencer o Prémio PEN/Nabokov de Literatura Internacional. Mais um galardão e um degrau numa carreira que muitos acreditam poderá acabar por levar o romancista moçambicano ao Nobel da Literatura. Esta mais recente distinção surge poucos meses depois de, em 2024, ter ganho o Prémio da Feira Internacional do Livro (FIL) de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara, México, mais um de uma longa lista de outros galardões que preenchem a sua carreira, dos quais se devem destacar o Prémio Eduardo Lourenço (2012), Prémio Camões (2013) ou o Neustadt International Prize for Literature (2014), considerado por muitos o “nobel norte-americano”.

“Posição singular”

Para o júri do PEN America, o trabalho de Mia Couto é um testemunho da dramática história da sua pátria, “bem como dos enigmas da identidade e da existência”, e merece a distinção “pelo conjunto da sua obra”, lembrando que o escritor moçambicano “é admirado por romances como Terra Sonâmbula (1992) e, mais recentemente, a trilogia As Areias do Imperador (2015, 2016 e 2018), selecionada para o Prémio Booker Internacional” e, como tal, ocupa “uma posição singular no panorama das literaturas africana e mundial”.

O Prémio PEN/Nabokov de Literatura Internacional, no valor de 50 mil dólares (cerca de 45 mil euros), é concedido anualmente pelo PEN America, em colaboração com a Fundação Literária Vladimir Nabokov, a um autor vivo cujo corpo de trabalho, escrito ou traduzido para inglês, representa o mais alto nível de realização em ficção, não ficção, poesia e/ou drama, segundo informação do “site” oficial do galardão. O prémio celebra autores cuja obra demonstra “originalidade duradoura e artesanato consumado”, evocando a versatilidade e o compromisso com a literatura, características da escrita de Vladimir Nabokov, acrescenta. Fundado em 2016, este prémio distinguiu anteriormente os escritores Maryse Conde, Vinod Kumar Shukla, Ngũgĩ wa Thiong’o, Anne Carson, M. NourbeSe Philip, Sandra Cisneros, Edna O’Brien e Adonis.

Primeiro a poesia

António Emílio Leite Couto nasceu na Beira, em Moçambique, a 5 de julho de 1955. Trabalhou como jornalista e professor, e atualmente é biólogo e escritor. Nos últimos anos, foi cronista da VISÃO. Com uma carreira na literatura que se prolonga há já mais de 40 anos, começou pela poesia (as primeiras foram publicadas, tinha ele 14 anos, no jornal Notícias da Beira) e pelos contos, reuniu em livro várias das suas crónicas, mas foi como romancista que mais se destacou. Terra Sonâmbula, de 1992, foi o seu romance de estreia, tendo ganho o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995, e considerado pelo júri na Feira Internacional do Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX. Seguiram-se outros sucessos, como Jesusalém, O Último Voo do Flamingo, Vozes Anoitecidas, Estórias Abensonhadas, A Varanda do Frangipani e A Confissão da Leoa, entre muitos outros, que, atualmente, se encontram traduzidos em mais de 30 línguas.

Habitação, Saúde e Imigração ocupavam, por esta ordem, o pódio das menções em redes sociais, referentes aos debates televisivos entre os líderes partidários. Isto, segundo o Barómetro Cision/Brandwatch Eleições Legislativas 2025, revelado esta semana. A uma considerável distância, mas ainda dignas de nota, surgem, nas menções dos internautas, a Segurança e a Educação. O mesmo estudo equipara Luís Montenegro a André Ventura, como os líderes mais citados nas redes sociais, com 19% nas referências dos internautas. Surpreendentemente, Paulo Raimundo é o terceiro líder mais citado (15%), seguido, ex aequo, por Pedro Nuno Santos e Rui Rocha (11% cada). No ano passado, os debates tiveram um considerável sucesso de audiências, com um número superior a 17 milhões de telespectadores, para todos os confrontos. As temáticas seguem de perto as que dominaram as atenções, em 2024, agora com mais incidência (ainda…) no tema da imigração – uma vitória de agenda do Chega – e no dado novo da empresa do primeiro-ministro. Ninguém pode garantir, com segurança, até que ponto os debates influenciam ou mesmo alteram o sentido de voto. Mas, com as crescentes “multidões” de indecisos, é cada vez mais seguro que, pelo menos, ajudam os que, querendo votar, hesitam entre duas possibilidades. Outra vantagem de que podem beneficiar, nos debates, os dois líderes dos dois maiores partidos é a de poderem convencer eleitores mais hesitantes a optar pelo voto útil. Neste aspeto, os confrontos que opõem Pedro Nuno Santos aos outros líderes da esquerda – em particular, Rui Tavares, do Livre, como se vê – ou Montenegro aos outros líderes da direita são de capital importância, para fazer a diferença, a 18 de maio, nas urnas. Mais duvidosa é a influência dos comentadores. O espetáculo do “comentariado” que, presumivelmente, também terá uma audiência respeitável, situa-se mais no campo do entretenimento do que no da informação. Embora haja analistas que procuram, mais do que opinar, descodificar as mensagens fortes de cada um dos confrontos entre líderes, e isso sirva para ajudar o telespectador, ao menos, a perceber melhor o que se passou, na maior parte das vezes assiste-se, isso sim, é a um novo debate, desta vez, entre comentadores.

Há, entretanto, um tema que ganha espaço nos debates, e não apenas pela presença do ainda ministro Nuno Melo, líder do CDS, nalguns deles: o da Defesa. Tema recorrente é o da corrupção. Ora, nenhum destes aparece na primeira linha do estudo que citámos. Segundo os peritos das sondagens, o tema da corrupção entra nas primeiras preocupações dos eleitores quando se lhes oferece um menu… e ela vem lá incluída. Mas quando se pede uma resposta espontânea – “o que mais o preocupa?” –, os inquiridos esquecem-se da corrupção e elencam a saúde, a habitação, o emprego ou o custo de vida. Os principais partidos – a que se junta, nesta campanha, a IL… – evocam muito a “estabilidade”, convencidos de que o eleitorado a deseja. Ora, se os eleitores desejassem estabilidade, não votavam como têm votado, fragmentando as suas escolhas e esvaziando, progressivamente, os partidos do centro. Os resultados da Madeira, porém, anunciam um refluxo desta tendência. O eleitor madeirense cansou-se de brincadeiras e, agora, a maior curiosidade é a de saber se isso vai repetir-se a nível nacional: os pequenos partidos à esquerda tendem a desaparecer? O Chega vai perder deputados? Luís Montenegro vai mesmo ser punido pelo caso Spinumviva? E que papel terão os debates, em tudo isto?

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