E lá vamos nós, outra vez. Apesar dos nossos quase 900 anos de História, continuamos a parecer uns alunos inseguros sempre em busca de validação externa. Adoramos rankings, e vamos logo, a correr, ver onde está Portugal. Ontem foi divulgado mais um: de acordo com o Instituto de Economia e Paz, somos o sétimo país mais seguro e pacífico do mundo (em 163 avaliados, abrangendo 99,7% da população mundial). É um motivo de orgulho, mesmo quando há quem prefira ver esse copo meio vazio e sublinhar que temos estado a piorar nos últimos anos (o que é verdade, em 2020 estávamos em terceiro lugar, acompanhados pela Islândia, que continua no topo, e pela distante Nova Zelândia). Aliás, há mesmo quem se esforce, por estratégia política, por retratar diariamente Portugal como uma espécie de selva de insegurança que nenhum estudo confirma… E optando por fazer comparações, até é fácil puxarmos por uma leitura otimista: há dez anos, em 2104, estávamos em 18º lugar nesse mesmo índice.

Mas nada convida tanto a insuflar o orgulho pátrio do que uma grande competição desportiva – de preferência de futebol, claro.

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A organização internacional Ajuda à Igreja que Sofre (Fundação AIS) reportou que uma família cristã do Paquistão foi violentamente atacada por uma multidão de extremistas muçulmanos no final de Maio, abrindo assim uma nova vaga de terror contra os cristãos.

O aspecto mais nuclear do Tribunal do Santo Ofício era a denúncia. Sabe-se que a Inquisição estimulava a denúncia e premiava os delatores, que muitas vezes acabavam por “herdar” parte dos bens do denunciado. Mas o que estava quase sempre por detrás do acto delatório era um sentimento nada cristão de inveja pelo sucesso alheio, de ciúmes ou mesmo vingança. As questões do foro sentimental ou de concorrência comercial constituíam território fértil para se acusar falsamente alguém de heresia.

Pois é exactamente isso que está a suceder hoje no Paquistão, desta vez no âmbito do Islão. Nazir Gill Masih, de 74 anos, proprietário de uma fábrica de calçado na colónia de Gillwala Mujahid em Sargodha, Punjab, foi espancado após uma falsa acusação de ter queimado páginas do Corão. De manhã cedo a família foi atacada por uma multidão enfurecida que saqueou e incendiou a fábrica e a casa.

Embora dez membros da família tenham conseguido escapar, Nazir foi cruelmente espancado e ficou gravemente ferido antes de a polícia chegar e conseguir afastá-lo da multidão, que agrediu igualmente quem se meteu no meio tentando evitar o crime. Nazir foi levado para o hospital de Rawalpindi, mas não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer dias depois.

O crime de blasfémia, presente no ordenamento jurídico do país pode mesmo ser punido com a morte ou prisão perpétua. Mas a evidência é que a blasfémia é frequentemente utilizada de forma abusiva para fazer falsas acusações, e acto contínuo as multidões fanatizadas tomam o assunto em mãos e lincham os suspeitos.

Este tipo de crime, que integra a legislação de vários países muçulmanos, torna-se assim numa terrível arma de arremesso contra quem quer que incomode, em especial contra minorias religiosas em vários países que seguem o Islão. Quando a acusação é dirigida contra quem integra uma minoria religiosa é muito fácil suscitar a fúria dos fanáticos, como terá sucedido neste caso. Crê-se que os ataques contra Nazir e família terão sido motivados por rivalidades comerciais e disputas pessoais.

Acresce que a polícia chega sempre tarde ao teatro dos acontecimentos e raramente intervém. Por sua vez o sistema judicial raramente actua assertivamente contra os criminosos com receio da população fanatizada. Por outro lado as autoridades também não tomam providências no sentido de evitar que a população faça justiça pelas próprias mãos, como tem sucedido de forma reiterada.

Urge tomar medidas a fim de garantir que tais incidentes não se repitam. Até porque ainda em Agosto de 2023 houve tumultos de Jaranwala, devido a outra falsa acusação de blasfémia, quando se espalhou o boato de que dois irmãos tinham desrespeitado o Corão, daí tendo resultado que os cristãos foram atacados por uma multidão, vendo as suas casas e locais de culto destruídos.

Um sobrinho da mais recente vítima declarou que “o papel da comunidade internacional e dos meios de comunicação social é essencial para pressionar o Paquistão a proteger as suas minorias religiosas da mentalidade extremista.” A comunidade cristã no Paquistão sente-se insegura e muitos partiram para outras terras a fim de encontrar abrigo e consolo junto de familiares.

Parece inacreditável, mas o Tribunal do Santo Ofício, em época medieval e de má memória, ainda conseguia ser mais racional e humano do que a actual “inquisição islâmica”. Ao menos havia lugar a um arremedo de processo judicial, mas nalgum mundo islâmico parece que nem isso.

Embora o Conselho de Ideologia Islâmica paquistanês tenha apelado aos tribunais especiais para punirem “aqueles que cometeram crimes hediondos” contra a família e património de Nazir, sublinhado a urgência de prevenir a violência da multidão e qualificado os ataques como “desprezíveis” e “não islâmicos”, duvida-se que as 44 pessoas presas pela polícia sejam mesmo levadas à justiça ou condenadas pelos crimes cometidos.

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Não são palavras bonitas as que ouvimos. Há violência, falta de afeto, rejeição, uma infância sacudida por uma vivência familiar conturbada. “Em Portugal, retiram-se crianças às famílias com uma grande facilidade, é uma situação ao mesmo tempo muito violenta e invisível. O conhecimento de como é o seu dia a dia está fora da esfera dos media”, nota Marco Martins.

O encenador e realizador já queria trabalhar com crianças que vivem em instituições de acolhimento, e foi a isso que se propôs quando recebeu o convite do festival irlandês Arts Over Borders para participar em Ulysses: European Odyssey 2022-2024. O projeto une 18 cidades de 16 países europeus através de produções artísticas sobre temas sociais e culturais identificados nos 18 capítulos do livro Ulisses, de James Joyce. O capítulo atribuído a Lisboa decorre num abrigo, e a Marco Martins coube refletir sobre questões intergeracionais e o envelhecimento da população.

Blooming é o resultado de cinco meses de trabalho, num edifício da antiga CUF, no Barreiro, que começou com conversas e workshops de movimento de corpo, teatro e música. Foi preciso construir uma relação com aquele grupo de meninas e meninos, entre os 12 e os 16 anos. Fátima, Halia, Ian e Liria vivem no Instituto dos Ferroviários naquele concelho; Caetano, o mais velho, foi escolhido num casting que decorreu numa escola. A eles, junta-se Robert Elliot, com quem Marco Martins já tinha trabalhado na peça Provisional Figures: “A sua história de vida tem muitos altos e baixos, vai desde as plataformas de petróleo a andar a consertar telhados ou a trabalhar numa reserva de pássaros. Queria alguém que fosse como eles, sem um olhar de julgamento, que lhes pudesse falar do que é ter 61 anos, do que é envelhecer e o que muda em ti”, diz o encenador.

Vivências pessoais, textos literários, letras de músicas, vídeos do TikTok, exercícios de ficção, tudo serviu à construção de Blooming, criado em conjunto depois das aulas e aos sábados. No livro de Joyce subsiste a ideia de voltar a casa. Mas para estas crianças, que perderam a sua casa de origem, o que significa esse regresso? Serão elas capazes de projetar o seu futuro, quando o presente é tão instável? Marco Martins tem uma certeza: “Há uma grande dificuldade em confiar nos adultos, e é essa a grande conquista deste espetáculo.”

Blooming > São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso 38, Lisboa > até 16 jun, qui-sáb e seg 20h, dom 17h30 > €12

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Há desenhos cheios de ruas, que se ligam umas às outras, outros com letras labirínticas, que formam palavras, bairros a recriarem o centro povoado de uma cidade, que extravasa para a periferia… Ao longo do processo criativo que durou dois anos, Ana Aragão confessa ter-se perdido nos próprios desenhos, ou mapas, como prefere chamar aos 13 trabalhos que se cruzam com textos inéditos de Gonçalo M. Tavares, na exposição Cidade, Casa, Corpo, na Galeria da Casa da Arquitectura, em Matosinhos.

Tentei construir mapas de cidades que não existem. Há desenhos encriptados e densos, porque, para mim, a memória da experiência de uma cidade também é labiríntica. Tudo tem que ver com os encontros, as alegrias e as tristezas, e tudo pode caber num mapa”, afirma a artista e também arquiteta. Pela primeira vez, usou cores nas suas obras. “São os trabalhos que mandam em mim, há um momento em que já não os domino”, há de dizer.

Os desenhos correspondem à sua leitura dos textos escritos por Gonçalo M. Tavares sobre viagens por cidades, o que não significa, no entanto, que exista uma relação direta entre uns e outros. Por isso, o visitante poderá começar por ler a narrativa de Gonçalo M. Tavares – sobre Manhattan, “a cidade onde se aprende a contar com as pernas”, Praga e as câmaras de filmar, Moscovo e as suas grandes avenidas, São Paulo e um elevador avariado… – e depois partir para a observação dos desenhos de Ana Aragão, ou vice-versa.

“O que se propõe aqui é que o mapa [desenho] seja entendido como qualquer coisa que nos serve de registo de memórias de percursos, de afetos; um documento que consegue registar o lado mais subjetivo ou emocional. Os nossos pés nunca vão perceber o mapa de uma cidade”, reforça a artista.

A exposição na Galeria da Casa da Arquitectura. Foto: DR

Na Casa da Arquitectura, o Espaço Luís Ferreira Alves tem patente a exposição Construir, composta por 13 maquetes do Gabinete Dietmar Feichtinger Architects (fundado em 1994, com escritórios em Paris e Viena). Pode ser vista até 8 de setembro.

Cidade, Casa, Corpo – Os Mapas e a Linguagem > Galeria Casa da Arquitectura > Av. Menéres, 456, Matosinhos > T. 22 766 9300 > até 29 set, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €5 > casadaarquitectura.pt

À margem das comemorações do 10 de Junho que este ano decorrem na Suíça, Marcelo Rebelo de Sousa continuou sem esclarecer a sua posição, apesar de ter, em várias ocasiões, dito que só se pronunciaria depois das eleições europeias.

“É muito simples: agora que já passou o período eleitoral, a minha posição naturalmente é esperar por aquilo que sejam as iniciativas do parlamento, da comissão parlamentar de inquérito e depois tomar a posição em função delas. Só posso ponderar depois de saber aquilo que vou ponderar”, disse, quando questionado pelos jornalistas presentes sobre se vai responder à comissão parlamentar de inquérito.

No passado sábado, a Presidência da República anunciou, em comunicado, que Marcelo Rebelo de Sousa iria remeter esta terça-feira à comissão parlamentar de inquérito sobre o caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria a documentação já enviada à Procuradoria-Geral da República (PGR).

“A Presidência da República acaba de receber, da comissão parlamentar de inquérito, um requerimento da documentação nela disponível, que, aliás, é a mesma já enviada à PGR, e que será remetida no próximo dia 11 de junho”, lê-se no texto divulgado pelo Palácio de Belém.

No início da semana passada, o antigo secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales foi constituído arguido na segunda-feira no âmbito da investigação ao caso das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal tratadas com o medicamento Zolgensma no Hospital de Santa Maria.

No âmbito do mesmo processo, a Polícia Judiciária realizou buscas no Ministério da Saúde, no Hospital de Santa Maria e em instalações da Segurança Social.

Segundo uma nota do Ministério Publico divulgada na página do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional de Lisboa, estão em causa factos suscetíveis de configurar “crime de prevaricação, em concurso aparente com o de abuso de poderes, crime de abuso de poder na previsão do Código Penal e burla qualificada”.

A comissão parlamentar de inquérito sobre este caso foi constituída em maio, por iniciativa do Chega.

Em 4 de dezembro do ano passado, na sequência de reportagens da TVI sobre este caso, o Presidente da República confirmou que o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, o contactou por email em 2019 sobre a situação das duas gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal que depois vieram a receber no Hospital de Santa Maria um tratamento com um dos medicamentos mais caros do mundo.

Nessa ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa deu conta de correspondência trocada na Presidência da República em resposta ao seu filho, enviada à Procuradoria-Geral da República, e defendeu que deu a esse caso “o despacho mais neutral”, igual a tantos outros, encaminhando esse dossiê para o Governo.

Apressado, talvez por causa das férias, Rishi Sunak decidiu convocar eleições para o próximo dia 4 de julho, precipitando a sua saída de Downing Street. O PM britânico vai enfrentar um desastre eleitoral: os trabalhistas estão mais de 20 pontos acima dos conservadores e, como se não bastasse, o Partido Reformista, de direita populista e extremada, com Farage como presidente honorário, está empatado com os «tories».

A maior maioria desde Thatcher, conseguida por Boris em 2019, vai ser completamente destruída por um primeiro-ministro sem rumo político, num país que ainda não estabilizou depois do Brexit. Sunak antecipou as eleições alguns meses, convencido de que os eleitores apreciariam a débil saída da recessão, confirmando-o como PM e líder do Partido Conservador. Nada disso vai acontecer, e Rishi Sunak vai beber do mesmo veneno que deu a Boris. Os seus passos seguem-no.

O eleitorado conservador está a fugir para os reformistas – já vivemos este cenário – e o líder trabalhista, Keir Starmer, futuro PM, vai fazer uma campanha tranquila, virada para o centro político, e com a probabilidade de ter um resultado histórico. Convém lembrar que as eleições na Grã-Bretanha são por maioria simples em cada distrito eleitoral (650), o que favorece o partido mais forte. A derrota de Sunak vai ser uma tragédia para o Partido Conservador, que está fortemente ameaçado à esquerda e à direita, e este PM ficará na história por péssimos motivos: abriu a porta aos populistas e extremistas de Nigel Farage, o amigo de peito de Donald Trump.

Hunter Biden, 54 anos, filho do presidente dos EUA Joe Biden, foi declarado culpado, esta terça-feira, de três crimes, depois de ter, alegadamente, mentido sobre o uso de drogas quando comprou uma arma de fogo – uma Colt Cobra – em outubro de 2018, período em que reconheceu estar a lutar contra o vício do crack. As leis norte-americanas proíbem a posse de armas por toxicodependentes.

Esta é a primeira vez na história dos Estados Unidos que o filho de um presidente em exercício de funções enfrenta um julgamento e em causa pode estar uma pena de até 25 anos de prisão, embora não seja esperada a aplicação da pena máxima, já que Hunter Biden tem um histórico de consumo de drogas conhecido nos EUA, mas não foi condenado por nenhum crime até à data.

Na altura da compra da arma, Hunter Biden, que se declarou inocente, estava, alegadamente, em depressão – após ter-se divorciado de Kathleen Buhle – e ainda a lutar contra o vício do álcool e das drogas – que se agravou após a morte do seu irmão, Beau Biden, em 2015, devido a um tumor cerebral. Este acabou por ficar com a arma em causa durante 11 dias, até a esposa do irmão a ter encontrado e deitado no lixo.

Além da violação da lei federal que impede os toxicodependentes de possuírem uma arma, Hunter Biden foi ainda considerado culpado de outros dois crimes, ligados à compra propriamente dita, com o filho do Presidente norte-americano a ser acusado de mentir nos formulários que fazem parte do processo de aquisição.

O filho do presidente enfrenta um outro julgamento, no qual é acusado de ter numa alegada avultada fuga aos impostos (de 1,4 milhões de dólares) no Estado da Califórnia.

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