Para saber da relação que os escritores têm com a competição olímpica, pedimos que respondessem a um inquérito de três perguntas.

1) Que significado entende ter hoje o “olimpismo”? (Considera que o seu “espírito” inicial se mantém, atualizado, apesar dos desvirtuamentos, alguns graves, que em algumas circunstâncias históricas teve ao longo dos séculos?)

2) Que modalidades prefere, o que costuma ver e pensa ver nestes próximos JO?

3) Que memórias mais vivas, emocionantes, tem de JO passados, mormente em relação a participações portuguesas?”

Rui Zink – 2172.º lugar

1) O espírito olímpico deixa uns meninos à porta porque se portaram mal. Isso pressupõe que todos os que não ficam à porta se portaram bem, e não creio que isso seja verdade. Já tínhamos a memória seletiva, agora temos o olimpismo seletivo.

2) Na corrida, gosto de tudo, mas tenho um carinho especial pelos 100 metros e pela maratona. Parecendo opostos, completam-se. Os 100 metros podem ser considerados uma maratona quântica, mal começou já acabou, mas depois ficamos a ver as imagens em repetição e de todos os ângulos possíveis.

É uma coreografia interessante, os atletas preparando-se, os atletas congratulando-se e, pelo meio, aconteceu o quê? Ah, correram. Muito depressa. Na maratona é o contrário, a corrida dura mais do que uma longa-metragem. Se os 100 metros são um poema breve (um dístico, um terceto, um haiku), a maratona é um folhetim romanesco, até pela quantidade de personagens, para além dos golpes de teatro e peripécias várias.

3) Bom, a mãe de todas as participações é obviamente (e aposto que vou ter aqui mais colegas de carteira a dizerem o mesmo, isto sem nenhum de nós ter espreitado a resposta dos outros) a medalha de ouro do imortal Carlos Lopes nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, onde por coincidência os russos também não participaram.

[Carlos Lopes] inspirou-me ainda a correr eu próprio a primeira meia-maratona de Lisboa, no ano seguinte, com tiro de partida disparado pelo próprio Carlos Lopes

Um dos favoritos chamava-se Salazar (estas coisas não se inventam) e Carlos Lopes fez de Salgueiro Maia: derrubou o regime. E deu-me, de bandeja, o primeiro capítulo do Hotel Lusitano. Inspirou-me ainda a correr eu próprio a primeira meia-maratona de Lisboa, no ano seguinte, com tiro de partida disparado pelo próprio Carlos Lopes. Infelizmente, não atingi os mínimos olímpicos: fiquei em 2172º num total de 2700 participantes. Mas cheguei ao fim!

Vítor Serpa – a missão jornalística

1) O espírito olímpico foi pensado por Coubertin para resistir às mudanças dos tempos. Os Jogos deveriam ser uma manifestação desportiva e cultural com uma perspetiva de união universal, capaz de se afastar das vicissitudes da realidade política de cada época.

Era, pois, uma utopia. Mesmo assim, o essencial foi resistindo, apesar dos sobressaltos. Os Jogos de 1936, na Alemanha de Hitler, foram usados na ideia de internacionalizar a propaganda da “grandeza histórica” do nazismo. Mas foi nos anos 60 do século XX que os Jogos se tornaram num palco habitual de contestações e de mensagens sociais e políticas.

No México, em 1968, a abertura dos Jogos foi aproveitada por milhares de mexicanos, que protestaram contra a pobreza e as más condições de vida do povo; e esses Jogos ficariam ainda marcados pelo protesto, em pleno pódio, de atletas negros americanos contra o racismo.

Quatro anos depois, em Munique, aconteceria a tragédia do ataque terrorista à delegação israelita. Em 1976, Montreal, começaram os boicotes políticos que se estenderam em 1980, em Moscovo, e em 1984, em Los Angeles.

Os primeiros Jogos Olímpicos que cobri para A Bola foram em 1992, Barcelona. Foi manifesta a ideia de afirmação da Catalunha e a abertura ao profissionalismo, com a participação da seleção americana composta por jogadores da NBA, o que criou imenso escândalo no movimento olímpico.

Quatro anos mais tarde, os Jogos Olímpicos comemoravam 100 anos. O poder do dinheiro e da coca-cola tirou a prevista celebração em Atenas e levou os Jogos para Atlanta. Seguiram-se os Jogos de Sidney e o pouco disfarçado aproveitamento australiano para mostrar ao mundo uma falsa integração do povo aborígene.

Atenas, em 2004, foi um erro de casting e ajudou a afundar a precária economia grega. Seguiu-se Pequim e a propaganda mundial do regime chinês de um país “aberto e moderno”. Os meus últimos Jogos foram em Londres (2012) que, apesar de indesejados pela população londrina, conseguiram melhorar a visão de um certo ideal olímpico, beneficiando de uma organização de imperturbável competência britânica.

Há muito que os Jogos Olímpicos se deixaram subverter nos seus ideais. Não sei, sinceramente, se teria sido alguma vez possível resistir ao peso da política e da economia. Logo que os Jogos se tornaram mediatizados e palco aberto para o mundo, foram capturados pelos irresistíveis poderes dos senhores do mundo.

Mais grave se torna, quando os próprios responsáveis do Comité Olímpico Internacional se envolvem diretamente em atos de pura decisão política, usando pesos e medidas bem diferentes. Como agora acontece.

2) Pensa-se, ingenuamente, que nos Jogos Olímpicos todas as modalidades são igualmente importantes. Não são. Há uma hierarquia histórica nos Jogos. Três modalidades no topo: atletismo, natação e ginástica. Todas as outras modalidades, por mais estrelas mundiais que comportem, como é o caso do basquetebol ou do ténis, não são tão valiosas.

Como diria George Orwell, caso se tivesse deixado entusiasmar pelos Jogos, todas as modalidades são iguais, mas algumas são mais iguais do que outras. Daí que, provavelmente sugestionado por essa regra mítica, goste de ver mais o atletismo, a natação e a ginástica.

Porém, nos mais de 20 anos em que cobri os Jogos, os meus gostos ficaram, muitas vezes, atraiçoados pela “superior” missão jornalística de acompanhar atletas portugueses, nas mais diversas modalidades. É o que dá ser jornalista da área do desporto num país pequeno e periférico.

3) Os Jogos Olímpicos são uma fonte quase inesgotável de histórias, o que é ótimo para qualquer jornalista que se digne sair do “aquário” das salas do “main press center”. Uma das situações mais marcantes, a nível internacional, aconteceu num encontro fortuito com Muhammad Ali, já muito debilitado pelo avanço da terrível doença de Parkinson.

Mais tarde, em Sidney, também assisti a um outro acontecimento memorável quando Eric Moussambani, mais conhecido por Malonga, um simpático nadador da Guiné Equatorial, fez esperar milhares de espectadores que acabaram por o aplaudir de pé, no final de uns penosos 100 metros livres, cumpridos em quase dois minutos!

O COI tinha aberto convites para casos especiais de exemplo e paixão pelo desporto. Malonga tinha aprendido a nadar no mar, apenas seis meses antes dos Jogos, nunca tinha entrado numa piscina, mas durante esses seis meses treinou-se com o rigor e a persistência de um campeão.

Foi convidado e nadou os 100 metros num estilo muito próprio. A sua história correu mundo e acabou por ser convidado pela Federação Espanhola de Natação e foi viver e treinar em Espanha. Mas também tive grandes momentos com atletas nacionais.

Viver a alegria dos medalhados é contagiante, mas acompanhar os dramas torna-se ainda mais marcante

Viver a alegria dos medalhados é contagiante, mas acompanhar os dramas torna-se ainda mais marcante. Um caso entre muitos: Naide Gomes chegou a Pequim com a melhor marca do ano no salto em comprimento. Era, entre todos os atletas nacionais, a que mais facilmente deveria chegar a uma medalha.

Falhou três saltos na fase de qualificação e ficou fora da final. Isso aconteceu enquanto os seus familiares chegavam a Pequim para a acompanhar na glória. Falei com Naide depois daquele dramático desastre desportivo e ela disse-me apenas: “Nem consigo chorar!”

Rafael Gallo – as mascostes

Sou das pessoas menos indicadas para dizer algo sobre esportes. Não acompanho nenhum deles com afinco e, confesso, quando penso nas Olimpíadas a primeira coisa com a qual as relaciono é uma paixão de infância.

Antes que alguém se pergunte a que modalidade atlética estou a me referir, lamento desapontar, porém, meus grandes ídolos dos Jogos Olímpicos eram as mascotes. Sim, aquelas criaturas que frequentemente pareciam material rejeitado de algum cartoon.

Como uma criança apaixonada por desenhos animados e histórias em quadrinhos, essas personagens representavam para mim o lado mais criativo, mais fantasioso e, portanto, mais interessante de toda a efeméride. Lembro-me, em particular, da mascote das Olímpiadas de 1992, em Barcelona: Cobi, um cachorro que (só hoje sou capaz de reconhecer) tinha traços ligados à arte cubista, com algo de Picasso e de Miró.

Ele teve até uma série animada para televisão, à qual eu assistia com entusiasmo — nesse caso, sim — digno de um torcedor. No auge dos meus dez anos de idade e dos meus sonhos de ser desenhista, aquilo era o cumprimento pleno da vocação de uma mascote. Sempre quis que personagens tivessem mais e mais histórias. 

Até hoje tenho uma certa curiosidade por essas criações, bem como pelas outras partes mais “estéticas”, digamos, das Olímpiadas. Se tivesse que escolher apenas um dos eventos de seu calendário para ver, minha dúvida seria entre a cerimônia de abertura ou a de encerramento.

[na prova de patinação artística, nado sincronizado ou ginástica olímpica] há outro aspecto que me fascina: quando alguém que a pratica demonstra uma capacidade que, até então, parecia humanamente impossível.

Mas também me atento quando me deparo, na TV, com uma prova de patinação artística, nado sincronizado ou ginástica olímpica. Não que eu enxergue qualquer superioridade intelectual, ou de outra ordem, nesse lado estético; é só meu gosto pessoal. Disputas, apenas por si, não costumam exercer grande efeito emocional em mim. Palavra de um dos raros brasileiros que não se interessa por futebol. 

Nas modalidades que destaquei como das que mais gosto, há outro aspecto que me fascina: quando alguém que a pratica demonstra uma capacidade que, até então, parecia humanamente impossível. Como aqueles saltos mortais que mais se assemelham a voos de um animal inédito, concluídos com perfeição milimétrica.

Isto me comove: uma pessoa expandir o raio das possibilidades que pareciam traçar nossos limites. E que façam isso, em geral, sozinhos, diante dos olhos do mundo inteiro e dentro de uma breve janela do tempo, cuja fresta se abre apenas de quatro em quatro anos.

É quase cruel uma pessoa exposta a tão fina corda-bamba da vida, cercada por tamanho precipício. Me lembram concertistas da música, que também têm de se colocar em uma situação de extrema pressão e realizar uma série de gestos, só seus, de forma irretocável (com o perdão da referência implícita a um certo livro e seu protagonista). 

Bem, ao colocar as coisas sob esse prisma, me deu até vontade de assistir às provas deste ano. Vou buscar a grade de horários das Olímpiadas de Paris. Suas mascotes, devo dizer, me decepcionaram um pouco.

Os Jogos Olímpicos sempre foram muito mais do que uns simples… jogos. No seu renascimento, no final do século XIX, quando a Europa redescobria a arqueologia e a cultura helénica, após séculos de ocupação otomana, o barão Pierre de Coubertin imaginou-os como uma espécie de religião, que seria capaz de conduzir o mundo para a paz, graças à competição sã entre “atletas purificados” num “ambiente sagrado”.

Muito depressa, no entanto, os Jogos alienaram esse ideal universalista e tornaram-se, antes, num espaço de afirmação nacionalista. Como prova disso, logo na sua edição inaugural, em 1896, as primeiras Olimpíadas da era moderna ajudaram a consolidar o poder do rei Jorge I, de origem dinamarquesa, numa Grécia ainda abalada por uma longa guerra de independência e o caos de uma breve república.

O ritual nacionalista consolidou-se pouco depois, em Londres 1908, a primeira em que os atletas passaram a desfilar, na cerimónia de abertura, sob as bandeiras dos respetivos países. E, desde então, com cada acrescento a uma coreografia que procurou antecipar os sinais dos tempos, os Jogos passaram a ser, em todas as edições, um veículo privilegiado para a afirmação de poder de uma cidade ou de um país no concerto geral das nações.

Se houve alguém que percebeu a importância do fervor nacionalista nos Jogos Olímpicos foi o organizador dos Jogos de 1936, em Berlim. Mal chegou ao poder, Adolf Hitler chamou os líderes do Organisationskomitee (comité organizador), Theodor Lewald e Carl Diem, e disse-lhes que queria impressionar o mundo com a magnificência dos Jogos. E conseguiu-o: as instalações eram assombrosas, com um estádio de 110 000 lugares, uma piscina capaz de acomodar 18 000 espectadores.

Foram encomendadas estátuas a dois escultores para adornar as instalações com “figuras que exaltassem o físico ariano”. O compositor Richard Strauss escreveu uma música de propósito para as cerimónias protocolares. E, mais importante do que tudo, montou-se uma gigantesca máquina de propaganda destinada a difundir a “grandiosidade e magnificência” da Alemanha Nazi.

O mais curioso é que muito do que se fez nesses Jogos – tão criticados – continua a repetir-se nos dias de hoje, como a estafeta da chama olímpica, a transmissão pela televisão (embora ainda num circuito interno, mas que podia ser visível em grandes espaços públicos), e a criação, por Leni Riefenstahl, de uma estética atlética que ainda hoje dita normas e tendências.

A essa metamorfose nacionalista, já se de si relevante, foram-se acrescentando outras, com um impacto cada vez mais global. Durante algumas décadas, com e sem boicotes, os Jogos foram o campo de batalha ideal para duas superpotências se enfrentarem diretamente, perante uma audiência mundial, sem necessidade de recurso a armas – na Guerra Fria.

Em diversos momentos, os Jogos foram ainda determinantes para algumas cidades conseguirem operar transformações exemplares, graças a políticos com visão estratégica e que perceberam como o desafio de organizar uns Jogos Olímpicos pode ajudar a desbloquear a concretização de sonhos ambiciosos, deixando uma marca para o futuro, tanto no urbanismo, como no desenvolvimento desportivo – como ocorreu em Barcelona 1992 e em Londres 2012.

Em nome dos valores universalistas do desporto, uma máquina cada vez mais bem oleada consegue montar um espetáculo altamente atrativo e sempre irrepetível, pago a peso de ouro por grandes patrocinadores

Mas também serviram para, em nome de um orgulho desmesurado, alguns países e cidades envolverem-se em projetos faraónicos para as suas finanças públicas, deixando um défice orçamental muito maior do que o legado de prestígio ambicionado – como foram os casos, entre outros, de Montreal 1976 e de Atenas 2004.

A maior transformação – em todos os sentidos – ocorreu com os Jogos de Los Angeles que, em 1984, salvaram praticamente o movimento olímpico e abriram o caminho para elevar o projeto de Coubertin a um patamar diferente: um negócio global altamente lucrativo, com a construção de uma marca comercial de que todos os atletas e heróis dos estádios se tornam embaixadores planetários.

Em nome dos valores universalistas do desporto e dos slogans pela harmonia no mundo, uma máquina cada vez mais bem oleada consegue montar, desde então, um espetáculo altamente atrativo e sempre irrepetível, pago a peso de ouro por um conjunto restrito de grandes patrocinadores, confiantes de que a audiência global nos meios audiovisuais recompense o seu investimento.

Para não desperdiçar nenhuma oportunidade de negócio, desde o início da década de 90, os Jogos de Verão e de Inverno deixaram de se realizar no mesmo ano, de forma a que a palavra Jogos ecoe de dois em dois anos.

E, desde há duas décadas, acrescentou-se ainda ao “pacote” os Jogos Olímpicos da Juventude, para atletas menores de 18 anos, e que permite manter a “marca” ativa e, ao mesmo tempo, levar a organização a países mais pequenos, sem capacidade para o gigantismo dos outros – os próximos, por exemplo, serão em 2026 em Dakar, no Senegal – o primeiro país africano a receber um evento com a marca “Olímpicos”.

Perdoe-me o leitor este longo contexto histórico, mas considero-o essencial para permitir observar o fenómeno dos Jogos Olímpicos numa perspetiva abrangente, em todas as suas matizes e até em muitas das suas contradições. O movimento olímpico, recorde-se, agrega mais nações do que as Nações Unidas.

Nas cerimónias de abertura e de encerramento reúnem-se num mesmo espaço, os representantes de mais de duas centenas de atletas enviados pelos respetivos comités nacionais. E embora alguns países – geralmente os mais poderosos e populosos – ganhem mais medalhas, nenhum deles tem o direito de veto que lhes é concedido, por razões históricas já desatualizadas, no Conselho de Segurança da ONU.

Nas provas dos Jogos não importa a nacionalidade nem o PIB. Ganha quem corre mais rápido, quem atira mais longe, quem nada mais depressa ou quem salta mais alto.

E é essa justiça democrática, inerente ao desporto, que faz com que a participação nos Jogos Olímpicos seja um momento especial na carreira de qualquer atleta e que a conquista de uma medalha, em especial a de ouro, lhe dê quase uma dimensão de imortalidade. Por uma razão cristalina: foi ganha frente aos melhores dos melhores do mundo, reunidos todos num mesmo local e perante uma audiência global sem paralelo com qualquer outro evento ou competição.

Só nos apercebemos da verdadeira dimensão dos Jogos Olímpicos quando desembarcamos numa cidade em vésperas da chama olímpica ser transportada para o estádio – algo que tive o privilégio de presenciar, como jornalista, por seis vezes, ao longo de mais de duas décadas.

Sem falsas modéstias, conheço bem o ambiente. E sei que, rapidamente, as primeiras impressões com que chegamos vão sendo destruídas, uma após a outra, conforme se aproxima o início dos Jogos. E o que a minha experiência me dita é que o apocalipse tantas vezes anunciado, nas semanas anteriores, raramente se concretiza ou fica sequer perto.

Li e ouvi de tudo antes de apanhar o avião em Lisboa: que nenhum atleta iria aguentar a poluição de Pequim, que Atenas nunca conseguiria ter as instalações olímpicas prontas a tempo da inauguração, que o Rio de Janeiro iria ser um risco de segurança tanto para atletas como para espectadores.

Afinal, apesar dos “elefantes brancos” que essas edições deixaram para as gerações seguintes, pouco ou nada dessas ameaças se concretizaram. Em contrapartida, no entanto, ninguém previu o caos que seriam os transportes em Atlanta nem o delírio comercialista que invadiu aquele a que muitos chamaram os Jogos da Coca-Cola – o que fez abanar, em muito, a reputação dos EUA no seio do Comité Olímpico Internacional.

Ainda para mais quando se lhe juntou, pouco depois, o escândalo dos subornos para a atribuição dos Jogos de Inverno a Salt Lake City, obrigando até Juan Antonio Samaranch a depor em tribunal – uma humilhação que o dirigente catalão nunca mais perdoou aos americanos.

A realidade é sempre bem mais complexa e responde a uma regra básica, que vi repetir-se de quatro em quatro anos, em quatro continentes: os problemas que se anunciam antes da cerimónia de abertura – desde o caos na segurança às condições meteorológicas – costumam desaparecer milagrosamente no momento em que os atletas entram em ação.

Ao fim de um par de dias de competições, com dezenas delas a decorrerem à mesma hora, em diferentes pontos de uma cidade que ficou invadida por gentes de todo o mundo, sem claques nem holligans, a euforia depressa supera a depressão. Até porque, habitualmente, os locais preferem partir para longe e ver os Jogos pela televisão.

Se os Jogos Olímpicos são o céu para os atletas e para os detentores de bilhetes para os estádios, arenas, piscinas e outros recintos desportivos, são também um inferno para os habitantes das cidades que os acolhem. Por isso, promovem-se os chamados planos de evacuação gentis para evitar que milhares de pessoas fiquem presas no trânsito ou impedidas de circular em locais críticos.

Nos Jogos de Sydney, por exemplo, alteraram-se as férias escolares para coincidirem com as semanas de competição – diminuindo a pressão nos transportes. Em Londres e no Rio de Janeiro criaram-se novos feriados para convidar os locais a irem para fora.

Não se pense que tudo isto é um exagero ou qualquer excesso de zelo das autoridades, que criam faixas olímpicas nas principais artérias, impedem a circulação de automóveis particulares em áreas enormes e, como aconteceu em Londres ou Pequim, só permitem o acesso aos principais locais de competição através de transportes públicos – nomeadamente novas linhas de metro.

Todas estas medidas são justificadas pelo gigantismo dos Jogos Olímpicos, num espaço tão concentrado. Se quisermos encontrar uma comparação é como ter não apenas um “jogo grande” na cidade – com tudo o que sabemos isso implicar, por experiência própria, em matéria de transporte e de segurança -, mas uma dúzia deles em simultâneo, em instalações relativamente próximas umas das outras.

Com a agravante de, em alguns dias, ainda haver provas que atravessam as zonas centrais – como acontece tantas vezes no ciclismo, triatlo e maratona – impedindo até que muitos moradores possam sair das suas residências. Para que tudo se complique mais, ainda há o pesadelo de segurança, para proteger todos os participantes e espectadores, mas também as dezenas de chefes de Estado e de governo que por lá vão passando, com as suas comitivas oficiais.

Resultado: há dias nos Jogos Olímpicos em que nas deslocações é preciso repetir seis ou sete vezes a experiência de embarque num aeroporto: esvaziar os bolsos, meter a mochila no tapete do raiox e passar pelo detetor de metais, seja para entrar no estádio como para apanhar o metro ou num fan park, para assistir às provas num écrã gigante.

Os Jogos Olímpicos são muito mais do que uns jogos, como já referi. Mas a verdade é que só têm o prestígio e a importância que têm porque são sempre uns jogos extraordinários. E isto é verdade tanto nas competições mais importantes como naquelas modalidades a que, geralmente, não prestamos grande atenção.

O desporto nos Jogos Olímpicos é do nível mais elevado que se pode encontrar. Todos os que nele participam passaram anteriormente pelos processos de seleção mais apurados do planeta. Em alguns desportos ou modalidades, apenas vão os 16 melhores do mundo.

Os JO são sempre uns jogos extraordinários. Tanto nas competições mais importantes como naquelas a que não prestamos grande atenção. Em alguns desportos apenas vão os 16 melhores do mundo

Em imensas provas, o vencedor só é conhecido graças às tecnologias mais avançadas do photo-finnish, com as medalhas a ficarem separadas por centésimos de segundo – o que pode ser a distância entre o céu e o inferno, como bem sabe, aliás, o canoísta Emanuel Silva: em Londres 2012, a fazer dupla com Fernando Pimenta, rejubilou com a medalha de prata (mesmo que a de ouro lhes tenha escapado por escassos 16 centésimos); quatro anos depois, no Rio 2016, chorou de tristeza quando, com João Ribeiro, falharam o pódio por apenas 29 centésimos.

Numa final de triplo salto, com atletas como Nelson Évora e Pedro Pichardo a voarem para o ouro com marcas muito próximas dos 18 metros, o equivalente à largura de 2,5 balizas de futebol, as medalhas são decididas, tantas vezes, por menos do que a espessura do poste – sem oportunidade de recarga.

Como uma vez me explicou Nelson Évora, o grau de exigência numa prova rainha do atletismo é totalmente diferente da que se encontra na maioria dos desportos coletivos. “Numa final da Liga dos Campeões, por exemplo, entre os 22 jogadores no relvado, há dois ou três que são superatletas, e outros apenas muito bons. Os oito finalistas dos 100 metros ou do triplo são todos do nível do Messi ou do Cristiano Ronaldo e, por isso, qualquer um deles, num dia bom, pode ganhar o ouro”, sintetizou.

Ser campeão olímpico é um feito absolutamente extraordinário, só ao alcance de muito poucos – apenas cinco em Portugal, em mais de um século de participações. E essa é também a razão para que numa festa de celebração da juventude e do espírito competitivo, se veja tantos atletas a chorar no momento da vitória ou na subida ao pódio, bem como de quem os acompanha.

Quem esteve em Atlanta não se esquece das lágrimas de João Campos, treinador de Fernanda Ribeiro quando esta ultrapassou a chinesa Wang Junxia, a poucos metros da meta, e correu para a medalha de ouro. Nem, muito menos, a emoção que ele voltou a repetir, em Sydney 2000, desta vez acompanhada de um salto da bancada para a pista, depois de ver a sua pupila garantir o bronze.

Rui Tavares Guedes com Francis Obikwelu, nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004

Como também é impossível esquecer as lágrimas da desilusão, longe dos olhares do público, em locais recatados em que os jornalistas, embora testemunhas, têm o dever ético de respeitar a tristeza profunda de quem, após quatro anos intenso de trabalho, se vê eliminado ao primeiro combate ou falha a medalha por um pormenor quase insignificante – os tais centésimos de segundo ou poucos centímetros que separam a glória do esquecimento.

Na sua essência, os Jogos Olímpicos são um espelho da vida e do mundo, em cada momento – embora, na Aldeia Olímpica, o que se observa é uma realidade quase irreal, quase só habitada por corpos longos e perfeitos, sem uma grama de gordura e, quase todos, com egos à prova de bala e níveis de confiança cada vez mais turbinados por equipas completas de treino, que incluem fisiologistas, nutricionistas, mecânicos, psicólogos e, em tantos casos, treinadores que os acompanham desde que deram os primeiros passos no desporto.

Como na vida, encontra-se de tudo nos Jogos Olímpicos. Vi e cruzei-me com as mais variadas personalidades: heróis arrogantes, como Carl Lewis, competidores natos, como Michael Phelps (que foi ficando cada vez mais simpático e acessível, conforme ia batendo recordes de medalhas), lendas divertidas, como Usain Bolt, glórias que nunca perdem a aura nem a simpatia, como Rosa Mota e Dick Fosbury, e até personalidades extraordinárias que desafiavam os opositores com um sorriso nos lábios, como o carismático Francis Obikwelu.

Entrevistei e convivi com atletas depois de ganharem medalhas e, alguns Jogos depois, voltamo-nos a cruzar nos bastidores das competições, alguns como jornalistas, como a nadadora holandesa Inge de Bruijn, outros em funções técnicas, como o judoca Nuno Delgado.

Para além dos fervores nacionalistas e do negócio galopante em que se transformaram, os JO podem ser também um exemplo para um mundo melhor

Nos 17 dias de competição, sempre o senti, há um espírito olímpico que chega a ser contagioso. O espírito que, em parte, nos faz recuar ao sonho de Coubertin, e que até serve de antídoto ao pessimismo que impregna o ar destes tempos.

Em especial, quando os Olímpicos vão celebrar em Paris os primeiros Jogos com completa paridade entre géneros e, pela segunda vez, participa uma equipa de refugiados. São estes os momentos em que aceitamos que, para além dos fervores nacionalistas e do negócio galopante em que se transformaram, os Jogos Olímpicos são mesmo muito mais do que uns jogos. Podem ser também um exemplo para um mundo melhor.

O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, morreu, na madrugada desta quarta-feira, num ataque em Teerão, capital do Irão. A notícia já foi confirmada pelo próprio Hamas.

“O irmão líder, mártir combatente Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em resultado de um ataque traiçoeiro sionista na residência em Teerão, depois de participar na cerimónia de posse do novo presidente iraniano”, indicou, em comunicado, o movimento palestiniano.

O Hamas responsabiliza Israel pelo ataque, e promete responder. O governo de Telavive mantém-se, para já, em silêncio.

O primeiro anúncio da morte de Ismail Haniyeh tinha partido dos Guardas da Revolução iranianos. Em comunicado, esta força militar adiantava que o dirigente do Hamas e um guarda-costas morreram num ataque à residência de Ismail Haniyeh em Teerão.

Ismail Haniyeh tinha com 62 anos e era líder político do Hamas desde 2017. Ex-primeiro-ministro da Palestina (entre 2006 e 2007), era considerado um político moderado, visto como uma peça-chave para as negociações de um possível cessar-fogo no conflito Israel-Hamas, e capaz de se relacionar com as fações palestinianas rivais

Vivia afastado do território palestiniano, num exílio voluntário, dividindo-se, alegadamente, entre o Qatar e a Turquia. Em abril, um ataque da aviação israelita tinha matado pelo menos seis membros da sua família – três filhos e pelo menos dois netos –, num campo de refugiados no norte da faixa de Gaza.

Apesar de ter estado no top dos filmes mais vistos da Netflix, o thriller “Sob as Águas do Sena” – sobre a presença de um tubarão gigante nas águas do rio Sena, 

durante os jogos olímpicos de Paris, não mereceu grandes críticas nem aplausos. Afinal, um animal destes a ceifar vidas durante o maior evento desportivo do mundo é praticamente impossível, como pode ler aqui, na análise de vários especialistas. Muito menos improvável foi o que se passou até agora: as águas no Sena não apresentarem níveis seguros em termos de poluição.

Mas se no filme de que falávamos a decisão política foi a de manter a prova apesar do perigo escondido nas águas do rio parisiense, nesta realidade a opção foi outra: Depois do cancelamento dos treinos, ontem foi adiado o Triatlo masculino (e remarcado para hoje para depois da prova feminina, que, à hora que esta newsletter lhe chega ao email, já arrancou) por níveis da presença de duas bactérias serem superiores ao considerado seguro.

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Cem anos depois, os Jogos Olímpicos voltaram a realizar-se na capital francesa, que tem vindo a preparar-se para o maior evento desportivo do mundo desde 2015. Parte essencial dessa preparação foi a limpeza das águas do rio Sena, elemento fundamental e histórico da cidade francesa. Após a confirmação da realização das olimpíadas em França, Anne Hidalgo, presidente da câmara de Paris, prometeu que a cidade, onde habitam atualmente cerca de 11 milhões de pessoas, passaria por uma drástica atualização ambiental até 2024 e que, à semelhança do que aconteceu nos Jogos Olímpicos de 1900 – também em Paris –, as provas olímpicas de natação aconteceriam no rio.

“A partir de 2015, decidimos que aproveitaríamos os Jogos Olímpicos para acelerar consideravelmente a visão”, referiu Emmanuel Grégoire, vice-presidente de Paris e responsável pelo planeamento urbano em entrevista à revista Time, em 2023. “Foi uma parte realmente importante da candidatura”, acrescentou. Sendo proibido nadar no rio desde 1923 devido ao elevado nível de poluição do mesmo, o plano de limpeza do rio mobilizou 1,4 mil milhões de euros e levou, no início deste mês, a presidente da câmara mergulhar no rio como forma de mostrar a toda a gente que as águas eram seguras.

Limpar o Sena

O rio Sena, que atravessa a capital parisiense, tem sido uma parte fundamental para o desenvolvimento da cidade desde a sua fundação pelos antigos romanos. “O Sena é a razão pela qual Paris nasceu”, referiu Grégoire na mesma entrevista. Contudo, ao longo dos séculos, e à medida que a cidade cresceu e se desenvolveu em torno do trecho de água, este foi sendo poluído pelas diferentes gerações de parisienses. Primeiramente, enquanto local de “despejo” de cadáveres durante as guerras religiosas do século XVI e, mais tarde, enquanto local de descarte de variados objetos já sem utilização. Mas a maior fonte de poluição das últimas décadas vem sobretudo sob a forma de despejo de águas residuais — que incluem esgoto doméstico e industrial — no rio.

Desenvolvido na época napoleónica, o sistema de esgotos antigo da cidade de Paris reunia, até à algumas décadas, o escoamento de resíduos e de águas pluviais (da chuva) das ruas numa única rede que terminava no rio. Uma combinação de sistemas de esgoto antigos e novos que tem sido “cara e complicada” de resolver, de acordo com Samuel Colin-Canivez, engenheiro-chefe das grandes obras de saneamento de Paris à Times. Segundo a revista, só em 2022 foram despejados 1,9 milhão de metros cúbicos de águas residuais não tratadas no Sena, valores que as autoridades consideraram serem os necessários de forma a evitar a saturação da rede de esgotos de Paris e a inundação da cidade.

A rede de esgotos tem vindo a sofrer intervenções desde a década de 1980 mas a última solução passou pela construção de um tanque subterrâneo gigantesco de armazenamento de água da chuva, localizado ao redor de Paris – a bacia de Austerlitz – com 30 metros de profundidade e 50 metros de largura. Com um custo total de mais de 90 milhões de euros – dentro dos 1,4 mil milhões gastos para a limpeza do rio – a bacia é a peça central do projeto que pretende tornar o rio novamente seguro para os banhistas até 2025.

Apesar dos esforços para limpar o curso de água, não se têm verificado as condições necessárias para a realização das provas olímpicas devido, segundo a organização, às chuvas que têm perdurado na cidade francesa. De acordo com um comunicado de Paris, após o as chuvas de 17 e 18 de junho, a bacia terá alcançado os 80% da sua capacidade total evitando, assim, que mais de 40 mil metros cúbicos de águas residuais e pluviais fossem descarregados no Sena. Mas os níveis de qualidade da água continuaram a não permitir a realização dos treinos e provas previamente agendadas.

Segundo a organização dos Jogos, o motivo da poluição estará nas chuvas intensas que caíram sobre a capital. “Isto deve-se à chuva que caiu em Paris nos dias 26 e 27 de Julho”, lê-se numa nota da organização que reforça ainda que “a prioridade é a saúde dos atletas”.

As fortes chuvas, especialmente as que se fizeram sentir no passado fim de semana, podem levar ao aumento dos níveis de bactérias – como a E. Coli – presentes nas águas do rio e colocar em risco a saúde de qualquer pessoa que entre em contacto com a água. A presença desta bactéria – indicadora de matéria fecal – tem sido uma das maiores preocupações relativamente à limpeza do Sena, pelos efeitos nocivos que tem no organismo humano. De nome científico Escherichia Coli, a E.coli é uma bactéria que existe habitualmente no intestino de pessoas saudáveis. A maioria das estirpes desta bactéria é inofensiva, contudo, esta pode causar infeções de ordem intestinal, digestiva e urinária graves quando ingerida através de alimentos ou bebidas infetadas. Entre os riscos da sua infeção em humanos encontram-se gastroenterite com diarreia intensa e com muco ou sangue e infeções urinárias.

Ainda em abril deste ano, Tony Estanguet, presidente da edição dos Jogos Olímpicos de Paris, apontava para os efeitos que as condições climáticas teriam na propagação da ameaça de E. coli. “Quando decidimos realizar esta competição no Sena, sabíamos que seria um grande desafio. Mas as autoridades tinham um grande programa de investimentos e, quando falámos do legado da competição, sentimos que este projeto seria fantástico”, explicou Estanguet ao Sport Accord.

As bactérias presentes na água da chuva

A água da chuva, historicamente, tem sido muitas vezes associada a propagação de surtos e doenças. Embora útil para outras tarefas – como regar as plantas ou lavar o carro – a água da chuva não é, geralmente, potável, por conter bactérias, parasitas, vírus e químicos que podem – e têm – levado a problemas de saúde em humanos. “Sempre que se entra numa massa de água – não apenas o rio Sena, ou um rio de uma cidade – é preciso reconhecer que não se está a saltar para água estéril”, referiu Amesh Adalja, especialista do Centro Johns Hopkins e porta-voz da Sociedade de Doenças Infecciosas da América, ao TODAY show.

A água da chuva pode ainda arrastar diferentes tipos de bactérias para os cursos de água, por exemplo, ao entrar em contacto com dejetos de aves, poeiras e resíduos que se encontram em telhados, passeios e canos nas ruas e acabam por ser transportados para os rios ou sistemas de esgotos.

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Antes de mais, abata-se já o elefante na sala: as previsões de médio prazo não estão inscritas na pedra. Ao contrário das previsões de curto prazo, que têm uma fiabilidade alta até três dias, as de longo prazo (de até 46 dias ou sazonais) fornecem uma visão mais geral e de malha menos fina das condições meteorológicas potenciais, semana a semana. Na prática, resulta em mapas com cores sobrepostas que indicam quão mais frio ou mais quente e mais seco ou mais chuvoso será aquele período, relativamente à média para aquela região e época do ano.

Sem mais delongas, vamos então às previsões para agosto, uma semana de cada vez, de segunda-feira a domingo, de acordo com os dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla internacional) e do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF).

(Deixamos de lado a precipitação, uma vez que os mapas de previsão a longo prazo não mostram, para esta região da Europa, qualquer tendência claramente definida, pelo que se prevê o costume: pouca ou quase nenhuma chuva.)

Semana de 29 de julho a 4 de agosto

A região de Lisboa e Vale do Tejo e o litoral dessa região até Aveiro ou Porto, e ainda a Costa Alentejana e até ao cabo de São Vicente, no Algarve, não tem uma tendência definida para esta semana, pelo que se esperam condições climatéricas normais para a data. O resto do País, no entanto, deverá passar por dias mais quentes, com destaque para o distrito de Bragança, que se prevê vir a registar até mais 3 0C do que a média, pelos dados do EFFIS.

O ECMWF mostra uma tendência semelhante, mas a zona sem tendência definida (ou seja, que deverá ficar dentro da média) é mais pequena: praticamente só a região de Lisboa a norte do Tejo estará na média, com a Costa Alentejana e o Litoral Centro-Norte a surgirem já com temperaturas ligeiramente acima do habitual; praticamente todo o Norte e a maior parte do Alentejo e do Algarve estarão até 3 0C acima da média, segundo este serviço meteorológico.

Ambos os serviços meteorológicos preveem uma semana mais quente do que a média na Europa Ocidental e do Sul, ilhas Britânicas e Noruega, e mais fria no extremo Leste. Espanha, onde muitos portugueses passam férias, estará quase na totalidade com temperaturas até 3 0C mais quentes do que a média.

Semana de 5 a 11 de agosto

As temperaturas tendem a descer neste período. O EFFIS aponta para que apenas o Interior Norte tenha temperaturas até 2 0C mais altas. O resto do território continental deverá ficar dentro da média, sendo que a norte de Lisboa a temperatura deverá ser até 1 0C abaixo da média (num triângulo que vai sensivelmente de Peniche à Figueira da Foz e a Coruche). No mapa do ECMWF, a mancha é um pouco maior e engloba a capital, mas o resto não difere.

No que respeita à Europa, no entanto, o calor é mais generalizado do que na semana anterior. Tal como na semana anterior, praticamente toda a Espanha tem uma previsão de até 3 0C acima da média.

Semana de 12 a 18 de agosto

A maior parte de Portugal Continental deverá registar temperaturas acima da média para esta altura. Segundo o EFFIS, só no Litoral não há uma tendência de anomalia (com exceção do Litoral Norte e do extremo oriental do Sotavento algarvio). A maior parte do Alentejo interior deverá estar cerca de 1 0C mais quente do que a média; o Interior Centro-Norte, 2 0C acima do habitual; grande parte do Nordeste poderá chegar aos 3 0C acima da média.

Os dados do ECMWF dão resultados um pouco diferentes: apenas a região a norte do Mondego apresenta uma clara tendência mais quente, até 3 0C acima da média; algumas manchas (região de Lisboa/Setúbal e no Alentejo junto à fronteira com Espanha) deverão estar igualmente mais quentes, embora só até 1 0C. O resto do território escapa a uma tendência definida ‒ nem mais quente nem mais frio.

Em ambos os serviços, os dados apontam para uma Europa muito mais quente do que o normal, sobretudo a Mediterrânica e o Sueste.

Semana de 19 a 25 de agosto

Nos mapas do EFFIS, a previsão para esta semana é quase tirada a papel químico da da semana anterior: litoral algarvio e alentejano e costa de Lisboa a Aveiro sem tendência clara acima ou abaixo da média; o resto do território continental mais quente, sendo que o Nordeste poderá ficar 3 0C acima da média. O ECMWF prevê exatamente o mesmo.

Na Europa, as coisas parecem acalmar um pouco. Na Europa Ocidental, apenas Espanha se mantém muito quente (até 3 0C acima da média); no Centro (Alemanha, Áustria, Bélgica, Países Baixos, grande parte da França, Norte da Itália e Balcãs), as temperaturas deverão ficar dentro do normal; Escandinávia, Polónia, Bálticos e ilhas Britânicas até 1 0C acima da média.

Semana de 26 de agosto a 1 de setembro

Mais uma vez, sem alterações significativas face à semana anterior: Litoral sem tendência definida (mais uma vez, com exceção do Litoral Norte), a maior parte do resto do País até 1 0C mais quente e o Nordeste até 3 0C acima da média. EFFIS e ECMWF fazem previsões semelhantes. Idem para o resto da Europa. lribeiro@visao.pt

Anomalias de temperatura de 29 de julho a 4 de agosto, em 0C

O El Niño já não está ativo e deverá dar lugar, no outono, a uma La Niña, que tende a fazer baixar a temperatura média global, mas continuam a ser batidos recordes

O dia mais quente de sempre

21 de julho foi o mais quente no mundo, desde que há registos fiáveis. Segundo o C3S (Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, da União Europeia), a temperatura média global da atmosfera foi de 17,09 ⁰C, mais 0,01 ⁰C do que o anterior recorde, do ano passado, durante a fase ativa do El Niño.

O mês mais quente… outra vez

Junho passado foi o 13º mês consecutivo mais quente de sempre, ou seja, junho de 2023 havia sido o junho com a temperatura média global mais alta desde que há registos, julho idem, e por aí fora, até ao mês passado. Note-se que o El Niño, o fenómeno do Pacífico que, quando está ativo, tende a fazer subir a temperatura média, esvaneceu-se na primavera.

Doze meses acima de 1,5 ⁰C

O mês passado foi ainda o 12º seguido a registar uma temperatura média global de pelo menos 1,5 ⁰C acima da média do período pré-industrial. Este é um valor simbólico, já que corresponde ao limite “ideal” estipulado pelo Acordo de Paris.