“Acho que hoje, para ser moderado, é preciso ter coragem e discernimento”. Foi assim que António Bagão Félix começou a sua intervenção na Portugal em EXAME, no painel “Clube dos Moderados”, iniciativa na qual a revista aproveitou para celebrar 35 anos de vida.

Bagão Félix partilhou o palco com Luís Marques Mendes, esta terça-feira, 25 de junho, no Auditório Américo Amorim. A sede da Galp recebeu assim a Portugal em EXAME, uma iniciativa que contou com o patrocínio do Bankinter Portugal e da KPMG Portugal, e ainda com o apoio da AdegaMãe.

“É preciso ver a moderação como uma virtude ética. Para além dos aspetos funcionais, claro. Verdadeiramente, a ideia da moderação foi largamente estudada e refletida há 2500 anos por Aristóteles”, continuou o antigo governante, lamentando que “o conceito da mediedade, o meio termo entre os excessos e as insuficiências” se tenha perdido. “Esse meio termo não era em relação à coisa que se estava a tratar, mas em relação à própria pessoa. Atualmente não está na moda ser moderado – pelo contrário! Porque, hoje em dia, ser moderado é ser chato”.

Na sua já costumeira participação neste Clube, Bagão Félix salientou a pressão que a televisão e os novos meios fazem na construção do discurso, com a necessidade de ter um “soundbite” de 30 segundos que funcione. “A pessoa em  30 segundos só diz “bom dia” e “boa tarde” e fica logo pressionada para não ter um raciocínio estruturado. E o raciocínio é uma forma de moderação!”, notou.

Atualmente não está na moda ser moderado – pelo contrário! Porque, hoje em dia, ser moderado é ser chato

bagão félix

“A humildade e a simplicidade democráticas são diferentes do simplismo. Hoje é tudo catalogado e etiquetado à primeira. As ideias, hoje, fazem-se etiquetando, sem buscar compromisso. A busca de compromisso tem subjacente acabar com a ditadura do dia seguinte, e pensar no que é a ideia ou a formulação num prazo mais longo. O que é um convite à moderação. A lógica de se discutir apenas para o dia é um convite para a não moderação, porque despreza a realidade”, avisou ainda o economista.

Luís Marques Mendes acompanhou a ideia e acrescentou uma reflexão: “A moderação pode não estar na moda, para certos segmentos, sobretudo quando as prioridades estão centradas na espuma dos dias, havendo comentadores televisivos de 15 em 15 minutos”, atirou divertido, recordando que ele próprio tem o seu espaço de comentário semanal. “Mas isso é para a bolha política mediática. O País está dividido, hoje, em várias partes”, acredita o advogado. “Duas muito marcantes: a bolha política mediática, que é um conjunto de pessoas que fala sempre das mesmas matérias, e que falam um para os outros…e o País está ao lado disso. O País, em si, quer outras coisas. Quer moderação, equilíbrio, sensatez. Não quer radicalismo, não quer extremismo”, garante.

“A maior parte dos portugueses não é especialista em política. A maior parte do País tem bom senso. E a moderação é o equilíbrio, a sensatez, é ver as coisas com sentido de racionalidade. A moderação não é paralisia, não é situacionista, não é anti-reformista, e claro que não é falta de convicção, evidentemente”, destaca.

Conferência 35 aniversário da EXAME. 25 Junho 2024 Foto: José Carlos Carvalho

Numa conversa conduzida pelo diretor da EXAME, Tiago Freire, Marques Mendes fez ainda questão de esclarecer que se a moderação “não for devidamente explicada, pode pensar-se que moderar é ser conservador. No sentido de não ser reformista. E isso não é verdade”.

“Até um ímpeto reformista ou transformador, exige equilíbrio, moderação e sensatez”, continua.

A moderação não é paralisia, não é situacionista, não é anti-reformista, e claro que não é falta de convicção, evidentemente

luís marques mendes

Bagão Félix reforçou que “a moderação não é um fim em si mesmo, é um método. E não tem nada que ver com a questão ideológica. Tem que ver com a forma como se é capaz de contextualizar o momento, as pessoas envolvidas… o moderado é aquele que percebe as restrições face à questão que se coloca ou à questão que tem de se resolver”.

Na ocasião, o antigo ministro recordou um episódio de quando trocou a pasta de Ministro do Trabalho para a de Ministro das Finanças, aquando da saída de Durão Barroso do Governo – que daria lugar a Pedro Santana Lopes à cabeça do Executivo social-democrata. Era início de verão, e Bagão Félix tinha entregado o Orçamento do Ministério do Trabalho e da Segurança Social à então ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite. Com a dança das cadeiras, coube-lhe a ele avaliar o Orçamento que tinha feito, mas que lhe foi entregue pelo seu sucessor, Fernando Negrão. “Comecei logo a pôr em causa uma série de questões que estavam no Orçamento da Segurança Social – isto é sempre assim entre o antipático do Ministro das Finanças e os ministros setoriais” (risos) Ao fim de um tempo, o Fernando Negrão diz assim: “Oh colega, mas sabe que eu não mudei uma vírgula ao orçamento que o senhor agora está a criticar…”

“E eu de repente, depois de uma gargalhada, aos 55 ou 56 anos, dei por mim a ter uma lição das maiores que tive até hoje. Uma lição dentro de mim. De facto, eu estava a ser honesto para mim próprio quando entreguei o Orçamento à Dra. Manuela Ferreira Leite. E estava a ser honesto depois, quando o recebi como ministro das Finanças. Mas o contexto era outro”. E compreender isso é fundamental para se manter a serenidade e a ponderação, não deixando o pé fugir para os extremismos, salienta.

Conferência 35 aniversário da EXAME. 25 Junho 2024 Foto: José Carlos Carvalho

Bagão Félix aproveitou ainda a presença na Portugal em EXAME para recordar todas as críticas que foram feitas ao livro que coordenou recentemente, e que gerou uma grande polémica nacional – Identidade e Família – lamentando que as principais críticas tivessem chegado mesmo antes de o livro ser lançado.

E, em jeito de brincadeira, revelou que o livro já vai na sua quarta edição, o que possivelmente se deve precisamente a todo o burburinho que se gerou em volta da sua publicação: “e que pena termos prescindido dos direitos de autor”, atirou divertido, antes de admitir que, obviamente, não é moderado em todos os momentos da sua vida.

“A moderação exige seriedade. Por exemplo, no futebol eu não sou moderado”, diz, para ouvir ao seu lado um divertido Marques Mendes a comentar que “isso a gente sabe”.

“Nunca vi um penalty marcado contra o Benfica que fosse bem assinalado”, continua Bagão Félix com uma gargalhada. “E ando há 52 anos a tentar explicar a minha mulher o que é um off side, e não consigo – o que abona a favor dela. Mas aí dou-me ao gozo da imoderação”.

“Agora, no resto, temos de perceber que a seriedade, a humildade, a sensatez são aspetos essenciais para ser moderado. Mas hoje, também contra a moderação, estamos a sofrer as incidências, larvares umas vezes, epidémicas outras vezes, do chamado wokismo, a política de cancelamento. As pessoas hoje já não dizem o que pensam, mas têm de pensar no que dizem e dizê-lo da maneira correta”.

O discurso de ódio é bilateral. Tanto é o dos que são radicais, como dos que não são radicais

bagão félix

E voltando ao livro, esclarece: “por eu defender uma ideia, não significa que estou a pôr de lado ou que sou contra todas as outras ideias. Quando o livro defende que a prioridade é a família natural, as pessoas não podem acreditar que não se admitem outras formas. O discurso de ódio é bilateral. Tanto é o dos que são radicais, como dos que não são radicais…entramos num processo maniqueísta, em que só há preto e branco, não há cinzento”, lamenta.

Já Marques Mendes aproveitou a manhã passada com o público e a equipa da EXAME para deixar um aviso aos atuais governantes, para quem atirou a responsabilidade de travar o crescimento populismo que, recordou, não é um fenómeno exclusivo de Portugal.

“O populismo nacional, do meu ponto de vista, é um populismo não consolidado. Em grande medida, o sucesso do populismo em Portugal está dependente da governação: se for boa, eficaz, e resolver problemas concretos das pessoas, o populismo leva uma machadada. Se as expectativas que estão criadas não se concretizarem, o populismo volta a subir”, alerta.

Espero que os governantes atuais não se deslumbrem com as cadeiras do poder e que seja dito a qualquer governante, do PS ou do PSD, que não há vitoria que não termine em derrota

Luís marques mendes

“Uma parte deste populismo tem mesmo que ver com questões sociais. Eu compreendo que uma parte grande das pessoas tenha votado da forma que votou em março. Dois anos antes das últimas eleições, tivemos um Governo que, ainda que com maioria absoluta, foi um desastre completo – do ponto de vista de governabilidade, de saídas constantes de pessoas, do ponto de vista de não ter nenhuma iniciativa transformadora…e a partir daí as pessoas ficam zangadas e descontentes. Espero que os governantes atuais não se deslumbrem com as cadeiras do poder e que seja dito a qualquer governante, do PS ou do PSD, que não há vitoria que não termine em derrota. E que está nas mãos, nas mesas, nas pastas deles a capacidade de acabar com o populismo”, concluiu.

Nem tudo são más notícias quando olhamos para os últimos 35 anos da economia portuguesa, mas até as boas notícias parecem não ter sido suficientemente boas para dar um impulso qualitativo à economia portuguesa nesse período temporal.

“Houve um salto enorme na educação no espaço de uma geração”, disse Joana Pais, vice-presidente do ISEG, na conferência Portugal em Exame, destinada a assinalar os 35 anos da revista Exame, que decorreu esta terça-feira. Mas, como ressalvou, essa melhoria na qualificação, principalmente dos mais jovens, “não foi absorvida pela economia”, já que continua a verificar-se “um desajustamento entre as competências dos portugueses e aquilo que os seus postos de trabalho exigem. Quase 28% dos trabalhadores são sobrequalificados para a função que exercem”, notou.

Salientando a “incapacidade de fazer com que o enorme investimento em capital humano se reflita em produtividade” que, três décadas e meia depois continua praticamente no mesmo ponto em que se encontrava em 1989 face à média europeia, a economista apontou também a “compressão nos salários”, particularmente no salário médio, auferido por cerca de dois terços dos portugueses – e que atualmente se encontra em 1 443 euros brutos -, para explicar a saída continuada dos jovens mais qualificados para o exterior. “Todos os anos perdemos um quarto dos licenciados”, disse.

Atualmente, quase metade dos portugueses apresentam os ensinos secundário (26,2%) e superior (23,2%) completos, quando em 1989 apenas 10% dos habitantes tinham completado o ensino secundário e 6% o ensino superior. Mas é na população jovem, com idades entre 25 e 34 anos, que a evolução é maior: mais de 40% têm o ensino superior, e outros 40% o ensino secundário completo.

Conferência 35 aniversário da EXAME. 25 Junho 2024 Foto: José Carlos Carvalho

Olhando em retrospetiva para o tecido empresarial português, Joana Pais constatou que “as grandes empresas, que são poucas, absorvem apenas cerca de 20% da mão de obra” em Portugal. São as pequenas e, sobretudo, as micro empresas que empregam a maioria dos trabalhadores, o que também não contribui para reter o talento jovem. “O tecido empresarial também não mudou muito desde 1989”, concluiu.

Estes indicadores parecem explicar, em parte, os resultados de um estudo sobre a confiança interpessoal dos europeus, que indicam que, em Portugal, 79% das pessoas confiam pouco naqueles com quem se relacionam – um valor ao nível de países como a Roménia, Bulgária e Croácia. “Nos países com maior PIB per capita, confia-se mais”, disse ainda Joana Pais, dando como exemplo os países nórdicos, onde a confiança interpessoal atinge os valores mais elevados.

Joana Pais trouxe um panorama da economia portuguesa ao longo dos últimos 35 anos, desde que a Exame começou a ser publicada em Portugal. Este foi um dos temas da Portugal em Exame, conferência anual da Exame que se realizou esta terça-feira, no auditório Américo Amorim, no edifício Allo, da Galp, e contou com o apoio do Bankinter e da KPMG.

As empresas estão totalmente conscientes da importância de que a transformação tecnológica tem nos seus negócios, ainda que haja um caminho longo e com cujos constrangimentos será necessário lidar com atenção.

Esta foi uma das conclusões avançadas por Vítor Ribeirinho, CEO da KPMG Portugal, durante a apresentação “O futuro das empresas”, no âmbito da conferência Portugal em Exame. O responsável partilhou os dados de um estudo que mostra que, apesar de 88% das empresas consultadas terem em curso dois ou mais “programas significativos de transformação em simultâneo”, menos de um terço dos líderes classificam como “muito elevada” a preparação tecnológica da sua empresa. Ou seja, o caminho está a ser feito, mas há a consciência de que ainda há muito que andar. “Dá-nos uma perspetiva interessante sobre como as empresas, hoje, veem e estão preparadas para a transformação e para o futuro. Hoje há uma grande pressão sobre os líderes e os CEO, uma pressa que todos nós temos para que aconteça algo de novo, muito rapidamente”, defendeu, acrescentando que “há a necessidade de aceleramos o ritmo de transformação digital para que nos possamos aproximar do nível adequado de maturidade”.

Há também uma política de reforçar parcerias, em detrimento da internalização total de soluções. Ribeirinho deu como exemplo a parceria da KPMG com a Microsoft para a incorporação de cada vez mais tecnologia nas atividades, nomeadamente através de Inteligência Artificial, mas não só.

No entanto, apenas cerca de 1/3 dos líderes considera que a sua rede atual de parceiros está alinhada com os seus objetivos de transformação”.

Uma coisa parece certa: 60% dos inquiridos acredita que a adoção de tecnologia avançada, como a IA generativa, aumenta largamente a probabilidade de sucesso desse processo de transformação.

Este foi um dos temas da Portugal em Exame, conferência anual da Exame que se realizou esta terça-feira, no auditório Américo Amorim, no edifício Allo, da Galp, e contou com o apoio do Bankinter e da KPMG.

Ainda assim, Vítor Cunha Ribeirinho chamou a atenção para a importância da cultura organizacional, que não pode ser deixada para trás, até porque tende a fortalecer os resultados de uma transformação. “Quanto mais uma empresa estiver focada naquilo que é a sua cultura menos risco e tentação terá de se dispersar na sua estratégia”, explicou.

 “A cultura empresarial será um pilar essencial, à medida que a imprevisibilidade mundial se torna constante”, conclui o estudo, acrescentando que “a cultura empresarial assume-se como uma força orientadora, que gere a relação e a resistência dos stakeholders e que permite que as empresas façam escolhas independentes e informadas, de acordo com a sua estratégia e objetivos”.

Um dos pontos dessa cultura é o alinhamento de todas as pessoas “com uma missão e trabalhar para objetivos comuns. O sucesso de cada empresa e de cada processo de transformação requer uma visão clara sobre o todo”.

Outro dos pontos essenciais prende-se com a liderança, mais concretamente com aquilo que se espera dos líderes empresariais, agora e no futuro. E aí entra uma característica cada vez mais requisitada, a empatia (nomeadamente na boa comunicação interna, justificando as decisões com transparência), juntamente com cada vez mais exigência a nível ético, tanto interna como externamente.

Conferência 35 aniversário da EXAME. 25 Junho 2024 Foto: José Carlos Carvalho

Falando de tecnologia, o orador não ignorou os receios de que elementos como a IA possam ter impacto nos postos de trabalho, mas reforçou que é fundamental passar confiança às pessoas e aos trabalhadores, explicando o que se está a fazer e qual o resultado pretendido. “Para que possam ser parte da solução neste caminho da transformação, que é duro e traz algumas ameaças  – nomeadamente de uma possível desumanização”, exemplificou.

Vítor Ribeirinho não deixou, no entanto, de focar cinco constrangimentos neste caminho da transformação empresarial: a Regulação (a sua estabilidade, simplificação, quantidade e avaliação); a Justiça (que precisa de ser mais célere e simples); os Recursos (como podemos contrariar a saída de jovens qualificados); a Ambição (no que toca valorização das empresas e dos seus resultados positivos ou na dimensão/capitalização das empresas); e o Estado (necessidade de políticas públicas diferentes).

“As empresas estão a tratar do futuro. Temos de viver hoje no mundo da incerteza. Não vale a pena discutirmos business plans nas nossas organizações num pressuposto imutável. O pressuposto é a incerteza. O novo normal é isto, e temos de ter a flexibilidade para tomar decisões rápidas e isso tem de estar enraizado nas figuras de liderança”, afirma o líder da KPMG Portugal.

Este evento serviu também de mote à comemoração dos 35 anos da Exame, publicada em Portugal desde 1989.

As empresas multinacionais e os grandes grupos nacionais que apresentem receitas consolidadas anuais acima de 750 milhões de euros vão passar a ser tributados a uma taxa mínima de IRC de 15%, ao abrigo da transposição da diretiva europeia conhecida como Pilar 2 que o Governo pretende efetuar em breve, anunciou o ministro das Finanças, Miranda Sarmento, na conferência Portugal em Exame, comemorativa do 35 anos de vida da revista Exame.

Este novo regime, criado para abranger as empresas de grupos multinacionais, obriga a que as mesmas determinem, de forma harmonizada, a taxa de tributação efetiva aplicável a cada uma das jurisdições onde têm atividade. No casos em que o limiar mínimo de tributação por jurisdição seja inferior a 15%, o diferencial de imposto terá de ser pago pela empresa-mãe, permitindo assim ao Estado da jurisdição dessa entidade-mãe arrecadar receita adicional pelo simples facto de outros Estados não garantirem para si a taxa mínima de tributação de 15%. A diretiva tem sido vista como uma forma de desincentivar as grandes multinacionais a efetuarem planeamentos fiscais agressivos.

Sublinhando que Portugal tem a segunda taxa nominal de IRC mais elevada da OCDE e dos países da coesão, o ministro das Finanças considerou que a transposição deste novo regime nos países onde “o IRC é muito elevado, tem o efeito de atrair investimento e criar emprego”. Na ocasião, Miranda Sarmento recordou que o programa do Governo AD prevê a descida gradual da taxa de IRC em dois pontos percentuais ao ano, dos atuais 21% para 15%.

Assinalando o que considerou ser uma má performance dos indicadores económicos nacionais nas últimas duas décadas – em que Portugal cresceu, em média, apenas 0,7% ao ano -, o governante acentuou “as dificuldades” de contexto mas disse que o Governo está comprometido com a execução do seu programa. Reafirmou os objetivos de equilíbrio das contas públicas, a redução da dívida pública para valores próximos dos 80% do PIB no final da legislatura, em 2028, e ainda a previsão de um “excedente de 0,2% a 0,3% do PIB no final deste ano”. Referindo-se aos últimos dados do INE, que apontam para um défice de 0,2% do PIB, declarou, no entanto, que “não há qualquer dúvida sobre a deterioração da contas no primeiro trimestre do ano.”

Conferência 35 aniversário da EXAME. 25 Junho 2024 Foto: José Carlos Carvalho

Durante a sua intervenção, o ministro das Finanças referiu a necessidade de tornar a economia portuguesa “mais competitiva”, aumentando salários e rendimentos, reduzindo impostos, apostando na iniciativa privada e combatendo a pobreza, sendo por isso desejáveis “mais concorrência”, “melhor regulação”, “aposta na transição climática e energética” e uma reforma do mercado de trabalho “ajustada às transformações”. Dar resposta ao desafio demográfico, através de medidas de reforço da natalidade e da regulação da imigração para atrair capital e talento para Portugal foram também defendidas pelo governante.

Encerrou com a intervenção de Joaquim Miranda Sarmento a Portugal em Exame, conferência anual da Exame que se realizou esta terça-feira, no auditório Américo Amorim, no edifício Allo, da Galp, que contou com o apoio do Bankinter e da KPMG.

Cerca de uma em cada vinte mortes são provocadas pelo consumo de álcool todos os anos em todo o mundo, revelou o último relatório da agência das Nações Unidas, com dados referentes a 2019. Apesar de apresentar uma descida face aos anos anteriores, a OMS – Organização Mundial de Saúde – considerou este número “inaceitavelmente elevado”. As mortes – relacionadas com o álcool – incluem acidentes rodoviários, violência, abusos e doenças e distúrbios relacionados com o excesso da substância.

“O consumo de substâncias prejudica gravemente a saúde individual, aumenta o risco de doenças crónicas e mentais e resulta tragicamente em milhões de mortes evitáveis todos os anos”, referiu Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, através de um comunicado.

Segundo o relatório, cerca 2,6 milhões de pessoas terão morrido em 2019 graças aos efeitos do consumo de álcool – cerca 4,7% das mortes que ocorreram neste ano. Em média, terão sido consumidos cerca de 27 gramas de substâncias alcoólicas – equivalente a dois copos de vinho ou duas cervejas – nesse mesmo ano. Também segundo os dados apurados pelo relatório, os jovens entre os 20 e os 39 anos, são os que compõem a maior proporção de pessoas – cerca de 13% – dessas mortes.

“Este nível e frequência de consumo estão associados a maiores riscos de contrair muitas doenças, bem como à mortalidade e incapacidades”, alertou a OMS.

No seu comunicado, a entidade alertou ainda para a necessidade de criação e melhoramento de tratamentos de qualidade para perturbações por uso de substâncias alcoólicas e outras. 

A boa onda e a animação saltam à vista, assim que se põe um pé no número 108 da Rua da Boavista. A música no tom certo, o ambiente à meia-luz e os cocktails (antes da refeição) ajudam a entrar no ritmo. É esta a morada do Ryoshi, que marca o regresso de Lucas Azevedo, um dos chefes que melhor dominam a cozinha japonesa em Portugal. Inspirado nos restaurantes tradicionais do Japão e aberto apenas ao jantar, aqui o chefe acrescenta-lhe a sua criatividade.

O chefe de cozinha Lucas Azevedo, natural no Rio de Janeiro, vive em Portugal há cerca de 20 anos

Antes de nos sentarmos, há que experimentar um dos cocktails da lista, que podem ser saboreados numa das cadeiras viradas para a rua. O Wabi Sabi (€13) é preparado com vodka, morango e queijo-creme, e o Yoshoku (€13) com tequila, yuzu e togarashi.

Escolhemos o balcão em madeira, com dez lugares (há várias mesas e zonas pensadas para grupos na mezzanine), o melhor lugar para dar dois dedos de conversa com o chefe nascido no Rio de Janeiro, a viver em Portugal há cerca de 20 anos, e que passou pelo restaurante Bonsai, no Bairro Alto, e pela barra japonesa do Praia do Parque, onde servia um menu omakase (composto por vários momentos à escolha do chefe). “No Ryoshi queria fazer uma coisa diferente. Os sabores de alguns pratos são os mesmos que se podem provar nos mercados ou em casas japonesas”, diz, acrescentando que “a cozinha será interpretada à nossa maneira, sempre com verdade, às vezes com uma pitada de humor e a preços democráticos.”

Tártaro de carapau, tofu frio e shiso. Foto: Gonçalo F. Santos

Da ementa, destaca-se o coração de alface com pirikara (€10), prato inspirado num popular aperitivo japonês; as asas de frangyosa (€14), uma criação que junta as asas de frango ao recheio das gyozas; e a imperdível Lucas-San K-Sandwich (€14), feita com um ingrediente especial, que não vamos revelar. Também a lula com togarashi (€16), servida quase crua para respeitar a sua textura, ficará na memória. Para terminar, aceitamos a sugestão para provar a pera bêbada (€7), a sobremesa favorita da equipa, por ser “divertida, sexy e elegante”, como pode ler-se na ementa.

Ryoshi > R. da Boavista, 108, Lisboa > T. 96 348 8779 > ter-sáb 18h30-1h30

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Quando a Dyson anunciou o DC01, em 1993, foi uma espécie de momento iPhone (que na altura não existia, mas os leitores perceberão a referência) para os aspiradores. Na altura, os aspiradores dependiam todos de um saco, que os utilizadores tinham de esvaziar ou então substituir a cada par de meses. E à medida que o saco enchia, a potência de aspiração diminuía. Por isso quando James Dyson, o fundador da empresa, revelou um aspirador vertical com um motor ciclónico, com elevada potência de aspiração constante, e sem saco, mas sim um depósito, mostrava uma abordagem completamente nova para uma categoria de produto que há muito parecia estar resolvida.

O resto, como se costuma dizer, é história. A Dyson pode não constar entre as maiores tecnológicas do mundo, mas é uma marca reconhecida não só pela inovação no design dos seus produtos, mas muito também pela inovação no seu interior, ao nível da engenharia. A empresa tornou-se numa referência nos produtos de eletrónica doméstica, na área da limpeza e cuidados pessoais, o que se estende da inovação ao segmento premium dos produtos. Alguns aspiradores sem fios, purificadores de ar, secadores e alisadores de cabelo e secadores de mãos tornaram-se em produtos icónicos.

Agora, com o lançamento de uma nova categoria de produto, com o WashG1, a Dyson volta a mostrar que há muito mais do que à primeira vista se vê, sobretudo na forma como são pensados os diferentes pormenores para tornar a utilização o mais simples, fácil e prazerosa possível. A empresa viu um espaço por preencher na limpeza de pavimentos em casa e decidiu chegar-se à frente. Tim Hunter é mestre em engenharia mecânica, trabalha na Dyson há cinco anos, onde atualmente ocupa o cargo de engenheiro mecânico sénior. Foi um dos obreiros do WashG1 e já está a trabalhar em novos produtos da marca. Em entrevista à Exame Informática, revela como se passa de uma simples ideia de produto para um equipamento que os utilizadores podem comprar e levar para casa.

Qual é o seu papel específico na equipa de engenharia da Dyson neste momento?

Sou engenheiro mecânico no que chamamos de NPF, que significa New Product Feasibility (Viabilidade de Novos Produtos). Na Dyson, temos uma cadeia de desenvolvimento bastante longa. Começamos com o processo de investigação, no qual testamos novas tecnologias, experimentamos diferentes conceitos e temos algumas ideias, mas sem necessariamente termos um produto em mente. É mais sobre a tecnologia em si, como a microfibra usada nos rolos do WashG1. Depois, passamos para a NPI, New Product Innovation (Inovação de Novos Produtos), onde reunimos estas ideias e tecnologias, e as transformamos em algo que acreditamos que seria um produto que as pessoas desejam. Depois, eu e meus colegas do NPF, pegamos nessa ideia de produto e testamo-la, garantindo que podemos mesmo fabricá-la, que todas as tolerâncias e detalhes necessários para produzir milhões de unidades estão corretos e funcionarão como esperado. Depois de termos um produto funcional que sabemos que podemos produzir em larga escala, transferimos o processo para a Malásia, onde temos outra equipa de engenharia chamada NPD, de New Product Development (Desenvolvimento de Novos Produtos). Eles basicamente tornam o produto fabricável, trabalhando em todas as ferramentas necessárias, como os moldes para as peças de plástico, fabricar os motores e assim por diante. A produção ocorre na Malásia, Singapura, China e México, e depois os produtos são distribuídos ao público. É esse o processo. Eu estou no meio, no qual pegamos nas ideias e transformamo-las num produto real que podemos vender.

Um produto como o WashG1 – quanto tempo leva desde o conceito a um produto que posso usar em minha casa?

Este mercado de produtos para limpeza de superfícies é algo no qual temos trabalhado há anos, provavelmente 10 anos. Estamos sempre a criar produtos que achamos que podem ser bons, mas não temos 100% de certeza. Na Dyson, não temos medo de falhar ou de decidir que um produto não é bom o suficiente para o mercado. Aí, ou mudamos completamente de direção e criamos uma nova ideia, ou deixamos essa ideia de lado e começamos do zero. Fizemos esse processo de recomeçar várias vezes com produtos para limpeza de superfícies ao longo dos anos. Mas o Wash G1 provavelmente começou há uns cinco anos. Eu estava a trabalhar neste produto há cerca de dois anos, e depois há cerca de um ano na Malásia, garantindo que era fácil de fabricar. Então, cada produto provavelmente leva alguns anos, três ou quatro anos. Mas especificamente este, o nosso primeiro produto para limpeza molhada de superfícies, levou muito tempo porque queríamos ter certeza que acertavamos e que o mercado estava pronto para ele.

Mas o que há de tão especial ou difícil nesse mercado de produtos de limpeza para superfícies duras? A Dyson é conhecida pelos seus aspiradores, e as pessoas provavelmente esperariam um produto 2-em-1 que aspirasse e também passasse a pano. Mas vocês optaram apenas pela solução de limpeza, sem aspiração. Porquê?

Sim, existem outros produtos no mercado que combinam aspirar e passar o pano. Testámos extensivamente muitos concorrentes e descobrimos que misturar o fluxo de ar com água causava muitos problemas de higiene. Por exemplo, para ter um motor de aspirador que também aspire água, são necessários muitos filtros para proteger o motor e evitar que a água entre em contacto com ele. Esses filtros, por ficarem molhados, são um ótimo sítio para o crescimento de bactérias. Muitas vezes, essas máquinas produzem odores e maus cheiros porque não havia como impedir que esses cheiros fossem expelidos dentro de casa. Desde o início, decidimos não usar um aspirador por causa de todos esses problemas. Mas ainda queríamos o mesmo desempenho de um produto que tivesse aspirador e uma mopa. Este produto [WashG1] é tão bom quanto um produto com aspirador. Ainda podemos recolher detritos secos, podemos apanhar tudo o que um aspirador apanharia, mas sem usar um motor de aspiração, que tem seus problemas. As nossas microfibras absorvem e puxam o lixo do chão, que depois é enviado para a bandeja de detritos. Essencialmente, não precisamos do elemento do aspirador. Conseguimos fazer tudo sem essa parte.

É engraçado porque os utilizadores provavelmente pensam: “Eu só quero algo para limpar o chão”. Mas quando olham para este problema específico, a vossa equipa vê dezenas de problemas de engenharia que se amontoam, certo?

Exatamente. E é preciso uma equipa de engenheiros para resolver lentamente todos esses problemas e dizer: “Ok, se adicionarmos isto, vai surgir um problema e haverá mais com aquilo”. Então, temos que trabalhar como equipa para garantir que o produto funciona bem como um todo.

Os produtos Dyson geralmente situam-se no segmento de preço mais alto. Isso deve-se a este pensamento cuidadoso em todos os detalhes? Por exemplo, não podemos aspirar água porque isso danificaria os motores? O preço também inclui esses detalhes em que a marca pensa e que outros fabricantes provavelmente não prestam tanta atenção?

Acredito que sim. E queremos que seja uma experiência agradável para o utilizador. Queremos que seja muito fácil de usar, muito confiável e a qualidade dos nossos produtos é muito alta. Queremos que durem muito tempo. A nossa vida útil dos produtos está cada vez mais longa, especialmente agora que queremos que as peças sejam reparáveis. Queremos que as pessoas possam comprar peças de substituição e mantenham os seus produtos por mais tempo. Definitivamente, queremos isso. Temos grandes equipas que estão realmente a tentar resolver cada problema e resolvê-lo de uma forma que não seja apenas fácil para o utilizador, mas que também garanta um bom desempenho e supere muitos dos nossos concorrentes.

A longevidade dos produtos é algo que, pessoalmente, como consumidor, me preocupa. Se invisto muito num produto novo, gosto de saber que ele pode durar pelo menos dez anos. E quando temos alguns consumíveis, como os rolos neste tipo de produto, a Dyson pode prometer aos utilizadores que, daqui a dez anos, eles ainda encontrarão esses rolos para usar no produto?

Não posso dar 100% de certezas, mas espero que sim. Se olhares para os nossos produtos anteriores, como o Dyson V6 e o V7, que foram lançados há cerca de 10 anos, ainda podes comprar filtros de substituição e outras peças, até mesmo baterias extra. Então, sim, espero que daqui a 10 anos ainda estejamos a vender rolos de substituição e outras peças para o Dyson WashG1.

Quando falamos sobre construir um novo produto, há sempre algum tipo de compromisso entre engenharia, design, conveniência e preço. Enquanto equipa, como lidam com estas diferenças de objetivo? Provavelmente alguém na empresa quer que seja mais barato, alguém quer que seja mais fiável, alguém quer que seja mais fácil de usar, mais leve… Imagino que estejam sempre em conflito uns com os outros…

Para ser sincero, esse é o desafio de ser um engenheiro, tens sempre diferentes alavancas para controlar. Poderíamos torná-lo num produto muito caro e cem vezes melhor, mas ninguém o compraria. Definitivamente, é preciso fazer concessões. Na Dyson, muitas vezes criamos todas estas soluções e decisões para os problemas e apresentamo-las ao próprio James Dyson. Ele toma muitas destas decisões maiores, como: “Ok, estou disposto a gastar mais dinheiro e garantir que a qualidade e a fiabilidade são excelentes”. Ele toma muitas dessas grandes decisões, e nós só fornecemos as informações e todos os testes para que ele possa tomar essas decisões.

O que acontece com todos os protótipos vão criando? Usam-nos em casa? Vão parar a um armazém?

Um pouco de tudo, na verdade. Às vezes, levamo-los para casa, alguns vão para o armazém para referências futuras. Podemos precisar voltar cinco anos atrás e ver algo que fizemos de semelhante e vamos ao armazém para olharmos novamente para o protótipo. Muitos dos nossos produtos estão sempre a evoluir e estamos sempre a tentar torná-los melhores. Mesmo depois de lançar um produto, podemos pensar: “Acho que poderíamos torná-lo melhor”. Então, muitos dos protótipos ainda são atualizados e desenvolvidos para versões futuras desse produto. Os nossos laboratórios estão cheios de protótipos que podem ser antigos, mas tentamos reciclar o máximo possível, reaproveitando peças de protótipos antigos em novos.

Sei que estão a lançar este novo produto e estão focados nisso, mas quer partilhar detalhes sobre projetos ou inovações nos quais a Dyson ou sua equipa de engenharia estão a trabalhar?

Para ser honesto, não posso anunciar nada. Mas estamos sempre a tentar ultrapassar os limites. Do ponto de vista do cuidado com o chão, fiquem de olho no espaço de produtos para superfícies molhadas e secas. Essas tipologias de produtos vão continuar a ter lançamentos.

Ainda há muito espaço para inovar nestes espaços, de aspiração e limpeza doméstica?

Penso que sim. Os aspiradores de pó passaram de ter um fio e serem grandes e volumosos para serem pequenos, leves e alimentados por bateria. Embora já tenhamos o WashG1 com bateria, tenho a certeza de que podemos torná-lo mais pequeno, mais potente, mais eficiente e usar menos água. Há sempre coisas que podemos fazer para continuar a evoluir e garantir que é o mais fácil possível de usar do ponto de vista do utilizador. Portanto, sim, definitivamente há inovações que podemos continuar a desenvolver.

A próxima geração de baterias SciB promete uma grande longevidade, aliada a um carregamento muito rápido. A Toshiba, em conjunto com outras duas empresas, preparou um protótipo de autocarro elétrico que já usa este componente e cuja autonomia pode ser carregada dos 0 aos 80% em apenas dez minutos.

Toshiba baterias autocarros elétricos

Estas novas baterias reduzem o risco de incêndios e explosões e também o custo operacional, ao mesmo tempo que asseguram um bom desempenho e podem ser operadas num amplo espectro de temperaturas (-30 a 60 graus centígrados). A nova geração tem 50% de mais densidade a 350 Wh/l tornando-se adequada para a mobilidade elétrica urbana do futuro, noticia o Interesting Engineering.

A apresentação deste autocarro feito pela Toshiba, pela Sojitz e pela CBMM, com baterias de iões de lítio e ânodos NTO aconteceu na fábrica da CBMM em Araxá, no Brasil. As três empresas comprometeram-se a continuar a desenvolver este tipo de baterias inovador e estar preparadas para um lançamento já na primavera de 2025. Outra vantagem desta geração, além do carregamento rápido, passa também pela elevada densidade de energia.

António Costa tem luz verde para ser presidente do Conselho Europeu. Mas o jornal Público vai mais além e garante que a nomeação do ex primeiro-ministro está garantida.

Ursula von der Leyen – presidente da Comissão Europeia – e Kaja Kallas -primeira-ministra da Estónia – também terão sido aprovadas para os cargos de topo em Bruxelas (para a Comissão Europeia e para a Política Externa, respetivamente).

Os três nomes serão apresentados aos líderes da UE numa cimeira que acontece esta quinta-feira, dia 27 de junho. A informação foi avançada pelo jornal Politico.

Os seis líderes europeus que negociaram os nomes em causa foram o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis, o primeiro-ministro polaco Donald Tusk, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, o chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro holandês Mark Rutte.