“O festival não tem tema nem estes espetáculos não têm nada em comum, a não ser a excelência de quem os faz”, diz Rodrigo Francisco, diretor artístico do Festival de Teatro de Almada, que assinala 40 anos e 41 edições. Assim, não se encontra aqui nenhum tipo de unidade.

Não há um foco nos 50 anos do 25 de Abril, apesar de haver uma peça e uma exposição a evocar a revolução. Não há uma unidade linguística: o português é dominante, mas há espetáculos em francês, inglês, italiano, árabe e até num dialeto napolitano.

Não há sequer uma coerência de formato, pois dentro da programação há espaço para marionetas, malabarismo, musicais, dança, um espetáculo de cabaret e até para concertos e debates.

Um dos mais aguardados momentos é Relative Calm, a nova colaboração de Robert Wilson com a coreógrafa Lucinda Childs, com quem trabalhou, em 1975 e 1976, no icónico Einstein on the Beach, a partir da música de Philip Glass. Esta peça tem o mesmo título de uma coreografia de Childs, estreada, em Estrasburgo, em 1981, da qual a coreógrafa acabou por aproveitar apenas um dos quadros para esta versão.

A ideia de revisitar e construir uma nova peça ocorreu em plena pandemia, quando os dois decidiram juntar-se num teatro vazio a trabalhar. O resultado é um espetáculo visualmente impactante, nas fronteiras entre o teatro, a dança e a ópera moderna, sobre a música de Job Gibson, John Adams, mas também a Pulcinella, de Stravinski. Estreou-se em Roma, e, 2022,  e chega agora a Portugal, tendo como palco o CCB, instituição com que há muito o Festival de Almada mantém.

No teatro como na vida vivemos cada vez mais em compartimentos, somos levados a estar com aqueles que pensam da mesmo forma que nós. O espaço de um festival pode servir para misturar tudo. A arte compartimentada empobrece-se

rodrigo francisco – diretor artístico do festival de teatro de almada

Por falar em mitos, o Fórum Romeu Correia vai receber uma das mais lendárias companhias de marionetas do mundo, com um dos seus mais arrojados espetáculos. A Tempestade pretende mostrar Shakespeare como nunca se havia visto antes.

Tudo partiu do velho desejo de Eduardo De Filippo de representar Shakespeare. Só que já não tinha idade para o papel. Então, resolveu montar um espetáculo de marionetas, chegando mesmo a gravar a voz da maioria das personagens, antes da sua morte.

Entretanto, a companhia Carlo Colla & Figli rebuscar as vozes e os desenhos das marionetas e trá-lo ao público desde 1985. A companhia que já tinha estado em Portugal, no Teatro da Trindade,  regressa agora para um espetáculo, que conta com 12 marionetistas  e 150 marionetas.

Outro grande regresso é o alemão Peter Stein, uma das grandes figuras da encenação mundial, com espetáculos de ópera, que aqui surpreende pela simplicidade. Volta a Tchekhov, figura de referência do teatro russo, mas não às principais obras que o notabilizaram, antes a três pequenas peças da sua juventude. Crise de Nervos significa sobretudo um regresso |à base de teatro, segundo a máxima: “O teatro são três tábuas e dois atores”.

E, como costuma acontecer, há um espetáculo de honra. Todos os anos o Festival de Almada pede ao público para votar no seu favorito dando como recompensa, aos criadores e ao próprio público, o regresso do espetáculo ao festival no ano seguinte.

Nesse contexto, recupera-se  Jogging, da atriz e encenadora libanesa Hanane Hajj Ali. Uma peça corrosiva, incómoda, que fala de mulheres que mataram os seus próprios filhos.

Do cabaret a Eurídice

Importante presença é também a de Olivier Py. O conhecido programador e encenador, que antecedeu Tiago Rodrigues na direção do festival de Avignon, tem, desde há décadas, uma outra faceta: criou a personagem Miss Knife, um travesti, através da qual faz espetáculos de cabaret.

Olivier Py foi muitas vezes criticado pela sua insistência na personagem, mesmo em ocasiões que requeriam alguma solenidade, como o espetáculo de despedida de Avignon, mas sempre a manteve, consolidando-a e desenvolvendo-a ao longo dos anos. Este novo espetáculo chama-se E agora, Miss Knife tem um par… o pianista Maestro S, alter-ego de Antoni Sykopoulos.

A propósito de música e teatro, em Sem tambor, francês Samuel Achache propõe-nos uma diversão à volta da Lieder, de Schmann, segundos as palavras do própria a ideia é mesmo destruir Schumann, numa comédia, que passa pelo cabaret e pelo burlesco. Achache, que é uma figura de referência do novo teatro musical, colabora, nesta peça, com o diretor musical Florent Hubert e tem com base estrutural as personagens de Tristão e Isolda.

Ainda dentro dos espetáculos musicias, em Onde vou à Noite, Jeanne Desoubeaux propõe uma versão contemporânea do mito de Orfeu e Euridice, a partir da ópera de Christoph W. Gluck.

Já em 1859 Hector Berlioz havia feito uma versão para mezzo-sprano e a cantora Pauline Viardot interpretou então o papel vestida de homem. Desde então que a ideia de uma mulher interpretar Orpheu se inscrevi nos cânones da ópera. Em Onde vou à Noite, Jeanne Desoubeaux leva a questão mais além: “Se são duas mulheres que cantam porque não assumir que são duas mulheres que se amam?”

A dança vai ao teatro

Em zona de fronteira encontra-se o ciclo Dança na Sala Grande, em que o teatro pisca o olho a uma outra arte performativa, que lhe é próxima: a dança. Três espetáculos que retomam o pulso da dança contemporânea. Destaca-se, logo a abrir, Full Moon, a última criação do coreógrafo sérvio Josef Nadj.

LIFE event n.º 3, pelos Gandini Juggling

A peça é sequência do movimento rutura com a suas obras anteriores, iniciado em 2021, com Ommar, também apresentado no Festival de Almada. Apresenta, num palco vazio, oito bailarinos africanos, com os quais nunca havia trabalhado, numa narrativa que vai até às origens da humanidade.

A francesa Mathilde Monnier parte da série televisão H24, que reunia contos de 24 autoras sobre violência doméstica,  para contar as história de nove mulheres, em Black Lights. Uma obra de denúncia, com um sentido político, feita com um elenco internacional que integra a portuguesa Isabel Abreu.

O destacada coreógrafo americano Merce Cunningham é a inspiração de LIFE event n.º 3, pelos Gandini Juggling. O projeto multidisciplinar, cheio de adrenalina e movimento, que mistura dança, performance, teatro e até malabarismo. De resto, no início da peça, o próprio Sean Gandini faz-nos uma ‘introdução ao malabarismo’, realçando que essa disciplina consiste numa fusão de matemática, música e ritmo.

Brecht, Zeldin & As Mil e uma Noites

Como é natural, o teatro português tem uma presença forte no Festival. Toda a programação é feita de reposições ou peças estreadas recentemente. É justo destacar a prata da casa.

Além da dor, de Alexander Zeldin, foi considerado uma das melhores estreias de 2023 e o festival é o pretexto ideal para repô-la em sala. Esta foi a primeira vez que o seu autor permitiu a encenação da sua peça por outros, neste caso por Rodrigo Francisco, o próprio diretor da Companhia de Teatro de Almada (ver entrevista).

Uma peça forte, retrato dos tentáculos subversivos do capitalismo no mundo do trabalho, tendo como contexto uma fábrica de processamento de carnes, em que os trabalhadores são subcontratados, não lidando verdadeiramente com o seu patrão.

Das peças portuguesas a mais em foco é, contudo, As Mil e Uma Noites – a Irmão Palestina, que integra as comemorações dos 50 anos do Teatro o Bando. Sucedendo à Irmã Persa, a peça é escrita por duas figuras quase lendárias das artes performativas em Portugal: o dramaturgo João Brites e a coreógrafa Olga Roriz, e conta com a Banda Sinfónica Portuguesa.

Em palco juntam-se de forma subtil os atores d’O Bando com os bailarinos da Companhia de Olgo Roriz. A coreógrafa explica: “Há quatro bailarinos e quatro atores, mas não se percebe quais são os bailarinos, nem quais sãos os atores”. Já João Brites explica: “É um ato político e estético, querer ver o outro como uma riqueza para nós próprios”.

Os Artistas Unidos trazem mais uma adaptação de Enda Walsh, autor irlandês que já levaram à cena oito vezes. Em Remédio, o autor propõe uma reflexão sobre a doença mental, por meios, pouco ortodoxos, ao mesmo tempo que mantém uma postura metateatral. Aliás, como o ator e encenador António Simão assegura: “A metateatralidade e o grotesco estão são presentes em Walsh”

António Pires, por seu lado, repõe Mãe Coragem, de Bertolt Brecht, peça em que brilha Maria João Luís, no papel principal. O encenador explica que a encenação foi sofrendo várias modificações ao longo dos tempos e acabou por optar por algo bastante cru e próximo do original, embora tenha retirado todas as referências de época. António Pires comenta: “É incrível a atualidade que o texto ganhou”.

Também volta a estar em cena Fonte da Raiva, peça escrita e encenada por Cucha Cavalheiro. A encenadora rebusca as memórias, para se situar numa remota aldeia no interior do país, no início dos anos 60 e fazer daquele microcosmos uma base para um retrato mais global.

Do estado do mundo a Salgueiro Maia

O Festival também guardou espaço próprio para a chamada criação contemporânea, com criadores mais jovens ou com ideias diferentes de prática teatral..

Entre eles, Inês Barahona e Miguel Fragata completam o díptico O Estado do Mundo, um alerta para as questões climáticas. A peça anterior teve mais do 200 apresentações. Esta, com o nome Terminal (Estado do Mundo) é fruto de uma longa investigação, que foi dos Açores a França, e teve a sua estreia no prestigiado festival de Avignon. Miguel Fragata explica, aue a peça tenta responder à pergunta: “Quais as melhores saídas possíveis de um lugar onde não podemos permanecer?”

Presença de última hora, fruto de um espetáculo cancelado, é Entrelinhas, de Tiago Rodrigues e Tónan Quito. Curiosamente, a direção do festival substituiu uma peça que não pôde vir por um espetáculo sobre um espetáculo que nunca chegou a acontecer. Entrelinhas é um monólogo interpretado por Tónan Quito, em volta do mito do Rei Édipo.

Terminal (O Estado do Mundo), por Inês Barahona e Miguel Fragata

Do Norte vem Manuela Rey Is In Da House, com encenação e dramaturgia de Fran Núñez. uma coprodução do Centro Dramático Galego com o Centro Dramático de Viana. Tudo em volta de Manuela Rey, uma promissora artista luso-galega, que se estreou aos 15 anos no Teatro D. Maria II, no ano de 1857, e teve uma carreira gloriosa até à sua morte precoce aos 26 anos. A peça ressuscita a lenda.

Também de Viana do Castelo. chega-nos Salgueiro Maia: Cartografia de um monólogo. Nos 40 anos da revolução, o Centro Dramático de Viana estreou 25A74, com dramaturgia e interpretação de Ricardo Simões, a partir do livro de memórias de Salgueiro Maia intitulado Capitão de Abril – Crónicas do Ultramar e do 25 de Abril. Agora o ator e encenador produz um novo texto em que mescla a história de Abril com as suas próprias histórias, sozinho em palco.

Exposições, concertos e debates

Esta é de resto apenas uma das iniciativas ligadas à revolução. A mais visível talvez seja a grande exposição 25 de Abril: Os dias, as pessoas e os símbolos, com montagem e conceção plástica de José Manuel Castanheira, a partir do espólio da Ephermera, de José Pacheco Pereira.

Esta é a segunda de uma série de quatro exposições em volta do mesmo tema promovidas pelo Festival de Almada. E, segundo Castanheira, até agora a mais difícil de montar. O cenógrafo perdeu-se nos longuíssimos corredores do arquivo para fazer uma seleção criteriosa daquilo que quer expor.

Recorde-se que continua patente a exposição 54 recados para José Afonso, na Assembleia da República, também conceção e pinturas de José Manuel Castanheira, a partir do espólio da Ephemera. O artista e grande cenógrafo presenteia o teatro de Almada ainda com uma instalação de homenagem a García Lorca, Atrás da cortina podemos ver o estado do mundo.

A ligação forte entre o festival e a música também se observa através de concertos propriamente ditos, como é o caso dos já tradicionais Concertos na Esplanada. Este ano, uma programação eclética que inclui Cante Alentejano, com Cantadores do Desassossego, de Beja, e o Grupo Coral e Etnográfica da Academia Sénior de Serpa, Lisboa-Bissau, com um trio de jazz composto por José Grossinho (guitarra elétrica), Gueladjo Sané (percussão) e Diogo Duque (trompete e guitarra), Nuno Carpinteiro Trio e Rita Vian, Quarteto Dela; Tributo Zeca Afonso, Quarteto Paulo Pontes, Balklavalhau, Curcumbia; Asteria; Seiva, Suzie and the Boys, Catman & the Blues Doozers, 4tUbOs; Bairro do grito, in.dia duoguitar e RioLisboa cantam Revolução.

Nos habituais Encontros da Cerca, estarão em debate as novas formas de censura e autocensura, em dois painéis com o título geral Criação, Ideologia e Identidade. A curadoria é de Jorge Vas de Carvalho, e contará com as presenças de Filipa Oliveira (curadora) Maria Rueff (atriz) Sérgio Sousa Pinto (deputado e presidente da comissão dos negócios estrangeiros), Henrique Raposo (escritor) Raquel Freire (realizadora) e Margarida Vale de Gato (tradutora). Isto além das tradicionais conversas com artistas na esplanada.

Também estão abertas inscrições para um curso de dramaturgia, dirigido por Rui Cardoso Martins e está patente uma exposição de pintura Ilda David, artista que concebeu o carta do festival deste ano.

Os distritos de Évora, Beja e Portalegre vão estar sob aviso amarelo até quinta-feira devido ao tempo quente, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, onde se prevê que estejam 37 graus. O alerta começa esta terça-feira às 12h.

O aviso amarelo, o menos grave de uma escala de três, é emitido pelo IPMA sempre que existe uma situação de risco para determinadas atividades dependentes da situação meteorológica.

Esta quarta-feira, o céu vai pouco nublado ou limpo, sendo que o vento será mais intenso na faixa costeira
durante a tarde. Haverá uma pequena descida da temperatura máxima no litoral Norte e Centro, que volta, mais tarde, a subir. Em Évora e Beja, a temperatura pode chegar aos 38 graus.

Quinta-feira, segundo o IPMA, o cenário será semelhante, apresentando períodos de céu nublado no litoral Norte e Centro. Em Évora e Beja, a temperatura pode chegar aos 41 e 40 graus, respetivamente.

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O ICCI (de International Climate and Cryosphere Initiative) considerou que o Glaciar de Humboldt, também conhecido como ‘La Corona’, perdeu um grande volume de gelo e já não pode ser classificado como um glaciar. Assim, a Venezuela que tinha seis glaciares a 16 mil pés acima do nível do mar vê desaparecer a sua última formação. Em 2011, cinco destes já tinham desaparecido, mas o Humboldt, na segunda montanha mais alta do mundo, resistiu até agora.

Os glaciares são grandes massas de gelo formadas com a acumulação de neve ao longo de séculos e existem, tipicamente, em regiões onde as temperaturas estão próximas do zero e a precipitação de inverno causa acumulação de neve. Durante o resto do ano, as temperaturas devem manter-se baixas para que não ocorra a perda total da neve e a acumulação, levando à manutenção e crescimento dos glaciares. “No caso do Humboldt, o processo de erosão tem vindo a acontecer há anos sem parar”, conta Alejandra Melfo, astrofísica da Universidade de los Andes à Noticias Telemundo, citado pela NBC News.

O aumento das temperaturas globais devido às alterações climáticas, o derretimento de grandes massas de gelo e outros fenómenos adjacentes conduziram à erosão completa do glaciar e fazem com que a Venezuela seja oficialmente o primeiro país dos Andes e da era moderna a perder todos os seus glaciares. “Nas zonas intertropicais, basicamente abaixo dos cinco mil metros, quase todos os glaciares também têm vindo a desaparecer”, alerta Maximiliano Bezada, investigador geológico da Universidade do Minnesota. A expectativa era que o Humboldt durasse mais uma década, mas a agitação política no país impediu que os cientistas o pudessem monitorizar de forma precisa nos últimos anos.

Apesar de não haver uma medida padrão, a ONU considera que a massa de gelo deve ser superior a 25 acres para poder ser considerada um glacial. Se as temperaturas continuarem a subir como tem vindo a acontecer, 83% dos 215 mil glaciares existentes deverão ter desaparecido até 2100. Nos Andes a temperatura tem vindo a aumentar pelo menos 0,1 graus centígrados nos últimos 70 anos e esta é umas razões principais para o desaparecimento do Humboldt e dos restantes glaciares.

Palavras-chave:

A amostra de 121,6 gramas do asteroide Bennu que foi recolhida pela sonda OSIRIS-Rex está a surpreender os investigadores por conter elementos essenciais para a formação de vida como a conhecemos. Apesar de amostras anteriores também terem estas características, no Bennu surpreende o grau de pureza do fosfato de magnésio-sódio e o tamanho dos grãos encontrados.

A sonda espacial regressou à Terra no outono passado e os cientistas tinham esperança de encontrar na amostra respostas para segredos do passado do Sistema Solar e da química prebiótica que possa ter originado a vida como a conhecemos. Agora, as conclusões divulgadas no Meteoritics and Planetary Science corroboram estas expectativas, com os investigadores a revelaram que as poeiras são ricas em carbono e nitrogénio, componentes orgânicos e fosfato de magnésio-sódio, tudo elementos necessários à vida.

O pedaço de rocha trazido do espaço é semelhante ao que se encontra em fossos marinhos cá na Terra, na região onde o material proveniente do manto terrestre se encontra com a água. Também a missão japonesa Hayabusa trouxe de volta uma amostra do asteroide Ryugu e revelou partículas semelhantes, mas no Bennu o grau de pureza do material é superior.

Dante Lauretta, investigador principal desta missão, conta que “a presença e o estado do fosfato, ao lado de outros componentes e elementos no Bennu, sugere um passado aquoso para o asteroide. O Bennu pode ter sido parte de um mundo mais húmido. No entanto, esta hipótese requer mais investigação”. “Esta amostra é o maior reservatório não alterado de material de asteroide que há na Terra”, completa o investigador.

A equipa espera perceber mais sinais de como era a vida há milhões de anos e como evoluiu desde então, com as rochas provenientes de asteroides a conseguirem reter o seu estado original e a não se terem derretido ou ressolidificado desde a sua origem.

Além da Universidade do Arizona, dezenas de outros laboratórios também receberem a sua porção de amostras deste asteroide e devem, nos próximos tempos, publicar as suas conclusões. A sonda, recorde-se, foi lançada em setembro de 2016 para recolher amostras de rocha e poeiras do asteroide Bennu e regressou à Terra em setembro de 2023.

A Raedian chegou recentemente ao mercado nacional pelas mãos da Plugyourlife. Um fabricante que, apesar de novo, já apresenta já um portefólio completo. Desde wallboxes de 7,4 kW, como o modelo aqui testado, a postos ultrarrápidos de 240 kW. Postos que até podem ser integrados na rede Mobi.E.

Esta Neo demonstra que a Raedian é uma marca que valoriza o design e a funcionalidade, a começar logo pelo processo de instalação muito simplificado. Naturalmente, as wallboxes devem ser, até por razões de segurança, instaladas por profissionais, mas o processo é mesmo muito simples. Há uma caixa base (backplate), muito leve, que se fixa à parede ou a um suporte (buchas e parafusos fornecidos). É nesta base que se ligam os cabos elétricos necessários para alimentar a wallbox. No caso da versão testada, monofásica de 7 kW (32 amperes), são apenas três conectores (fase, neutro e terra). Depois basta encaixar a wallbox propriamente dita nesta base (há uns pinos que transferem a energia da backplate para a wallbox). Deste modo, mesmo durante a instalação, toda a eletrónica fica protegida, fechada, de moto estanque, na wallbox. O que diminui o risco de alguma coisa correr mal.

À direita, a backplate, que é a peça que se fixa à parede (ou a um suporte). É aqui que são ligados os cabos de alimentação elétrica. Depois é só encaixar a wallbox (à esquerda)
Neste vídeo é possível ver a facilidade de instalação da wallbox

A simplicidade de instalação continua na app, que detetou, via Bluetooth, a wallbox em poucos segundos. No caso de se optar pela conectividade 4G integrada (também há Wi-Fi), o processo é totalmente automático. Foi só introduzir, na app, o código PIN, que numa etiqueta colada no interior da tal blackplate, para ativar o acesso remoto via app. O 4G é útil para instalações onde a wallbox não tem acesso ao Wi-Fi, como acontece muitas vezes em garagens de condomínios. A conectividade 4G, via eSIM, é oferecida durante um ano, após o qual o utilizador paga €1/mês ou, em alternativa, €99 para ficar com conectividade 4G para toda a vida da wallbox. Valores que se justificam pela funcionalidade oferecida pelo acesso remoto.

O ecrã OLED apresenta informação como tensão elétrica, intensidade da corrente e energia transferida

Na app podemos controlar os carregamentos, definir as potências máximas do carregamento e da rede (total da casa ou da ligação onde está a wallbox), verificar o estado da wallbox (naturalmente, há sistemas de segurança), adicionar cartões RFID (são fornecidos dois), iniciar/parar o carregamento, definir agendas de carregamento, calcular custos…

É fácil usar a app para controlar os carregamentos, tanto em termos de energia, como em termos de custos

Mas não é obrigatório usar a app. Aliás, após a configuração dos parâmetros, o pequeno ecrã da wallbox apresenta toda a informação necessária. É só ligar o cabo ao carro. E se quisermos segurança extra e controlar os carregamentos por utilizador, basta recorrer aos cartões RFID. Tudo simples e eficiente.

É, até, possível associar painéis solares e fazer balanceamento dinâmico da potência. Uma funcionalidade que permite que a potência de carregamento suba ou desça automaticamente em função da potência disponível na instalação elétrica. De outro modo, quando a casa está a consumir mais energia, a potência de carregamento baixa para evitar que o quadro ‘dispare’; quando o consumo de energia da casa é menor, a potência de carregamento aumenta para reduzir o tempo de carregamento da bateria. Isto só é possível graças a um dispositivo que é fornecido (amperímetro) que permite medir, no quadro elétrico, a potência que está a ser utilizada. A ligação deste aparelho periférico à wallbox é feita por cabo de rede.

Há barras de LED laterais animadas que indicam atividade de carregamento. A wallbox inclui um encaixe para fixar o cabo que não está ser utilizado

Veredicto

A Raedian Neo só não nos impressionou na qualidade de construção: o plástico não nos pareceu resistente. Mas a facilidade de instalação, o design e as muitas funcionalidades justificam perfeitamente o preço. Se tem um veículo elétrico e está à procura de uma wallbox, recomendamos vivamente que considere este modelo. A Neo também está disponível na versão de 22 kW, mas para uma utilização doméstica, a versão de 7 kW faz muito mais sentido. Não só porque poucas serão as casas com tanta potência instalada, como, também, porque muitos veículos elétricos estão limitados a 7 kW quando a carregar em corrente alternada.

Tome Nota
Raedian Neo 7 kW – €759,99
plugyourlife.pt

Instalação Excelente
Construção Satisfatório
Funcionalidade Excelente
Potência Bom

Características Potência de 1,4 a 7,4 kW ○ Intensidade regulável: 6 a 32 amperes ○ Wi-Fi, 4G, Bluetooth ○ Ecrã OLED ○ proteção RCD (DC 6 mA, AC 30 mA) ○ 21x30x11 cm cabo 5 metros, 4,8 kg

Desempenho: 4,5
Características: 5
Qualidade/preço: 4,5

Global: 4,7

Luís Meira apresentou a sua demissão da direção do INEM, esta segunda-feira, numa reunião com a ministra da Saúde. A forma como Ana Paula Martins criticou a contratação de helicópteros de emergência sem concurso público foi a gota de água, depois de a ministra já ter anunciado no Parlamento a intenção de avançar com uma auditoria à gestão daquele instituto e de ter deixado no ar a ideia de substituir a sua direção. Mas a saída de Meira é só mais uma numa já algo longa lista de altos dirigentes de organismos do Estado que saíram pelo seu pé ou foram exonerados desde que o Governo da AD tomou posse.

O caso da Santa Casa

Uma das exonerações que mais tinta fez correr foi a da mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa liderada por Ana Jorge. O despacho de exoneração assinado pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a provedora era acusada de “atuações gravemente negligentes que afetam a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”.

Um tom muito mais duro do que é habitual deste tipo de despachos e que iniciou uma troca de acusações públicas, que passaria pela audição de Ana Jorge e da ministra Maria do Rosário Palma Ramalho no Parlamento, e que acabou por dar origem a uma Comissão de Inquérito à gestão da Santa Casa, que já foi aprovada na Assembleia da República.

Ana Jorge e a sua equipa estavam à beira de perfazer um ano na liderança da instituição. E esse não era um pormenor de somenos: se a exoneração tivesse sido feita dois dias depois da data escolhida por Maria do Rosário Palma Ramalho, o Estado ficaria obrigado a pagar uma indemnização. Um dado que acabaria por fazer a ministra emitir outro despacho no qual obrigava a direção da Santa Casa a manter-se em funções, ameaçando os seus dirigentes com as consequências de cometer crime de abandono caso não se mantivessem em gestão até à indicação de uma nova direção. Uma situação bastante insólita.

Demissão na AICEP sem direito a indemnização

Também a dois dias de fazer um ano em funções estava a administração da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), quando foi exonerada pelo Governo. Filipe Santos Costa e a sua equipa foram assim demitidos, para dar lugar a Ricardo Arroja (economista que chegou a ser candidato às europeias de 2019 pela IL), mas também a Paulo Rios de Oliveira, que tinha sido deputado do PSD.

A exoneração do diretor da PSP que estava ao lado dos sindicatos

Demitido pelo Governo foi o diretor nacional da PSP. O superintendente chefe José Barros Correia foi explicada pelo Ministério da Administração Interna como parte da “reestruturação operacional da Polícia de Segurança Pública.

A forma como Barros Correia se tinha posto ao lado da luta da PSP pela equiparação aos suplementos remuneratórios dados à Polícia Judiciária foi, contudo, vista por muitos no meio como parte da explicação para a demissão de alguém que tinha chegado ao cargo há pouco mais de oito meses.

A sua saída foi, de resto, lamentada pelos sindicatos. O presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia disse-se mesmo “extremamente surpreendido” com a exoneração, dizendo à agência Lusa que o superintendente-chefe José Barros Correia foi “verdadeiramente preocupado com os polícias” durante o seu curto mandato.

As baixas das guerras da ministra da Saúde

Por sua iniciativa, mas depois de um desentendimento público com a ministra da Saúde, saiu o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo. O médico, que tinha sido escolhido pelo Governo PS, demitiu-se um dia depois de Ana Paula Martins fazer saber que tinha pedido um relatório da atividade da direção executiva e depois de a ministra ter acusado Araújo de se ter recusado elaborar o plano do Serviço Nacional de Saúde para o verão, quando essa não era uma competência daquele organismo.

Também foram declarações duras de Ana Paula Martins que estiveram na origem da demissão do Conselho de Administração do Hospital de Viseu. A ministra da Saúde atacou, numa audição parlamentar, o que considerava ser as “lideranças fracas” dos hospitais, descrevendo, sem nomear, a situação que levou a que Viseu ficasse sem urgências de pediatria.

“As recentes declarações públicas da senhora ministra da Saúde, em sede de audição parlamentar ocorrida no dia de ontem, constituem uma manifesta quebra de confiança política na atual equipa do órgão de gestão”, escreveram os administradores demissionários da ULS de Viseu Dão-Lafões.

Ministra fez cair direção do Instituto da Segurança Social

A quebra de confiança política esteve também na origem da demissão da presidente do Instituto de Segurança Social, Ana Vasques, que se sentiu acusada de “falta de lealdade” pela ministra Maria do Rosário Palma Ramalho. Em causa estava uma nota do Governo sobre um acerto de valor no pagamento de pensões, tendo em conta a aplicação de novas tabelas de IRS, que abrangeu 328 mil pensionistas.

Numa nota, o gabinete de Maria do Rosário Palma Ramalho tinha dito que o Executivo de António Costa “decidiu dar uma ideia artificial de aumento aos pensionistas com menos retenção de IRS para vir depois fazer-se este acerto, após as eleições, no período de transição”. 

Essa versão acabaria por ser desmentida Ana Vasques, que explicou que o procedimento seguido era o mais correto do ponto de vista técnico. Mas o mal estava feito a saída abriu a porta à nomeação de Octávio Félix de Oliveira, um militante do PSD.

A saída pacífica da Águas de Portugal

Muito mais pacífica foi a saída do presidente da Águas de Portugal, José Furtado, que decidiu abandonar o lugar onde esteve quatro anos para “abraçar novos desafios profissionais”.

A demissão de José Furtado abriu espaço para a nomeação de Carmona Rodrigues, antigo presidente da Câmara de Lisboa eleito pelo PSD.

AIMA sob pressão

Sob pressão tem estado a direção da AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo). Os processos pendentes e os problemas laborais na agência, com cerca de 100 trabalhadores a pedirem para sair, fazem com  que se especule com sobre uma possível demissão Luís Goes Pinheiro, a ponto de no final de abril a SIC ter noticiado que o Governo estava ponderar mudar o responsável pela AIMA.

De resto, até o diretor nacional da PJ criticou já a AIMA, com Luís Neves a lamentar o facto de a polícia que dirige não ter acesso às bases de dados da agência, para combater a imigração ilegal.