As últimas duas semanas correram bem ao Presidente Zelensky. Estamos numa fase em que a Rússia aposta forte na reconquista de Kharkiv, dizendo ao mundo que a reindustrialização militar e a resistência às sanções têm continuidade no terreno, num arco geográfico que pretende expandir para tentar maximizar essa vantagem numa futura mesa de negociações. Em paralelo, estamos numa fase de grande ansiedade pela chegada do apoio militar euro-americano pedido pela Ucrânia, de maneira a resistir aos avanços estratégicos russos, como para tentar anular a sua capacidade destrutiva aérea, e ainda infligir desgaste e desmoralização através da destruição de infraestruturas militares críticas em território russo, utilizando uma geração de drones mais precisos.

Neste contexto militar, Zelensky precisava de retomar uma dinâmica que lhe desse iniciativa política. Não uma iniciativa junto dos aliados que não lhe têm virado as costas desde fevereiro de 2022, mas sobretudo daqueles que, concordando com as justas reivindicações, a legítima defesa e a condenação à invasão, não são alvo de uma iniciativa diplomática conjunta que dê expressão a esse alinhamento com a Ucrânia. Com os primeiros, tem fechado acordos bilaterais importantes, com compromissos de curto e longo prazo em ajuda financeira, militar e política, dos quais se destacam os assinados com o Reino Unido, França, e, nos últimos dias, com os EUA. Se o acordo for aprovado no Congresso terá mais força para cumprir a duração prevista de dez anos, defendendo-se de eventuais alterações que ocorram na Casa Branca. Ainda com os primeiros, ou seja, os aliados da primeira hora, viu o G7 aprovar uma linha de financiamento com base nos rendimentos taxados sobre os fundos russos congelados, no valor de 50 mil milhões de dólares. Se a União Europeia seguir o mesmo caminho, usando as receitas fiscais que dali resultarem como colateral de dívida contraída para ajudar a Ucrânia, podemos acrescentar mais 300 mil milhões de euros. O simples facto de se estarem a fechar compromissos neste sentido, quando há uns meses pareciam uma miragem, é também uma vitória de Zelensky.

Mas foi sobretudo para o resto mundo, que hesita na solidariedade ou, tendo-a manifestado, não tem sido alvo de acordos bilaterais ou incursões diplomáticas, que o Presidente ucraniano, com ajuda da mediação suíça, conseguiu sentar à mesa durante dois dias mais de cem países e organizações. Do Quénia ao Chile, da Arábia Saudita ao Japão, do Qatar à Coreia do Sul, da Austrália à Argentina, da Costa do Marfim a Singapura, de Cabo Verde à Somália, do Ruanda a São Tomé e Príncipe, da Turquia ao Gana, passando por muitos outros, todos estiveram sintonizados e mobilizados nas principais mensagens que exigem a reposição do direito internacional, dos princípios da Carta das Nações Unidas, do respeito pelo direito humanitário, numa condenação expressiva ao imperialismo russo, com um roteiro sólido pela segurança nuclear e alimentar, bem como com a recuperação de crianças, civis e prisioneiros de guerra, pontos estruturantes do plano de Zelensky, que assim reconquista momentum e alarga o âmbito geográfico em seu apoio. Este deve ser o duplo objetivo a partir da cimeira da Suíça: mobilizar novos Estados para os eixos em que o compromisso assentou, reforçando-os numa diplomacia pública consistente e mais alinhada entre todos, e tentar acrescentar mais um ou outro tópico inscrito no plano de dez pontos da Ucrânia já numa próxima cimeira, de preferência realizada ainda antes das eleições norte-americanas e acolhida por um país não europeu.

Se, durante estes próximos meses, os meios militares disponibilizados pelos aliados derem outra capacidade de resistência e mesmo renovada iniciativa à Ucrânia no terreno; se os novos canais de financiamento acomodarem a durabilidade do apoio político aliado junto das suas impacientes opiniões públicas, mostrando a Moscovo que não há desmobilização de recursos ocidentais, antes um salto quantitativo imponente; e se for possível explorar alguma cristalização nas opções de Putin, ao mesmo tempo que se consegue atrair a China para alguma iniciativa diplomática – Zelensky devia apostar muito mais nesta frente nos próximos tempos –, pode ser que a marcação da agenda política em redor dos compromissos alcançados na Suíça e a dinâmica de atração de novos parceiros para uma nova cimeira possam então compor as várias peças de um puzzle mais articulado em benefício de uma paz justa e duradoura.

Portugal, aliado próximo da Ucrânia, mas com pontes e laços em vários continentes, tem um papel a desempenhar nesse roteiro. 

Norte

Quando se pensava que o nível político dos conservadores britânicos não podia descer mais, o primeiro-ministro Rishi Sunak resolveu abandonar mais cedo a cerimónia do Dia D por causa de uma entrevista televisiva.

Sul

Como arquipélago do Atlântico Norte, Cabo Verde tem intensificado contactos com a NATO nos últimos meses, numa orientação reforçada junto das grandes organizações euro-atlânticas, desde a Parceria Especial com a UE, em 2007.

Este

Sob temperaturas extremas, mais de 640 milhões de indianos foram às urnas, numas legislativas onde Narendra Modi perdeu pela primeira vez a maioria parlamentar. Além do BJP, o novo governo inclui mais cinco partidos.

Oeste

Depois de retirar o pedido de adesão ao BRICS, a Argentina requereu o estatuto de parceiro global junto da NATO, passo que antecipa uma cooperação de segurança mais estreita, como têm Japão, Austrália ou Colômbia.

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ Cimeiras

+ A radicalização das direitas

+ Dignidade e justiça para todos

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Os principais clubes de futebol já começam a formar jogadores antes da idade escolar, estendem as redes de observadores a todos os escalões, ampliam as bases de recrutamento além-fronteiras e contratam assim que detetam talento precoce. Em Portugal, até aos 14 anos, a grande seleção está feita pelos emblemas mais poderosos.

Esta corrida desenfreada aos craques do futuro, porém, há de continuar a reservar boas surpresas mais para a frente, honrando um passado cheio de gente ainda jovem e habilidosa que só veio a revelar-se, ou a confirmar as indicações positivas anteriores, nos grandes palcos da bola, como um Mundial ou um Europeu de seleções. Afinal, por muito que suscitem interesse prévio, nada como uma exibição ao mais alto nível, perante a elite futebolística, para seduzir os clubes de cofres mais recheados.

Entre os 26 jogadores convocados por Roberto Martínez para representar Portugal no Euro2024, um sexteto de jovens com créditos já bem conhecidos está na calha para aproveitar a grande montra que junta as 32 melhores seleções do Velho Continente. O guarda-redes Diogo Costa, os defesas centrais António Silva e Gonçalo Inácio, o médio João Neves e os extremos Pedro Neto e Francisco Conceição têm qualidades de sobra para convencer os grandes tubarões europeus a apostar neles já neste verão. Sendo certo que se os maiores predadores não os caçaram mais cedo, a preços mais em conta, terão agora de atacar com cheques bem gordos para superar a concorrência.

Dos seis, apenas Pedro Neto já deu o salto para uma grande liga, no caso a Premier League inglesa, mas aos 24 anos ainda tem margem para ascender na hierarquia, como já provou com a camisola do Wolverhampton. Os outros cinco mantêm-se ao serviço dos três grandes de Portugal, com muitos olhos em cima. Basta um clique, uma pequena faísca nos relvados da Alemanha, para quem os segue avançar para a contratação.

Foi assim com Nuno Gomes, que após ter dado nas vistas no Euro2000 trocou o Benfica pela Fiorentina, por €17 milhões, quando acabava de celebrar o 24º aniversário. Ou com Ricardo Quaresma, que tinha ido muito novo do Sporting para o Barcelona, mas que depois, aos 24 anos, o FC Porto negociou para o Inter de Milão (€23,6 milhões), após as exibições no Euro2008. Ou ainda com Renato Sanches e João Mário, protagonistas na edição vitoriosa de 2016, que seguiram do Benfica e do Sporting para o Bayern de Munique (€35 milhões) e para o Inter de Milão (€45 milhões), respetivamente, o primeiro ainda antes de completar 19 anos e o segundo aos 23. Quem se segue?

O velocista

A época do Benfica não o ajudou a valorizar-se até à fasquia dos €100 milhões da cláusula de rescisão. Há que aguardar pelo que acontece na Alemanha

ANTÓNIO SILVA
IDADE: 20 anos
POSIÇÃO: Defesa central
CLUBE: Benfica

Os estudos indicam que o desempenho individual, os resultados coletivos e a popularidade dos jogadores são variáveis fundamentais na definição do seu valor de mercado, mas qualquer adepto de futebol dispensa o saber académico para conhecer esta relação de causa-efeito. É óbvio que boas exibições na Alemanha, conjugadas com uma campanha marcante de Portugal, só podem redundar num aumento exponencial do mediatismo à volta de todos os jogadores – e, por consequência, da sua cotação internacional.

Com uma cláusula de rescisão de €100 milhões, que inspira um certo respeito a eventuais clubes interessados, António Silva (e o Benfica) pode tirar proveito da inflação sempre associada às grandes competições. Isto porque o final da segunda época de afirmação no clube da Luz pode muito bem coincidir com mais um passo no mesmo sentido com as cores de Portugal.

Os próximos dias ditarão se o jovem central vai agarrar mais cedo ou mais tarde um lugar no onze titular das quinas, que de qualquer forma lhe parece destinado. No início do mês, o próprio Roberto Martínez assim o projetou, em conversa com o ex-defesa do Manchester United e de Inglaterra Rio Ferdinand. “António Silva é um defesa central moderno, vocês [adeptos do United] iriam adorar contar com ele. É um jogador que se sente confortável com a bola e que se dá muito bem nos duelos contra adversários mais poderosos. Ele e o Gonçalo Inácio serão, muito provavelmente, a próxima geração de centrais da Seleção portuguesa”, explanou o selecionador.

Como ponto de partida para a janela de transferências do verão, sublinhe-se que, apesar de António se ter consolidado como aposta firme de Roger Schmidt no eixo defensivo do Benfica, teve algumas falhas na Liga dos Campeões e os resultados da equipa também não ajudaram a elevar a fasquia até ao ambicioso patamar dos €100 milhões previstos na cláusula de rescisão. Falta ver o que lhe reserva o Euro.

O todo-o-terreno

A rapidez com que toma decisões acertadas é uma mais-valia. A capacidade de trabalho é outra. No Benfica, é visto como um exemplo. Dará para o segurar, no pós-Euro?

JOÃO NEVES
IDADE: 19 anos
POSIÇÃO: Médio centro
CLUBE: Benfica

Como todos os clubes em Portugal, o Benfica precisa de realizar encaixes financeiros através de transferências para equilibrar os orçamentos anuais. E o seu maior ativo futebolístico, neste momento, é este miúdo algarvio que, aos 19 anos, corre o campo de lés a lés sem deixar de pensar em cada passada que dá. Nada é ao acaso, na pressão sobre o adversário, nas compensações aos companheiros de equipa e também quando tem a bola e tão bem a protege, com aquele corpo mínimo, ou a solta com precisão e rapidez no passe.

Pensar rápido faz dele um elemento distinto no relvado, assim como a sua capacidade de trabalho, sem nunca se esconder, que o transformou num exemplo para o plantel, na perspetiva da estrutura encarnada. É por isso a todo o custo que o Benfica tentará preservá-lo, pelo menos mais uma temporada, salvaguardado por uma cláusula de rescisão avultada, de €120 milhões.

Clubes como o Manchester United e o Paris Saint-Germain têm sido associados ao jovem médio, com notícias publicadas em França a sugerirem uma abordagem dos parisienses que poderia passar pela inclusão de Renato Sanches no negócio, de modo a baixar as exigências monetárias do Benfica. Certo, por agora, é que Roberto Martínez já se rendeu às “personalidade e maturidade” do pequeno jogador, elogiando-lhe a capacidade para tomar as melhores decisões em jogos de exigência máxima, como um Benfica-FC Porto.

É mais do que garantido que, durante o Euro2024, vai ter os seus minutos com a camisola das quinas.

O mãos de ferro

Roberto Martínez compara-o a Courtois, o guarda-redes do Real Madrid que orientou na Bélgica

DIOGO COSTA
IDADE: 24 anos
POSIÇÃO: Guarda-redes
CLUBE: FC Porto

A confiança que transmite é já inquestionável. Exímio no jogo com os pés, seguro entre os postes e nas saídas aos cruzamentos, reflexos que impressionam nos remates dentro da pequena área, é difícil apontar falhas a Diogo Costa. O guarda-redes titular do FC Porto e da equipa das quinas é um dos melhores do mundo na sua posição.

A partida para outro campeonato só tem vindo a ser adiada porque os dragões assim o quiseram e porque, até hoje, apenas um guarda-redes foi transferido por uma verba superior à que consta como cláusula de rescisão no contrato de Diogo: nada menos do que €75 milhões.

O único keeper que a superou foi o espanhol Kepa Arrizabalaga, recrutado pelo Chelsea no Atlético de Bilbau, por €80 milhões, no verão de 2018. O segundo da lista é o brasileiro Alisson Becker, que se mudou da Roma para o Liverpool, na mesma janela de transferências, a troco de €62,5 milhões.

“Tem um nível espetacular. Na Bélgica treinei o Courtois, que foi o melhor do Mundial 2018. O Diogo Costa tem nível para chegar lá”, observou Roberto Martínez, numa entrevista concedida ao Canal 11, no início do ano. “É um guarda-redes moderno e muito completo”, acentuou ainda.

Diogo cumpriu nesta terça-feira, 18, frente à Chéquia, o seu 23.º jogo pela Seleção e já leva mais de 150 pelo FC Porto. Para guarda-redes, é extremamente jovem e experiente, tendo em conta que nem 25 anos tem. Será uma questão de tempo até dar o salto, e claro que o desempenho no Europeu poderá ter grande impacto no seu futuro próximo.

O explosivo

Cláusula de rescisão bem inferior à dos restantes pode aguçar ainda mais o apetite sobre o irreverente esquerdino, um desequilibrador nato que convenceu Roberto Martínez   

FRANCISCO CONCEIÇÃO
IDADE: 21 anos
POSIÇÃO: Extremo
CLUBE: FC Porto

O regresso a casa, após uma época apagada no Ajax, devolveu-lhe a chama. Num FC Porto sem o fulgor de outros tempos, a irreverência de Francisco Conceição resolveu muitos problemas. A partir do flanco direito, foi talvez o maior desequilibrador da equipa, numa primeira fase lançado no decorrer dos jogos e, mais tarde, como titular indiscutível. Só não terá conquistado esse estatuto mais cedo, de resto, porque o treinador Sérgio Conceição, seu pai, não quis correr o risco de ser acusado de o estar a privilegiar. Não estava.

A capacidade de ultrapassar adversários em zonas adiantadas do relvado não passou despercebida ao selecionador Roberto Martínez. E essa forma destemida de encarar os rivais e encontrar espaços onde eles parecem inexistentes ficou à vista nos dois jogos particulares em que vestiu a camisola da Seleção, já na antecâmara do Europeu, frente à Eslovénia e à Finlândia.

A fama de espalha-brasas, como o espanhol que comanda a Seleção o apelidou, já galgou fronteiras. O esquerdino estará a ser seguido por clubes de topo como o Bayern Munique, o Chelsea e o Atlético de Madrid, e conta com uma grande vantagem sobre os companheiros de Seleção que com ele partilham estas páginas: uma cláusula de rescisão bem acessível.

Quando o FC Porto acionou a cláusula de recompra de Francisco ao Ajax, por €10 milhões, há um par de meses, ainda sob a liderança de Pinto da Costa, definiu uma cláusula de rescisão de €30 milhões até ao próximo dia 15 de julho, ou seja, até ao fim do Europeu, subindo para €45 milhões daí em diante. Não é nada descabido dizer que, sobretudo este primeiro valor, será uma pechincha se Chico vier a destacar-se nos estádios alemães. Para já, marcou o golo da vitória no jogo de estreia… ao fim de um minuto em campo.

O cerebral

Roberto Martínez preferiu adaptar Nuno Mendes a apostar no central canhoto do Sporting, mas chamou-o à ação assim que se viu a perder com a Chéquia. Gaba-lhe a inteligência

O único central canhoto às ordens de Roberto Martínez neste Europeu não deve ter ficado muito contente quando se viu preterido do “onze” de Portugal na partida com a Chéquia. A escolha de um lateral adaptado para ocupar a posição, no caso Nuno Mendes, pode ter sido um sinal de que Gonçalo Inácio não reúne a confiança absoluta do selecionador ou, tão-só, uma opção estratégica. É muito cedo para tirar esse tipo de conclusões, até porque, com o golo dos checos, o espanhol não perdeu tempo a emendar a mão, chamando o canhoto ao jogo.

O único jogador do Sporting na convocatória é um dos pilares no esquema tático de Rúben Amorim, semelhante ao que Martínez utilizou na estreia da Seleção Nacional no Euro. No clube, Inácio começou por atuar como defesa central do lado direito, mas nesta temporada jogou quase sempre pela esquerda. Destaca-se no jogo de cabeça e na qualidade que empresta logo na primeira fase de construção no momento ofensivo, mas ainda tem falhas de concentração, como mostrou no último encontro de preparação frente à República da Irlanda. Talvez esse erro, um passe sob pressão a isolar um adversário, tenha feito o espanhol hesitar.

Inácio tem uma cláusula de rescisão fixada nos €60 milhões e, por indicação de Rúben Amorim, é um daqueles jogadores do plantel leonino que só sairá no verão se algum clube pagar essa quantia. Como acontece em relação aos restantes, o que fizer no Europeu poderá ter implicações, a curto prazo, na sua carreira.

Roberto Martínez já afirmou que o vê como um futuro titular da Seleção, elogiando-lhe a inteligência e a veia goleadora. Nos próximos dias, saberemos até que ponto já é presente.

GONÇALO INÁCIO
IDADE: 22 anos
POSIÇÃO: Defesa central
CLUBE: Sporting

O tecnicista

Cobiçado pelos grandes clubes de Inglaterra, que o conhecem bastante bem, o esquerdino é outro desequilibrador em quem Roberto Martínez confia para assumir o papel de arma secreta no Euro

PEDRO NETO
IDADE: 24 anos
POSIÇÃO: Extremo
CLUBE: Wolverhampton

Manchester City, Arsenal, Liverpool, Newcastle, Tottenham. Basicamente, os principais clubes da Premier League inglesa já foram apontados como o próximo destino de Pedro Neto, o esquerdino formado no Sporting de Braga que chegou ao Wolverhampton com 19 anos, depois de duas épocas emprestado aos italianos da Lazio.

Mesmo descontando a especulação habitual nos períodos de transferências, é um facto que as cinco temporadas que o extremo já leva nos Wolfes o deram a conhecer amplamente em terras de Sua Majestade. Apesar de duas lesões sofridas ao longo desta última época, é também consensual que, sob o comando do técnico Gary O’Neil, Pedro Neto apresentou a sua melhor versão. Bem antes da abertura do mercado de inverno, já se noticiava o desejo de Mikel Arteta contar com ele no Arsenal para agitar a manobra ofensiva.

Com contrato até 2027, e sem cláusula de rescisão definida, tudo depende dos argumentos financeiros que chegarem aos escritórios do Wolverhampton. Segundo os relatos na imprensa britânica, Pedro Neto nunca mudará de ares por um valor abaixo dos €70 milhões.

Gary O’Neil não acredita que, da parte do jogador, haja qualquer pressão nesse sentido. “Ele está feliz no clube e, se nada acontecer, para ele, durante o verão, se não aparecerem grandes clubes atrás dele, com grandes propostas, ele continuará comprometido em mostrar a toda a gente o quão bom é com a camisola do Wolves”, afirmou, há pouco mais de um mês.

Para Roberto Martínez, e um pouco à imagem de Francisco Conceição, será mais um trunfo para desbloquear jogos que se complicarem em terras alemãs, como já ficou demonstrado no jogo de estreia.

São dois aniversários redondos, aos quais é impossível escapar, em especial num festival como este, aberto ao mundo e dedicado a dar voz às diferentes culturas. Na Fundação Calouste Gulbenkian, o Jardim de Verão celebra os 50 anos do 25 de Abril e o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, ou seja, um acontecimento e uma personalidade que tantos novos mundos abriram, através da resistência e da revolta, mas também da empatia e da utopia.

Nesta edição, o festival alarga-se a outras áreas artísticas, ocupando novos espaços dentro do edifício da fundação. A música mantém-se no Sítio da Oliveira e no Anfiteatro ao Ar Livre, subindo também ao palco do Grande Auditório. Haverá ainda um ciclo de conversas no Auditório 2 e um ciclo de cinema no Anfiteatro ao Ar Livre. A curadoria é de Dino D’Santiago (música), Maíra Zenum (cinema) e Kalaf Epalanga (conversas).

A ação divide-se por três fins de semana (dias 22, 23, 29, 30 jun, 6 e 7 jul), que, em termos de música, arranca ao som do guineense Kimi Djabaté, logo pelas 17h deste sábado, 22, no Grande Auditório. A festa prossegue ao ar livre, no Jardim Gulbenkian, ao som da DJ Umafricana, a quem, sempre ao sábado, às 18h, cabe a tarefa de animar o final da tarde, ao som de uma fusão entre afrobeat, amapiano, coupé-decalé, gqom, afro house, kuduro e afro tech, com pop, hip pop e r&b. Ainda neste sábado, 22, pelas 19h, sobe ao palco do Anfiteatro ao Ar Livre uma verdadeira alma livre, nascida em Buenos Aires, crescida em Barcelona e atual habitante de Lisboa, de seu nome Soluna, que mistura ritmos de reggaeton e tarraxo na sua música inspirada por uma identidade tão singular quanto plural de “migrante e mulher queer”.

No domingo, 23, a música arranca ao som do trompete (e da voz) de Jéssica Pina, a alentejana de origem angolana e cabo-verdiana que já partilhou palcos com Madonna, Bonga, Mykki Blanco, H.M.B., Matias Damásio ou David Fonseca. Já o brasileiro Japa System, alter ego do músico e compositor baiano António Dimas Vieira Aires Júnior, vem mostrar o projeto Nave System, num espetáculo de percussão que une instrumentos eletrónicos e orgânicos. Aos domingos, o DJ set de fim de tarde está a cargo de Indi Mateta, artista conhecida pelo cruzamento entre as artes visuais e a música, na qual mistura a tradição africana com hip hop, r&b, soul, neo soul, jazz, funk, reggae, dancehall, kizomba, semba, tarraxinha, zouk e eletrónica.

Nos fins de semana seguintes, atuam a moçambicana Assa Matusse e o português Luiz Caracol (29 jun); o português João Caetano e o cabo-verdiano Berlok (30 jun); os cabo-verdianos Princezito e Dieg (6 jul); e ainda a também cabo-verdiana Cremilda Medina e o brasileiro Leo Middea (7 jul).

Jardim de Verão > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. Berna, 45, Lisboa > 22-23 jun, 29-30 jun e 6-7 jul, sáb-dom 17h > grátis > programa completo aqui

23.00 Musa de Marvila

Ainda há um mês, a Musa estava em festa, a celebrar o seu aniversário, lembrando–nos que foi há oito anos que a marca de cerveja artesanal abria o seu primeiro poiso em Marvila. Ficava na Rua do Açúcar, não muito longe de onde hoje nos encontramos, a Rua Vale Formoso, e diga-se, beneficiou com a mudança. Ganhou-se um espaço cheio de personalidade, que mantém a fábrica e o bar de cerveja, a comida em modo de petiscos e uma programação musical regular, seja em versão concerto ou em DJ set. Quando o calor sobe na pista, o terraço é sempre uma alternativa, com as suas mesas corridas debaixo de toldos coloridos. Aliás, cor é o que não falta por aqui, das paredes das duas salas de baixo, onde existe uma mesa de pingue-pongue, à casa da banho. R. Vale Formoso, 9 > ter-qui 17h-24h, sex e véspera de feriado 17h-3h, sáb 13h-3h, dom 13h-24h

23:30 So What

So What, em Santos

Podemos falar do “toque de Mikas”. Afinal, já foram muitos os bares e restaurantes abertos por este moçambicano, e alguns deles ficaram na história da noite de Lisboa. Alguns exemplos: Atira-te ao Rio (do lado de lá do Tejo), WIP, Bicaense, Bar das Imagens, Terraço Chão de Loureiro, Tas’Ka, Clube Ferroviário, A Tabacaria, Social B… Em muitos casos anunciou novas zonas noturnas na cidade, de ambiente tão cosmopolita como descontraído. Quando a magia se começava a perder, Mikas saltava para outro poiso… Agora, há um novo nome para acrescentar a essa longa lista: o So What, instalado no mesmo local onde durante anos funcionou o bar Porão de Santos, vizinho do Teatro A Barraca, em Santos. O So What é um clube de jazz (com concertos de terça a quinta), mas também é restaurante e torna-se facilmente num lugar de dança, sobretudo às sextas e sábados, de acordo com o balanço dos DJ. Mas, nestas noites quentes de verão, os lugares mais disputados podem mesmo ser os da esplanada, espaço de descontração no meio do bulício do bairro. Lg. Santos 1D > ter-qui 18h30-2h, sex-sáb 18h30-3h

00:00 Imprensa

Bar Imprensa

No texto que escrevemos em fevereiro de 2020, quando este bar abriu na zona do Príncipe Real, elogiávamos-lhe o ambiente perfeito para ir beber um copo. Quatro anos depois, e uma pandemia pelo meio, é bom de ver que o Imprensa manteve a boa onda. Seja pela simpatia de quem atende ao balcão, seja pela música (tanto se ouve Rita Lee como António Variações), seja pelas bebidas ou pela possibilidade de picar qualquer coisa a preços simpáticos. Na carta, há cocktails de autor que levam o nome de tipos de letra, cerveja e vinho a copo, e a oferta de petiscos cresceu além das ostras vindas, todos os dias, de um fornecedor de Setúbal. A decoração, com materiais em segunda e terceira mão, também se mantém: madeiras, chapas de zinco, folhas de livros antigos, uma máquina de escrever e uns focos de palco, de um qualquer teatro, sobre o balcão. Até às 20h, a porta e a janela estão abertas, depois fecham-se e a equipa tem o cuidado de controlar as entradas para que o bar não fique demasiado cheio. R. da Imprensa Nacional, 46 > seg-dom 16h-2h

01:00 Vago

Cantar o refrão de Girls & Boys dos Blur abriu-nos a porta do Vago. O bar que se impôs como uma das referências da noite lisboeta desta década não pede senha de entrada, esclareça-se, mas a canção da banda inglesa agradou à porteira, fazendo-nos passar à frente de quem aguardava na fila para entrar. Da rua, nada deixa adivinhar que, para lá do número 11 da Rua das Gaivotas, se serve uma carta gastronómica curta, cocktails de autor e vibram os sons da música eletrónica em DJ sets a partir das 22h. Atrás dos cortinados de veludo pesado, que ocultam a entrada, abre-se uma cave de teto abobadado, coberto de pequenos tijolos de terracota. Pavimento de betão, mesas baixas de madeira e um balcão em cimento contrastam com as linhas sinuosas de um sofá de veludo que corre o Vago de uma ponta à outra. Sim, é verdade, não é possível marcar mesa e é difícil encontrar lugar em certas noites, garante Joaquim Quadros, antiga voz da Vodafone FM e um dos sócios. R. das Gaivotas, 11A > ter-sáb 19h-2h

01:30 Damas

Damas

De portas abertas desde 2015, mais precisamente desde o dia 25 de Abril, na antiga panificadora da Caixa Económica Operária, este híbrido de bar, restaurante e sala de concertos entrou rapidamente na lista de paragens obrigatórias da noite lisboeta, desviando muitos alfacinhas (e não só) de outros bairros notívagos para a Graça. Alexandra Vidal e Clara Metais, as proprietárias do Damas, souberam apostar nas fichas certas: uma programação musical alternativa e eclética, que vai da música africana e eletrónica ao indie rock; a comida do restaurante (pratos do dia, opções vegetarianas, petiscos dos bons e cerveja a acompanhar), e a boa onda que se sente, mal se passa a porta iluminada pelo néon com o nome da casa. R. da Voz do Operário, 60 > ter-qui 12h-1h, sex-sáb 12h-4h, dom 18h-1h

02:00 Incógnito

Incógnito

Aberto desde 1988, o Incógnito é uma espécie de porto seguro e zona de conforto (mesmo que, em noites de enchente, se possa tornar mais desconfortável). Um daqueles (raros) sítios onde se vai para dançar com confiança na qualidade musical, sabendo que tanto se pode reconhecer imediatamente uma nova, ou nem por isso, canção dançável, como descobrir novas sonoridades, remisturas, músicos… Rai, o atual proprietário, e ocasional DJ de serviço, não gosta nada do velho epíteto que há uns anos ouvia aplicado ao Incógnito: “O Jamaica dos indies.” Já lá vai o tempo em que era obrigatório ouvir-se ali, noite após noite, The Cure, Joy Division ou The Smiths. Hoje, as escolhas musicais (da pop mais alternativa à eletrónica, com as muitas cambiantes que há pelo meio) variam muito de acordo com o DJ na cabina, mas é quase certo que a pista se vai encher, com vista para o gigantesco espelho que há anos se tornou uma imagem de marca desta cave acolhedora, por detrás de uma não menos icónica porta vermelha que atrai um público de várias gerações. R. Poiais de S. Bento, 37 > qui-sáb 23h-4h

02:30 Finalmente

Poucos sítios podem gabar-se de manter as portas abertas, todos os dias da semana, ao fim de 48 anos (comemorados no dia 5 de maio). No sítio de sempre, numa esquina entre o Príncipe Real e a Praça das Flores, o Finalmente é o clube gay mais antigo do País, continuando a garantir noites animadas com espetáculos diários de transformismo. Deborah Krystall, personagem de Fernando Santos (diretor artístico da casa), sobe ao palco de terça a sábado, dias em que atuam também Jenny Larrue, Lucy Jean, Irina Diamond e Peter Boy. Aos domingos, dá-se Lugar às Novas, com Samantha Rox a fazer as apresentações dos novos talentos do transformismo. Depois dos espetáculos (terminam por volta da meia-noite), arrumam-se as mesas e cadeiras e o Finalmente transforma-se em discoteca até às seis da manhã. R. da Palmeira, 38 > seg-sáb 19h-6h (espetáculo 19h-24h; discoteca 24h-6h), dom 24h-6h

03:30 Jamaica + Tokyo

Jamaica

Os mais céticos estavam de pé atrás com a mudança de poiso destas duas míticas discotecas vizinhas no Cais do Sodré, que fecharam na pandemia já com a nova localização anunciada. Voltaram a abrir a 29 de setembro de 2022, nuns antigos armazém de barcos no Cais do Gás, à beira-Tejo e a 500 metros da antiga morada. Uma vez lá, ninguém duvida de que a mudança lhes fez bem. Têm o triplo da lotação e melhores condições – de som, de luzes, de oferta, de serviço. E não falta nada do antigamente: o porteiro, os barmen, o DJ, a música, as caras de sempre. Com a vantagem de haver uma esplanada – pausa para cigarro? – onde se pode pôr a conversa em dia sem ter de estar aos berros. A porta de entrada é comum. À esquerda, fica o Tokyo (estão lá as capas de discos penduradas nas paredes), que abre mais cedo e mantém a vocação para a música ao vivo com um pequeno palco. À direita, entra-se no Jamaica, onde Bruno Dias (filho de Mário Dias, o primeiro DJ da casa) continua a passar os êxitos da pop e do rock que também põem a dançar outras gerações. Cais do Gás, 1 > Tokyo: seg-qui 22h-5h, sex-sáb 22h-6h > Jamaica: qua-sáb 24h-6h

04:00 Outra Cena

O mistério faz parte integrante da identidade deste novo local da noite lisboeta. É expressamente proibido recolher imagens do interior e, à entrada, as câmaras dos telemóveis são mesmo tapadas com autocolantes. Integrado no enorme complexo 8 Marvila, que ocupa os antigos armazéns da empresa vinícola Abel Pereira da Fonseca, o Outra Cena é um clube amplo, com várias salas, onde atuam DJ de todo o mundo, sintonizados com as várias tendências da música de dança eletrónica. No meio de uma imponente arquitetura industrial com marcas de abandono, o design de luzes e som é impressionante, esbatendo limites, revelando portas onde só parecia haver mais uma parede, convidando a dançar ou a fugir para recantos discretos. Depois de se conseguir entrar, a liberdade é a palavra de ordem. Fazendo lembrar a cultura de clubes e raves de Berlim, o Outra Cena não se parece com mais nada do que a noite de Lisboa tem hoje para oferecer. Av. Infante D. Henrique, Marvila > sex-sáb 00h-6h

05:00 Lux Frágil

Desde 1998, mais precisamente desde o penúltimo dia da Expo’98, 29 de setembro, que, em Lisboa, uma nova rotina entrou na vida dos notívagos: ver à varanda do Lux o sol nascer sobre o Tejo. Isso mantém-se (de quinta a sábado), mas muito mudou na cidade ao longo do século que, então, estava quase a começar. Mais do que uma discoteca, o Lux Frágil afirmou-se como sala de concertos, spot de design, e, sobretudo, palco para atuações de DJ de referência na cena eletrónica global, como nunca antes tinha havido em Lisboa. Hoje, a oferta dessas atuações multiplicou-se em Lisboa e no País. E o Lux, com as suas lendárias festas de aniversário, foi ganhando o estatuto de clássico – mas sempre a olhar para o futuro. Mas nem só de noites e madrugadas, na pista de baixo (onde o sol não entra) ou na sala de cima em que a manhã se vai fazendo anunciar nas grandes janelas, se faz a experiência-Lux. Este verão, mais uma vez, as portas vão abrir-se ao fim da tarde em algumas quintas-feiras para, nas sessões Superb_ALL darem acesso ao terraço, onde haverá concertos e DJ sets – há encontros marcados no último piso, ao pôr do sol, a 4 e 25 de julho, 29 de agosto e 5 de setembro. Av. Infante D. Henrique, Cais da Pedra, Armazém A > qui-sáb 23h30-8h

Lux Frágil. Foto: Hugo David

Quando os pais de Nico Williams deixaram o Gana para procurar uma vida melhor em Espanha, numa viagem de risco, a mãe já estava grávida de Inãki, hoje com 30 anos. Nico nasceria oito mais tarde, em Pamplona, cidade para onde a família se mudou após os primeiros tempos em Bilbau. No Mundial do Qatar, disputado no final de 2022, o irmão mais velho acabaria por jogar pelo Gana e o mais novo estreou-se em fases finais pela Espanha, repetindo agora a presença no Euro2024, já com estatuto de titular. E que exibições tem realizado, primeiro no 3-0 frente à Croácia e, na noite desta quinta-feira, no triunfo por 1-0 perante a Itália que garantiu a passagem oitavos-de-final.

Com apenas 21 anos, Nico pôs a cabeça em água a Giovanni Di Lorenzo – o lateral direito italiano que tinha a missão de o travar -, liderando o festival de futebol ofensivo da seleção comandada por Luis de la Fuente. A probabilidade de aparecer na fotografia de capa dos jornais espanhóis de amanhã rondará os 99%.

Inseparáveis, Iñaki e Nico representam ambos o Atlético de Bilbau, mas dificilmente o mais novo irá manter-se por lá, depois da explosão a que estamos a assistir em terras alemãs. Na temporada interrompida a meio pelo Mundial do Qatar, o único até hoje disputado em dezembro, o extremo esquerdo conquistara a titularidade no clube, juntando-se no “onze” ao irmão, ponta-de-lança que bateu o recorde da Liga espanhola de jogos consecutivos. Mas na seleção era ainda um suplente visto como uma solução para agitar um jogo em caso de necessidade. Agora, estamos noutro patamar, e os espanhóis rejubilam com a perspetiva de contarem com dois extremos eletrizantes para a próxima década – uma vez que, do outro lado, Lamine Yamal, com os seus 16 anos, vai causando estragos semelhantes.

A história familiar dos Williams, muito antes do sucesso no desporto-rei, é um hino à capacidade de sobrevivência do ser humano. A mãe dos manos futebolistas, Maria, e o pai deles, Felix, deixaram o Gana natal em 1994. A viagem foi bastante atribulada até Melilla, o enclave espanhol no Norte de África que faz fronteira com Marrocos. Os cerca de 4000 quilómetros foram percorridos na parte de trás de uma carrinha pickup à pinha de gente e, depois, a caminhar pelo deserto do Saara, sob temperaturas de 40 e 50 graus. Felix ficou com dificuldades na marcha, devido a queimaduras na planta dos pés.

Uma vez chegados a Melilla, mais problemas: conseguiram saltar a enorme vedação, mas acabaram detidos temporariamente e impedidos de entrar em Espanha. A conselho de um elemento de uma associação humanitária, porém, ao formalizarem um pedido de asilo, alegaram que eram refugiados da guerra civil na Libéria e receberam luz verde para atravessar o Mediterrâneo rumo a Espanha.

Instalaram-se primeiro em Bilbau, onde um padre os ajudou com roupas e outros bens para Iñaki, que entretanto nasceu, e depois numa habitação social em Pamplona. Felix andava de emprego em emprego e, ao fim de pouco mais de uma década, partiu para Londres, em busca de sustento mais certo. Só voltaria 10 anos mais tarde e, nesse hiato, Iñaki passou a tomar conta do irmão mais novo, enquanto a mãe trabalhava. Alimentava-o, vestia-o, e mais tarde passou a levá-lo à escola e aos treinos de futebol. Quando ingressou no Atlético de Bilbau, aos 19 anos, o irmão Nico foi com ele, para as camadas jovens e, até hoje, mantêm-se fiéis ao clube do País Basco.

“Ouvir a história dos meus pais faz-nos querer lutar ainda mais para lhes devolver tudo o que eles sacrificaram por nós”, afirmou Iñaki Williams, numa entrevista ao The Guardian. “Nunca lhes vou conseguir pagar – eles arriscaram a vida -, mas a vida que lhes tento dar é aquela que eles sonharam para nós”, acrescentou.

Em setembro de 2022, já na antecâmara do Campeonato do Mundo do Qatar, Iñaki estreou-se pela seleção do Gana e Nico vestiu pela primeira vez a camisola da equipa principal de Espanha – ao segundo jogo, saltou do banco de suplentes para fazer a assistência para Morata marcar o golo da vitória frente a Portugal, que qualificaria os espanhóis para a final four da Liga das Nações, em vez de Ronaldo e companhia.

Iñaki já não era chamado aos trabalhos da seleção espanhola desde um encontro particular em 2016, no tempo de Vicente del Bosque como selecionador, e decidiu que era hora de dar o sim ao Gana e jogar no Mundial. A decisão foi tomada durante o verão, numa rara visita a familiares ganeses que permanecem no país. Numa conversa com o avô James, 90 anos, ele disse-lhe que já poderia morrer feliz se o visse jogar pelo Gana. Já Nico preferiu vestir as cores de Espanha e, por esta altura, é um herói nacional do outro lado da fronteira – como se verá pelas capas dos jornais de amanhã.

O futuro é verde ou não existe. Foi com base neste pressuposto que decorreu uma das discussões da última edição das ESG Talks, em Évora, tendo como setor de foco a Agricultura.

Nesta quinta-feira, 20 de junho, o primeiro painel teve como convidados José Velez – Vice-presidente da CCDR Alentejo, Rita Andrade Soares – CEO da Herdade da Malhadinha Nova, e Silvina Morais – ESG Manager na The Summer Berry Company, que refletiram sobre o tema “Estratégias para um futuro verde”. O painel contou com a moderação de Margarida Vaqueiro Lopes, subdiretora da VISÃO.

Esta foi a segunda conferência da terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC – que irá percorrer o País desde Sul até Norte. O palco foi o PACT – Parque do Alentejo de Ciência de Tecnologia.

O debate começou com a intervenção de José Velez, vice-presidente da CCDR Alentejo – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo – que referiu que “a agricultura é fundamental e tem de ser tratada como um setor de primeira ordem”. Para Velez, a aposta na inovação tecnológica e a partilha e transmissão de conhecimentos – principalmente entre diferentes gerações de agricultores – são aspetos fundamentais que fazem o setor evoluir. “Saber inovar e transmitir é fundamental”, explicou. Velez acredita também que o setor agrícola em Portugal deverá adotar as estratégias necessárias que permitam ao país ser o mais autossustentável possível ao aplicar medidas que contribuam para a diminuição do défice e equilibrar entre as importações e exportações.

Já Rita Andrade Soares, CEO da Herdade da Malhadinha Nova, abordou o impacto que o projeto pretende ter para além da produção de produtos certificados como o vinho, azeite e mel. A Herdade, que começou como um projeto familiar em 2017, pretende apostar na criação e desenvolvimento agrícola, fomentar a biodiversidade e a partilhar os produtos portugueses com outros mercados internacionais. É, aliás, um exemplo de como procurar equilibrar a atividade agrícola com a turística. “A Malhadinha é uma marca global com uma componente turística muito forte”, contou. A empresa possui ainda uma forte componente educativa, aliada ao Turismo, que aposta na partilha de práticas de produção sustentáveis, “Queremos sensibilizar as pessoas e ser um exemplo para o futuro”, concluiu.

Já para a empresa The Summer Berry Company, na qual Silvina Morais é ESG Manager, a ideia é deixar que a natureza siga o seu curso. “Temos de perceber o que temos naturalmente. A natureza tem as respostas. Menos é mais”, explicou. A empresa, cujo foco é a produção de framboesas, começou a sua atividade através de um “erro”, nas suas palavras, na plantação do fruto que levaram Silvina Morais e a sua equipa a adotar práticas agrícolas mais antigas e características de produção menos convencionais. “É muito engraçado ver como as pessoas reagem quando me pedem ajuda sobre o que fazer e lhes digo que, no primeiro ano, o ideal é não fazerem nada” (risos). Isto porque é preciso perceber o que a natureza tem ali, para nos dar”. Foi, aliás, assim que Silvina percebeu que as framboesas que produzia em túnel eram muito mais felizes – e melhores – quando deixavam que o ecossistema em seu redor vivesse sem intervenção humana: ervas, bichinhos… tudo isso fez das suas framboesas frutos muitos melhores do que quando eram produzidos em ambiente esterilizado. A The Summer Berry tem atualmente uma produção de 140 hectares de pequenos frutos, maioritariamente framboesas. “É importante voltarmos às origens e pensarmos como é que podemos combinar estes saberes, e partimos com esses conhecimentos”, acredita.

ESG talks em Évora

Por fim, José Velez, referiu ainda os principais desafios que o setor primário vai enfrentar na próxima década e que passam por “saber utilizar e aproveitar as novas tecnologias”, “olhar o solo e água como prioridades fundamentais” e “saber compreender o ambiente e saber compreender a agricultura”. Para o vice-presidente da CCDR Alentejo, a agricultura e o ambiente devem ser observados como um todo em que a inovação, a tecnologia e a ciência desempenham um papel essencial.

Já relativamente à falta de mão de obra atual na agricultura, Rita Soares Andrade considerou ser fundamental que as empresas adotem metas estratégicas bem definidas de forma a “criar condições variadas para que as pessoas [mão de obra] se fixem”. Com mais de 100 trabalhadores, a Malhadinha tem-se deparado com vários desafios neste quesito, e tem apostado em criar pacotes de benefícios que consigam manter as pessoas na empresa e na região, desde disponibilização de habitação até, graças à pertença à Relais Chateaux, descontos consideráveis em unidades da rede, em todo o mundo. Cabe, portanto, aos empresários criar condições de atratividade e retenção de trabalhadores no setor, “mas tendo noção de que as pessoas vão continuar a querer movimentar-se”, admite.

Todos os domingos, entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2021, António Costa e Ursula von der Leyen falavam ao telefone. O telefonema era uma forma de Costa se articular com a presidente da Comissão Europeia durante os seis meses em que coube a Portugal assumir a presidência da União Europeia, mas foi durante essas conversas que os dois estreitaram laços que duram até hoje. “A relação com Ursula von der Leyen é muito boa”, garante à VISÃO quem acompanhou de perto António Costa nas andanças europeias. A proximidade com uma política da CDU (o partido democrata-cristão alemão) pode parecer inusitada, mas não é de agora que António Costa faz pontes com políticos da direita alemã. A relação com Angela Merkel era tão boa que Costa foi convidado para um jantar de despedida na residência oficial da chanceler alemã quando Merkel deixou o poder. “Era uma relação muito especial”, nota a mesma fonte, explicando que essa cumplicidade se teceu nas reuniões do Conselho Europeu, nas quais a Alemanha se senta do lado esquerdo de Portugal.

Bloco central Ursula von der Leyen e Pedro Sánchez com Emmanuel Macron e António Costa

Curiosamente, a aura de ter sido um primeiro-ministro que se vangloriava de ter “virado a página da austeridade” ajudou Costa a ganhar prestígio na Europa. Porquê? Porque o fez sempre cumprindo as regras do jogo, reduzindo o défice e a dívida e apresentando brilharetes orçamentais. “Toda a gente ficou muito impressionada”, conta quem esteve no núcleo duro governamental de Costa e via a forma como os seus homólogos europeus o tratavam. Pedro Sánchez, o presidente do governo espanhol, é um dos indefetíveis de António Costa. “Sempre que falo com António Costa, aprendo”, chegou a dizer Sánchez quando a 7 de janeiro de 2016 visitou a sede do PS, no Largo do Rato, numa altura em que assumia o fascínio pela recém-criada Geringonça. Mas se a aliança entre dois socialistas ibéricos parece óbvia, a extrema-direita de Le Pen serviu de pretexto para o apoio de Costa ao liberal Emmanuel Macron, tornando pública uma aproximação que já era notória para quem via o português e o francês a interagir em Bruxelas. Costa anunciou o apoio a Macron na segunda volta das eleições de 2022 e o francês não poupou nas palavras para agradecer. “Quero agradecer ao meu amigo Costa, que foi formidável. O António foi adorável, e fiquei muito emocionado”, disse, citado pela Lusa.

O trabalho oculto de Costa em Bruxelas

Cerca de um mês e meio depois dessas declarações emocionadas de Macron, um dos mais ouvidos podcasts de política do Reino Unido, The Rest Is Politics (conduzido pelo conservador Rory Stewart e pelo trabalhista Alastair Campbell), dedicava um episódio ao “carisma” de António Costa, com um Campbell muito impressionado com os dotes negociais do socialista e a apresentar Portugal como o ninho de líderes mundiais que forjou Durão Barroso e António Guterres.

Para quem estava nos bastidores europeus, as capacidades negociais de António Costa eram há muito evidentes, e não apenas por ter conseguido o (então improvável) apoio parlamentar de PCP e BE ao seu governo PS. Em fevereiro de 2016, o Conselho Europeu fez uma maratona negocial de 30 horas seguidas para desenhar um pacote cujo objetivo era dar ao então primeiro-ministro britânico David Cameron argumentos suficientes para lutar pelo “não” no referendo ao Brexit. “Costa teve um papel decisivo na questão da mobilidade que ficou nesse pacote”, assegura quem assistiu às negociações, explicando que a forma como o então primeiro-ministro português domina a legislação europeia se revelou crucial para definir um pacote no qual “muita coisa estava no limite da legalidade dos tratados”.

Não são favas contadas

O primeiro-ministro polaco trouxe para cima da mesa a Operação Influencer

Donald Tusk, o primeiro-ministro polaco, foi quem trouxe para cima da mesa do jantar informal de Bruxelas, na passada segunda-feira, a Operação Influencer. A situação judicial de António Costa coloca dúvidas a alguns dos membros do Conselho, mas a questão serve mais para aumentar a parada das negociações do que para outra coisa. O próprio Tusk (cujo partido faz parte, como a AD, da família PPE, vencedora das recentes eleições europeias) reconhece a Costa “competências para exercer o cargo”. Mas há temas europeus que alguns dos líderes conservadores invocaram para expressar as suas dúvidas sobre o candidato português: a alegada pouca firmeza no tema da imigração e as suas posições sobre a Ucrânia e a respetiva integração na UE. Não era expectável que, de uma reunião informal, saíssem já os nomes para ocuparem os mais altos cargos. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e o seu homólogo húngaro, Viktor Orbán, apresentam uma fatura: querem que o seu grupo de direita radical venha a ocupar alguns cargos nas vice-presidências. O jogo entre liberais, socialistas e democratas conservadores vai acontecer, mas a direita mais hard também pode influenciar decisões. Luís Montenegro sintetizou que o nome de Costa está bem encaminhado – mas ficou claro que não serão favas contadas. — F.L.

Quando foi preciso desenhar uma resposta à pandemia de Covid-19, António Costa voltou a ser uma peça central no xadrez europeu que levou à aprovação do Next Generation EU, o mecanismo da famosa “bazuca” de fundos do PRR. Um dos problemas era a necessidade de aprovar esse instrumento em 24 dos 27 parlamentos nacionais da União Europeia. Só isso poderia fazer com que tivessem sido necessários dois anos para pôr o pacote em ação. “António Costa conseguiu fazê-lo em cinco meses, porque falou com todos os nossos camaradas [socialistas]. Ele tinha um quadro com as datas de votação nos 24 e ia fazendo as conversas à volta disso”, conta uma antiga governante com responsabilidades na Europa. Costa sabia que os Países Baixos, a Hungria e a Finlândia eram os mais difíceis de convencer e conhecia bem os parlamentos nos quais os socialistas eram oposição e votariam sempre contra propostas que viessem dos governos. “Houve situações em que um ficou doente para não votar, outras em que um deputado saía da sala… Ele orquestrou isso”, assevera a mesma fonte.

Mas um dos países que deram mais trabalho a Costa foi a Hungria. Era preciso convencer Viktor Orbán a não bloquear a regra que condicionava a atribuição de fundos europeus à observação de princípios de Estado de direito. António Costa fez uma escala em Budapeste, em maio de 2023, para ver a final da Liga Europa de futebol, no estádio Puskás Aréna, ao lado de Orbán. O desvio feito no Falcon da Força Aérea que levava o primeiro-ministro até Chisinau (na Moldávia) para participar na Cimeira da Comunidade Política Europeia valeu-lhe em Portugal um caso com repercussões políticas e mediáticas. Mas várias fontes ouvidas pela VISÃO asseguram que o encontro com Orbán foi estratégico e fundamental para que a Hungria desse o sim que desbloqueou o PRR. “Conseguiu que a Hungria não vetasse o Orçamento Europeu”, diz uma fonte. “A viagem teve esse fito e teve esse efeito”, corrobora outra, explicando que Costa se afirmou como “um fazedor de pontes” na Europa nos últimos anos. “Sempre que havia um problema, mesmo que não fosse diretamente connosco, ele nunca falhava.”

As aulas de inglês

Para Ana Gomes, este empenho em encontrar soluções na Europa não é alheio às ambições que, acredita a socialista, António Costa começou a alimentar nos últimos anos. “Ando há três anos a dizer que ele não quer outra coisa. Determinou a governação para conseguir o lugar de presidente do Conselho Europeu”, afirma a ex-eurodeputada, que acha que “os brilharetes orçamentais”, conseguidos à custa de não ter, por exemplo, reposto o tempo de serviço dos professores, já foram feitos a pensar em causar esta boa impressão em Bruxelas. “Deixou que problemas graves se acumulassem e levassem a este resultado que o PS teve nas legislativas, porque estava a trabalhar para este objetivo. Serviu uma visão de Portugal de contas certas sem rasgo económico porque lhe dava os pergaminhos de que precisava”, acusa sem, contudo, duvidar de que, neste momento, é o melhor candidato à presidência do Conselho Europeu. “É mais sagaz do que Durão Barroso. E é inteligente e criativo. Bate-se pelas ideias. Não há ninguém melhor neste momento para aquele lugar.” Mais: Ana Gomes diz que António Costa “é reconhecido pelos pares”, que “Von der Leyen o prefere a Mario Draghi” e que Costa “tem em Macron um grande apoiante”.

Infância e juventude Com o pai, Orlando Costa, num congresso da JS e entre jovens camaradas

A verdade é que nos últimos três anos foi notória a inclinação de António Costa pelos assuntos europeus. Um sintoma disso foi o facto de ter começado a ter aulas para melhorar o inglês, uma vez que já dominava bastante bem o francês. E em 2022, na orgânica do governo de maioria absoluta que haveria de cair em novembro de 2023, Costa puxou os Assuntos Europeus para a sua tutela direta. “A visão dele sobre a Europa sempre foi a mesma”, diz-nos o antigo secretário de Estado adjunto de António Costa, António Mendonça Mendes, explicando que Costa nunca teve os Assuntos Europeus no Ministério dos Negócios Estrangeiros por entender que o que se passa na Europa não é política externa. “Essa visão esteve bastante clara desde o início.”

Cabeça fria, mesmo na queda

Quando, na manhã de 7 de novembro de 2023, a polícia entrou em São Bento para fazer buscas ao seu gabinete, António Costa não demorou muito a perceber que a sua demissão era inevitável. “Manteve sempre uma calma e um discernimento constantes. Não teve nenhuma hesitação sobre o que devia fazer”, conta António Mendonça Mendes. Entre a hora a que os agentes iniciaram as buscas e o anúncio da demissão, passaram-se cinco horas. Dois dias depois, o primeiro-ministro chamava os jornalistas para uma declaração ao País. Para muitos este parecia o fim político de António Costa, mas o próprio nunca se deu por vencido. Para os que o rodeavam, era claro que a certeza de que não tinha praticado “qualquer ato ilícito ou censurável” (como afirmou no momento em que se demitiu) lhe dava uma serenidade para continuar a trabalhar como se nada fosse até ao último dia. “Continuámos a trabalhar sempre. Nunca nos ocorreu adiar qualquer decisão. Sempre num registo de grande serenidade”, afirma Mendonça Mendes.

Longa experiência em cargos variados

Na fita do tempo do percurso político de António Costa, temos um menu sortido de funções: deputado nacional e europeu, três pastas ministeriais, experiência autárquica e chefia do governo

1989
Eleições autárquicas: diretor de campanha de Jorge Sampaio, em Lisboa

1991
Eleito deputado pela primeira vez

1995/97
Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (governo de António Guterres)

1997/99
Ministro dos Assuntos Parlamentares (governo Guterres)

1999/02
Ministro da Justiça (governo Guterres)

2004/05
Deputado europeu. Vice-presidente do Parlamento Europeu. Vota favoravelmente a nomeação de Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia

2005/07
Ministro de Estado e da Administração Interna (governo de José Sócrates)

2007/15
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa

2014/24
Secretário-geral do PS

2015/24
Primeiro-ministro

Nesse momento, António Costa demonstrou a fibra de que é feito: manteve a cabeça fria e continuou a trabalhar para os seus objetivos. Tanto que, apesar de toda a convulsão política que se vivia, falou com Luís Montenegro, ainda antes das eleições, para assegurar que, caso avançasse com uma candidatura ao Conselho Europeu teria o apoio de um governo liderado pela AD. Montenegro fez-lhe saber que sim e passou a informação a Bruxelas, como o próprio revelou publicamente na noite das europeias. “Se o dr. António Costa for candidato a esse lugar, a AD e o Governo de Portugal não só apoiarão como farão tudo para que essa candidatura possa ter sucesso. Todos os meus colegas do PPE já sabem disto, mesmo antes de António Costa ser ex-primeiro-ministro”, anunciou Montenegro.

Momentos antes, no estúdio da CMTV, António Costa deixava claro que “nunca aceitaria ser candidato” a presidente do Conselho Europeu “sem o apoio do Governo do País”. Costa estreava-se nos ecrãs como comentador político da Medialivre, mas já andava pelo País há semanas em gravações para o programa que terá no novo canal de notícias do grupo, o News Now, e que deverá ter vida curta se o destino o levar a suceder a Charles Michel.

O “puto” que preferia os bastidores

António Costa pode estar prestes a chegar à ribalta internacional, depois de uma carreira política que começou aos 14 anos, quando, dois anos depois do 25 de Abril de 1974, começou a aparecer naquela que foi a primeira sede do PS, em São Pedro de Alcântara, em Lisboa. Alberto Arons de Carvalho já era dirigente da JS e lembra-se bem de ver o filho da jornalista Maria Antónia Palla e do poeta e publicitário comunista Orlando da Costa aparecer na sede socialista. “Ele vivia no Bairro Alto, com a mãe, mesmo por trás da sede.” Arons resolveu integrá-lo nas atividades partidárias, mesmo sendo dos mais novos que por lá andavam. “Havia muita atividade de colar cartazes e distribuir propaganda.” Costa dava nas vistas, mesmo que, como descreve outro camarada dessa época, fosse ainda “um puto” no meio de universitários. “Era uma pessoa muito determinada e capacitada”, elogia Arons de Carvalho.

Eurodeputado Foi vice-presidente do Parlamento Europeu e votou em Durão Barroso para presidente da Comissão (aqui, nessa sessão) Foto Bruno Rascao

Na JS, António Costa nunca foi líder nem nunca aspirou a isso, mas foi dirigente do secretariado nacional. “Tinha uma forma de fazer política em que se punha nos bastidores”, conta quem foi seu contemporâneo. Em 1981, no Congresso da JS, Margarida Marques foi a votos contra Luís Patrão, Costa “era o mentor” da candidatura de Patrão e sofreu a sua primeira derrota política. Feminista declarada, a mãe, Maria Antónia Palla, enviou um telegrama a felicitar Margarida por ser a primeira mulher à frente da JS. Babush, como era conhecido na família (graças às origens goesas do pai), não gostou e fez à mãe uma cena de ciúmes.

Derrotas, uma porta arrombada e um Ferrari

As derrotas são amargas, mas ajudam a moldar uma personalidade. E António Costa teve várias. Uma delas, mal digerida, na Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Em 2015 uma das testemunhas da história, Laplaine Guimarães, contava ao semanário Sol a “tourada” que foi arrancar António Costa da sala da Associação de Estudantes depois de uma lista conjunta da JSD e da JC ter ganhado à que era encabeçada por Costa. O jovem socialista (que tinha chegado ao poder numa aliança com a JCP, para depois descartar os comunistas) estava trancado numa sala, que foi preciso arrombar com uma mesa de matraquilhos.

Muito mais sereno estava António Costa quando, nas autárquicas de 1993, saiu derrotado da corrida à Câmara Municipal de Loures depois de ter começado a noite eleitoral com as sondagens a darem-lhe a vitória sobre a CDU. “Primeiro, fechou-se bastante. Mas depois disse-nos que era o princípio e que era para continuar”, conta à VISÃO Ana Simões, na altura a número dois da lista.

As origens goesas

Descendente de brâmanes católicos, António Costa tem sangue azul…

António Costa é filho de gente célebre: o seu pai, Orlando Costa, goês, já falecido, foi um aclamado escritor. E a sua mãe, Maria Antónia Palla, foi uma das primeiras mulheres jornalistas portuguesas. António é meio-irmão (o mesmo pai, mães diferentes) do também jornalista Ricardo Costa, diretor-geral de informação do grupo Impresa e conhecido do público, sobretudo, através da SIC. Nos parâmetros de Goa, o ex-primeiro-ministro tem sangue azul, já que descende dos brâmanes católicos goeses, a casta mais elevada daquele estado indiano (embora o sistema de castas tenha sido legalmente abolido, mantém-se, porém, nas tradições locais). É descendente direto de Marada Poi, brâmane Gaud Saraswat do século XVI. Orlando Costa, o pai, poderia ter estudado em Bombaim ou, como muitos da sua condição, em Londres, mas veio para Lisboa atraído pela literatura e por Fernando Pessoa. Nascido em Portugal, António Costa foi pela primeira vez a Goa, com o pai como cicerone, quando completou 18 anos. Casado com Fernanda Tadeu, professora, António Costa tem dois filhos, um dos quais – Pedro Costa, com experiência autárquica – se notabiliza como um promissor quadro do PS. — F.L.

António Costa não tinha grandes ligações a Loures, a não ser o facto de os sogros viverem em Odivelas (que na época fazia parte do mesmo concelho), mas o seu nome apareceu como uma aposta do então secretário-geral do PS, António Guterres. “Guterres decidiu fazer um grande investimento na Área Metropolitana de Lisboa onde o PS não tinha grande força”, lembra Edite Estrela, explicando que nessas autárquicas foram candidatos na Grande Lisboa vários dirigentes e figuras mais conhecidas. A própria Edite Estrela em Sintra, Armando Vara na Amadora e José Luís Judas em Cascais. António Costa já estava como deputado municipal em Lisboa há 11 anos e foi cabeça de lista por Loures.

“Foi uma campanha fabulosa. Era uma pessoa com muitas ideias e energia e quis fazer uma lista com pessoas do concelho. A mim, conheceu-me num debate. Não havia ninguém muito ligado ao aparelho do PS”, relata Ana Simões. Uma ideia de António Costa que fez furor nacional foi a de pôr um burro e um Ferrari a fazer uma corrida pela Calçada de Carriche para denunciar o problema dos acessos a Loures. O Ferrari era do embaixador Alfredo Duarte Costa. E o burro ganhou. “Teve imenso impacto”, diz Edite Estrela, que se lembra de, na noite eleitoral, ainda ter dado a Costa os parabéns pela vitória antes de o final da contagem ter revelado um desfecho diferente. “Foi um balde de água fria.”

Passado o choque inicial, António Costa decidiu assumir a vereação e montar um verdadeiro “executivo-sombra” na Câmara Municipal de Loures. Ainda lá esteve dois anos até ir para secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares em 1995, ano em que começou a preparar a primeira campanha presidencial de Jorge Sampaio, em cujo escritório de advocacia tinha começado a trabalhar com Vera Jardim e Magalhães e Silva, depois de acabar o curso. Foi, aliás, António Costa quem indicou a Magalhães e Silva os nomes de três dos seus melhores amigos, Diogo Lacerda Machado, Pedro Siza Vieira e Eduardo Cabrita, para irem trabalhar para Macau. Costa ficou sempre por Lisboa.

Uma morte que levou a uma reviravolta

A carreira política estava lançada. De secretário de Estado passou a ministro dos Assuntos Parlamentares e, em 1999, assumiu a pasta da Justiça, até à queda do governo de Guterres em 2002, ano em que passou a ser líder da bancada parlamentar do PS. Esteve dois anos à frente do grupo parlamentar socialista antes de Ferro Rodrigues o escolher como número dois de uma lista ao Parlamento Europeu encabeçada por António Sousa Franco. Costa já conhecia os corredores de Bruxelas como ministro e aceitou o desafio. Mas a campanha eleitoral revelar-se-ia muito mais dura do que alguém poderia ter antecipado.

Numa ação na lota de Matosinhos, os ânimos exaltaram-se à passagem da caravana socialista, com desacatos entre apoiantes de Narciso Miranda e Manuel Seabra, ambos do PS e candidatos à Câmara Municipal de Matosinhos. Foi preciso uma escolta para tirar Sousa Franco do local, que não conseguiu estar mais do que 15 minutos no mercado. À saída, o candidato sofreu um ataque cardíaco. Poucas horas depois, estava morto. “Ficámos bloqueados, em estado de choque. Foi muito difícil”, lembra Edite Estrela, que também fazia parte da lista às europeias.

Dinastia europeia Com Macron, von der Leyen e Roberta Metsola, presidente do PE (que pode, ou não, continuar)

Com a morte de Sousa Franco, António Costa passou a cabeça de lista. E o resultado não poderia ter sido melhor: o PS elegeu 12 eurodeputados. “Costa era já um bom conhecedor do projeto europeu e estava muito à vontade em todos os temas”, nota Edite Estrela, explicando que o bom resultado dos socialistas e as boas capacidades negociais de António Costa lhe valeram o lugar de vice-presidente do Parlamento Europeu. “Foi ótimo no lugar. Sabe delegar e coordenar”, comenta Ana Gomes, que também foi eleita nessa lista. “Ele era muito batido no estilo de negociação que se faz lá para a distribuição de lugares”, recorda Ana Gomes, que acredita que essa foi uma competência aprendida na escola da política. “Isto não se aprende senão na vida partidária. Tinha toda uma vastíssima escola desde os 14 anos.” Costa foi tão bom a negociar que a delegação socialista conseguiu todos os lugares que pretendia. “A equipa era praticamente toda nova e as pessoas ficaram nas comissões que queriam.”

A experiência como eurodeputado durou pouco, esteve em Bruxelas entre junho de 2004 e março de 2005, porque entretanto José Sócrates chegou ao governo e chamou-o para ser ministro de Estado e da Administração Interna. Costa teve pena de sair do Parlamento Europeu, mas era impossível dizer que não a Sócrates.

Apesar de tudo, a ida para o governo não o afastou das questões europeias. “Como ministro, esteve muito ligado à Europa. Nunca mais ficou completamente afastado”, frisa Edite Estrela. Em 2007, Portugal teve a presidência da União Europeia e isso fez com que Costa estreitasse ainda mais os laços com a Europa.

A conquista de Lisboa

Ora, foi em 2007 que o acaso voltou a trocar as voltas à vida de António Costa. A 9 de maio desse ano, o executivo da Câmara Municipal de Lisboa cai depois de meses de polémicas e casos relacionados com o urbanismo durante o mandato de Carmona Rodrigues, um independente eleito pelo PSD. Lisboa foi para eleições intercalares e Costa foi o candidato do PS àquela que é a maior câmara municipal do País e que, muitas vezes, é descrita como sendo maior e mais complexa de gerir do que muitos ministérios.

António Costa ganhou a câmara a Fernando Negrão (do PSD), mas a candidatura de um movimento de cidadãos encabeçado pela socialista Helena Roseta ajudou a baralhar as contas e o PS ficou sem maioria para governar. Foi aí que entraram novamente em jogo as capacidades negociais de Costa, que em pouco tempo conseguiu até puxar para o seu executivo o vereador José Sá Fernandes, que tinha sido eleito pelas listas do BE, mas que acabaria por entrar em rutura com a direção bloquista.

O dia em que Costa cresceu

No governo de Guterres, ganhou um braço de ferro ao primeiro-ministro

No final do ano 2000, rebentava uma inesperada crise política no seio do segundo governo de António Guterres. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Ricardo Sá Fernandes, membro influente do Ministério das Finanças, liderado por Pina Moura, criticava publicamente a Justiça portuguesa depois de mais um arquivamento do Caso Camarate, sem a conclusão de que o desastre que vitimou Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa se tinha tratado de um atentado. Sem propriamente separar as funções, o membro do governo era, também, advogado das vítimas e até publicara um livro com a tese do atentado (mais tarde confirmada). Mas o ministro da Justiça, António Costa, não gostou de ouvir um seu colega de governo criticar, em termos tão azedos, a área que tutelava. Mais do que uma questão de facto – atentado ou acidente –, era um problema institucional. Vai daí, concluiu que o executivo era demasiado pequeno para caberem os dois – ele próprio e o secretário de Estado – e apresentou a demissão a António Guterres: ou saía ele ou Sá Fernandes. Guterres insistiu numa conciliação, mas Costa fez finca-pé e o sacrificado foi mesmo Ricardo Sá Fernandes. Nesse dia, António Costa provou que a política, para ele, não era brincadeira nenhuma: mostrara os dentes, assumira um braço de ferro e vencera. Esse foi um momento político definidor. Quer no partido, quer no País, a imagem de António Costa começava a estabelecer-se como a de um potencial líder, com espessura política – e não apenas como a de um ajudante. De lá para cá, foi sempre a crescer. — F.L.

Com o vereador do Urbanismo Manuel Salgado como seu braço direito e mão de ferro a gerir os serviços, António Costa conseguiu serenar as polémicas que tanta mossa tinham causado a Pedro Santana Lopes e a Carmona Rodrigues quando estiveram nos Paços do Concelho. Mesmo com várias notícias levantando dúvidas sobre a gestão de Salgado, Costa resistiu sempre. Mais: nas autárquicas de 2009 conseguiu uma maioria absoluta inédita.

António Costa foi feliz como autarca, tanto que mais tarde, como primeiro-ministro, evocava muitas vezes esse período. Mesmo assim, havia algumas frustrações. “Ser presidente da câmara é como ser dona de casa, o trabalho nunca está feito”, comentava às vezes em privado. Costa tinha outras ambições e capital político suficiente para sonhar com a liderança do PS.

Eram os tempos da Troika, mas o PS parecia não ser capaz de capitalizar o desgaste do governo de Passos e Portas. António José Seguro anunciava em 2011 uma “abstenção violenta” na votação do Orçamento do Estado e as hostes socialistas impacientavam-se com um líder que negociava descidas de IRC com a direita e parecia distante da contestação crescente que se fazia nas ruas ao governo.

A falsa partida que irritou Pedro Nuno

Os “jovens turcos” do PS, Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro, Pedro Delgado Alves e João Galamba, desesperavam. Conhecedor do aparelho socialista, Pedro Nuno Santos dispõe-se a abrir terreno a uma candidatura de Costa contra Seguro. Pedro Nuno aquece os motores, mas António Costa trava a fundo. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa não quis avançar em 2013, para grande frustração de Pedro Nuno Santos que tinha pressa de apear Seguro e vontade de fazer o partido guinar à esquerda.

Foi preciso esperar um ano para, dois dias depois de uma vitória do PS “por poucochinho” (como disse Costa na altura), António Costa decidir que estava na hora de entrar na corrida para o Largo do Rato. Teve apoios de peso, como o de Mário Soares, que chegou a ir à Câmara Municipal de Lisboa dar-lhe esse apoio, mas sobretudo conseguiu que a opinião pública o visse como a figura mais capaz de deitar abaixo Pedro Passos Coelho.

Campanha em Loures– Antonio Costa e Jorge Sampaio 1989, Antonio Guterres

“A apreciação generalizada era a de que Seguro estava mais frágil, pela proximidade ao Passos”, analisa o socialista Vítor Ramalho, explicando que isso ajudou a que, naquelas que foram as primeiras (e até agora únicas) primárias do PS abertas a não militantes, António Costa tivesse uma vantagem natural. Ramalho acredita que Costa foi mais hábil a ler o descontentamento gerado por Passos. Um sinal disso foi a presença de António Costa nas duas Aulas Magnas, organizadas por Soares, que foram uma reunião das esquerdas e nas quais Seguro nunca quis estar presente. “Costa teve a intuição da importância das Aulas Magnas, cujo propósito por parte de Soares era ser contra as políticas de Passos”, diz Vítor Ramalho.

A campanha das legislativas de 2015 não correu bem a António Costa, que parecia perder gás na estrada. Em cima da ideia de ter salvado o País da bancarrota, Passos Coelho conseguiu uma magra vitória que, ainda assim, serviu para fazer a festa no Hotel Sana, em Lisboa, na noite das eleições. Mas a euforia durou pouco. Na noite eleitoral, Jerónimo de Sousa tinha deixado claro que “o PS só não é governo se não quiser” e Catarina Martins tinha, no final de um debate, ainda em campanha, apresentado a António Costa o caderno de encargos necessário para o BE viabilizar a governação socialista.

O nascimento da Geringonça

No dia 10 de novembro às 17h16, o curto governo minoritário de Passos caiu com estrondo, depois de aprovada a moção de rejeição apresentada pelo PS. “Não é bem um governo, é uma geringonça”, diria nesse debate Paulo Portas, ajudando a firmar uma designação que se colaria para sempre a essa solução governativa de um governo PS apoiado no Parlamento por PCP e BE.

A forma como negociou sempre com os seus “primos” (como chamava aos parceiros à esquerda) ajudou a vincar a ideia de que é um exímio negociador. Marcelo Rebelo de Sousa, que durante o início do mandato presidencial teve com Costa uma “cooperação estratégica” exemplar, chamou-lhe “otimista irritante”. Mas quem o conhece de perto sabe que é “um sedutor” que quando se exaspera pode ser “mais feroz do que Sócrates” e que não gosta de ouvir críticas.

Ana Gomes diz mesmo que Costa “lida muito mal com quem é crítico, sobretudo se são mulheres”, dando o exemplo da forma como “foi muitas vezes acintoso com Catarina Martins e Assunção Cristas” nos debates no Parlamento. Agora, pode ter uma mulher a fazer-lhe frente: Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana que, com a extrema-direita a sair reforçada das europeias, tem dado sinais de que os top jobs de Bruxelas não podem continuar a ser divididos sem ter os Conservadores e Reformistas em conta. Para já, a primeira reunião sobre o tema deu em impasse. Nos dias 27 e 28 joga-se o próximo capítulo da vida de António Costa. Será ele o próximo presidente do Conselho Europeu?

Outros portugueses na alta-roda

Um presidente da Assembleia Geral da ONU, um presidente da Comissão Europeia e um secretário-geral das Nações Unidas

Mário Soares chegou a ser presidente da Internacional Socialista, no tempo em que a IS era uma organização realmente influente na Europa. Mas o primeiro grande cargo internacional ocupado por um português foi o de presidente da Assembleia Geral da ONU, na 50.ª Sessão, no biénio 1995/96. Diogo Freitas do Amaral, antigo ministro, antigo presidente do CDS e ex-candidato presidencial, desempenhou com distinção a função. Em novembro de 2004, o então primeiro-ministro Durão Barroso, líder do PSD, foi o ungido para presidir a Comissão Europeia, cargo que ocupou até outubro de 2014. Em 2007, Jorge Sampaio, ex-PR, foi designado alto-representante da ONU para a Aliança das Civilizações. Em 2010, Vítor Constâncio seria empossado como vice-presidente do BCE, para a área da supervisão. Ex-ministro das Finanças, e ex-líder do PS, Constâncio tinha tido um desempenho polémico como governador do Banco de Portugal. Também em 2010, João Cravinho ocupou um lugar na administração do BERD (Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento) em Londres. Depois de ter liderado o ACNUR, agência da ONU para os refugiados, António Guterres foi o português que chegou mais alto na hierarquia – pelo menos, simbólica – dos cargos internacionais, sendo escolhido para desempenhar a função de secretário-geral da ONU, a 1 de janeiro de 2017, tendo sido reconduzido para um segundo mandato, que ainda decorre. Mário Centeno, então ministro das Finanças, chegou a presidente do Eurogrupo, em 2018. No mesmo ano, António Vitorino iniciou o seu mandato na liderança da Organização Internacional para as Migrações. — F.L.

Palavras-chave: