Embora seja tantas vezes motivo de discórdia e utilizado como pólvora para incendiar radicalismos perigosos, o desporto tem também uma capacidade única, quase milagrosa, para conciliar vontades e conseguir unir estados ou nações. Na sua essência, o desporto é um instrumento insubstituível para uma vida saudável, ao mesmo tempo que desempenha um papel fundamental na criação de bons hábitos de vida em sociedade: demonstra a importância do esforço, do trabalho de equipa e do espírito de resistência para superar adversidades. E, quando bem enquadrado, tem uma virtude cada vez mais necessária nos atuais tempos crispados e radicalizados, em que todos querem ter razão: ensina a perder ‒ porque ninguém ganha sempre, por mais que a tantos lhes custe admitir.
O desporto ajuda a formar o caráter. E, num segundo nível, é um elemento agregador de comunidades e até de identidade nacional. Quando uma equipa ou um atleta que enverga as nossas cores ganha uma competição global, todos nos sentimos, nem que seja um bocadinho, campeões da Europa ou do Mundo. Festejamos e celebramos com alegria, mas também com orgulho. E, coletivamente, com essa vitória, sentimos que o nosso país subiu algum degrau na competitividade global das nações.
O nível de desenvolvimento desportivo de um país devia ser, por estas razões, uma prioridade dos decisores políticos, ao nível de outros indicadores como os da Saúde, Educação e Cultura. Até porque todas estas áreas acabam, de uma forma ou de outra, por se cruzarem e até se desenvolverem em conjunto. E, se isso for feito, quando as vitórias se repetem, os políticos podem festejar os troféus como tendo sido parte integrante desse caminho e não apenas uns passageiros de última hora no autocarro do desfile de celebração.
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Embora os troféus e medalhas estejam sempre dependentes de fatores puramente desportivos, além do talento geracional e da sorte que acompanha os audazes, a verdade é que a História demonstra que os países com maior desenvolvimento desportivo ganham mais do que os outros.
No último domingo, a nossa vizinha de fronteira viveu mais um dia de glória desportiva, com a seleção espanhola de futebol a sagrar-se, pela terceira vez em 16 anos, campeã europeia de futebol e, no mesmo dia, o tenista Carlos Alcaraz repetiu o triunfo no torneio de Wimbledon. Observadores mais imediatistas podem considerar que essa coincidência se deve apenas a um raro alinhamento geracional, visto que tiveram um contributo excecional de dois jovens de 21 anos (Alcaraz e Nico Williams) e de um de 17 (o já supermediático Lamine Yamal).
Sem desvalorizar o talento imenso desses três protagonistas, não nos podemos esquecer que o êxito desportivo que a Espanha celebra nos últimos anos é bem mais abrangente e variado. Ainda há cerca de um ano, a seleção feminina espanhola de futebol sagrou-se campeã mundial ‒ curiosamente também numa final contra a Inglaterra ‒, embora, injustamente, grande parte da opinião pública se lembre mais do beijo de Luis Rubiales a Jenni Hermoso do que dos nomes de muitas das atletas que ergueram o troféu.
Nada disto surgiu do acaso. O êxito de Espanha em diversas modalidades reflete, isso sim, anos e anos de políticas que encaram o desporto como um setor importante para o desenvolvimento humano, mas também para a imagem do país ‒ tanto interna como externamente.
Quando se contam as medalhas olímpicas conquistadas pelos dois países ibéricos até 1976, na época em que ambos tinham acabado de sair de longas ditaduras, a diferença era ténue: Espanha tinha nove subidas ao pódio e Portugal contava com sete. Depois, foi ligado o motor da candidatura aos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, e tudo mudou… do lado de lá da fronteira. Agora, dentro de dias, a comitiva espanhola parte para os Jogos Olímpicos de Paris com 382 atletas e um pecúlio acumulado de 171 medalhas (48 de ouro), enquanto Portugal participa com 74 atletas e a memória de 28 medalhas (apenas cinco de ouro).
Podemos encontrar muitas explicações para esta discrepância de resultados que ocorreu nas últimas décadas. Mas o que não podemos é continuar a pensar que a culpa é do treinador, seja ele qual for. A tática que se utiliza num jogo é importante, bem como o talento que se reúne numa equipa, mas os resultados sustentados, em diferentes modalidades e desportos, só se conseguem com políticas robustas, alicerçadas em estruturas associativas fortes e presentes em todo o território.
A história política norte-americana foi sempre marcada pela violência. Quatro Presidentes foram mortos no exercício dos seus mandatos (Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley e John F. Kennedy) e outros três ficaram feridos em tentativas de assassínio (Ted Roosevelt, Ronald Reagan e Donald Trump). Que se conheçam, foram mais de trinta as tentativas falhadas ou abortadas para matar sucessivos Presidentes, um contínuo de crimes que permite a entrada de uma quantidade de anónimos nas páginas da História. À falta de explicação mais elaborada, pode ter sido esta uma das razões para o que aconteceu, no recente comício republicano, na Pensilvânia.
Porém, tal não desvaloriza três importantes pontos sobre o caso. Primeiro, a existência enraizada de uma cultura de violência transversal à juventude norte-americana e o acesso a armas automáticas, de guerra e alta precisão, uma tragédia sem fim que nenhum legislador trava e cujo sangue de vítimas inocentes, invariavelmente jovens, lhe corre nas mãos. Segundo, a gritante falha de segurança num acontecimento público com um candidato presidencial, com direito a proteção reforçada, e cujo perímetro de segurança foi objetivamente negligenciado pelas entidades que o deveriam garantir. Nenhuma campanha eleitoral sobrevive a um clima de insegurança deste nível. Terceiro, para esse clima de ódio, violência, cultura de armas, desculpabilização de crimes, muito contribuiu Donald Trump nas suas várias metamorfoses: como outsider na corrida republicana de 2016, como adversário da favorita Hillary Clinton, como Presidente, como derrotado das eleições de 2020, como ex-Presidente e, agora, como recandidato à Casa Branca. Nisto, Trump nunca mudou: na instigação ao ódio contra adversários, no uso de linguagem violenta contra imigrantes, imprensa e políticos, na promoção de teorias da conspiração, na deslegitimação de resultados eleitorais, na desculpabilização de atos atrozes contra a democracia (invasão do Capitólio) ou contra democratas (ataque em casa de Nancy Pelosi), e até na glorificação pública de ditadores. Se o ambiente social e político está como está na América, a Trump muito se deve.
Não têm sido poucas as vozes a ditar a sua vitória em novembro, como resultado direto do ataque na Pensilvânia. Pode até acontecer, mas, a quatro meses das eleições, talvez seja avisado explorar os efeitos do tempo em política, as dinâmicas imprevisíveis nas campanhas norte-americanas, os desvios constantes de temas e a mobilização das bases, antes de decretarmos, apressadamente, o desfecho desta corrida. Quando Ted Roosevelt, depois de oito anos na Casa Branca (1901-1909), voltou a candidatar-se, foi alvejado no peito a três semanas das eleições, salvando-se graças à armação dos óculos e a um calhamaço em que estava escrito o discurso que iria proferir num comício no Wisconsin. Em novembro, perderia para Woodrow Wilson.
A repetição ou não da História vale o que vale, mas talvez mais importante seja questionar o efeito da comoção e da vitimização nas bases de culto a Trump: terá o tiro da Pensilvânia um efeito mobilizador num eleitorado já arregimentado? Duvido que acrescente. E nos independentes indecisos? Eventualmente algum, que não gosta de Biden e oscila no voto sem qualquer peso na consciência. E na desmobilização de eleitores democratas, que estiveram com o Presidente em 2020? Provavelmente, pouco. Pode até ter o efeito inverso, agora mais alarmados com uma vitória de Trump, reavivando o voto antecipado e presencial em Biden, só para evitar o regresso do republicano. E, assim, poriam de lado o declínio físico do atual Presidente que os incomoda e seriam apenas e só pragmáticos. A verdade é que todas estas dinâmicas são demasiado voláteis para serem definitivas hoje, numa campanha decidida em uma dezena de estados, por questões mais locais do que nacionais ou internacionais, por um punhado de dezenas de milhares de votos e decisões eleitorais mais previamente tomadas do que imaginamos.
Independentemente do que acontecer daqui em diante, a grande lição destes anos de chumbo nos EUA é tão alarmante como perigosa. Um ambiente de violência e intolerância crescentes, um país com dúvidas existenciais sobre o seu papel no exterior, um sistema judicial que protege um candidato mergulhado em escândalos e crimes, o endeusamento de uma Constituição datada e inamovível, partidos sistémicos envelhecidos nos protagonistas ou revisionistas nas propostas, e um debate público intoxicado pela desregulação e arbitrariedade das redes sociais, que tudo inflama.
Na semana em que um discurso violento anti-imigração foi interrompido por um tiro que ficou para a História, a Meta anulou as restrições ao discurso de ódio com que o republicano alimenta o seu culto. Tudo doentio, demasiado distópico, aceleradamente perigoso.
Norte Quase todos os primeiros-ministros britânicos do pós-guerra passaram por Oxford, mas foi a geração conservadora pró-Brexit a construir ali as suas cumplicidades. Simon Kuper conta tudo em Chums: How a Tiny Caste of Oxford Tories Took Over the UK.
Sul Leslie Varenne escreveu Emmanuel au Sahel, um bom resumo sobre a visão e os erros de Macron em África, a derrocada e a expulsão das tropas francesas no Mali, Chade e Níger, declínio longínquo de um falhanço maior.
Este Em Invisible China: How the Urban-Rural Divide Threatens China’s Rise, Scott Rozelle e Natalie Hell analisam a disparidade entre qualificações e economia, força laboral rural e ambições globais da China. São muitas as lições a tirar.
Oeste The Situation Room: The Inside Story of Presidents in Crisis, de George Stephanopoulos, leva-nos aos bastidores das grandes crises mundiais discutidas e decididas na mítica cave da Casa Branca, desde que JFK a criou. Um livro fascinante.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
No seu livro, afirma que uma guerra civil, seja qual for, nunca tem uma causa única. Mas será que o ataque a Donald Trump pode ser visto como um daqueles acontecimentos que criam um efeito cascata, levando a outras consequências?
O ataque a Donald Trump não é a causa da violência que assola, atualmente, a política norte-americana, mas um sintoma. E há uma verdade antiga que ainda se aplica: o sangue cria mais sangue. A foto da sua orelha ensanguentada vai tornar-se uma imagem poderosa para os apoiantes de Trump e será usada, quase certamente, para justificar mais violência. As teorias da conspiração sobre quem realmente está por detrás da violência já começaram e vão continuar a espalhar-se. As respostas mais comuns são o “estado oculto”, os ativistas transgénero e, claro, os judeus. A imagem será usada para justificar sabe Deus o quê: se eles nos tentaram matar e falharam, nós agora devemos tentar matá-los.
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No seu livro já previa um ataque deste tipo?
No capítulo 2, escrevi sobre como seria o assassínio bem-sucedido de um Presidente. Por aquilo que sabemos até ao momento, acho que o perfil, que previ e identifiquei no livro para o assassino, me parece assustadoramente correto. Atribuo o sucesso dessa identificação inteiramente à força do modelo de jovens terroristas, a que costumamos chamar “lobos solitários”, que os criadores de perfil que eu entrevistei partilharam comigo. Também compreendi bem, vendo agora em retrospetiva, como os sistemas de comunicação e de informação se iriam dividir, após um acontecimento desta natureza: um lado iria apelar à solidariedade institucional e o outro lado começaria a exigir vingança. Não é nada de novo, pois esses padrões estão em vigor há mais de uma década. Foi por disso, aliás, que escrevi A Próxima Guerra Civil (Livros Zigurate), e estes padrões tornaram-se agora muito mais fáceis de ver e de serem identificados.
O que prevê que ainda pode acontecer até ao dia das eleições, a 5 de novembro?
Prevejo o caos. Mais e mais caos.
Porquê?
Na verdade, é impossível prever o curso dos próximos quatro meses. Por um lado, ambos são homens velhos, cada um poderia facilmente morrer de causas naturais; por outro lado, os republicanos já começaram a falar de como as eleições estão a ser fraudadas. Um aspeto a que ninguém se referiu é o que acontecerá se o Colégio Eleitoral não obtiver um vencedor claro de 273 votos. É bem possível que esta eleição nem produza um vencedor claro. E esse seria o pior resultado de todos.
Quando se levantou, rodeado de elementos dos serviços secretos, de braço erguido e punho cerrado, manchado por algum sangue na face, Trump projetou uma imagem de força que o deve levar de regresso à Casa Branca. Em política nada é definitivo, mas, com apenas quatro meses pela frente, é cada vez mais improvável que o atual Presidente e candidato democrata seja capaz de travar Trump.
Ao descalabro de Biden, no debate da CNN, juntam-se as dúvidas sobre o seu estado de saúde e os apelos para abdicar que surgem do interior do próprio partido. Do outro lado, a máquina de campanha republicana ganhou uma imagem irrepetível e poderosa.
No meio do caos que o atentado gerou, Trump surge como um resistente vigoroso, uma espécie de herói que sobrevive ao mal. Será assim que a sua equipa de comunicação passará a “vendê-lo”, sem se esquecer de invocar a providência divina que o protegeu para servir os norte-americanos. Biden já estava atrás em todas as sondagens, e esse fosso tenderá a aumentar. Mais do que o atentado falhado, é o ar frágil e perdido de Biden que garantirá a dianteira a Trump, mas o que sucedeu em Butler terá repercussões no eleitorado.
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Alguns republicanos, com o senador do Ohio, J.D. Vance, à cabeça, não tardaram a responsabilizar Biden pela ação de Thomas Crooks, pela retórica mais inflamada que passou a usar contra Trump. De fascista a ditador, Biden começou a recorrer a adjetivação cada vez mais pesada. Mas a insanidade de Thomas Crooks não pode ser justificada por isto, porque na verdade a retórica inflamada existe desde que Trump chegou à política norte-americana, em 2016.
Trump é um jornal tabloide, sensacionalista, que se preocupa pouco com a verdade e mais, ou apenas, com o impacto e as vendas. Qualquer mudança vai prejudicá-lo. É por isso que continuará a ser tão corrosivo e provocador como até aqui
Insultou, pôs alcunhas, ofendeu qualquer pessoa que o confrontasse, divulgou rumores, foi conivente com a violência em alguns dos seus comícios, ameaçou, difamou, mas os seus discursos encontraram ressonância nas frustrações e inseguranças de uma América oculta, branca e nacionalista. A campanha contra Hillary foi dura, houve insultos e acusações graves de parte a parte. O mesmo sucedeu quatro anos depois, quando perdeu para Biden, e, no entanto, durante estes oito anos nunca houve um Thomas Crooks.
Em janeiro de 2016, ainda nas primárias republicanas, num comício no Iowa, Trump afirmou que podia estar no meio da 5ª Avenida, em Nova Iorque, disparar contra alguém e mesmo assim “não perderia um voto”. Os anos seguintes dar-lhe-iam razão. À sua base de apoio não interessa se ele não paga impostos, se é demagogo ou boçal, se foi negligente com a crise sanitária, se instigou ou não o ataque ao Capitólio, se usou dinheiro da campanha para pagar o silêncio de uma prostituta. À sua base de apoio não importam a impreparação ou as lacunas intelectuais, os conflitos de interesse que os seus negócios representam ou a cumplicidade com os supremacistas brancos. Para eles, nada disto representa uma ameaça.
Mesmo assim, provavelmente, os conselheiros republicanos pedirão a Trump que baixe a chama das suas intervenções, ensaiando uma pose mais formal, menos inflamada e insultuosa. O problema é que, em 2016, essa mudança de personagem foi-lhe prejudicial. Foi no momento em que mudou de perfil, em que perdeu autenticidade, que Hillary Clinton mais se distanciou nas sondagens.
O eleitorado de Trump é aquele que gosta do seu estilo radical e incendiário. Trump não pode apagar-se. Quando tentamos vestir uma pele que não é a nossa, perdemos coerência. Trump é um jornal tabloide, sensacionalista, que se preocupa pouco com a verdade e mais, ou apenas, com o impacto e as vendas. Se mudamos a sua linha editorial, abandonando o populismo mais básico, para tentar vestes mais sérias, vai perder os seus leitores originais, sem ganhar novos leitores. Mas se mantiver a sua essência tabloide, está a respeitar a sua identidade e o seu público e vai manter a sua base. Qualquer mudança vai prejudicar Trump. É por isso que continuará a ser tão corrosivo e provocador como até aqui.
Quanto a Biden, o ainda Presidente terá várias frentes em aberto. A principal será acabar com o enredo e as dúvidas dentro do próprio partido. Biden só deixará de ser o candidato democrata por sua iniciativa. Continuar a alimentar o debate sobre as suas capacidades debilita-o junto do eleitorado, não sendo de todo certo que neste novo cenário alguém dentro do partido queira assumir o lugar.
Arrumado este tema, ainda tem ondas da Nazaré para galgar. Cada aparição pública vai ser um teste à sua saúde mental, porque as dúvidas em relação a esta não se dissiparam, e o maior vigor nas palavras, nas acusações e nas publicações no X, que vinha ensaiando nas semanas anteriores contra Trump, vai ter de esperar, porque o atentado passou a condicionar esse tipo de comunicação.
Biden esteve bem nas três intervenções que fez a seguir ao atentado. Condenação inequívoca, garantia de uma investigação independente e de maior proteção ao candidato republicano e, finalmente, na última, um inventário de episódios violentos na política norte-americana, em que incluiu o assalto ao Capitólio, o ataque ao marido de Nancy Pelosi e o sequestro da governadora do Michigan. O histórico é grande e já atingiu todos os partidos. Num momento difícil, Biden encontrou a forma equilibrada de recordar que Trump não foi o primeiro e, provavelmente, não será o último e que o elemento de decisão do eleitorado não deve passar por aí!
Os seus quatro anos como Presidente foram bons para a economia. Os EUA são a economia do G7 que mais cresce. Mas esses resultados são, mesmo assim, insuficientes para garantir a reeleição ou, sequer, que ele se chegue a apresentar.
As projeções do The Economist dão aos democratas entre 25% e 35% de hipóteses de vitória em novembro. Mas é bom lembrar que é basicamente a mesma percentagem que tinha Trump por esta altura em 2016!
Seguindo um guião já tantas vezes repetido nos EUA, um jovem pegou numa espingarda e apontou a mira para um alvo no meio da multidão. Thomas Matthew Crooks sabia exatamente o poder destruidor da semiautomática AR-15, que, nas várias versões, tem sido usada pelos militares norte-americanos desde a Guerra do Vietname, mas também, em mãos semelhantes às suas, em vários massacres contra civis, em locais hoje tristemente famosos, como a escola primária Sandy Hook, no Connecticut, o cinema de Aurora, no Colorado, ou uma discoteca gay em Orlando, na Flórida, em que, no total, morreu quase uma centena de pessoas. Armado com os 50 cartuchos de munições, comprados naquela manhã, e depois de ter conduzido durante cerca de 70 quilómetros, desde a sua casa em Bethel Park até um descampado em Butler, na Pensilvânia, o jovem de 20 anos posicionou-se num telhado para tentar, porventura, repetir os movimentos que aprendeu, nas semanas anteriores, no clube de tiro Clairton Sportsmen’s Club, de que se tinha feito sócio há um ano. No palco em frente, a cerca de 130 metros de distância, o ex-Presidente Donald Trump tinha começado a discursar para os apoiantes. Como de costume, proferia um violento ataque contra o homem que lhe sucedeu na Casa Branca. “Vamos derrotar o corrupto Biden”, gritou, perante os aplausos da multidão. Poucos segundos depois, Thomas Matthew Crooks premiu, por repetidas vezes, o gatilho. As balas voaram a uma velocidade três vezes superior à do som, o que faz com que um único projétil gere uma onda de choque tão intensa que pode fazer explodir um crânio. No entanto, a bala só atingiu Trump de raspão, na orelha direita. Um desvio de não mais de dois centímetros foi suficiente para evitar, no imediato, um período de convulsões, que poderia aproximar os EUA de uma guerra civil, mas, mesmo assim, esta é uma pequena diferença que pode ter uma relevância maior na História do país, nas próximas eleições de 5 de novembro.
Nos dias imediatamente a seguir ao atentado de sábado, 13, as motivações do jovem atirador, imediatamente abatido pelos snipers das forças especiais de segurança, continuam desconhecidas. E assim vão permanecer, provavelmente ajudando a alimentar as mais variadas teorias da conspiração, tanto à esquerda como à direita. Um caso muito semelhante, aliás, ao que sucedeu em relação a Lee Harvey Oswald, o alegado autor dos disparos que, às 12h30 do dia 22 de novembro de 1963, em Dallas, vitimaram o então Presidente John F. Kennedy. Agora, quase 60 anos depois, ainda se esgrimem as mais diversas teorias e conjeturas sobre o que aconteceu na capital do Texas, sobre quais foram os verdadeiros mandantes e, além do mais, como seria possível um único atirador ter conseguido tantos tiros certeiros contra o ocupante principal do descapotável presidencial.
“Lutem!” – A reação de Donald Trump ao atentado produziu uma das imagens mais fortes de sempre na política norte-americana. Foto: Robert Gauthier / Los Angeles Times via Getty Images
Política do ódio
Se, por um lado, muitas teorias da conspiração continuam atuais nestes dias, por outro, os tempos são incomparavelmente diferentes. Tanto no caso de Kennedy como no de Ronald Reagan, quando este foi alvo de um atentado em 1981, no auge da sua popularidade, o sistema político abanou, mas ninguém vaticinou um terramoto capaz de abalar os alicerces em que está construído, há décadas, o poder em Washington. Agora tudo é diferente. Os disparos não atiraram o Presidente em exercício para os serviços de urgência, como sucedeu com Reagan, nem para o cemitério de Arlington, nos arredores de Washington, onde foi depositado o corpo do até então mais novo Presidente dos EUA. Desta vez, o tiro de raspão na orelha de Donald Trump adquiriu proporções muito mais graves, que, apesar dos apelos de Biden e de Trump à unidade nacional, podem ter, nos meses que se seguem, um efeito catalisador numa nação profundamente dividida e polarizada entre dois extremos, que quase perderam os pontos de contacto entre si.
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“O ódio, mais do que qualquer outra coisa, é o motor da política nos Estados Unidos da América”, escreveu Stephen Marche em A Próxima Guerra Civil (Zigurate), um livro recente que os acontecimentos de Butler vieram tornar ainda mais atual. Na obra, o jornalista e autor canadiano descreve, com incríveis semelhanças com a realidade atual, como o assassínio de um Presidente dos EUA pode ser o catalisador de um conflito interno em larga escala.
“O assassino será um jovem”, adivinhou. “Provavelmente será branco”, acrescentou, sem saber como a História iria dar-lhe razão, mesmo que, neste caso, Trump não tenha sido assassinado e não esteja (ainda?) na Casa Branca. A verdade, no entanto, é que, mesmo que tenha perdido as eleições de 2020 e ainda faltem quatro meses para as de novembro, para metade dos norte-americanos, Donald Trump é o “seu” Presidente.
Por isso, a teoria de Stephen Marche faz todo o sentido quando afirma que, “nos EUA, a forma preferida de violência política é, de longe, o assassínio presidencial”. E explica porquê: “O país assistiu a uma guerra civil e a nenhum golpe de Estado. Mas a probabilidade de ser assassinado enquanto se é Presidente é de uma em 11. Dezassete Presidentes sobreviveram a atentados contra as suas vidas.”
No mesmo livro, Marche afirma que “a América está a transformar-se em duas Américas que se odeiam mutuamente, que não falam uma com a outra”. E continua o retrato negro sublinhando que “o hiperpartidarismo é agora o ódio definidor dos EUA”.
“O tribalismo já não é uma metáfora”, escreve. “Democratas e republicanos agem realmente como tribos, aplicando códigos de pureza aos seus e reservando o ódio para os de fora. Este tribalismo afeta a sociedade como um todo. Insinuou-se na vida económica e na religião, tanto quanto nas instituições da Justiça e governação.”
A probabilidade de ser assassinado enquanto se é Presidente é de uma em 11. Dezassete Presidentes sobreviveram a atentados contra as suas vidas
“Lutem! Lutem! Lutem”
Ainda que, no dia a seguir ao atentado, Donald Trump tenha declarado que iria mudar o discurso e passar a apelar à união da América, há uma imagem que, durante muito tempo, irá sempre sobrepor-se a qualquer discurso de intenções, e essa nada tem que ver com reconciliação ou qualquer tipo de perdão: é a de Trump, com a orelha ensanguentada, a erguer o punho, entre o amontoado de guarda-costas, e a gritar: “Lutem! Lutem! Lutem!
É de luta que se trata, de um combate entre duas Américas, personificado em dois homens que já se enfrentaram e que não escondem, em momento algum, o desprezo que sentem um pelo outro.
As opiniões dividem-se sobre se o atentado de Butler será ou não um momento decisivo para o triunfo de Trump. Uns lembram a vitória esmagadora de Ronald Reagan sobre Walter Mondale, em 1984, numa situação semelhante, enquanto outros recordam a derrota de Teddy Roosevelt frente a Woodrow Wilson, em 1912, poucas semanas de ter sido atingido a tiro, enquanto discursava numa ação de campanha em Milwaukee. Do que não parece existir dúvidas é que a polarização vai continuar a intensificar-se.
“Outrora, um Presidente era o representante incontestado da vontade do povo norte-americano”, lembra ainda Stephen Marche. “O homicídio desse representante significava um ataque à unidade que era a nação. Essa unidade já não existe”, sublinha.
Para Jennifer Mercieca, autora de Demagogue for President, Donald Trump construiu a campanha vitoriosa de 2016 em torno de uma narrativa de herói, em que afirmava que, ao vir de dentro do sistema, ele seria o único que podia alterar o estado de coisas, porque sabia como tudo era manipulado. Na opinião da investigadora, era uma história de “pecado e redenção”.
Agora, em 2024, afirma Mercieca, a campanha de Trump foi construída em torno dos temas da perseguição e da vingança, o que, convenhamos, assenta que nem uma luva no atentado de Butler e na forma como, de imediato, ele impeliu todos a lutar a seu lado.
O “peso” de J.D. Vance
Três dias depois dos tiros disparados por Thomas Matthew Crooks, um confiante Donald Trump foi recebido, precisamente sob os gritos de “lutem, lutem, lutem”, pelos delegados da Convenção Republicana, na cidade de Milwaukee, no Wisconsin. E esse momento apoteótico, em que apareceu com um grande penso branco na orelha ferida, ocorreu poucos minutos após ser conhecida a sua escolha para vice-presidente: James David Vance, apelidado de “JD”, senador pelo Ohio, de 39 anos, formado na prestigiada Universidade de Yale, que esteve quatro anos nos marines e fez carreira como investidor em Silicon Valley. É ainda autor de um bestseller, Hillbilly Elegy, já adaptado ao cinema, que relata a vida de uma família problemática no coração do chamado Rust Belt, o antigo coração industrial, fortemente atingido pelo desemprego e pobreza, desde que muitas fábricas deslocalizaram a produção para outros países, em busca de mão de obra mais barata.
J.D. Vance personifica, assim, o triunfo de alguém que pertence ao grupo de pessoas que se sentem abandonadas pelo sistema, oprimidas agora por trabalhos mal pagos e que vivem em regiões problemáticas, onde imperam o vício e a criminalidade. Precisamente, o tipo de apoiantes que junta a raiva ao coro de incitamentos ao ódio e à vingança, que se ouvem nos comícios de Trump, e que, ainda por cima, vive nos estados onde as sondagens apresentam os dois candidatos quase empatados. A presença de J.D. Vance pode ser, assim, importante para garantir a vitória em alguns bastiões republicanos, roubando-os aos democratas, nalguns círculos em que, em 2020, Joe Biden ganhou por poucos votos.
Novo parceiro – J.D. Vance pode ser o futuro do Partido Republicano. Foto: Joe Raedle/Getty Images
Embora no passado tenha sido crítico de Trump – que chegou a comparar a Hitler –, agora J.D. Vance representa o novo tipo de dirigentes que impera no Partido Republicano e que só tem protagonismo porque, em algum momento, Trump escolheu esses nomes, afastando todos que eram de uma linha conservadora mais ortodoxa e menos populista.
E para que não restem dúvidas quanto ao alinhamento entre Trump e Vance – ao contrário do que sucedia com Mike Pompeo –, o senador do Ohio foi um dos primeiros republicanos proeminentes a espalhar teorias de conspiração, nas horas seguintes aos tiros disparados por Thomas Matthew Crooks. Na rede social X (a que todos continuam a chamar Twitter…), J.D. Vance foi lesto a escrever: “Este não foi um simples incidente isolado. A premissa central da campanha de Biden é de que o Presidente Donald Trump será um fascista autoritário que deve ser detido a todo custo. Essa retórica levou diretamente à tentativa de assassínio do Presidente Trump.” Uma argumentação que, de uma forma ou de outra, vai continuar a fazer caminho durante os próximos meses.
Quando Lyndon Johnson saiu da corrida
Os acontecimentos do comício de Butler no último fim de semana também tiveram o efeito de recentrar a campanha eleitoral – uma supereleição, porque em causa está não só a eleição para Presidente mas também para o Senado e para a Câmara dos Representantes – na figura de Donald Trump. Até então, o foco mediático estava sobretudo virado para as gafes de Biden e já não tanto para os processos judiciais de Trump. Como nota Carlos Gaspar, professor no Instituto de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, “a campanha, que tinha como objetivo forçar Biden a desistir antes da Convenção Democrata, no próximo mês de agosto, tem agora uma dificuldade adicional, porque toda a gente está a olhar para Trump”. E prossegue: “Ao mesmo tempo que esta tentativa de homicídio reduz a pressão sobre Biden, permitindo-lhe ser ‘o Presidente de todos os americanos’, também dá mais força à candidatura de Trump. Ambas as coisas podem acontecer em simultâneo.”
As duas últimas semanas anteriores aos acontecimentos de Butler foram terríveis para Joe Biden, com uma intensa chuva de críticas proveniente dos mais próximos e do interior do Partido Democrata (incluindo nomes importantes no financiamento da campanha). Apesar de a noite de 27 de junho ter decorrido nas circunstâncias ideais – sem público e com os microfones silenciados, durante as respostas do adversário –, nada impediu o descalabro do incumbente. No debate, Trump foi igual a si próprio, enalteceu a sua administração, mudou de tema quando o assunto não lhe convinha, reproduziu dezenas de mentiras (30, segundo uma contabilização realizada pela CNN). Já quanto a Biden, acentuaram-se sobretudo as vulnerabilidades de um octogenário – com um percurso notável, mas um octogenário que completará 82 anos a 20 de novembro, já depois das eleições. E nem os argumentos a favor do estado de saúde da economia norte-americana serviram para acalmar as críticas.
Pouco claro e hesitante nas respostas, o Presidente Biden acabou sobretudo por demonstrar uma imagem de fragilidade, no debate da CNN. Depois disso, ainda veio a batalha da perceção, que como se sabe também ajuda a gerir expectativas, subir nas sondagens e, eventualmente, votos: Trump saiu confiante e vencedor do confronto televisivo, enquanto Biden saiu inseguro e incoerente (numa palavra, derrotado, de acordo com a lógica do entretenimento televisivo). Resultado: no dia seguinte ao embate na CNN, Donald Trump já aparecia 1,3 pontos percentuais à frente de Joe Biden, no barómetro do FiveThirtyEight.
É de luta que se trata, de um combate entre duas Américas, personificado em dois homens que já se enfrentaram e que não escondem, em momento algum, o desprezo que sentem um pelo outro
Como se não bastasse, seguiram-se duas semanas de uma campanha feroz dentro do próprio partido. Nada de inédito entre os democratas, de resto. No final da década de 60 do século passado, com o auge da contestação à Guerra do Vietname e com as consequências da morte de Martin Luther King, o então Presidente Lyndon Johnson também não resistiu às pressões internas e acabou por desistir da corrida presidencial e de um segundo mandato. Na Convenção Democrata, que se realizou entre 26 e 29 de agosto de 1968, em Chicago, Hubert H. Humphrey e Edmund S. Muskie foram indicados para os cargos de Presidente e de vice-presidente, respetivamente. Acabaram derrotados, e Richard Nixon venceria as eleições desse ano.
Também tu, Nancy?
O recente cerco ao atual Presidente começou quando, depois do debate da CNN, o conselho editorial do The New York Times, um órgão independente da redação do jornal composto por colunistas, publicou um artigo demolidor, no qual se defendia que Biden tem sido “um Presidente admirável”, mas “não pode continuar”. “O maior serviço público que Biden pode prestar agora é anunciar que não vai continuar a concorrer à reeleição.” Apelos semelhantes foram feitos noutros jornais e particularmente dura foi a revista britânica The Economist, quando pôs um andarilho numa das suas emblemáticas capas com o seguinte título: “No way to run a country” (qualquer coisa como: “sem qualquer hipótese de governar um país).
Numa tentativa de responder às críticas, Biden, no princípio da semana passada, dirigiu uma carta às bancadas do seu partido no Congresso: “Apesar de toda a especulação na Imprensa e em todo o lado, estou firmemente empenhado em continuar nesta corrida, em corrê-la até ao fim e em vencer Donald Trump.” Porém, na quarta-feira, 10, o ator e realizador de cinema George Clooney, um dos principais angariadores de fundos em Hollywood para a campanha de Biden, voltou à carga ao publicar um artigo de opinião arrasador, no The New York Times: “É horrível ter de dizer isto, mas o Joe Biden com quem eu estive há três semanas não era o Joe Biden de 2010 e nem sequer o Joe Biden de 2020. Era o homem que todos vimos no debate.”
Nesse mesmo dia, já depois de Biden ter dito que não iria desistir, Nancy Pelosi, antiga presidente da Câmara dos Representantes e uma das figuras mais influentes no Partido Democrata, defendeu, numa entrevista ao canal MSNBC, que o debate acerca do futuro político do atual Presidente deveria ser retomado logo após a cimeira da NATO (que haveria de terminar na quinta, 11, em Washington). Recorde-se que, em janeiro de 2021, Pelosi, então com quase 81 anos, também foi criticada por se candidatar a um novo mandato como presidente da Câmara de Representantes. Como afirma Carlos Gaspar, “é um pesadelo, nas vésperas da Convenção, em plena campanha, haver uma divisão deste tipo”.
Além das críticas internas, Biden teve ainda de lidar com o caso do filho. Hunter Biden foi considerado culpado, por um júri de 12 membros do tribunal federal de Wilmington, Delaware, por mentir sobre o consumo de drogas para comprar ilegalmente uma arma. O julgamento está marcado para 5 de setembro, mas trata-se do primeiro filho de um Presidente dos EUA em exercício a ser condenado por um crime. Caso venha a concretizar-se, o Presidente já disse que não lhe perdoará e, portanto, pode vir daqui mais uma tragédia familiar.
Ainda faltam mais de três meses de campanha, e a verdade é que, até novembro, tudo pode acontecer. Entre os potenciais candidatos a sucessores de Biden estão a vice-presidente Kamala Harris e Michelle Obama, que já garantiu não estar interessada, assim como um rol de governadores importantes: Gavin Newsom (Califórnia), Gretchen Whitmer (Michigan), J.B. Pritzker (Illinois) e Josh Shapiro (Pensilvânia). Para já, nenhum destes se mostrou disponível. Ironicamente, depois da tentativa de atentado de Butler, as vozes críticas também parecem mais contidas. À resignação democrata segue-se o cerrar de fileiras? Donald Trump bem pediu: é preciso lutar, lutar, lutar.
À lei da bala
Nos EUA, não faltam exemplos de Presidentes assassinados e de atentados a candidatos, durante as campanhas eleitorais
Robert F.Kennedy Depois de John F.Kennedy, foi o segundo membro da família a ser assassinado. Candidato às eleições presidenciais de 1968, foi morto a tiro, na noite de 5 de junho de 1968, no hotel Ambassador, em Los Angeles, depois de vencer as primárias nos estados da Califórnia e do Dakota do Sul.
Abraham Lincoln Presidente dos EUA de 1861 a 1865, foi assassinado a 15 de abril de 1865, no Ford Theatre, em Washington, enquanto assistia, com a mulher, à peça Our American Cousin. Foi morto por John Wilkes Booth, um ator que era simpatizante da Confederação formada por Lincoln.
Theodore Roosevelt Escapou a uma tentativa de homicídio, a 15 de fevereiro de 1933, enquanto proferia um discurso em Miami, na Flórida. O atirador foi Giuseppe Zangara, um ítalo-americano que fez questão de expressar o seu “ódio contra todos os governantes”. Em vez de Roosevelt, atingiu mortalmente o então mayor de Chicago, Anton Cermak.
Gerald Ford Presidente entre 1974 e 1977, foi alvo de duas tentativas de assassínio: a primeira, a 5 de setembro de 1975, em Sacramento, na Califórnia, por Lynette “Squeaky” Fromme, admiradora de Charles Manson; a segunda aconteceu dias depois, a 22 de setembro, perto de um hotel em São Francisco e foi perpetrada por Sara Jane Moore, que confessou motivações políticas.
John F.Kennedy Eleito 35.º Presidente dos EUA em 1960, foi assassinado a 22 de novembro de 1963, em Dallas, no Texas, durante um desfile num descapotável, ao lado da mulher, Jacqueline Kennedy. Ainda hoje envolta em inúmeras teorias da conspiração, a morte de JFK foi atribuída ao atirador Lee Harvey Oswald, morto dois dias depois.
A informação foi avançada à agência Lusa depois de o jornal Tal & Qual ter noticiado que um surto de ‘legionella’ “ameaçou infestar o Palácio de Belém”.
A Presidência da República confirmou a deteção da bactéria em “nível de risco moderado, adiantando que já foram tomadas as “medidas corretivas”.
Belém esclarece ainda que “procede a análises laboratoriais regulares, no âmbito do programa de monitorização e tratamento preventivo ou corretivo da água dos vários edifícios em que funciona” e que “destas análises nunca resultaram valores superiores aos valores de referência para um risco significativo”. “No entanto, foram detetados níveis mais baixos, de nível de risco moderado, nas águas quentes de uma casa de banho da Residência Oficial do Presidente da República, num edifício anexo ao Palácio de Belém, tendo sido, de imediato, adotadas todas as medidas corretivas adequadas em função do nível de risco apurado. Não obstante o risco moderado, tal casa de banho foi de imediato isolada por precaução”, acrescentou a Presidência da República.
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A doença dos legionários corresponde a uma forma de pneumonia grave, contraída por via respiratória, através da inalação de gotículas de água contaminada.
José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, requeriu um parecer à Procuradoria Geral da República após um pedido, por parte do Chega, de acesso às comunicações – cartas, emails e mensagens escritas – do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Em causa, está a comissão parlamentar de inquérito e o processo de investigação em curso da PGR no caso das gémeas luso-brasileiras que receberam um medicamento de dois milhões de euros no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Num despacho dirigido por Aguiar-Branco ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, o presidente da Assembleia solicitou respostas “com a brevidade possível”. O documento, ao qual à agência Lusa teve acesso, refere a apresentação de um requerimento por parte do partido de André Ventura que solicita a Marcelo Rebelo de Sousa “(..) se possível em suporte digital, o registo e/ou cópia de todas as comunicações (nomeadamente, cartas, mensagens escritas por meio de telemóvel ou via internet – WhatsApp, Messenger, Telegram e mensagens de correio eletrónico) referentes ao processo das gémeas luso-brasileiras”.
O Chega requer, entre outras coisas, o acesso a todas comunicações trocadas entre Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, e o Chefe de Estado, bem como as mensagens e emails enviados entre o filho de Marcelo Rebelo de Sousa e o Governo, membros do Governo ou membros dos gabinetes do Governo. Ademais, o partido requer ainda o acesso a um e-mail de Nuno Rebelo de Sousa para Marcelo Rebelo de Sousa, de 21 de outubro de 2019.
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O despacho de Aguiar-Branco, no entanto, refere as dúvidas sobre a possibilidade de “inclusão das comunicações e telecomunicações privadas de inquiridos, concretamente o registo e/ou cópia de todas as comunicações (…) no núcleo essencial do direito de inquérito parlamentar”. Desse modo, “pretende-se uma análise prévia de carácter mais abrangente e que dirima as dúvidas elencadas, ciente de que compete à Assembleia da República, no exercício de funções de fiscalização, vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os atos do Governo e da administração e que os inquéritos parlamentares têm por função vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis”, salienta-se na justificação do pedido ao Conselho Consultivo da PGR.
“Constitui um dado assente que as comissões parlamentares de inquérito são órgãos essencialmente políticos, não sendo, nem podendo transformar-se em tribunais. Daqui resulta que os poderes de investigação daquelas comissões não podem nunca desembocar na prolação de uma sentença condenatória com força de caso julgado, nem podem afetar direitos fundamentais que, em investigação criminal, só podem sê-lo por decisão judicial”, refere-se no despacho de Aguiar-Branco, que invoca a jurisprudência do Tribunal Constitucional.
Segundo o despacho, as comissões parlamentares de inquérito “não visam exercer a função jurisdicional”, mas sim a investigação dos “factos e recolher elementos probatórios relativos a determinadas matérias de interesse público, apresentando posteriormente as suas conclusões ao parlamento e habilitando-o, dessa forma, a exercer eficazmente as suas funções constitucionais, designadamente as de fiscalização de atos do Governo e da administração pública”, lê-se.
Já em relação ao acesso a comunicações privadas, assinala-se o “potencial ablativo de liberdade e a gravidade da intromissão na esfera privada – e até na esfera íntima – da pessoa que decorre da simples visualização da respetiva caixa de correio eletrónico”.
O processo, ainda em curso por parte da PGR, tem como arguidos Lacerda Sale, ex-secretário de Estado da Saúde, e Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República.
De acordo com dados avançados pela International Data Corporation (IDC), o mercado global de smartphones voltou a crescer no segundo trimestre do ano. O número de equipamentos enviados para as lojas teve uma subida de 6,5 em comparação com o período homólogo em 2023, com um total de 285,4 milhões de unidades.
“Apesar da recuperação estar bem encaminhada com as cinco principais empresas a registarem ganhos anuais, estamos a observar uma crescente competição entre os líderes e uma polarização das faixas de preço”, afirma Nabila Popal, analista da IDC, em comunicado.
Segundo a analista, “à medida que a Apple e a Samsung continuam a dominar o mercado, várias empresas chinesas estão a aumentar a produção no segmento de baixo custo, numa tentativa de aumentarem o volume de negócios”. “Como resultado, a participação dos dispositivos de gama média está a ser desafiada” afirma.
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Empresas com maior cota de mercado e de envio de telemóveis | Imagem: IDC
Os dados mostram que a Samsung alcançou a posição de liderança no segundo trimestre do ano, com uma quota de 18,9% nas exportações, graças a um foco estratégico nos seus modelos topo de gama e a uma forte aposta na Inteligência Artificial.
A Apple terminou o trimestre em segundo lugar com uma quota de 15,8%, registando uma melhoria de desempenho na China. Tanto a Samsung como a Apple registaram um crescimento modesto em comparação com ano anterior. A Xiaomi ficou em terceiro lugar, com uma quota de mercado de 14,8%, enquanto a Vivo e a Oppo registaram resultados idênticos, com quotas de 9,1% e 9,0%, respetivamente.
A Xiaomi e a Vivo registaram um crescimento de dois dígitos, com fortes desempenhos em mercados emergentes e na China, enquanto o crescimento de 1,8% da Oppo deve-se à expansão contínua fora do mercado chinês. Com o aumento da ‘corrida’ entre fabricantes, a IDC espera um segundo semestre com resultados positivos.
Evolução da quota de mercado ao longo do último ano
“As grandes marcas adotaram uma abordagem menos agressiva no segundo trimestre deste ano, devido ao aumento do custo dos materiais, o que levou as empresas a refinarem as especificações dos produtos e preços para garantir a rentabilidade”, explica o analista Will Wong. “No entanto, o segundo trimestre é uma espécie de período transitório antes do lançamento de mais smartphones com IA de nova geração no segundo semestre do ano, o que potencialmente será o próximo motor de crescimento após o 5G e os dobráveis”.