Todos os anos, o concurso internacional de fotografia Comedy Pets Awards (Prémio dos Animais Domésticos Mais Cómicos, numa tradução livre do Inglês) escolhe as 30 imagens finalistas muito divertidas.

Este ano não é exceção, e na VISÃO Júnior deste mês encontras uma BD original, em que os protagonistas são alguns dos finalistas do concurso… e o grande vencedor.

Um gato karateca, dois felinos obcecados por rolos de papel higiénico, cães iguaizinhos aos seus donos (ou o contrário!), um cavalo sem cabeça e um burro sorridente: vais conhecê-los a todos e ainda outros. E rir-te muito, claro! Não percas na tua revista preferida.

Boas leituras. Diverte-te!

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Os alfaiates de violinos

Miguel e Filipa Mateus constroem instrumentos de corda, à mão, numa loja-oficina no Porto

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Os heróis portugueses que vão às Olimpíadas

Os Jogos Olímpicos de Paris têm início no dia 26 de julho. Do programa fazem parte 32 modalidades desportivas e Portugal vai competir em 14*. Conhece alguns dos bravos heróis que se preparam para ir à conquista das medalhas

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Paula Barroso

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Quando era criança, Miguel Mateus, 50 anos, sonhava ser violinista. Começou a tocar violino na igreja próxima de casa dos pais, mas acabou por não conseguir estudar música e realizar esse sonho. Mais tarde, já adolescente, visitou a oficina de um violeiro e “apaixonou-se pela anatomia do instrumento”, recorda.

E, então, pensou: “Porque não tornar-me um luthier?”, conta-nos, na Oficina dos Violinos, que abriu no Porto há quase 30 anos e que, além de ser um ateliê, é também uma loja de venda e aluguer de instrumentos de corda.

Mas, afinal, o que é um ‘luthier’? É um artesão especialista na construção, reparação e ajuste de instrumentos musicais de cordas. Miguel costuma dizer que “um luthier é como um alfaiate, porque sabe fazer um fato [neste caso, um violino] à medida de cada um”.

Oficina dos Violinos, Miguel Mateus e Filipa Mateus

O seu ofício necessita de combinar a arte de marcenaria (o trabalho com madeira) com conhecimentos de música. E não há muitas pessoas a fazê-lo em Portugal. Aliás, nem sequer existe uma escola onde se aprenda a construir violinos, violas de arco ou violoncelos.

Miguel teve de aprender sozinho, com a ajuda de alguns especialistas (como o luthier inglês, John Nabok) e através de cursos que fez em Itália e em Inglaterra.

Mais tarde, conheceu a mulher, Filipa, que, apesar de ser formada em Física, se apaixonou pelo arco que é necessário para que estes instrumentos de corda deem música. “O arco é como a extensão do braço”, diz-nos. Depois de ter frequentado um curso em Lausanne, na Suíça, onde aprendeu a construir e a reparar um arco, Filipa tornou-se uma archetier (palavra francesa que significa construtora de arcos).

Miguel e Filipa Mateus tornaram-se, assim, dos poucos casais (senão o único) a construir instrumentos de corda no seu ateliê, no Porto – que mais parece uma oficina, cheia de moldes, pedaços de madeira, serrotes, martelos, canivetes e pincéis!

Um violino é feito com dois tipos diferentes de madeira: abeto ou ácer. Pode demorar dois meses a ficar pronto, porque tudo é feito à mão: do corte da madeira (para formar o corpo do violino, a parte da frente e de trás) aos furos na voluta, à pestana e ao cavalete que vai segurar as cordas, à colocação da alma (um pauzinho, com cerca de quatro centímetros, que é o meio de transporte do som do tampo superior para as costas), até ao verniz com o qual se pinta o instrumento.

Já Filipa demora duas semanas a construir o arco, feito com crinas (caudas de cavalo), sobretudo, de animais que vivem em ambientes frios e ao ar livre, como na Sibéria e na Mongólia. A vara que segura o arco é feita de madeira de Pernambuco.

Miguel e Filipa dizem que, tal como nas histórias de Harry Potter, em que as varinhas escolhem os mágicos, também “os arcos escolhem os músicos, porque estes podem ser mais ou menos flexíveis”. E, como o violino, também a vara e o arco são feitos à mão, com muita, muita paciência.

Como se faz um violino

A partir dos moldes, corta-se a madeira (costas e tampo superior) para a construção do corpo do violino
A madeira tem de ficar com uma espessura fininha. Nas costas, usa-se ácer e, no tampo superior, o abeto (é mais leve)
Na voluta fazem-se furos para o encaixe das cravelhas, pequenas peças que servem para enrolar as cordas e afinar o violino
Miguel coloca a “alma” (um pequeno pauzinho, essencial para a vibração do som) no interior do violino, unindo os tampos inferior e superior

O arco, passo a passo

Depois de esculpida a madeira, a vara é levada ao fogo para ficar com uma curvatura que dará estabilidade ao arco
Filipa analisa os fios das crinas, já lavadas e tratadas, para confirmar se não têm nós ou imperfeições
As crinas começam a ser colocadas no talão (uma peça em ébano), que vai encaixar na vara através de um parafuso
O processo final é pentear as crinas já esticadas, para confirmar se estão paralelas e não têm cabelos cruzados

Sabias que…

… A palavra luthier é francesa e começou a ser usada para identificar os construtores de alaúde (um instrumento antigo da família dos cordofones)? Há registos desta profissão desde o século XVIII, mas acredita-se que tenha nascido muito tempo antes.

Alguns dos luthiers mais importantes nasceram em Cremona, Itália – cidade onde Miguel Mateus aprendeu a construir e a reparar instrumentos de corda –, como Antonio Stradivari (nasceu em 1644, e calcula-se que tenha construído cerca de 1100 instrumentos, entre violinos, violas e violoncelos), Nicola Amati (1596), que foi professor de Stradivari, e, entre outros, Guarneri del Gesù (1698).

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O melhor de sempre
Diogo Ribeiro, 19 anos, natação

Foto: Marcos Borga

Neste ano, sagrou-se campeão do mundo nos 50 e nos 100 metros mariposa. Nunca um português tinha realizado tal proeza. Em Paris, vai competir nas provas de 50 e 100 metros livres e 100 metros mariposa. O nadador do Benfica detém recordes nacionais nestas três provas, tornando-se assim o melhor português de sempre na modalidade.
Curiosidade: Tem uns “calções da sorte” que usa nas competições

Boa onda
Teresa Bonvalot, 24 anos, surf

Foto: Matt Dunbar/World Surf League via Getty Images

É a segunda vez que participa nos Jogos Olímpicos. Nos últimos, em Tóquio, ficou na nona posição. Cinco vezes campeã nacional, a primeira em 2014, com 14 anos, e a última este ano. Nestes Jogos, uma vez que Paris é uma cidade do interior, a nossa atleta vai lutar por medalhas do outro lado do mundo, pois as provas serão no Taiti, onde há uma das mais famosas ondas do planeta!
Curiosidade: A sua banda preferida são os Queen

O homem voador
Pedro Pichardo, 31 anos, atletismo

Foto: John Berry/Getty Images

Pichardo é um dos cinco atletas na história que conseguiram ultrapassar a marca dos 18 metros no triplo salto (em 2015, chegou aos 18,08 m). Nos Jogos de Tóquio, trouxe para Portugal a medalha de ouro, graças a um salto de 17,98 m. Agora, vai a Paris tentar repetir o feito e, quem sabe, bater um novo recorde.
Curiosidade: Em Cuba, onde nasceu, era a irmã Rosalena quem cuidava dele

Tiro certeiro
Inês Barros, 22 anos, tiro

Esta será a primeira vez que uma portuguesa compete na modalidade de tiro com armas de caça. Mas, calma, não vai caçar nenhum animal! O objetivo é acertar em 25 discos que são lançados no ar. A pontaria de Inês valeu-lhe, em 2023, o título de Campeã da Europa e, agora, vai para Paris à conquista do ouro.
Curiosidade: Gosta de ouvir funk

A velejadora apaixonada
Mafalda Pires de Lima, 26 anos, vela

Portugal estreia-se na modalidade de formula kite com a velejadora portuense, e esta é também a primeira vez que esta classe da vela faz parte das Olimpíadas. Mafalda começou a praticar kitesurf aos 7 anos e o mar é a sua paixão.
Curiosidade: Tem medo de peixes

Supreendente saltadora
Agate Sousa, 24 anos, atletismo

Foto: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP via Getty Images

No salto em comprimento, a atleta benfiquista vai tentar superar o seu recorde pessoal: 7,03 m. Esta marca faz dela a segunda melhor portuguesa na modalidade (Naide Gomes foi a primeira a passar dos 7 m) e está entre as 25 melhores do mundo. Este ano, conseguiu a quinta melhor marca no salto em comprimento feminino.
Curiosidade: Gostava de tirar o curso de Criminologia

O rei do skate
Gustavo Ribeiro, 23 anos, skate

Foto: Lintao Zhang/Getty Images

É, sem dúvida, o melhor skater português e um dos melhores do mundo. Já conta com vários títulos e medalhas, mas a sua maior vitória foi a Super Crown, em 2022. Em Tóquio, ano em que o skate se estreou como modalidade olímpica, terminou em 8.º lugar. Em Paris, espera chegar ao pódio. “Queria muito um dia ser medalhista, muito, muito”, confessou.
Curiosidade: Cristiano Ronaldo é o atleta que mais o inspira

O papa-medalhas
Fernando Pimenta, 34 anos, canoagem

Na canoagem, não há outro como ele. Já participou em três Olimpíadas e trouxe duas medalhas. Nos Jogos de Londres, em 2012, venceu a prata na prova de k-2 (canoa com dois atletas), com Emanuel Silva; em Tóquio, em 2020, conseguiu o bronze, na prova de 1000 m K-1 (sozinho). O objetivo em Paris é conquistar a terceira medalha olímpica, o que nenhum português ainda conseguiu. De preferência, de ouro. Ficamos a torcer!
Curiosidade: Considera-se um dos atletas mais fortes do mundo

Nas águas do Sena
Angélica André, 29 anos, natação

A nadadora do FCP vai atirar-se às águas do rio Sena, que atravessa Paris, para participar na maratona aquática, em que terá de nadar 10 quilómetros. É a segunda vez que participa nas Olimpíadas, mas em Tóquio ficou-se pelo 17.º lugar, por isso diz que se quer “vingar”. Este ano já ganhou o bronze no Mundial de Natação em Águas Abertas, o que nunca um nadador português tinha conseguido.
Curiosidade: É ágil em quase todos os desportos

O bom gigante
Jorge Fonseca, 31 anos, judo

Começou a praticar judo na escola e nunca mais parou. Nem de praticar, nem de ganhar medalhas. O judoca já participou nos Jogos de Tóquio, onde conquistou o terceiro lugar do pódio, mas a coleção de medalhas que foi ganhando em campeonatos nacionais, europeus e mundiais é muito grande. Um dos seus maiores triunfos foi sagrar-se campeão mundial (na categoria -100 kg), em 2019 e em 2021.
Curiosidade: O seu sonho era ser polícia

*esta era a informação disponível no momento em que escrevemos este artigo, mas o número pode aumentar

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Cinco anos após o primeiro pódio internacional, a equipa alcançou novamente o segundo lugar, desta vez com o protótipo São Rafael 03, um marco significativo para o projeto fundado em 2015. O Técnico Solar Boat é composto por alunos de diversos cursos de Engenharia do Instituto Superior Técnico (IST), especializados em construir embarcações movidas a energias renováveis. Desde a sua criação, a equipa passou de um pequeno conjunto de alunos de engenharia naval para um grupo com mais de 60 membros de variados departamentos da instituição.

O projeto teve início com o desenvolvimento do primeiro protótipo dois anos após a fundação do projeto no IST, dando origem à série São Rafael, movida a energia solar. O São Rafael 03, o mais recente, estreou-se em competições em 2021. Em paralelo, a equipa expandiu-se para a construção de protótipos movidos a hidrogénio, com o São Miguel 01 em 2021, o primeiro em Portugal, seguido do mais competitivo São Miguel 02, desenvolvido em 2024.

Em 2023, o Técnico Solar Boat concluiu o desenvolvimento do São Pedro 01, uma embarcação não tripulada movida a energia solar, equipada com navegação autónoma e controlo remoto. Este protótipo compete no NJORD Autonomous Ship Challenge na Noruega, onde venceu a competição remota em 2022 e alcançou o segundo lugar em 2023 na cidade de Trondheim.

Miguel Gil, líder de equipa do Técnico Solar Boat, expressou, em comunicado, o sentimento da equipa: “É com imenso orgulho que temos a oportunidade de representar Portugal e o Instituto Superior Técnico nesta competição de grande relevância para a promoção da mobilidade elétrica e das energias renováveis. Continuamos empenhados em demonstrar a excelência e a inovação que caracteriza a nossa equipa, sendo que este é apenas mais um passo num caminho emocionante para o Técnico Solar Boat, à medida que estabelecemos objetivos cada vez mais ambiciosos para um futuro sustentável”.

O Monaco Energy Boat Challenge, organizado pelo Yacht Club de Monaco, é uma competição de embarcações elétricas movidas a energias renováveis, que reúne equipas de todo o mundo. Esta foi a oitava participação da equipa do Técnico no evento, tendo anteriormente alcançado o segundo lugar em 2019 com o São Rafael 02 e o terceiro lugar com o São Rafael 03 em 2022.

A competição divide-se em três classes: Solar, Energy e SeaLab. A classe Solar, a mais antiga do evento, reúne embarcações movidas a energia solar. O São Rafael 03 competiu nesta categoria pela quarta vez, com painéis solares fabricados pela própria equipa.

Na classe Energy, catamarãs com flutuadores fornecidos pelo Yacht Club, a equipa do Técnico foi pioneira na utilização de hidrogénio como fonte de energia, tendo recebido prémios de inovação em 2020, 2022 e 2023.

A classe SeaLab é reservada para embarcações elétricas de maior porte, geralmente apresentadas por empresas.

A equipa do Técnico Solar Boat destacou-se por ser a única a participar simultaneamente nas classes Solar e Energy, inicialmente com o São Rafael 03 e o São Miguel 01 em 2021, e agora com o São Miguel 02. Na competição deste ano, a equipa alcançou o segundo lugar na classe Solar, repetindo o feito de 2019 com o antecessor do São Rafael 03. Adicionalmente, foi-lhe atribuído o Eco-Conception Prize pelo design sustentável do São Miguel 02.

O acordo entre a .PT, entidade responsável pela gestão do domínio de topo português, e a Polícia de Segurança Pública (PSP) tem como objetivo a troca de conhecimento e o desenvolvimento de novas capacidades na área da cibersegurança. A colaboração abrange diferentes temas, desde o desenvolvimento de ferramentas de apoio à investigação e operações conjuntas até à formação e qualificação de recursos humanos.

Pedro Gouveia, diretor nacional adjunto da PSP, destacou a importância da parceria em comunicado: “No desempenho da sua missão, a PSP necessita de capacitar os seus recursos humanos com as mais recentes técnicas e ferramentas que permitam a sua atuação no ciberespaço e no combate ao cibercrime. Esta parceria com o .PT permitirá o acesso a conhecimento especializado e a ferramentas cruciais para o desempenho eficaz das nossas funções no combate à cibercriminalidade.”

Por sua vez, Luisa Ribeiro Lopes, presidente do conselho diretivo do .PT, sublinhou o compromisso da entidade com a segurança digital: “Vivemos tempos em que a segurança do mundo digital é tão crucial quanto a do mundo físico. Proteger os cidadãos e as empresas portuguesas no ciberespaço é uma responsabilidade que o .PT assume com grande seriedade.”.

A cerimónia de assinatura do acordo, que decorreu nesta semana, a 9 de julho, contou com a presença de várias personalidades da PSP e do .PT, reafirmando o compromisso conjunto de ambas as instituições na luta contra o cibercrime e na promoção da segurança digital em Portugal.

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Estima-se que, a nível mundial, 26 em cada 100.000 pessoas sofram de uma das variantes da ataxia, com distúrbios neurológicos raros que afetam o equilíbrio, a coordenação e a fala. Já em em Portugal, dados indicam que 13 em cada 100.000 pessoas sofrem de uma ataraxia hereditária. 

Em comunicado é detalhado que o financiamento de 12 mil euros foi atribuído à equipa pela Ataxia UK, uma associação de pacientes que financia investigação científica para encontrar tratamentos e apoiar a pessoas afetadas por qualquer tipo de ataxia. 

Para a equipa, liderada por Federico Herrera, investigador de BioISI/CIÊNCIAS, o financiamento vai permitir avançar no desenvolvimento de dois projetos que estudam a Ataxia Espástica Autossómica Recessiva de Charlevoix-Saguenay e Ataxia Espástica 8, duas variantes desta condição neurológica que afetam bebés. 

“Estes fundos permitir-nos-ão lançar uma nova luz sobre duas doenças raras com pouco interesse para a indústria farmacêutica, mas que constituem dois elevados desafios científicos e biotecnológicos”, afirma Federico Herrera.

De acordo com o investigador, apesar de estas doenças serem pouco frequentes, “têm consequências dramáticas, porque muitas delas afetam bebés e o diagnóstico é difícil”. “Há famílias que passam décadas sem um diagnóstico certo, dificultando a sua inclusão num grupo e a sua capacidade de reação ante a doença”, realça. 

No caso do primeiro estudo, centrado na Ataxia Espástica Autossómica Recessiva de Charlevoix-Saguena, a equipa tem como objetivo estabelecer um modelo farmacológico mais económico e de fácil utilização, que permita compreender e testar terapias para esta doença. 

Os investigadores explicam que, nesta variante da ataraxia, se observa uma perda da função da proteína sacsina. A proteína desempenha um papel importante dos filamentos intermédios, isto é, das estruturas responsáveis pela construção do ‘esqueleto’ das células, que permitem a comunicação entre as células nervosas e as células musculares. 

O modelo que os cientistas tencionam desenvolver estaria baseado na utilização de Withaferin A, uma toxina natural que interfere com a formação dos filamentos intermédios e que causa os mesmos efeitos que a inativação da proteína sacsina verificada no desenvolvimento desta ataxia, indica a equipa. 

O segundo projeto de investigação tem como objetivo a criação de uma prova de conceito, partindo do princípio que Ataxia Espástica 8 é causada por mutações que levam a produzir versões incompletas da proteína NKX6-2, que é relevante durante o desenvolvimento do bebé.

A equipa explica que espera encontrar “o menor fragmento que é simultaneamente não funcional per se e que se torna funcional quando se junta ao fragmento da proteína produzido pelo paciente”. A descoberta permitirá a modificação da doença através de terapias que não provoquem alterações permanentes no genoma, acelerando também o progresso no desenvolvimento de medicamentos.

Os projetos de investigação, no contexto de duas teses de doutoramento nestas áreas temáticas, vão ser desenvolvidos a partir de setembro, prolongando-se até setembro de 2025.

Cientistas suíços, num estudo publicado na prestigiada revista científica Nature, em 2023, sugerem que a capacidade das células tumorais formarem metástases aumenta na fase de repouso (sono) dos doentes. Esta ideia sugere que controlar a altura do dia da administração de farmácos anti-tumorais pode permitir maior eficácia terapêutica. Este estudo surge no seguimento de múltiplas evidências que sugerem, afinal, que o ritmo circadiano desempenha um papel fundamental no cancro e no tratamento de doentes oncológicos.

Mas afinal o que são ritmos circadianos? São oscilações de 24 horas que controlam uma variedade de processos biológicos, incluindo a divisão celular, o metabolismo e outras funções essenciais para o funcionamento normal dos diferentes orgãos e tecidos. O ritmo circadiano é controlado pela ação de “relógios moleculares”, nos quais diferentes componentes moleculares cooperam entre si, alterando a respetiva quantidade e atividade, com uma periodicidade de cerca de um dia (24 horas). Num organismo, tais relógios moleculares garantem o controlo temporal da função dos diferentes órgãos e tecidos, através da regulação de programas moleculares específicos. Ou seja, temos (os seres humanos) relógios moleculares a regular as nossas funções gerais (como respirar, os batimentos cardíacos em repouso, etc.) e outros que regulam a função de cada órgão.

Alterações nos ritmos circadianos, nomeadamente as alterações nos padrões de sono, são uma característica proeminente das sociedades modernas. Cada vez mais se discute a importância do sono de qualidade para o nosso bem-estar mental e se percebe a sua importância em outras doenças. Por outro lado, a incidência de cancro tem aumentado, o que tem levado investigadores a questionar se alterações no ritmo circadiano poderão aumentar o risco de cancro.

Observou-se há anos que trabalhos realizados por turnos (denominados por “turnos do cemitério” ou graveyard shifts, em inglês), ao inverter o ritmo circadiano, estariam associados a um risco aumentado de desenvolver cancro

Do ponto de vista epidemiológico, observou-se há anos que trabalhos realizados por turnos (denominados por “turnos do cemitério”, ou graveyard shifts em inglês), ao inverter o ritmo circadiano, estariam associados a um risco aumentado de desenvolver cancro. Na verdade, vários estudos concluíram que quanto mais prolongados forem os períodos de trabalho por turnos (horas por semana ou por mês), maior esse risco. O mesmo acontece com o jet lag, que surge com a discrepância entre o “relógio molecular (biológico)” individual e a exposição a ciclos ambientais (luz-escuridão) alterados. O jet lag crónico (repetido frequentemente) é, assim, outro fator ambiental que se julga ter um papel potencialmente carcinogénico.

Estudos realizados no laboratório de Tyler Jacks (um cientista americano muito relevante na investigação dos mecanismos que regulam os ritmos circadianos) revelaram, em modelos animais e em humanos, que perturbações fisiológicas (jet lag) ou genéticas do ritmo circadiano aumenta a incidência de cancro de pulmão. Dois, apenas dois, genes (o gene PER, de “período” e o gene BMAL1) parecem regular uma complexa rede de interações moleculares envolvidas na criação e manutenção de ritmos circadianos. Consequentemente, perturbações na função destes genes (e proteínas por eles codificadas) resulta em alterações moleculares que – ao perturbar o ritmo circadiano do organismo – ativam processos envolvidos no desenvolvimento de cancros, como a divisão celular e certos tipos de metabolismo.

A importância do controlo do ritmo circadiano tem impacto na incidência e na forma como o cancro se desenvolve. Não menos importante, foi também demonstrado que a eficácia de terapêuticas usadas para o tratamento de diferentes tipos de cancro depende da altura do dia em que os fármacos são administrados. Esta observação (da importância da hora de administração dos tratamentos) foi confirmada na administração de fármacos mais “convencionais” como a maior parte dos agentes quimioterapêuticos, mas também na resposta a tratamentos imunomoduladores como as mais recentes formas de imunoterapia.

O papel do ritmo circadiano (e das suas alterações) no cancro está amplamente demonstrado, quer ao nível da susceptibilidade (maior incidência perante alterações crónicas do ritmo circadiano), quer da progressão tumoral (incluindo a formação de metástases) e também da resposta a diferentes formas de terapia.

Podemos assim afirmar que estamos – investigadores e médicos oncologistas – a lidar com uma “nova” dimensão (o tempo) do cancro.

Nota: este artigo foi conceptualizado com a Ana Cavaco, também investigadora no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes

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