Antes de mais, abata-se já o elefante na sala: as previsões de médio prazo não estão inscritas na pedra. Ao contrário das previsões de curto prazo, que têm uma fiabilidade alta até três dias, as de longo prazo (de até 46 dias ou sazonais) fornecem uma visão mais geral e de malha menos fina das condições meteorológicas potenciais, semana a semana. Na prática, resulta em mapas com cores sobrepostas que indicam quão mais frio ou mais quente e mais seco ou mais chuvoso será aquele período, relativamente à média para aquela região e época do ano.
Sem mais delongas, vamos então às previsões para agosto, uma semana de cada vez, de segunda-feira a domingo, de acordo com os dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla internacional) e do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF).
(Deixamos de lado a precipitação, uma vez que os mapas de previsão a longo prazo não mostram, para esta região da Europa, qualquer tendência claramente definida, pelo que se prevê o costume: pouca ou quase nenhuma chuva.)
Semana de 29 de julho a 4 de agosto
A região de Lisboa e Vale do Tejo e o litoral dessa região até Aveiro ou Porto, e ainda a Costa Alentejana e até ao cabo de São Vicente, no Algarve, não tem uma tendência definida para esta semana, pelo que se esperam condições climatéricas normais para a data. O resto do País, no entanto, deverá passar por dias mais quentes, com destaque para o distrito de Bragança, que se prevê vir a registar até mais 3 0C do que a média, pelos dados do EFFIS.
O ECMWF mostra uma tendência semelhante, mas a zona sem tendência definida (ou seja, que deverá ficar dentro da média) é mais pequena: praticamente só a região de Lisboa a norte do Tejo estará na média, com a Costa Alentejana e o Litoral Centro-Norte a surgirem já com temperaturas ligeiramente acima do habitual; praticamente todo o Norte e a maior parte do Alentejo e do Algarve estarão até 3 0C acima da média, segundo este serviço meteorológico.
Ambos os serviços meteorológicos preveem uma semana mais quente do que a média na Europa Ocidental e do Sul, ilhas Britânicas e Noruega, e mais fria no extremo Leste. Espanha, onde muitos portugueses passam férias, estará quase na totalidade com temperaturas até 3 0C mais quentes do que a média.
Semana de 5 a 11 de agosto
As temperaturas tendem a descer neste período. O EFFIS aponta para que apenas o Interior Norte tenha temperaturas até 2 0C mais altas. O resto do território continental deverá ficar dentro da média, sendo que a norte de Lisboa a temperatura deverá ser até 1 0C abaixo da média (num triângulo que vai sensivelmente de Peniche à Figueira da Foz e a Coruche). No mapa do ECMWF, a mancha é um pouco maior e engloba a capital, mas o resto não difere.
No que respeita à Europa, no entanto, o calor é mais generalizado do que na semana anterior. Tal como na semana anterior, praticamente toda a Espanha tem uma previsão de até 3 0C acima da média.
Semana de 12 a 18 de agosto
A maior parte de Portugal Continental deverá registar temperaturas acima da média para esta altura. Segundo o EFFIS, só no Litoral não há uma tendência de anomalia (com exceção do Litoral Norte e do extremo oriental do Sotavento algarvio). A maior parte do Alentejo interior deverá estar cerca de 1 0C mais quente do que a média; o Interior Centro-Norte, 2 0C acima do habitual; grande parte do Nordeste poderá chegar aos 3 0C acima da média.
Os dados do ECMWF dão resultados um pouco diferentes: apenas a região a norte do Mondego apresenta uma clara tendência mais quente, até 3 0C acima da média; algumas manchas (região de Lisboa/Setúbal e no Alentejo junto à fronteira com Espanha) deverão estar igualmente mais quentes, embora só até 1 0C. O resto do território escapa a uma tendência definida ‒ nem mais quente nem mais frio.
Em ambos os serviços, os dados apontam para uma Europa muito mais quente do que o normal, sobretudo a Mediterrânica e o Sueste.
Semana de 19 a 25 de agosto
Nos mapas do EFFIS, a previsão para esta semana é quase tirada a papel químico da da semana anterior: litoral algarvio e alentejano e costa de Lisboa a Aveiro sem tendência clara acima ou abaixo da média; o resto do território continental mais quente, sendo que o Nordeste poderá ficar 3 0C acima da média. O ECMWF prevê exatamente o mesmo.
Na Europa, as coisas parecem acalmar um pouco. Na Europa Ocidental, apenas Espanha se mantém muito quente (até 3 0C acima da média); no Centro (Alemanha, Áustria, Bélgica, Países Baixos, grande parte da França, Norte da Itália e Balcãs), as temperaturas deverão ficar dentro do normal; Escandinávia, Polónia, Bálticos e ilhas Britânicas até 1 0C acima da média.
Semana de 26 de agosto a 1 de setembro
Mais uma vez, sem alterações significativas face à semana anterior: Litoral sem tendência definida (mais uma vez, com exceção do Litoral Norte), a maior parte do resto do País até 1 0C mais quente e o Nordeste até 3 0C acima da média. EFFIS e ECMWF fazem previsões semelhantes. Idem para o resto da Europa.
lribeiro@visao.pt
Anomalias de temperatura de 29 de julho a 4 de agosto, em 0C
O El Niño já não está ativo e deverá dar lugar, no outono, a uma La Niña, que tende a fazer baixar a temperatura média global, mas continuam a ser batidos recordes
O dia mais quente de sempre
21 de julho foi o mais quente no mundo, desde que há registos fiáveis. Segundo o C3S (Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, da União Europeia), a temperatura média global da atmosfera foi de 17,09 ⁰C, mais 0,01 ⁰C do que o anterior recorde, do ano passado, durante a fase ativa do El Niño.
O mês mais quente… outra vez
Junho passado foi o 13º mês consecutivo mais quente de sempre, ou seja, junho de 2023 havia sido o junho com a temperatura média global mais alta desde que há registos, julho idem, e por aí fora, até ao mês passado. Note-se que o El Niño, o fenómeno do Pacífico que, quando está ativo, tende a fazer subir a temperatura média, esvaneceu-se na primavera.
Doze meses acima de 1,5 ⁰C
O mês passado foi ainda o 12º seguido a registar uma temperatura média global de pelo menos 1,5 ⁰C acima da média do período pré-industrial. Este é um valor simbólico, já que corresponde ao limite “ideal” estipulado pelo Acordo de Paris.
