Quando morre alguém antes do tempo – o que será isso do tempo de morrer? –, a comoção generaliza-se. Mais ainda quando esse alguém vivia na esfera pública. Dependendo da dimensão do seu estrelato, o sofrimento alarga-se ao País ou ao mundo, mesmo que nunca tenhamos privado com quem parte ou sequer seguido os seus feitos.

A morte antes do tempo – do tempo em que esperávamos – implica sempre rispidez. Nunca são causas naturais, que essas reservam-se aos que já cruzaram todas as etapas da vida. Normalmente, nestes casos há uma interrupção abrupta do percurso que se julgava longo, quiçá brilhante, por culpa de um acidente, de excessos ou de uma doença traiçoeira. Nada é natural na morte de um jovem. Então como a digerir?

Os mais novos, quando morrem, transformam-se quase sempre em mitos. Na hora da partida, nasce a devoção, o culto, na esperança de não os deixar partir de uma vez só. Cria-se então uma certa aura em nunca envelhecer, em viver para sempre novo na nossa lembrança.

Alguém consegue visualizar o lindíssimo ator James Dean, que morreu num violento acidente de automóvel na flor dos vintes – tal como Diogo Jota e o seu irmão André Silva – hoje com 94 anos?

Ou poderia lá imaginar Jim Morrison, vocalista da banda The Doors, desaparecido há 54 anos, vítima de um ataque cardíaco causado possivelmente pelo consumo excessivo de drogas e álcool, que na segunda década do século XXI ainda houvesse turistas que, numa viagem a Paris, guardassem umas horas do seu passeio para o “visitarem” no Cemitério Père Lachaise?

Gestos, nem sempre compreendidos por quem não partilha da mesma veneração, com vista a perpetuar aqueles que idolatramos.

Vidas em excesso

Soube-se na terça-feira, 8, num relatório preliminar da polícia espanhola, que os dois irmãos futebolistas, de 28 e 25 anos, seguiam em excesso de velocidade no Lamborghini que alugaram para fazer a viagem até Inglaterra, visto que Diogo estava impedido de seguir de avião por causa de uma cirurgia de que ainda estaria a recuperar. Terá sido um fator agravante da causa imediata do sinistro: o rebentamento de um pneu traseiro durante uma manobra de ultrapassagem, de acordo com as conclusões preliminares da Guardia Civil.

A velocidade acima da lei foi também a causa do acidente de James Dean.

No caso de Francisco Adam, ator da série Morangos com Açúcar, além da velocidade que levou ao despiste do carro em que seguia com mais dois amigos, e que o matou em 2006, aos 22 anos, a autópsia veio a revelar que consumira, pouco tempo antes do acidente, cocaína, anfetaminas, cafeína e álcool.

O cantor Angélico Vieira morreu cinco anos depois, também num acidente de viação, na A1, quando o carro em que ia, um potente BMW 635 Cabriolet, se despistou no seguimento do rebentamento de um pneu. As perícias detetaram que o artista guiava a uma velocidade entre os 206 e os 237 quilómetros por hora. Um mês antes, Angélico, 28 anos, já tinha sido apanhado a conduzir a 210 km/h, ao mesmo tempo que se filmava.

A cantora Sara Carreira, de 21 anos, filha de Tony Carreira, também teve o seu fim na estrada. Embora não se provasse que o carro em que seguia ia em alta velocidade, foi um condutor com excesso de álcool no sangue que terá provocado o acidente fatal, envolvendo vários carros e causando outras vítimas.

O médio multicampeão pelo FC Porto Rui Filipe morreu em 1994, com 26 anos, quando regressava do aniversário do irmão, às 6h30, ao tentar ultrapassar o carro da frente, onde seguiam amigos, perdendo o controlo do automóvel. José Alberto Teixeira Ferreirinha, conhecido como Zé Beto, guarda-redes do mesmo clube, teve fim idêntico aos 30 anos, em 1990, na A1, próximo de Santa Maria da Feira. O automóvel despistou-se em alta velocidade e o condutor não sobreviveu ao acidente.

Como se nota pelo elencar de casos de mortes ao volante, em que os protagonistas estão na flor da idade, são mais comuns do que se poderia desejar. Este tipo de comportamentos excessivos são típicos de uma idade em que nos consideramos inquebráveis. Aos vinte ninguém pensa na morte nem em formas de a evitar.

Sensação de pertença

Quando notícias destas invadem o nosso dia a dia e há crianças que veneram as vítimas, torna-se ainda mais difícil explicar o sucedido. Se ainda estamos a tentar arranjar subterfúgios para nós… 

Por isso mesmo, Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, lembrou-se de fazer uma publicação nas suas redes sociais, dias depois da tragédia dos irmãos futebolistas, para ajudar pais, treinadores e professores a lidar com as reações mais emotivas. “O impacto nas crianças e nos adolescentes que os seguem pode ser real – mesmo que nunca os tenham conhecido”, esclarece.

Por seu turno, Melanie Tavares, psicóloga, alerta para o facto pouco relevante de se conhecer ou não a pessoa que parte. “As figuras públicas que admiramos pertencem à nossa casa, quase fazem parte da nossa vida. Identificamo-nos com o seu comportamento, o seu nível de vida, o seu lifestyle.”

Para o caso específico de Diogo Jota, um jogador da Seleção, também contribuem o orgulho nacional e a sensação de união que o futebol dá a grande parte dos portugueses. A empatia rapidamente se desenvolve.

As respostas às questões dos mais novos, defende Filipa Jardim da Silva, devem ser claras e sem metáforas. Do tipo: “Sim, é verdade. O Diogo e o irmão sofreram um acidente e morreram.” Dizer que “foram embora” ou “partiram” pode gerar confusão e medo em idades mais jovens, garante a especialista. “A morte faz parte da vida, mas quando acontece tão cedo é mesmo difícil de entender.”

Há frases proibidas, por não ajudarem em nada ao processo de aceitação. Eis alguns exemplos: “Foi a vontade de Deus” (pode gerar culpa, medo ou zanga espiritual); “Agora está num sítio melhor” (pode confundir e criar medo da vida); “Não penses nisso” (“bloquear sentimentos só os torna mais pesados e solitários), defende a psicóloga clínica.

Os adultos também sofrem quando ouvem estas histórias de jovens que são arrancados à vida de um segundo para o outro. E ficam sem ar. “Se forem pais ou avós, têm tendência para se rever numa situação idêntica, indagando como poderiam sobreviver a uma tragédia que lhe levasse os filhos ou os netos.”

O que andamos aqui a fazer?

Se se tratar de um desastre em trabalho, como o do piloto brasileiro de Fórmula 1 Ayrton Senna, em Imola, há mais de três décadas, com 34 anos, ou o caso do acidente de avião que matou todos os elementos da banda brasileira Mamonas Assassinas, quando se deslocavam para mais um concerto no auge da sua popularidade, em 1996, as pessoas aceitam melhor, como se fosse uma fatalidade inerente à fama.

Nessas alturas, é comum questionar-se o sentido da vida, ainda que fugazmente. Perguntamo-nos: O que andamos aqui a fazer?; Porque perdemos tempo com coisas que não importam?; Onde devemos investir a nossa energia?

Mas a consciencialização do carpe diem, de que a vida é um fósforo que se apaga de um sopro, dura pouco. “Estas reflexões não chegam para mudar comportamentos. No dia a seguir, estamos todos a agir da mesma forma, tal como aconteceu depois da pandemia de Covid-19”, desmistifica Melanie Tavares.

Esta questão não se coloca quando pessoas que aparentam ter uma vida glamourosa e bem-sucedida decidem acabar com ela ainda nos primórdios da sua existência. Lembramos aqui casos como o do músico dos One Direction, Liam Payne, 31 anos, ou o do ator Heath Ledger, 28 anos. Ambos foram encontrados mortos, em circunstâncias pouco claras, que levam a crer que quiseram pôr fim à vida.

Já no caso do chamado “clube dos 27” (ver caixa), atentamos nas palavras do veterano Bruce Springsteen, em entrevista ao The Telegraph, reconhecendo que as mortes prematuras de músicos devido ao abuso de substâncias se tornaram banais na indústria, devido à pressão sobre os jovens artistas – muitos não têm estrutura interna para lidar com o sucesso e refugiam-se no conforto das drogas ou do álcool para aliviar a tensão, considera o cantor.

Para ele, o valor está antes na longevidade e na integridade do trabalho, não na ideia de morrer jovem, algo que, segundo Springsteen, beneficia apenas a indústria: “É uma fraude. É só uma parte da história que atrai alguns jovens. Morrer jovem é ótimo para as editoras, mas o que isso traz para nós?” loliveira@visao.pt

A maldição dos 27

O mito do clube dos 27 será verdadeiro? Quem o estuda diz que sim, mas…

Zackary Okun Dunivin e Patrick Kaminski, investigadores da área da Comunicação da Universidade da Califórnia, dedicaram-se a analisar a realidade do clube dos 27, num estudo publicado no jornal científico PNAS, intitulado Dependência de Trajetória, Estigmergia e Reificação Memética na Formação do Mito do Clube dos 27. Neste grupo incluem-se os lendários Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Jim Morrison, Kurt Cobain ou Amy Winehouse, todos músicos que morreram nessa idade prematura, embora as causas variem um pouco de uns para os outros. Note-se que as mortes dos primeiros quatro aconteceram todas no início da década de 1970 e no espaço de apenas dois anos.

“Esta estranha coincidência deixou a sua marca na memória coletiva. Não foi apenas a idade. Foi o fio condutor do génio musical, da influência contracultura e do fascínio trágico de vidas encurtadas por um cocktail de fama, consumo de drogas e luta inerente à sua condição de ser humano. A narrativa é não só convincente, mas quase mística na sua sincronicidade”, explica Zackary ao Público.

Em 2011, uma investigação publicada no jornal científico The BMJ reduziu este clube a um mito. E, por isso, os autores da Universidade da Califórnia quiseram alargar a verdade sofística, sob a premissa de que, embora a existência do fenómeno não possa ser empiricamente demonstrada, ele é real nas suas consequências.

Os colegas Zackary e Patrick analisaram então dados de 344 156 notáveis, listados na Wikipédia, e chegaram à conclusão de que, apesar de não haver um risco acrescido de morte aos 27 anos, aqueles que realmente morreram nessa idade recebiam muito mais atenção mediática.

Utilizando as visualizações de páginas da enciclopédia virtual como indicador de fama, o estudo do PNAS comprovou que esses legados são amplificados e têm mais visibilidade do que quem morre noutras idades também prematuras. “Baseámo-nos num conceito sociológico chamado teorema de Thomas, que afirma que ‘se definirmos uma situação como real, ela é real nas suas consequências’”, explica o investigador já citado. “O mito do Clube dos 27 é uma profecia que se cumpre a si própria: tornou-se ‘real’ porque acreditámos nele”, conclui Zackary Okun Dunivin. Isto porque tendemos a acreditar em narrativas poéticas.

Morrer para ser famoso

A publicação do BMJ, Dying to Be Famous: Estudo de Corte Retrospetivo da Mortalidade de Estrelas do Rock e da Pop e Sua Associação com Experiências Adversas na Infância, confirma, no entanto, que estes músicos tendem a morrer mais cedo do que a população em geral.

Pelas contas dos seus cinco autores, da Universidade John Moores, em Liverpool, na Grã-Bretanha, a morte prematura é duas vezes mais provável para artistas que atuam sozinhos. E os músicos que se tornaram famosos depois dos anos 1980 têm maiores probabilidades de sobrevivência. Nesse grupo, os que sobrevivem 25 anos à fama ficam com a mesma taxa de mortalidade que a população em geral.

Nesta investigação, liderada por Mark A. Bellis, analisaram-se 1 489 estrelas da música que ganharam palco entre 1956 e 2006 – destas 137 morreram, com uma média de idade média de 45,2 anos para os americanos e 39,6 para os europeus.

A notoriedade, por si só, não é responsável por estes desaparecimentos antes do esperado. No estudo, descobriu-se, por exemplo, que quase metade dos músicos cujas mortes se ligavam ao abuso de drogas e álcool tiveram infâncias traumáticas. Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca.

O novo sensor de emergência que pode ser aplicado em doentes com diabetes Tipo 1 pode ajudar a evitar fatalidades que decorram de episódios de hipoglicémia em utilizadores menores, que estejam a dormir ou que estejam incapazes de se injetar atempadamente. O sensor desenvolvido no MIT é colocado debaixo da pele e desencadeia uma resposta de glucagon quando os níveis de açúcar descem para níveis perigosos. A glucagon é uma hormona que estimula o fígado a libertar doses de glicose armazenada para manter a glicemia dentro dos níveis adequados.

A hipoglicémia é um perigo constante para os doentes com diabetes Tipo 1, quando os níveis de glicose descem para níveis abaixo do recomendado. Geralmente, nessas situações, os doentes sabem que têm de se injetar com glucagon, mas tal pode não ser sempre possível, especialmente em doentes menores ou pessoas que estejam a dormir. “Este é um pequeno dispositivo [do tamanho de uma pequena moeda], para emergências, que pode ser implantado debaixo da pele e que está pronto a atuar quando os níveis de açúcar no sangue descem (…) O nosso objetivo foi construir um dispositivo que está sempre pronto a atuar para proteger os pacientes de níveis baixos de açúcar no sangue”, conta Daniel Anderson, o professor que liderou o estudo, ao Interesting Engineering.

Na criação do aparelho, a equipa usou um reservatório para o medicamento impresso num polímero em 3D e selado com uma liga que mantém a memória da forma e que responde ao calor. Esse componente enrola-se e abre quando exposto a 40 graus centígrados, libertando a substância no interior. A glucagon armazenada está sob a forma de um pó, uma vez que no estado líquido pode perder a eficácia. Uma antena sintonizada para uma frequência de rádio específica permite a ativação externa sem fios, enquanto uma pequena corrente elétrica aquece o metal para libertar a hormona. Siddarth Kishnan, outro dos autores, explica que o implante pode ser ligado a tecnologias de monitorização contínua da glicose, algo que muitos pacientes já usam, para facilitar a sua integração e utilização.

Nos testes com ratos diabéticos, os implantes demoraram menos de dez minutos a libertar a glucagon e estabilizar os níveis de açúcar no sangue. Os testes incluíram a administração de epinefrina, com o medicamento a entrar em circulação também em dez minutos, o que demonstra um potencial de utilização também para evitar ataques cardíacos ou reações alérgicas severas. Em laboratório, descobriu-se que os implantes continuaram em funcionamento mesmo após quatro semanas da introdução, com os investigadores a pretenderem explorar o uso durante mais de um ano. Os testes em humanos e outros animais podem começar dentro de três anos.

“Se nenhuma proposta para a TAP for relevante, há a possibilidade de suspendermos a privatização”. A garantia foi deixada por Luís Montenegro na comunicação feita ao país, a meio do Conselho de Ministros, para anunciar que o Estado vai avançar com a promessa eleitoral da AD e vender 49,9% da companhia aérea portuguesa, sendo que 44,9% será para vender a um investidor e 5% para os trabalhadores.

O primeiro-ministro não quis responder a nenhuma pergunta, garantindo que ao longo do dia o Governo dará mais informações sobre a privatização anunciada.

Não há, por exemplo, informações sobre que tipo de condições serão impostas ao comprador privado, nomeadamente na questão das rotas ou do hub de Lisboa.

“Um poço sem fundo” a dar lucro há três anos consecutivos

Apesar de o objetivo ser vender, Luís Montenegro classificou a TAP como “um poço sem fundo”, vincando que a decisão agora tomada reflete o que estava no programa que a AD levou a votos.

“É a pensar no futuro do país, no desenvolvimento do país que tomamos esta decisão. Já gastámos muito dinheiro que não se repercutiu na vida dos portugueses. Não queremos continuar a deitar dinheiro para um poço que não tem fundo”, disse, fazendo eco de um argumento há muito usado pela direita para a venda da empresa, mas que a apresenta aos potenciais compradores como um possível mau negócio, apesar de nos últimos anos a TAP ter dado lucros.

A TAP terminou o ano 2024 com um resultado líquido positivo de 53,7 milhões de euros, o seu terceiro ano consecutivo de lucro. Em 2023, o ganho tinha sido de 177,3 milhões de euros. Já em 2022, os lucros tinham sido 65,6 milhões, depois de quatro anos a dar prejuízo. Já depois da venda ao consórcio de David Neelman e Humberto Pedrosa, a empresa deu prejuízo, acumulando perdas entre 2018 e 2021, um resultado em parte explicado pela pandemia, que levou os aviões a ficarem no chão em 2020, facto que desencadeou uma intervenção do Estado para impedir o encerramento da TAP.

O PSD chegou a defender a privatização total da companhia aérea, no entanto não teria maioria no Parlamento para fazer esse negócio. Até agora, a posição de Chega e PS tem sido a de rejeitar uma venda do total do capital da empresa, considerando estes dois partidos que o Estado deve manter uma participação na TAP.

A Microsoft continua as rondas de despedimentos em diversas unidades de negócio e, na semana passada, anunciou mais nove mil saídas, elevando o número total para 15 mil só este ano. Numa mensagem que pode ser interpretada como deslocada, o diretor comercial Judson Althoff revelou que a utilização de Inteligência Artificial permitiu à empresa poupanças de mais de 500 milhões de dólares nos setores de vendas, apoio ao cliente e engenharia de software.

Este não é o primeiro ‘lapso’ deste tipo a ser cometido por executivos da Microsoft, depois de Matt Turnbull, produtor da Xbox Game Studios, ter sugerido que os trabalhadores que estavam preocupados pelos despedimentos em Redmond podiam encontrar apoio nas ferramentas de IA como o ChatGPT ou o Copilot. Apesar de não se saber se os despedimentos estão claramente ligados ao uso de IA, este tipo de comentários não está a ser bem recebido pelos utilizadores e pelos trabalhadores afetados. Prova disso é que a publicação de Turnbull no LinkedIn acabou mesmo por ser apagada.

Numa altura em que a Microsoft regista lucros de 26 mil milhões de dólares, receitas de 70 mil milhões num trimestre e acaba como segunda empresa com maior valorização no mercado nos 3,74 biliões de dólares, pode ser difícil passar a mensagem de que os despedimentos são uma forma de manter a rentabilidade da organização, lembra o Tech Crunch.

A Microsoft já fez saber que grande parte destes lucros vão ser diretamente canalizados para os esforços de Inteligência Artificial. Recorde-se que a empresa já se comprometeu com um investimento acima de 80 mil milhões de dólares só na infraestrutura necessária para tal, durante este ano de 2025.

Nos dias que vivemos, todas as formas de criar pontes, diálogo e conhecimento, são da máxima importância. A falta de cultura sobre a diversidade, aliada à pouca vontade em a conhecer e a valorizar, são pasto para incêndios mediáticos que fazem avançar a intolerância.

“Que Mundo, Meu Deus!” é um programa de rádio na TSF. Mais que um programa, é um arrojado desafio, uma vez que todos os dias é levado á antena um breve debate que reúne as três religiões de matriz abraâmica (Judaísmo, Cristianismo e Islão), com o propósito de clarificar as visões religiosas, tornando-as simples, mas não simplistas. O target é, especialmente, o público mais jovem, o que ainda valoriza mais esta oferta.

Da autoria de Khalid Jamal conta ainda com a participação de Miriam Assor e João Paiva. O programa apresenta-se “sem a pretensão de converter ninguém, sendo o programa isento de qualquer laivo de proselitismo, o que o torna mais atrativo e descritivo”, visto que os três intervenientes “falam despojados das suas vestes institucionais”.

Este programa, que estreou em vésperas da guerra na Ucrânia, tem tido um share médio de 300.000 ouvintes diários. Dada a circunstância de estar presente em podcast o seu espectro de ouvintes é muito amplo e tal, tem sido aplaudido, bem como o desiderato de combater a ignorância e iliteracia em temas de índole religiosa, de forma ligeira e agradável, adaptada ao contexto atual de aceleração social.

Apesar da importância deste programa não carecer de grandes demonstrações, é sempre muito bom ver que o reconhecimento chega, comprovando o lugar e a importância desta iniciativa da TSF.

“Que Mundo, Meu Deus!” foi objeto de menção como boa prática no relatório anual da Inter-Parliamentary Union sobre crenças e religiões (organização internacional de Parlamentos, que junta 181 estados soberanos). O Parliamentary report on religion and belief. Working towards more peaceful and inclusive societies, de 2025, na sua página 36, afirma:

“[Em Portugal} a rádio tem sido utilizada para promover a literacia religiosa (conhecimento e compreensão das diferentes religiões) […] O programa tem um horário de dois minutos e meio às 7h20 e às 16h20 – ambos horários de pico – de segunda a sexta-feira, com um horário mais longo aos sábados para fornecer um resumo da semana. Os episódios estão também disponíveis como podcast.

O programa tem gozado de popularidade desde o seu lançamento, com uma média de 300.000 ouvintes por dia. O programa reúne três personalidades influentes, judia, cristã e muçulmana, respetivamente, para apresentar preceitos sobre a sua religião, valores partilhados e visões sobre questões em que as religiões se posicionam, como a eutanásia, o aborto e os conflitos globais atuais, em termos simples para um público mais jovem. Os apresentadores são membros leigos das suas comunidades religiosas, e não clérigos religiosos.”

A menção neste relatório deve-se, ainda, ao facto de:

“A popularidade do programa foi tal que, em junho de 2023, o então Presidente da Assembleia da República Portuguesa, Augusto Santos Silva, convidou os três apresentadores ao Parlamento para gravarem uma sessão especial e mais longa sobre a liberdade de religião ou de crença e o diálogo inter-religioso. A sessão foi para assinalar o Dia Nacional da Liberdade Religiosa e do Diálogo Inter-religioso, instituído pelo Parlamento em 2019 em comemoração da data de publicação da Lei da Liberdade Religiosa.”

Repetindo essa histórica transmissão a partir do edifício do Parlamento, este ano acaba de ter novamente lugar uma emissão celebrando o Dia Nacional da Liberdade Religiosa, gravado na “Casa da Democracia”, demonstrando como em Portugal é possível criar pontes e construir diálogo.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca atribuiu o “Prémio Jornalismo Que Marca” à jornalista Sónia Calheiros, da VISÃO, pela reportagem “Viver 120 anos (com boa saúde)”.

LEIA AQUI: Viver 120 anos (com boa saúde)

“Numa era de desafios para o jornalismo, o ‘Prémio Jornalismo Que Marca reforça’ a importância do trabalho independente e rigoroso. A reportagem da Sónia Calheiros é um excelente exemplo de como o jornalismo pode desbravar temas que darão que falar, como a demografia, a longevidade, os respetivos impactos no mercado e os novos conceitos de economia que lhe estão associados”, justificou Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, na atribuição do prémio.

Já Ricardo Miranda, creative partner da Wonder\Why e que presidiu ao júri do prémio, considera que “a reportagem vencedora, da Sónia Calheiros, destaca-se pela atualidade e profundidade com que trata o tema da longevidade, colocando as marcas perante um dos maiores desafios das próximas décadas”.

Uma menção honrosa foi atribuída à jornalista Ana Taborda, da revista Sábado, pela peça “O grande negócio da comida pronta”.

Em Phaedrus, Platão conta como Sócrates, num diálogo com Phaedrus, alerta para os perigos de uma nova tecnologia – a escrita. Sócrates teme que a escrita, ao contrário de constituir um elixir capaz de exponenciar a sabedoria humana, destrua a memória interior. Sócrates receia que o homem delegue a memória neste sistema externo, perdendo a sua capacidade natural de memorização, a base do conhecimento.

A escrita e a imprensa permitiram-nos preservar o conhecimento, a informação e as ideias. A possibilidade de revisitarmos um conteúdo e sobre ele refletirmos. Liberto da necessidade de tudo recordar, o ser humano concentrou-se na compreensão, fomentando a capacidade de gerar novas ideias. A escrita potenciou a nossa memória.

Os estudos neurológicos demonstram que a criação de memórias depende do nosso envolvimento intelectual e emocional com um dado tema ou evento, da nossa “atenção”. António Damásio, em Sentir e Pensar, explora o tema em detalhe. Porque permanecem intensas as memórias associadas, por exemplo, a experiências especialmente emotivas. Na verdade, a escrita acelerou a aquisição de conhecimento, mas hoje, na era da internet, e em especial da Inteligência Artificial, os alertas de Sócrates parecem premonitórios.

Recentemente, o MIT publicou um estudo a aferir o impacto cognitivo da utilização do ChatGPT. A um grupo de alunos universitários foi solicitada a elaboração, em três momentos distintos, de uma composição. O grupo que não pôde recorrer ao Google nem ao ChatGPT apresentou a maior atividade cerebral e a capacidade de recordar o que tinha escrito. No extremo oposto, o eletroencefalograma realizado aos alunos que utilizaram o ChatGPT mostrava uma atividade cerebral quase nula. Após o teste, os alunos tinham dificuldade em recordar os detalhes e em se assumir como autores das composições. Num quarto momento, aos alunos que tinham utilizado o ChatGPT foi solicitado que a composição fosse realizada sem apoio externo (Google ou ChatGPT). Os alunos apresentaram dificuldades e a sua atividade cerebral manteve-se baixa, nos vários parâmetros. Inversamente, os alunos que não tinham utilizado o Google nem o ChatGPT, e que ora podiam fazê-lo, refizeram a composição, mantendo níveis elevados de atividade cerebral e com resultados positivos na qualidade do trabalho.

As composições foram corrigidas por dois professores de Inglês. Não obstante não serem informados de quais as composições produzidas com apoio do ChatGPT, conseguiram detetar. A gramática era perfeita, mas os temas repetiam-se.

A utilização dos motores de busca já tinha provocado o chamado “Google effect”, mais do que recordar em detalhe uma informação, tornámo-nos peritos em recordar onde podíamos encontrá-la. Ainda assim, tínhamos de gerir grandes quantidades de informação e analisá-la criticamente. Naturalmente, já sofríamos do viés do algoritmo que selecionava os resultados da nossa pesquisa, não com o objetivo de nos esclarecer, mas sim de prever o que consideraríamos mais interessante… assim assegurando mais tempo de visualização. Afinal, Google não é filantropia, é negócio.

Mas ora com o ChatGPT, a resposta é única e direta. Surge nos ecrãs – em segundos – bem construída, eloquente.

Os autores do estudo, naturalmente, concluem que introduzir o ChatGPT em ambiente escolar compromete a aquisição de conhecimentos. Mas não é também assim em ambiente laboral? Ou em sociedade? Desconsideramos análises complexas em prol de respostas simples (ou simplistas). Privilegiamos oradores assertivos. No ensino, temos uma responsabilidade como pais e educadores na seleção e na utilização dos instrumentos tecnológicos. Como profissionais e cidadãos, devemos assegurar que há espaço para a análise e a discussão profunda dos temas e que não somos toldados pela eficiência acrítica, ou apenas pelo poder da palavra, pela capacidade de comunicação. O desafio é utilizar este novo elixir com sentido crítico, para que nos potencie como seres humanos e não nos diminua nem substitua.

A Justiça portuguesa deu dois trunfos a José Sócrates. E ele, com o “instinto matador” que o caracteriza, agarrou-os e já não os larga. Um deles pode suspender o julgamento que se iniciou na semana passada. O outro tem uma natureza mais formal e menos prática. O primeiro é o do famoso “lapso de escrita”, uma expressão enigmática, para a maioria dos cidadãos, mas que procurarei traduzir nas próximas linhas. O segundo é o das declarações infelizes do procurador-geral da República, Amadeu Guerra, numa entrevista concedida poucos dias antes do início do julgamento. Finalmente, além de se agarrar aos dois trunfos que lhe foram concedidos de bandeja – o primeiro dos quais, em boa medida, como veremos, porque a Justiça não conseguiu julgá-lo em tempo mais útil… –, José Sócrates vai seguir a estratégia de disparar em todas as direções, atacando os três pilares que garantem o escrutínio dos crimes de colarinho-branco: os procuradores e os juízes, os partidos e a imprensa livre. E já começou pela comunicação social que, paradoxalmente, continua a aceitar dar-lhe palco à entrada e à saída de cada sessão de tribunal. Mas essa será a segunda reflexão que faremos neste texto. Vamos, para já, aos “trunfos” de Sócrates.

O que é o “lapso de escrita”? O lapso de escrita foi a explicação – Sócrates prefere dizer o “artifício” – que as desembargadoras da Relação de Lisboa, que reapreciaram o caso, na sequência do recurso do Ministério Público (MP), depois de o juiz de instrução, Ivo Rosa, ter feito ruir praticamente todo o edifício acusatório, encontraram para recuperar a acusação de três crimes de corrupção passiva. Inicialmente, a acusação do MP indiciava o arguido pelos crimes de corrupção passiva para o cometimento de “ato lícito”. Ora, o crime de corrupção por ato lícito tem uma moldura penal menos gravosa do que quando se trata de “ato ilícito” – e o prazo de prescrição é consideravelmente menor. Mas as desembargadoras da Relação, no seu acórdão, declaram que o ato lícito tinha sido “um lapso de escrita” porque, na verdade, Sócrates teria sido corrompido por “ato ilícito”. Esta conclusão das juízas faz sentido, se pensarmos em toda a narrativa do MP, durante o processo. Mas a verdade é que, salvo melhor opinião, essa pode ser, apenas, uma perceção. Ora, isto mudou tudo, oito anos depois da detenção do ex-primeiro-ministro: mudou a acusação (agravando-a), terá – segundo a defesa – manipulado o processo, e alterou todos os prazos, favorecendo a acusação e permitindo o julgamento de todos os crimes. Em tese, isto permitiria à Justiça contornar os seus próprios atrasos, que conduzem, sempre, à prescrição de crimes, por culpa própria ou por manobras dilatórias da defesa – e Sócrates apresentou mais de 50 recursos, ao longo destes quase 11 anos. Se quisermos, agora, explicar a diferença entre ato lícito e ato ilícito, podemos socorrer-nos de uma imagem – necessariamente tosca, não passa de uma alegoria, mas, ainda assim, sugestiva. Imagine-se que alguém paga a uma equipa de futebol… para ganhar. O exemplo é conhecido e já foi muito discutido, em Portugal. Dois clubes defrontam-se e um terceiro clube, que é parte interessada, prefere que ganhe um deles. Se paga a determinados jogadores para que se empenhem mais, está a pedir-lhes que… cumpram a sua obrigação. Seriam, nesta imagem, corrompidos para cometerem um “ato lícito”. Mas se pagar a jogadores do outro clube para que percam, está a pedir-lhes que faltem ao seu dever. Seria um ato ilícito. O mesmo é válido quando se corrompe um autarca para que autorize a construção de uma urbanização em área de construção – ato lícito – ou em área protegida – ato ilícito. São exemplos grosseiros, mas que podem dar uma ideia mais aproximada do que estamos a falar.

O arguido queixa-se de que o Estado português alterou arbitrariamente a acusação, já depois de ela ter sido deduzida pelo MP. Se se provar que foi isto que aconteceu, ou não há julgamento ou o julgamento terá de ser muito diferente

Ora, foi isto mesmo que Sócrates foi apresentar ao Tribunal de Justiça da União Europeia, em Bruxelas: o arguido queixa-se de que o Estado português alterou arbitrariamente a acusação, já depois de ela ter sido deduzida pelo Ministério Público. Isto pode ser um imbróglio e, se se provar que foi isto que aconteceu, ou não há julgamento ou o julgamento terá de ser muito diferente.

Já as declarações de Amadeu Guerra, procurador-geral da República – que, aliás, acusando o toque, já teve necessidade de vir explicar-se… – foram insólitas. Segundo o PGR, Sócrates teria a “oportunidade” (ao contrário do que diz Sócrates, ele não usou o termo “a obrigação”…) de, em tribunal, “provar a sua inocência”. Sabemos o que ele quis dizer: é verdade que, em princípio, qualquer de nós que estivesse inocente, e tivesse disso a certeza, preferiria ser julgado rapidamente, em vez de, através de recursos, permanecer num limbo cívico e jurídico durante uma década, à espera das prescrições. Mas também é verdade, como diz, com toda a razão, José Sócrates, que cabe à Justiça provar a culpabilidade de um cidadão e não ao cidadão provar que está inocente. Com isto, Sócrates levanta um incidente, pondo em causa a equipa de acusação do MP, mas não deverá ter grande ganho de causa, porque, além de as declarações poderem ser contextualizadas, terá sempre de haver uma equipa do MP no julgamento.

Sobre o ataque cerrado à comunicação social, é extraordinário como um primeiro-ministro que dedicou boa parte do seu tempo a atacar jornais e a processar jornalistas – em processos que ou não foram para a frente ou perdeu –, que perseguiu telejornais (toda a gente se lembra do que fez ao Jornal de Sexta-Feira de Manuela Moura Guedes e do que disse desse “telejornal travestido”), que procurou usar a PT para controlar uma televisão, possa vir agora, sem se rir, dar lições de ética e de deontologia aos jornalistas. Em democracia, a denúncia dos crimes de colarinho-branco deve-se a três pilares fundamentais do Estado de direito democrático: primeiro, separação de poderes, com órgãos judiciários e judiciais independentes e a possibilidade de investigar, deter, julgar e, se for o caso, punir os titulares de cargos públicos; segundo, uma oposição livre e atuante, que fiscaliza e escrutina; terceiro, uma imprensa livre, que investiga e denuncia. Sem esses pilares, um político com as características pessoais e políticas de José Sócrates (e não me refiro ao cometimento de eventuais crimes) poderia tornar-se um líder de uma qualquer democracia dita “iliberal” – como as que conhecemos numa Hungria ou numa Turquia… – e estar ainda à frente dos destinos do País. É que, se repararmos bem, os alvos da ira de Sócrates são sempre estes três pilares: os procuradores e juízes, os partidos (“a direita”, neste caso e, até, o seu PS, com o qual se zangou) e a comunicação social. Não é por acaso.

A pressão da Administração Trump para cortes orçamentais em todos os setores da vida nos EUA pode traduzir-se na saída de mais de dois mil funcionários da NASA. De acordo com o Politico, “os que estão de saída incluem 1818 funcionários em missões como ciências ou voo espacial para humanos, com os restantes a desempenharem apoios de missão em áreas como IT, gestão de instalações ou financeira”.

Os despedimentos vão afetar os centros regionais, como o Kennedy Space Center ou o Johnson Space Center. Estas unidades desempenham funções críticas para as diversas missões, sendo o principal sítio para lançamento de foguetões ou a ‘casa’ para as operações de voos tripulados.

Segundo os rumores, estas saídas voluntárias ainda constituem apenas metade dos cortes exigidos pelo novo orçamento. A Administração requer um corte de mais de seis mil milhões de dólares à NASA, o que poderá colocar em perigo o planeamento e execução de missões como a estação lunar Gateway ou mesmo o envio de uma tripulação à Lua em 2026.

Ainda há a possibilidade de o Congresso alterar o orçamento e conseguir menos cortes para a NASA, mas se algumas destas saídas são completamente voluntárias, é expectável que os impactos já se estejam a fazer sentir e que sejam irreversíveis para já. Com o crescimento do setor espacial privado, é natural que ex-trabalhadores da NASA, com experiência, não tenham grandes dificuldades em encontrar trabalho.

A subida de 2,8% no preço das ações da Nvidia registado ontem fez com que a empresa ficasse avaliada acima dos quatro biliões de dólares, um feito histórico que mais nenhuma empresa, de nenhum outro setor atingiu. No fecho do mercado, o aumento ficou-se nos 1,8%, fazendo com que a empresa ficasse avaliada em ‘apenas’ 3,97 biliões de dólares.

Este comportamento de subida crescente justifica-se com o rápido crescimento do segmento da Inteligência Artificial, numa altura em que a procura pelos chips de elevado desempenho da Nvidia está em alta constante. Este aumento registado agora segue um início de ano algo atribulado, provocado pelo surgimento de concorrentes chineses como a DeepSeek que propõe um modelo mais barato e com um desempenho equiparado.

A Reuters destaca que a Nvidia atingiu o bilião de dólares pela primeira vez em junho de 2023 e triplicou a valorização em apenas um ano, mais rápido que a Apple e a Microsoft, as outras duas empresas dos EUA acima dos três biliões. Atualmente, a Microsoft está no número dois, com cada ação a valer 503,51 dólares e a empresa a estar avaliada em 3,74 biliões.

Os dados dos analistas mostram que a Nvidia vale atualmente mais do que o valor combinado dos mercados bolsistas do Canadá e México juntos e também mais do que todas as empresas em bolsa no Reino Unido.

No que toca a receitas, no primeiro trimestre fiscal a Nvidia registou 44,1 mil milhões de dólares e a expetativa para o segundo trimestre é que atinja os 45 mil milhões de dólares.