Visão
A escolha da palavra do ano 2024 pela Oxford University Press pode parecer, à partida, estranha e de tradução pouco intuitiva, mas constitui, como poucas vezes no passado, um poderoso grito de alerta em relação à realidade em que mergulhámos, coletivamente, nos últimos anos. Na verdade, a palavra que passará a figurar no dicionário de inglês de Oxford não é bem uma palavra, mas antes duas palavras. Resulta, por isso, numa expressão, enfática, que define bem o sintoma do estado a que chegámos, desde que as nossas mentes passaram a ser inundadas por um dilúvio, constante, de mensagens, textos, sons e imagens: brain rot, o que, em português, pode ser lido como “podridão do cérebro”, ou seja, a deterioração ou até mesmo putrefação das nossas capacidades racionais, devido ao consumo excessivo de conteúdos online, pouco ou nada estimulantes, mas que nos prendem a atenção, predominantemente nos muitos ecrãs em que vamos saltitando ao longo de cada dia.
A expressão brain rot, segundo os responsáveis da Universidade de Oxford, ganhou proeminência ao longo dos últimos meses como a melhor forma de descrever o impacto negativo provocado pelo “consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade, especialmente nas redes sociais”.
O problema, no entanto, é que esta podridão cerebral – que todos, de alguma maneira, já nos autodiagnosticámos em algum momento – não deriva apenas da baixa qualidade dos conteúdos. Ela é fruto também do tsunami avassalador de imagens, textos, sons e informações que banalizam o nosso quotidiano, sem qualquer hierarquia de importância e sem nos dar, sequer, espaço e tempo para avaliarmos aquilo a que devemos dedicar maior atenção, e ignorar o resto.
A nossa atenção é hoje disputada de forma permanente, por diversos canais e das mais diferentes formas. Vivemos na era da abundância da informação, mas estamos limitados na escolha. Por uma razão, que precisamos de encarar de frente: raramente temos mesmo liberdade de escolha. Estamos, isso sim, dependentes da procura, mas condicionados por aquilo que os algoritmos nos põem à frente dos olhos. Todos sabemos como é: podemos ter 300 canais de televisão, mas fazemos zapping sempre pela mesma dúzia deles. Assinamos um serviço de streaming que anuncia ter um catálogo de milhares de títulos, mas raramente vamos além das sugestões que nos exibem no ecrã inicial. No fundo, o mesmo que acontece no Spotify ou no YouTube, como também na rede social que sabemos ter milhares de milhões de membros, mas onde as nossas interações raramente ultrapassam as do grupo restrito do costume.
É preciso recuperar o poder de fazer escolhas. Não deixar que as redes sociais as façam por nós, com base nos algoritmos que não se preocupam connosco ou com as nossas vidas – apesar de supostamente conhecerem os nossos impulsos, a nossa curiosidade básica ou até as situações que nos fazem perder a cabeça e arrastar-nos para uma discussão. Os algoritmos servem precisamente para nos “apodrecer” o cérebro e, nessa condição, com os cliques que podemos gerar. E servem também para criar sempre novas e melhores artimanhas para capturarem o nosso cada vez mais reduzido tempo de atenção.
O problema já nem é o de deixarmos de saber distinguir entre o bom e o mau, entre o conteúdo de qualidade e o de lixo. É também, cada vez mais, a dificuldade que temos de saber distinguir entre o verdadeiro e o falso – aquilo de que se aproveitam tanto aqueles que só querem ganhar dinheiro com cliques como os que procuram, dessa forma, espalhar o caos e a desinformação.
“As redes sociais modificaram, de forma sub-reptícia, a nossa relação com a vida”, avisa Bruno Patino em Submersos, um livro com poucas páginas, mas muitas lições. “O seu modelo económico, principalmente publicitário, leva-as a extraírem-nos uma parte crescente do nosso tempo por todos os meios possíveis”, adverte, indicando o resultado: “dependência individual e polarização coletiva”, ou seja: “dependência para cada um de nós, conversa de combate para todos nós”.
Neste tempo, é cada vez mais importante e decisivo o papel de quem tem por função ser mediador de informação, sem estar dependente da ditadura dos algoritmos. O jornalismo tem essa função. E é precisamente por permitir fazer escolhas, fornecer algo que o público nem sequer sabia que existia ou dar visibilidade ao que estava escondido, que o jornalismo e a comunicação social livre e independente estão hoje sob a maior ameaça de sempre. É preciso acreditar, no entanto, que não estão condenados à “podridão cerebral”. Só há uma forma de a contrariar: restaurar a confiança na sua missão, nos seus métodos e no seu trabalho. E, até onde for possível, continuar a resistir.
OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR
Palavras-chave:
Palavras-chave:
Mark Rutte, secretário-geral da NATO, alertou esta quarta-feira para o apoio da Rússia ao programa nuclear da Coreia do Norte. “A guerra ilegal na Ucrânia ameaça-nos a todos. (…) Estes últimos desenvolvimentos podem destabilizar a península coreana e até ameaçar os Estados Unidos da América”, disse esta quarta-feira, em Bruxelas, após uma reunião dos chefes da diplomacia da Aliança Atlântica. O ex-primeiro-ministro dos Países Baixos referiu ainda que os Estados Unidos estão a sentir-se ameaçados com a situação.
O secretário-geral defende existirem provas de um “alinhamento cada vez maior” entre a China, Irão, Rússia e a Coreia do Norte, especialmente em matérias como o conflito com a Ucrânia. A aproximação entre os países, sobretudo entre o Kremlin e Pyongyang, passa ainda pelo apoio russo ao programa nuclear norte-coreano, numa espécie de “moeda de troca”. Em troca do apoio russo, a Coreia do Norte tem enviado tropas para as regiões fronteiriças entre a Ucrânia e a Rússia, para ajudar no combate na linha da frente. Já terão sido enviados entre 10 a 12 mil soldados para o Kremlin, o que o Ocidente considerou uma “grande escalada” do conflito.
Já a China e o Irão são acusados de enviar drones e outros equipamentos para a Rússia. Pequim terá ainda ajudado Moscovo a contornar as sanções ocidentais.
As declarações de Rutte estão a ser interpretadas pelos EUA como um esforço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) de tentar convencer Donald Trump da importância de continuar a apoiar Kiev. O presidente eleito tem criticado publicamente a atuação da NATO e já mostrou ter várias reservas em relação ao apoio à Ucrânia. É também conhecida a proximidade entre o republicano e Vladimir Putin.
Palavras-chave:
Há dois anos, quando trocou uma pequena cidade em New Hampshire, nos Estados Unidos, pelo Porto, Rose Larrivee “não sabia muito bem qual o negócio que queria ter”. A norte-americana de 37 anos e o companheiro vieram viver para a Europa “com o objetivo de mudar de vida” e viram em Portugal um “país fácil para viver, com um clima bom, onde as pessoas são simpáticas”.
Rose, que até então tinha trabalhado na gestão de empresas, “não parava de sonhar com uma livraria”, confessa-nos, entre sorrisos, atrás do balcão da Rosebud Bookshop, aberta desde agosto na Rua de Cedofeita, onde só tem livros em inglês. “O universo conduziu-me até aqui”, diz.

O sucesso tem sido visível no entra-e-sai de clientes, portugueses e estrangeiros a viver no Porto. Nos três primeiros meses de abertura, Rose vendeu 3 400 livros, contabiliza, apontando os títulos com mais saída: Intermezzo, de Sally Rooney, I Who Have Never Known Men, de Jacqueline Harpman, Small Things Like This, de Claire Keegan, Monstrilio, de Gerardo Sámano Córdova, e As Long as the Lemon Trees Grow, de Zoulfa Katouh. “Sabia que os portugueses liam em inglês, mas não imaginava que lessem tanto”, confessa, enquanto atende Bruna Saade Barros, estudante universitária de 23 anos que, entre vários livros, leva Os Miseráveis, de Victor Hugo, e admite “só ler em inglês”.

Entre as prateleiras de ficção, drama, história, filosofia, novela gráfica, natureza, infanto-juvenil, há duas dedicadas aos autores portugueses traduzidos para a língua inglesa, sobretudo José Saramago e Fernando Pessoa. Rose gostaria de fazer crescer a oferta, mas lamenta “a dificuldade em encontrar livros de escritores portugueses traduzidos”.
Depois de ter lançado, há uns dias, um clube de leitura – a sessão, à volta do livro The Full Moon Coffee Shop, de Mai Mochizuki, teve casa cheia –, Rose Larrivee planeia dar-lhe continuidade em encontros mensais a partir de janeiro.
Segunda mão À entrada da livraria da Rosebud há um carrinho de livros usados que revertem em crédito para a compra de livros novos
Rosebud Bookshop > R. de Cedofeita, 634, Porto > ter, qui 10h-13h30, 16h-19h, qua, sex-sáb 10h-12h30, 13h30-19h
Palavras-chave:
A Blocks RF50 é uma impressora 3D projetada para atender aos padrões rigorosos de indústrias como a aerospacial, moldagem de precisão, engenharia avançada ou desenvolvimento de produtos, sendo capaz de produzir componentes complexos e detalhados com grande precisão. O
Duarte Bragadesto, CEO da Blocks, afirma em comunicado que “desenhamos a Blocks RF50 para responder à crescente procura por tecnologia de impressão 3D de grande volume, rápida, adaptável e precisa em áreas de alto desempenho”. “Estamos especialmente orgulhosos do seu design inovador, otimizado para fornecer impressão de alto desempenho em setores como o aerospacial, design de produtos e engenharia”, complementa Alexandre Guerreiro, responsável tecnológico da empresa.
A RF50 tem uma área de construção de 50x50x50 cm, o que permite criar componentes grandes e complexos numa única impressão, ideal para setores como a indústria aeroespacial, automóvel e design industrial. Os utilizadores podem contar com velocidades até 600 mm/s e aceleração até 32000 mm/s2 e fluxo volumétrico de 30 mm3/s. A máquina consegue precisão micrométrica em vários materiais, está equipada com filtos HEPA e foi projetada para compatibilidade com o chão de fábrica. Na interface, podemos contar com facilidade de utilização e monitorização, controlo remoto e transmissão de vídeo para supervisão em tempo real.
A Blocks está já a aceitar encomendas para este modelo e prevê entregar as primeiras unidades a partir do primeiro trimestre de 2025.
Palavras-chave:
A Intel anunciou as novas placas gráficas Arc com processadores gráficos Battlemage. As Arc B570 e B580 prometem “a melhor performance por dólar” do segmento e destinam-se a quem procure montar uma boa máquina para jogar, mas que tenha orçamento limitado.
Estes modelos têm a mesma arquitetura de GPU Battlemage dos Intel Lunar Lake, mas com a vantagem de ter o dobro dos processadores gráficos, até 12 GB de memória de vídeo dedicada e até 190 W de consumo. Os testes da Intel revelam que a B580 tem um desempenho ligeiramente superior ao da Nvidia RTX 4060 e do que a AMD RX 7600, noticia o The Verge.
A utilização combinada da B580 com o Intel Core i9-14900K permite atingir um desempenho 10% mais rápido, em média, do que o conseguido pelas RTX 4060 a 60 fps em jogos como Cyberpunk 2077, Hogwarts Legacy, Returnal ou The Witcher 3.
Em comparação com as anteriores A750 da própria Intel, que custaram 289 dólares, mas agora podem ser encontradas a 180 dólares, o desempenho pode chegar a ser 24% mais rápido.
As novas placas gráficas vão custar 219 dólares (Arc B570) ou 249 dólares (Arc B580) e chegar ao mercado a 13 de dezembro e 16 de janeiro, respetivamente. Acer, ASRock, Gunnir, Sparkle, Maxsun e Onix são alguns dos fabricantes que vão ter este modelo para venda, além da própria Intel.
Leia a descrição completa feita para Intel na sua apresentação.
A China bloqueou a exportação de gálio, germânio e antimónio para os EUA, como medida de retaliação pelas restrições aplicadas pelos EUA. Apesar de algumas transações de metais estarem já bloqueadas desde outubro, a informação oficial chega agora, um dia depois de os EUA anunciarem que iam apertar ainda mais o bloqueio, nomeadamente nos chips de computadores.
Pequim afirma que o foco do seu bloqueio está em metais que têm “potenciais aplicações militares” e incide sobre “itens de uso duplo”, ou seja, que podem ser usados por militares e civis. Em sentido inverso, também os EUA estão a controlar as exportações de grafite, embora ainda não as tenham proibido completamente.
Os metais selecionados por Pequim podem ser usados para criar semicondutores, cabos de fibra ótica e células solares. Já o antimónio pode ser encontrado em cápsulas de caçadeira, armas nucleares, óculos de visão noturna e baterias.
Considerando que a China é responsável por 48% do antimónio, 59,2% do germânio refinado e 98,8% do gálio refinado produzidos e minerados em todo o mundo, é fácil perceber que esta suspensão das exportações tem um impacto profundo no mercado, obrigando os EUA a encontrar novas fontes e levando também à subida dos preços. Segundo o Engadget, o trióxido de antimónio viu o seu preço ser aumentado 228% desde o início do ano.
No relatório divulgado esta quarta-feira, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) mantém nos 2% a estimativa do crescimento da economia portuguesa para 2025 mas revê em alta a previsão para este ano, para os 1,7 por cento, contra os 1,6% apresentados em maio. Apesar desta revisão em alta, a previsão da OCDE continua abaixo da projeção do Governo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, que é de 1,8%, bem como para o próximo ano, de 2,1 por cento.
O Economic Outlook aponta para o aumento do rendimento disponível e do consumo privado, nomeadamente com as reduções de impostos, mas indica, por outro lado, uma moderação ao nível das receitas do turismo e a manutenção da escassez de mão-de-obra.
“O forte crescimento salarial e as elevadas taxas de emprego vão aumentar o consumo, especialmente à medida que a inflação e os custos do serviço da dívida diminuem”, prevê a OCDE, admitindo que ainda que os cortes de impostos, aumento das transferências sociais e os salários públicos mais elevados apoiem os rendimentos das famílias, “também abrandarão o declínio da inflação”.
Entre os riscos para estas projeções encontra-se uma nova diminuição da taxa de poupança das famílias e uma evolução salarial mais forte do que o esperado, que “fortaleceriam o consumo, mas também alimentariam a inflação”.
Por outro lado, a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “poderá materializar-se mais lentamente do que o previsto, implicando um menor crescimento e inflação mais baixa”.