A família de Carlos Eduardo não se conforma com a morte do brasileiro, de apenas 28 anos, há uma semana, no incêndio de Albergaria-a-Velha. À VISÃO, Juliana Martins Fonseca, a namorada do homem conhecido como “Chantilly Papai”, admite que continua a ter “muitas dúvidas sobre o que aconteceu” naquele dia.

“Compreendo que havia caos e pânico, mas também sei que ele estava acompanhado por pessoas mais experientes em situações daquelas. Não quero culpar ninguém… Mas não posso deixar de me questionar porque é que o deixaram arriscar? Se era um grupo, porque é que o deixaram para trás? Porque é que ninguém o ajudou?”, questiona.

Carlos Eduardo partilhava casa, há pouco tempo, com Juliana Martins Fonseca, na localidade de Mourisca do Vouga, no município de Águeda, a poucos quilómetros de onde acabaria por perder a vida. Há três meses tinha começado a trabalhar na empresa Bioflorestal, com sede em Alcácer do Sal. A portuguesa, de 39 anos, conta como ambos planeavam “refazer a vida juntos”. “O Carlos estava muito feliz, estava tudo a endireitar-se. Agora, já não será possível…”, lamenta.

Logo ao início da manhã de segunda-feira, dia 16, Carlos Eduardo integrava um grupo de trabalhadores que se deslocou a uma zona florestal, com vista a recuperar alguma maquinaria que se encontrava numa zona afetada pelo incêndio. “Por volta das 07h20, ele enviou-me alguns vídeos com o fogo já próximo das máquinas. Fiquei muito preocupada”, confessa Juliana Martins Fonseca

As horas passaram sem novidades, até que, ao início da tarde, um colega do namorado telefonou-lhe para informar que “alguma coisa não tinha corrido bem”. A meio da tarde, a Polícia Judiciária deslocou-se à sua residência para informá-la que Carlos Eduardo tinha morrido no fogo. “A empresa só me contactou ao final da tarde, por volta das 18h00”, acrescenta.

“É tudo muito pouco claro. O que me disseram é que o Carlos entrou em pânico, que correu para uma carrinha, enquanto os colegas correram para o outro lado. Andaram lá aos círculos, dentro dos carros, mas nunca mais viram o Carlos”, relata.

PJ investiga o que aconteceu

A PJ assumiu, entretanto, a investigação desta ocorrência. A VISÃO apurou que, neste momento, há versões contraditórias, sobre o número de trabalhadores e veículos da empresa envolvidos nesta situação. Juliana Martins Fonseca apela “a que se saiba toda a verdade sobre o que aconteceu”. “O Carlos merece que seja tudo esclarecido…”, diz.

O que se sabe, para já, é isto: Carlos Eduardo foi encontrado, sem vida, por volta das 15h30 daquele dia, na zona florestal do Sobreiro, no concelho de Albergaria-a-Velha. O seu corpo estava parcialmente carbonizado, mas reconhecível, sabe a VISÃO. A autópsia foi realizada no Instituto Nacional de Medicina Legal. As cerimónias fúnebres decorreram no passado sábado. Carlos Eduardo foi cremado e as suas cinzas ficaram a cargo de uma das irmãs. Os restos mortais de Carlos devem agora ser transportados para a sua terra-natal.

Carlos Eduardo nasceu na favela do Coque, na periferia pobre de Recife, no Nordeste brasileiro. Era o mais novo de 16 irmãos. O brasileiro vivia em Portugal há cinco anos, para onde imigrou à procura de uma vida melhor. Fixou-se na região de Aveiro. Era pai de uma filha pequena, com apenas um ano, que vive com a família da mãe, em Arouca.

Nas redes sociais, era uma figura popular, conhecido pela alcunha de “Chantilly Papai” – que conquistou por atirar chantily a pessoas em festas –, seguido por milhares de internautas. A paixão pelo samba tornou-o figura conhecida do Carnaval de Ovar. No Instagram, publicava fotos e vídeos de festas, viagens ou a vender bolas de Berlim, na Praia da Barra. Tinha ainda um canal de Youtube. Sonhava ser músico e bailarino. O seu maior sucesso (“Chantilly Papai na dança do Egito”) integra a playlist da Rádio Regional de Arouca.

Nos incêndios da última semana, arderam mais de 124 mil hectares em Portugal continental. Os fogos provocaram sete mortos e mais de 170 feridos, números que devolvem à memória a tragédia de Pedrogão Grande, em 2017. Além de Carlos Eduardo, também os bombeiros João Silva (da corporação de São Mamede de Infesta) e Paulo Santos, Susana Carvalho e Sónia Melo (de Vila Nova de Oliveirinha, Tábua) perderam a vida.

A Qualcomm terá manifestado interesse em comprar a Intel “nos últimos dias” revelaram fontes próximas. A histórica fabricante de chips está a passar por dificuldades, anunciou a intenção de despedir mais 15 mil funcionários no mês passado e está assim numa situação de vulnerabilidade.

The Wall Street Journal, que avançou com a notícia da alegada intenção da compra, revela que o negócio está “longe de estar confirmado” ao mesmo tempo que sublinha que, a concretizar-se, poderá dar ímpeto à indústria dos chips dos EUA. As autoridades financeiras teriam de garantir que a fusão entre Qualcomm e Intel não colocaria em perigo a regulação do mercado antes de darem a sua aprovação.

A Intel registou perdas de 1,6 mil milhões de dólares no último trimestre e de 2,8 mil milhões no anterior. Para já, a estratégia da empresa passa por dividir o negócio, mas isso poderá não ser suficiente. Nem Intel, nem Qualcomm confirmaram este possível negócio.

A obra de Jorge Amado que mais me impressionou é também das menos conhecidas do autor e uma das primeiras da sua carreira.

Apresentada numa trilogia e intitulada Os Subterrâneos da Liberdade, refere uma realidade muito distante de Gabriela, Tieta ou mesmo D. Flor.

Num tempo de ditadura e de migrações internas forçadas pela avidez dos homens e a crueldade da natureza, Jorge Amado decide deixar de lado qualquer samba e pintar com a cruel luz da realidade os dramas humanos.

Li-a há muitos anos e a memória já não é o que era, mas duas cenas fixaram-se na minha mente.

A primeira é a da família, que, após semanas de viagem a alimentarem-se de ervas raquíticas, lutando com outros grupos por migalhas que lhes pudessem mitigar a fome, já sem esperança e depois de verem morrer os mais fracos por inanição, optam por atrair o animal de estimação da pequenita da família, um gato, e fazer dele a refeição que lhes concede mais uns dias de forças.

A outra cena passa-se num calabouço da ditadura, onde uma mulher que acaba de perder um recém-nascido, amamenta um moribundo atirado para as celas do esquecimento.

Durante cerca de um ano, convivi com sobreviventes da guerra dos Balcãs. Uma guerra fratricida, tão cruel e desumana que a comunidade internacional decidiu esquecer. Os relatos, quer de bósnios , quer de sérvios, kosovares… São terríficos e coincidem numa realidade: a fome fez desaparecer das cidades sitiadas os animais errantes que deambulavam pelas ruas.

Atos de canibalismo recente em locais onde a guerra e a fome grassam são relatados por quem assistiu, mas relegados para o esquecimento da ficção, pois só assim conseguimos viver sem uma mortal vergonha.

Outros há que fizeram filmes e são olhados como heróicos. O caso da equipa de rugby que caiu nos Andes nos anos 70 e cujos sobreviventes se viram obrigados a comer os seus companheiros mortos, a fim de poderem ter uma chance de serem recolhidos do local inóspito onde tinham caído.

O elemento comum de todas estas histórias extremas e arrepiantes é um só: a fome! A fome é o gatilho que faz de qualquer ser, humano ou animal, um predador

O que Trump deixa no ar é a existência duma espécie de cabala, da existência dum objetivo claro nestas pessoas que é… roubarem os animais de estimação para comerem

Pensava eu que já tinha ouvido todos os argumentos contra o fenómeno migratório, mas eis que o senhor Trump, que ainda não se apercebeu que se candidata à presidência dum país criado por imigrantes europeus, saca da cartola a história dos migrantes que vêm para comer os animais de estimação dos pacatos cidadãos de Springfield.

Seria hilariante se não fosse grotesco, perigoso, grave e… triste.

O que Trump deixa no ar é a existência duma espécie de cabala, da existência dum objetivo claro nestas pessoas que é… roubarem os animais de estimação para comerem.

Partindo do princípio que estes animais se encontram ao abrigo das casas dos seus donos, os “terríveis delinquentes” não entram para roubar o frango do frigorífico, o leite da prateleira ou a pie feita pela mãe de família. Tão pouco querem saber de levar o ouro ou o dinheiro. Não! O que querem mesmo é saborear o Tareco, o Bobby ou o canário.

Ou seja, segundo o senhor Trump, estaremos perante um outro objetivo migratório: a imigração gourmet! É no mínimo insólito.

Para além de ter sido desmentido pelas autoridades do Ohio e de Springfield, muito gostava de saber como é possível identificar quem possa praticar tais atos como sendo imigrantes!

É que cenas de pessoas vasculhando o lixo alheio à procura de algo que lhes permita sobreviver, são – infelizmente – o quotidiano das cidades de todos os países e sobretudo dos ditos civilizados.

As grandes cidades da América têm um submundo com milhares de sem abrigo, de pessoas fora de todos os radares estatísticos, a maioria nascida e criada em solo americano. Vemo-los à procura de comida nos caixotes do lixo e não me surpreende nada que se alimentem de ratazanas, gatos e cães errantes.

Um parêntesis neste raciocínio que serve para introduzir o exemplo português que se lhe seguiu.

Os animais podem ser classificados em selvagens, os que andam na selva e não podem ser domesticados, os silvestres, que embora possam e nalguns casos tenham sido domesticados, por abandono ou outra razão, deambulam pelas cidades sem dono e os domésticos nos quais se incluem os animais de companhia que convivem e vivem com os humanos.

Assim, surpreende ver um deputado do Chega que tem obrigação de saber tudo isto, vir a reboque do mentor norte-americano, dizer que por cá se passa o mesmo.

Para além de ter sido desmentido e de os seus vídeos serem bastante dúbios porquanto não se conhece o local onde são feitos nem data, como cidadã, choca-me muito mais o facto de alguém, um ser humano como eu, ter que recorrer a esse tipo de animal (e outros como as repugnantes ratazanas que em algumas famílias já são animais de estimação como o são alguns répteis) para matar a fome, do que o ato em si.

Que não haja dúvidas e que não se diga que defendo matar esses animais para comer. Logo eu que tenho três gatos e sofri horrores ainda há bem pouco tempo com a morte do meu cão!

Mas… qual de nós se se encontrasse numa situação extrema o não faria?

Bem, primeiro, roubaria certamente nos supermercados, entraria nas casas e assaltaria a despensa… Mas qual de nós para sobreviver não seria capaz de matar um gato ou um cão para se alimentar?

E não é por sermos ou deixarmos de ser imigrantes. É por FOME! Esse gatilho que despoleta o pior do ser humano.

A indignação de Trump e do senhor do Chega não deveria ser que supostos imigrantes (a cor não é documento, meus caros!) cometam tais atos.

O que é terrível é que haja pessoas, PESSOAS!, que tenham necessidade de recorrer a esse extremo para sobreviver.

E mais que apontar e fazer o diagnóstico da situação deveriam, porque esse é realmente o seu dever enquanto políticos (?!), apresentar soluções para que ninguém sofra a indignidade e o horror de morrer por não ter o que comer.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O conceito de desafio (challenge, na língua Inglesa) tem sido amplamente divulgado e discutido academicamente e socialmente. Em dicionários, um desafio é descrito como uma “tarefa ou situação nova ou difícil, que testa a habilidade e capacidades de um indivíduo”. Ou ainda “uma tarefa ou problema que envolve incerteza e que requer capacidades, habilidade, motivação e conhecimento da pessoa que o procura resolver”.

Indo muito para lá do seu verdadeiro significado, a palavra challenge (muito mais que o seu sinónimo português) tem sido utilizada em inúmeros contextos incluindo culinários e enológicos, desportivos, académicos e até de bem estar e motivação pessoal, entre muitos outros.

Mas, para cientistas, desafios são motivadores e alvo de atenção. Descobrir formas de energia alternativas, de melhorar a nossa qualidade de vida pessoal e comunitária, de nos deslocarmos e de comunicarmos mais eficientemente, entre tantas outras, são questões e desafios presentes na cabeça de tantos(as) cientistas.

É necessário demonstrar causalidade (exposição a fatores específicos e maior incidência de certos cancros) e revelar os mecanismos moleculares subjacentes à exposição a tais fatores que permitam compreender como e porquê o aumento dos casos de cancro ocorre e o que poderá ser feito para desenvolver estratégias que protejam as populações em risco

No que à investigação em oncologia diz respeito, há verdadeiros desafios que permanecem por resolver. Um exercício importante começa por ser a sua identificação, o que procurarei fazer nas próximas linhas (evitando ser exaustivo e por isso escolhendo somente dois).

Algumas células têm a capacidade de mudar de “identidade”, tornando-se temporariamente noutro tipo celular, de forma transitória. Esta capacidade, denominada “plasticidade celular” (isto é, conseguirem mudar a sua identidade), garante a estabilidade celular perante insultos externos ou ambientais, nomeadamente durante a reparação dos tecidos que ocorre após um dano (como a cicatrização de feridas, seguida de reparação tecidual). Mas a plasticidade em células cancerígenas pode contribuir para a progressão tumoral e a resistência terapêutica. Em concreto, células cancerígenas expostas a diferentes fármacos conseguem mudar a sua identidade, para um tipo celular resistente à ação desses fármacos. Exemplos desta plasticidade perante exposição terapêutica são frequentes. Uma vez terminado o ciclo de tratamento, as células podem voltar à sua identidade original, promovendo a expansão do tumor e a sua progressão (piorando o prognóstico do(a) doente). A plasticidade em células cancerígenas representa um desafio à eficácia das terapias disponíveis, mas, até à data, os mecanismos envolvidos neste processo são amplamente desconhecidos. É assim necessário compreender de que forma as células conseguem mudar de identidade molecular e celular, que fatores externos e que terapias resultam em maior plasticidade celular e o que pode ser feito para impedir este processo.

Desde os anos 50 do século XX que se observa um claro aumento de certos tipos de cancro em adultos com menos de 50 anos, confirmado em muitos estudos e publicações científicas e clínico-epidemiológicas. Esta clara tendência não pode ser explicada apenas pelo aumento de programas de rastreio, uma vez que a incidência de cancros “de início precoce” como leucemias, cancro da mama e do intestino (cólon), tem aumentado em países com disparidade na implementação de programas de rastreio. Uma possível explicação poderá ser a maior exposição – por parte das gerações mais novas – a fatores ambientais que aumentam o risco de desenvolver cancro, incluindo dieta, menor atividade física, obesidade, consumo de álcool, pior qualidade de sono, maior stress, poluição ambiental e ingestão de microplásticos, entre outros. Mas o desafio, científico e clínico, permanece: é necessário demonstrar causalidade (exposição a fatores específicos e maior incidência de certos cancros) e revelar os mecanismos moleculares subjacentes à exposição a tais fatores que permitam compreender como e porquê o aumento dos casos de cancro ocorre e o que poderá ser feito para desenvolver estratégias que protejam as populações em risco.

Escolhi dois exemplos de desafios científicos e clínicos ainda por resolver, na área da Oncologia.

Outros desafios, como a dificuldade no acesso aos melhores diagnósticos e tratamentos disponíveis em certas regiões do mundo e para certos grupos étnicos, bem como a dificuldade em diagnosticar e em tratar a formação de metástases, são também alvo de muita atenção pela comunidade científica. E representam desafios clinicamente importantes.

Desafios representam problemas e geram incerteza, mas encontrar soluções é – afinal – o que os(as) cientistas sabem fazer.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Ponto prévio: sim, nas democracias, o povo é soberano. E uma boa parte do povo anda com medo do futuro (e dos “outros”) um pouco por todo o lado.

No quartel-general do partido SPD em Potsdam, Alemanha, ontem ao final do dia respirou-se de alívio. Muitas sondagens davam como possível uma vitória do AfD, de extrema-direita, no estado de Brandenburgo mas isso não veio a confirmar-se. Mesmo em termos simbólicos esse teria sido um momento muito marcante não só para a Alemanha mas para toda a União Europeia.

Foi em Potsdam que, entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, se definiu a ordem mundial pós-guerra. Estaline, Harry Truman e Churchill (substituído a meio pelo trabalhista Clement Attlee, que entretanto venceu as eleições em Inglaterra) encontraram-se ali para, na Conferência de Potsdam, construírem sobre as ruínas do imperialismo nazi. Brandenburgo é o estado que rodeia a capital da Alemanha, Berlim, fez parte da RDA e desde a reunificação, em 1990, foi sempre governado pelos sociais-democratas do SPD. Nas eleições deste domingo a vitória foi tangencial: o partido do chanceler Olaf Scholz teve 30,9% dos votos e o AfD 29,2%. Ambos aumentaram em relação às eleições de 2019 e cantaram vitória (os líderes do partido de extrema-direita falaram de um “enorme sucesso”). As eleições foram muito participadas (há cinco anos votaram 61% dos eleitores e agora 73%) e o voto útil parece ter tido um papel muito importante nos resultados finais. Segundo a agência Reuters, cerca de três quartos dos que votaram no SPD não o fizeram com grande convicção mas sim com o objetivo de afastar a AfD do primeiro lugar. Recorde-se que no início deste mês, a AfD venceu mesmo as eleições estaduais na Turíngia e ficou em segundo na Saxónia. As próximas eleições gerais no país mais populoso e com a economia mais forte da União Europeia estão marcadas para o final de setembro de 2025.

Um pouco por todo o mundo democrático há um tema que tem um grande impacto nos resultados eleitorais e na subida dos partidos populistas conservadores e de extrema-direita: a imigração. Esse é, aliás, um dos assuntos sempre presentes na renhida campanha eleitoral que opõe, nos EUA, Kamala Harris e Donald Trump (que aposta forte na retórica anti-imigração).

Para não cairmos num mundo de nacionalismos fechados, hostis e egoístas – num momento em que na ONU se fala de “multilateralismo” e de uma “Pacto para o Futuro” – a integração social e económica dos imigrantes é um dos grandes desafios do nosso tempo. Também em Portugal, onde, como nunca antes, se levantam vozes contra a “imigração excessiva” (esse é mesmo o mote de uma  “manifestação contra a imigração descontrolada e a insegurança nas ruas” convocada pelo Chega para o próximo sábado, 28, em Lisboa).

No recentemente divulgado Relatório de Migrações e Asilo 2023 (feito pela AIMA, Agência para a Integração, Migrações e Asilo) dava-se conta de que têm autorização de residência em Portugal 1 044 606 cidadãos estrangeiros (um aumento de 33,6% em comparação com 2022). E um estudo recente da  Faculdade de Economia da Universidade do Porto afirmava que é preciso que esse número aumente ainda mais nos próximos anos para garantir o crescimento da economia nacional, contrariando a ideia de que os imigrantes  “empurram os nacionais para fora do mercado de trabalho” e sublinhando que “uma economia mais dinâmica e um maior nível de vida pressupõem que Portugal se organize para acolher um fluxo ainda maior de imigrantes no futuro de forma controlada.” O grande desafio é mesmo dar condições dignas de vida aos que chegam a Portugal para trabalhar (e aí, a habitação é um dos grandes problemas). Sem medos injustificados e com esperança no futuro de todos.   

(Este artigo faz parte da newsletter VISÃO DO DIA, de 23 de setembro)

Na última sexta-feira, os advogados da X no Brasil informaram o Supremo Tribunal do país de que estavam a cumprir todos os pedidos feitos pelas autoridades. Os representantes legais esperam que, dessa forma, a rede social X possa voltar a operar no Brasil dentro de poucos dias. O Supremo Tribunal confirmou no sábado que recebeu estas indicações dos advogados, mas que nem toda a documentação necessária foi apresentada e estipulou um prazo de cinco dias para que tal seja feito.

Recorde-se que a X estava obrigada a remover certos perfis acusados de estar a espalhar desinformação, a pagar multas e a ter representação legal no Brasil, por ordem do juiz do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes.

Na Índia e Turquia, a X já tinha concordado em censurar algumas publicações, mas no Brasil e Austrália, o próprio Elon Musk veio discordar publicamente das ordens governamentais e acusar as autoridades locais de censura. Desde o bloqueio da X no Brasil, muitos dos 20 milhões de utilizadores da rede recorreram a plataformas alternativas como a Bluesky ou a Threads, do grupo Meta. Além disso, o Supremo Tribunal retirou dois milhões de dólares da Starlink para pagar multas que a X, do mesmo grupo, tinha recusado pagar.

Muitas das contas que o Tribunal determinou que fossem removidas pertencem à extrema-direita e já tinham publicamente elogiado Musk pela resistência às ordens. Agora, muitas criticam o recuo do empresário norte-americano. Paulo Figueiredo, uma figura da extrema-direita e cuja conta do X estava entre as que o Tribunal determinou serem bloqueadas, escreveu que Musk “vergou-se” na altura em que se soube que a empresa contratara advogados no Brasil, num sinal de que se preparava para cumprir as ordens legais. Figueiredo escreveu que “é um dia muito triste para a liberdade de expressão”, mas, mais tarde, revelou que percebia a posição de Musk e que lhe agradecia “os seus esforços”, avança o The New York Times.

Alexandre de Moraes é uma das figuras mais polarizadoras do Brasil, tendo já pedido o bloqueio de pelo menos 300 perfis de redes sociais desde 2019. O juiz determina estes bloqueios em segredo de justiça e defende que está a proibir quem esteja a atacar as instituições democráticas do Brasil. No caso da X, Moraes afirmou que Musk pretendia “permitir a divulgação massiva de desinformação, discurso de ódio e ataques à democracia”.

Durante o ano, Musk publicou insultos ao juiz, apelou à sua prisão e assumiu que iria desafiar sempre as suas ordens, encerrando os escritórios no Brasil para poder evitar consequências. Agora, ao cabo de algumas semanas e de ter sentido o impacto económico, o executivo teve mesmo de recuar e ceder.

A viagem de demonstração foi curta, de apenas alguns minutos, mas num ambiente urbano com alguma complexidade. A versão do e-ATAK, da Karsan, com tecnologia de condução autónoma lidou bem com intersecções, rotundas, passadeiras e até com algumas manobras menos cuidadosas de alguns condutores. Como um carro que saiu do lugar de estacionamento repentinamente, e sem fazer qualquer sinal, e um outro carro que fez uma curva ‘fora de mão’. O e-ATAK reagiu atempadamente e de modo suave, dando sempre prioridade à segurança. Num ecrã montado no interior foi apresentado o que o autocarro ‘via’, incluindo as vias, os sinais de trânsito, os outros veículos e os peões. Um sistema que também indica, através de cores linhas e animações, o nível de risco quando é necessário lidar com obstáculos e até o percurso previsto para outros veículos e peões. Tudo em tempo real.

Esta ‘visão’ do Karsan e-ATAK resulta de um sistema de fusão de sensores. Ou seja, um sistema que obtém informação através de diferentes tecnologias: radares, câmaras e sistemas LIDAR (um género de radares que usam lasers para criar uma representação 3D do ambiente). Segundo nos foi explicado por Ali Ihsan Danisman, diretor de comunicações da Adastec, que desenvolve a plataforma de condução autónoma usada pela Karsan, “os dados recolhidos pelos diversos sensores são todos usados no processamento feito pelo sistema, mas a informação gerada pelos LIDAR tem prioridade sobre as restantes”. O Karsan e-ATAK utiliza cinco LIDAR: um de grande dimensão e resolução, montado no topo do autocarro, e outros quatro instalados em cada um dos cantos do e-ATAK.

Nas viagens de demonstração, os passageiros puderam ver, em tempo real, como funciona o software que gere a condução autónoma

Num dos painéis de discussão que decorreram no ENVE (Encontro Nacional de Veículos Elétricos), Ali Ihsan defendeu que, a médio prazo, a aplicação da condução autónoma a autocarros vai permitir poupanças significativas, relacionadas com os motoristas e maior eficiência da condução, “bem como reduzir significativamente os acidentes e melhorar o conforto a bordo para os passageiros”.  

De acordo com os representantes da Karsan, o e-ATAK demonstrado permite condução autónoma de nível 4 e deverá começar a operar, sem motorista, em alguns países em 2025. A solução proposta pela Karsan e pela Adastec prevê operadores remotos que podem assumir controlo do autocarro em situações em que o autocarro fique ‘preso’.

A Karsan forneceu o primeiro autocarro elétrico à Parques Tejo, que se estabeleceu recentemente como operador de transportes públicos em Oeiras.