Para já é uma melhoria modesta na tolerância ao calor, mas a experiência dos investigadores da Universidade de Newcastle mostra que é possível criar coral seletivamente, de forma a melhorar as suas propriedades. Os cientistas do Coralassist Lab daquela universidade explicam que as rápidas alterações climáticas resultantes das emissões globais de gases de estufa exigem que dotemos o coral de maior oportunidade de adaptação e capacidade de resistência, para que este possa sobreviver em águas mais quentes.

O trabalho, liderado por James Guest, com o investimento do European Research Council, contou com a participação de várias outras universidades internacionais. Além da maior resistência do coral, que não é apontada como uma solução milagrosa, os cientistas pedem e recomendam que haja “em paralelo, uma rápida redução das emissões globais de gases de estufa”.

Guest afirma que “os resultados mostram que a criação seletiva pode ser uma ferramenta viável para aumentar a resiliência da população [de coral]. Ainda assim, já muitos desafios que precisam de ser superados. Quantos corais cultivados são necessários para beneficiar as população selvagens? Podemos garantir que não há sacrifícios (as evidências até agora sugerem que não é um risco grande)? Como podemos evitar a diluição dos traços selecionados quando os adicionarmos lá fora? Como podemos maximizar as respostas à seleção?”. Dados os ganhos moderados de resistência, o cientista pede também uma rápida e urgente ação climática.

A criação seletiva é praticada há milhares de anos pelos humanos para escolher e colher plantas e animais com características mais desejáveis. Esta equipa aplicou o mesmo conceito para a conservação da natureza, criando corais mais resistentes e com uma maior probabilidade de sobrevivência em águas mais quentes. Nos testes, foram avaliados dois cenários: um com uma exposição curta a um aquecimento mais intenso (dez dias a mais 3,5 graus centígrados) e outro com uma exposição mais longa (um mês) a um aquecimento mais ligeiro (2,5 graus).

Como detalhado em comunicado, os cientistas concluem que selecionar colónias-parente para tolerâncias mais elevadas do que para tolerâncias menores levava a uma maior tolerância das colónias mais jovens, conseguindo-se em teoria uma resistência de mais um grau por semana dentro de uma geração. Ainda assim, o ganho não é suficiente para fazer face ao ritmo do aquecimento global.

Adriana Humanes, que também participou no estudo, salienta que “há um trabalho considerável antes de a criação seletiva poder ser implementada com sucesso. Um entendimento mais profundo é necessário para determinar que traços devem ser prioritizados e como estes estão geneticamente correlacionados”.

Ainda assim, mesmo com ganhos modestos, o trabalho sugere que é possível criar seletivamente coral adulto para uma maior sobrevivência em águas mais quentes.

Numa altura em que se discute se Lisboa não terá restaurantes a mais, alguns mantêm-se – mesmo quando se reinventam – e tentam marcar ainda mais firme a sua pegada no panorama nacional. O grupo Paradigma, criado por Diogo Figueiredo, aconteceu quase por um acaso, mas é possível que se torne num caso de estudo muito em breve. Para o fundador e CEO do grupo, uma coisa é certa: só é possível fazer resultar porque se sabe muito bem o que se quer. E porque se faz da História o futuro de cada restaurante.

É o caso do Café do Paço, que abriu em 2009 em Lisboa e que rapidamente se tornou um lugar de eleição de jornalistas (esta incluída), políticos e lisboetas que apreciam refeições tardias. A discrição do lugar, os bifes de qualidade e a cozinha aberta até de madrugada, sob a batuta da dona Alice, tornaram o restaurante num espaço a frequentar. Agora, os donos já não são o Sr. Ismael e o Sr. Antunes, mas o grupo Paradigma.

Diogo Figueiredo começou por trabalhar numa agência de publicidade, mas rapidamente se apercebeu de que o que fazia sentido era trabalhar um projeto desde o início do seu conceito. Em 2020, a sociedade gestora de investimentos que criou e coordena já detinha um portefólio diversificado, onde a hospitalidade começou a ganhar importância.

“Não precisamos de fazer um restaurante de raiz, mas temos de trabalhar o seu conceito desde o início”, contou à EXAME, há uns meses, durante um almoço no Lota Sea&Fire – um dos que nasceu pelas mãos do Paradigma.

Adquirir projetos já existentes mas que se diferenciem e continuem a fazer sentido em termos económicos e de conceito e criar projetos novos são duas atividades que coabitam neste grupo que ganhou imagem e identidade próprias neste mês de outubro. Atualmente, o Paradigma inclui o já referido Café do Paço, o ISCO – Pão e Vinho (uma padaria de bairro em Alvalade), a marca Dona by Hugo Candeias, o Canalha, o Canalha Comporta, o Vincent Farges – Time Out Market Lisboa, o Ofício e, naturalmente, o Lota Sea&Fire, que pretende recuperar o ambiente das antigas marisqueiras onde famílias e amigos se juntavam para almoços longos ou apenas uma imperial ao balcão. Pelo meio ainda pode haver projetos pontuais, que incluam arte. Com o Paradigma, a única certeza é de que gostam de quebrar o paradigma.

Com um investimento global que já superou os €3 milhões, o grupo distingue-se por acompanhar todo o processo de criação – ou recuperação – de um projeto desde a ideia inicial até ao menu que é colocado à disposição do consumidor, passando pela decoração do espaço, toda a identidade gráfica e a escolha dos colaboradores.

Diogo Figueiredo, fundador e CEO do grupo Paradigma

Com muitos dos recursos centralizados e a servir as várias marcas, “otimiza-se o investimento, somos mais eficientes e garantimos a sustentabilidade do negócio”, continua Diogo. Por isso, não estranhe se visitar o site do grupo e encontrar ofertas de emprego para cozinheiros, diretores criativos ou paid media specialists. Aos 36 anos, o CEO do grupo pode ser presença discreta no mundo da restauração, mas dificilmente o trabalho passa despercebido. Até porque com mais de 100 postos de trabalho criados, numa altura em que a restauração atravessa uma significativa crise, não podia ser de outra forma.

 Até agora, contaria durante o mesmo almoço, não lhe fazia sentido apresentar o grupo enquanto tal. Era preciso que as marcas que geria mostrassem o que valiam, para depois se poder colocar o chapéu sem lhes tirar peso. Agora, com o grupo consolidado, é hora de o fazer crescer. Aliás, a testar a possibilidade de expansão além Lisboa, o Paradigma colocou um pé na Comporta com o Canalha Comporta, um espaço pop-up que funcionou durante o verão.

O CEO do grupo não tem pressa. “Queremos crescer, mas com consistência e sustentabilidade”. Todos os projetos são avaliados criteriosamente tendo em conta os seus vários ângulos, e cada decisão demora a ser tomada. Diogo gosta de ouvir, e por isso mesmo está, quase sempre, em cima da mesa a possibilidade de abertura de capital a novos sócios, “criteriosamente selecionados”, que manifestem interesse no projeto e que, pela sua experiência e perfil, possam aportar valor.

Recorrer a asteroides para a produção de comida? A ideia até pode parecer – no mínimo – incomum, mas está a ser estudada por um grupo de cientistas do Instituto para a Exploração da Terra e do Espaço da Universidade de Western, no Canadá.

A investigação, publicada recentemente na revista The International Journal of Astrobiology, sugere que os hidrocarbonetos – compostos de carbono presentes nos asteroides – podem ser transformados em alimentos, semelhantes a iogurtes ou batidos, que podem vir a ser consumidos por astronautas.

A transformação envolve a decomposição do asteroide – através de um processo químico e físico – que resulta em componentes orgânicos – os hidrocarbonetos – utilizados depois para alimentar bactérias. Após comerem, as bactérias crescem e tornam-se o próprio alimento – designado por biomassa – com propriedades nutricionais semelhantes às dos alimentos que comemos todos os dias.

A ideia teve origem no projeto ReSource, da Agência de Projetos de Investigação Avançada de Defesa dos EUA, que tinha por objetivo transformar os resíduos plásticos, utilizados na alimentação das tropas americanas, em comida. “Não querem deitá-los [recipientes] fora; não querem queimá-los; não querem embalá-los”, explicou Joshua Pearce, professor da Universidade de Western e investigador do estudo.

A equipa tentou transformar os recipientes de plástico em alimento através de um processo de pirólise – que envolve o aquecimento de plástico na ausência de oxigénio – mas as primeiras tentativas de criar biomassa não foram bem-sucedidas. “Temos de passar por todos os rigorosos estudos de segurança para garantir que não são tóxicos”, disse Stephen Techtmann, um dos investigadores.

O projeto levou Pearce a investigar se o mesmo processo poderia ser aplicado a asteroides que, na perspetiva dos micróbios, não diferem muito do plástico por possuírem muito carbono. “Quando olhamos para os produtos de decomposição da pirólise que sabemos que as bactérias podem comer, e depois para o que existe nos asteroides, a correspondência é bastante razoável”, disse Pearce.

Uma investigação publicada na revista Astrobiology em 2022, da autoria da cientista Annemiek Waajen, provou que os micróbios comem, de facto, asteroides. Waajen alimentou bactérias com pedaços de material de meteoritos e verificou que estes consumiram o carbono, crescendo no processo, lembra o New York Times.

A equipa de cientistas da Universidade de Western utilizou o asteroide Bennu enquanto modelo de rocha espacial. Pedaços do asteroide – com uma massa total de cerca de 85,5 milhões de toneladas – foram transportados para a Terra no ano passado – no âmbito da missão Osiris-Rex, da NASA. Segundo os seus cálculos, no pior cenário, os compostos de Bennu seriam capazes de sustentar um astronauta durante cerca de 600 anos. Já se a transformação for bem-sucedida, o astronauta teria alimento para cerca de 17 mil anos. Assim, de acordo com o estudo, para sustentar um astronauta durante um ano, seriam necessárias entre 5 500 e 175 mil toneladas de asteroide.

Os investigadores terão agora de fazer testes de toxicidade para garantir que o seu consumo é seguro. “Já prometi que serei o primeiro a dar uma dentada”, referiu Pearce. 

A Adobe começou a disponibilização pública do Firefly Video Model, um algoritmo capaz de gerar vídeos a partir de comandos de texto. A empresa é a mais recente a juntar-se a uma corrida onde está já a OpenAI com a Sora e onde ByteDance e Meta também querem dar cartas. A vantagem da Adobe é que treinou o seu modelo com dados sobre os quais tinha direitos, o que torna o produto final possível de ser usado comercialmente.

A solução vai chegar gradualmente aos utilizadores que se registaram na ‘fila de espera’, mas ainda não se conhece a data de lançamento para o público em geral, nem se conhecem nomes de grandes clientes que já estejam a usar o Firefly. Para os geradores de imagem, a Adobe revela, por exemplo, que a Gatorade se prepara para estrear uma solução que permite aos clientes gerarem garrafas personalizadas e que a Mattel está a usar as suas ferramentas para criar embalagens para as bonecas Barbie.

Veja o vídeo

Ely Greenfield, responsável tecnológica da Adobe para media digitais, conta à Reuters que os geradores de vídeo foram preparados para serem práticos no uso diário por parte dos criadores e editores, com um enfoque especial em tornar as imagens passíveis de se misturarem com filmagens convencionais: “Focamos no controlo mais fino, ensinando ao modelo os conceitos que os editores e videógrafos usam – coisas como a posição da câmara, o ângulo da câmara e o movimento da câmara”.

Os benefícios do Firefly passam pela integração com os produtos existentes Photoshop, Illustrator, Adobe Express e agora com o Premiere Pro (o Video Model) e geração de imagens quatro vezes mais rápida. O gerador já foi usado para criar 13 mil milhões de imagens desde março de 2023.

O Firefly Video Model junta-se a uma família que já inclui o Image Model, o Vector Model e o Design Model, todos assentes em Inteligência Artificial, nos seus respetivos domínios.

O Nobel de Ciências Económicas de 2024 foi atribuído aos professores Daron Acemoglu e Simon Johnson, do MIT e ex-economista chefe do FMI, e a James Robinson da universidade de Chicago. Não admira que todos ensinem nos EUA, tendo e conta que 13 das melhores universidades do mundo são americanas.

Daron Acemoglu, o 3.º economista mais vezes citado em todo o mundo, nasceu na Turquia, licenciou-se na universidade de York, onde Cavaco Silva estudou, e aos 25 anos já era professor do MIT. A decisão do comité Nobel sugere alguma tendência para selecionar investigadores ainda longe do final das suas carreiras e que se interessem por questões com relevância prática como, por exemplo a importância das instituições para o progresso das nações e o papel da inovação tecnológica, e que se importam com a divulgação das suas ideias junto do grande público, isto é não vivam numa torre de marfim.

Um dos primeiros e mais originais trabalhos destes três autores data de 2001 e investigou a relação entre a taxa de mortalidade nas colónias e o desenvolvimento de modelos de exploração extractiva (como no Congo belga) ou instituições semelhantes às das potencias colonizadoras (caso da Austrália).

Estão publicadas em português três das suas obras dirigidas ao grande público e nenhuma delas tem uma única fórmula matemática. São, por ordem cronológica, “Porque Falham as Nações” (2013), “O Equilíbrio do Poder” (2020) e “Poder e progresso” (2024). Todas elas têm relevância para percebermos a situação em que Portugal se encontra, nomeadamente a primeira, na qual é argumentado que a prosperidade das nações depende em grande medida do bom funcionamento e credibilidade das instituições, que no nosso país está muito aquém do admissível, dando razão a Charles Darwin, para quem “é grave quando a miséria de um país não resulta da falta de recursos, mas da miséria das suas instituições”.

Tive o privilégio de conhecer Daron Acemoglu no final de 2004, quando estava a fazer um semestre sabático numa universidade americana em Nova Iorque, através de um amigo comum, Philiipe Aghion, professor da Universidade de Harvard, que espero que também venha a ser galardoado com o Nobel, porque bem o merece. Nessa altura, havia a possibilidade de terem lugar eleições legislativas em Portugal e julguei ser meu dever ajudar a escrever um programa político, um roteiro que conjugasse ideias que acreditava serem sensatas e algumas bandeiras mobilizadoras destinadas a Portugal andar para a frente.

Foi então que nasceu a ideia do chamado Plano Tecnológico, cujas ideias centrais eram a convergência, a intervenção do estado na promoção do investimento e as energias limpas.

A questão da convergência – isto é, de a tendência natural para os países pobres recuperarem o seu atraso relativamente aos ricos – era um dogma. Porém, os estudos empíricos mostravam o contrário e um complexo artigo de Acemoglu publicado na prestigiada Review of Economic Studies em 2002 (portanto antes das grandes inovações da era digital que tiveram lugar sobretudo a partir de 2007) abria importantes pistas para explicar este fenómeno.

O progresso tecnológico era “enviesado” no sentido de, à medida que aumentava a produção, aumentava mais do que proporcionalmente a procura de trabalhadores com capacitações específicas que não existiam em muitos países, o que os podia condenar a ficar para trás, em vez de andarem para a frente. Foi então que nasceram as ideias das Novas Oportunidades (capacitação de indivíduos sem terem completado o ensino secundário), introdução do inglês como disciplina obrigatória desde o primeiro ciclo de escolaridade, criação do laboratório ibérico de nanotecnologia, aposta no ensino profissional, acordo de cooperação com o MIT e distribuição em massa de computadores portáteis nas escolas, etc.

A necessidade de promover o aumento da taxa de investimento assentou na criação do SIMPLEX e dos PINs , que se destinavam a reduzir o peso da burocracia (mas nunca a mudar regras existentes), na criação de linhas de crédito assentes no sistema de garantia mútuo que ainda perduram e foi enriquecida pela contribuição de Dani Rodrick, um colega de Acemoglu da Universidade de Harvard. Rodrick defendia uma ideia “soft” de política industrial, que na altura era muito criticada, mas hoje em dia representa a visão dominante, segundo a qual os governos devem usar os instrumentos ao seu dispor para promover as indústrias do futuro num país que tenha uma vantagem comparativa ou capacidade instalada, como em Portugal era notoriamente os casos da fileira do floresta, confeções e calçado, turismo e sector automóvel.

Sendo isto um conjunto de ideias simples e de bom senso, era muito diferente do “choque fiscal” que muitos defendiam na altura.

Passado pouco tempo sobre estas conversas que tiveram lugar no escritório de Acemoglu em Boston, o Presidente Jorge Sampaio dissolveu o parlamento e Acemoglu, Aghion e Rodrick vieram a Lisboa apresentar as ideias que tínhamos discutido em sessões das chamadas “Novas Fronteiras”.

Mantivemo-nos em contacto enquanto exerci funções públicas. Inicialmente, Acemoglu e Aghion tinham uma visão estática sobre o custo da introdução de energias renováveis e fiquei naturalmente feliz ao constar que mudaram posteriormente de ideias.

Acredita-se que a lua Europa alberga um vasto oceano líquido por baixo de uma camada de gelo e pode ter as condições necessárias para albergar vida. É com esse objetivo em vista que a NASA lançou ontem a missão Europa Clipper, que chegará às imediações de Júpiter dentro de seis anos. A missão, que tem um orçamento previsto de 5,2 mil milhões de dólares, partiu rumo ao Espaço num foguetão Falcon Heavy da SpaceX, que descolou a partir do Kennedy Space Center, nos Estados Unidos.

A Europa Clipper é descrita como a maior nave interplanetária que a NASA construiu, com um peso de 5,6 toneladas e um campo de painéis solares de mais de 30 metros. A bordo estão nove instrumentos científicos, como câmaras, espetcrómetros, magnetómetros e radares que irão enviar para os investigadores em Terra mais detalhes sobre a superfície e interior da lua Europa. Em abril de 2030 dá-se a aproximação ao planeta e estão previstas 49 aproximações à lua no decurso dos quatro anos seguintes.

NASA/JPL-Caltech

A superfície da Europa (mais pequena que a Lua da Terra) é brilhante e coberta com algumas crateras de gelo. Por baixo, há um oceano líquido como sugerem as quebras ocasionais da primeira camada de gelo, por onde a água passa, chegando à superfície e congelando. As novas estimativas de cientistas planetários sugerem que a Europa tenha duas vezes mais água do que todos os oceanos da Terra juntos. Robert Pappalardo, cientista da missão, conta que a Europa é o sítio mais provável de ter vida no sistema solar porque “é o mais provável de ter os ingredientes para a vida em abundância”.

A equipa pretende medir a profundidade do oceano, identificar componentes da superfície do gelo e mapear com precisão o campo magnético, para obter pistas sobre o que está por baixo. Depois, irá focar-se também na imagem termal em busca de pontos quentes, lagos e criovulcões, que expelem água e não lava.

O Governo talibã do Afeganistão anunciou esta segunda-feira uma lei que proíbe os meios de comunicação social de publicarem imagens de seres vivos. “A lei aplica-se em todo o Afeganistão (…) e será implementada gradualmente”, explicou Saiful Islam Khyber, porta-voz do Ministério da Promoção e Prevenção da Virtude à agência de notícias francesa AFP.

De acordo com Khyber, vários jornalistas de diferentes províncias do país já tinham sido avisados sobre a aplicação da medida que estabelece várias regras para os meios de comunicação social, incluindo a proibição de publicação de imagens de seres vivos e de “conteúdos hostis à ‘sharia’ e à religião”, que “humilhem os muçulmanos” ou contradigam a lei islâmica.

Para o governo talibã, a publicação de imagens de pessoas é contrária à lei islâmica. “Não será usada coerção na aplicação da lei”, disse Khyber. “É apenas um conselho, e convencer as pessoas de que estas coisas são realmente contrárias à sharia [lei] e devem ser evitadas”, acrescentou.

Vários aspetos da nova lei ainda não foram aplicados e as autoridades talibãs continuam a publicar fotografias de pessoas nas redes sociais. Alguns jornalistas no país contaram à AFP que receberam garantias das autoridades, após o anúncio da lei, de que poderiam continuar o seu trabalho. “Até à data, no que se refere aos artigos da lei relacionados com os meios de comunicação social, estão a ser feitos esforços em muitas províncias para a sua aplicação, mas isso ainda não começou em todas as províncias”, disse Khyber.

No verão passado, as autoridades promulgaram uma lei de 35 artigos que visam “promover a virtude e prevenir o vício” entre a população e que se encontram em conformidade com a ‘sharia’, imposta no país após o regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão.

Segundo a AFP, quando as autoridades talibãs tomaram o controlo do país, em 2021, o Afeganistão tinha 8 400 pessoas a trabalhar nos meios de comunicação social. Atualmente, apenas 5 100 continuam a exercer a profissão.

As imagens de seres vivos já tinham sido proibidos em todo o país, entre 1996 a 2001, quando este foi governado pelos talibãs.