Musk, sempre Musk! Parece que estamos a viver numa obra de ficção distópica onde Elon Musk é o ator principal. Ou será autor? O novelo desta novela da vida real é tão grande e com tantas pontas, que dá para todo o tipo de análises. Mas poucas encaminham para um final feliz. Com o controlo do Twitter, que passou a X, Musk tornou-se o maior influencer do planeta. Não só pelo número esmagador de seguidores, mas, sobretudo pela tipologia destes seguidores, que, em grande parte, se comportam como um culto religioso. Há uma fé inabalável no líder – “se ele diz, tem as suas razões, mesmo que não as entendamos”. Está entre aspas porque foi uma frase que ouvi de alguém que, há dois anos, era um anti-Trump convicto e muito crítico das redes sociais, pelos algoritmos que ajudam na desinformação… E que, agora, diz que Trump é o caminho, que as redes sociais não devem ser reguladas… Porquê? Porque Musk diz…

Se a capacidade de influência do líder do X, da Tesla e da SpaceX já era enorme, o que dizer agora que se tornou o braço direito de Trump? De um momento para outro, Musk tem acesso direto e, como já se viu, forte capacidade de influenciar o líder da maior potência mundial. O que também criou uma assustadora lista de aparentes incompatibilidades num Estado democrático, já que o sucesso das empresas lideradas por Musk estão muito ligadas às decisões do governo norte-americano.

E este cenário torna-se ainda mais negro quando verificamos que a evolução dos acontecimentos só tem vindo a reforçar a ideia que Elon Musk está, cada vez mais, sem noção da realidade. Pelas razões que já expus neste espaço, relacionadas com a bolha onde vive o mais rico dos ricos, Musk acredita que está muito acima dos outros ‘mortais’. Está convencido que é capaz de resolver qualquer problema a que se proponha, seja chegar a Marte ou eliminar a criminalidade no Reino Unido.

Por isto mesmo, acredito que é Musk que se está a aproveitar de Trump e não o contrário. Até vou mais longe: Musk deve ver Trump como um fantoche útil, que poderá controlar a bel-prazer. Mas a personalidade com mais seguidores no X sofre ele próprio, do efeito das redes sociais: o reforço de ideias preconcebidas e análises com informação falsa ou muito incompleta.

É o que se está a passar com opiniões que tem apresentado sobre a política europeia. Por mais brilhante que seja, não tem tempo para aprofundar todos os contextos políticos, históricos e culturais das regiões onde interfere. Na prática, isso faz com que suas intervenções sejam superficiais ou baseadas em perceções enviesadas. Veja-se o exemplo do apoio a Alice Weidel, a líder do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Weidel é amplamente conhecida pela postura negacionista em relação às mudanças climáticas, o que contraria os próprios valores que Musk supostamente defende com a Tesla e outras iniciativas focadas em energias renováveis.

Mesmo quando se apercebe dos erros, Musk insiste, até porque, nesta realidade distópica, a verdade não importa. O que importa é atingir os objetivos, sem olhar a meios. E o mais rapidamente possível, porque Musk quer mudar o mundo enquanto for vivo e, quem sabe, até ir a Marte.

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O lançamento de uma criptomoeda em nome próprio, $TRUMP, apanhou a indústria desprevenida e a rápida valorização mostra que o mercado é volátil e que Trump sabe movimentar-se nele. Em apenas 48 horas, desde o anúncio na sexta-feira à noite até domingo, a cibermoeda foi responsável pela transação de mais de 50 mil milhões de dólares. À hora de publicação desta notícia, o valor de mercado desta criptomoeda era de cerca de 10 mil milhões de euros.

O anúncio da $TRUMP foi feito durante um evento para a indústria, em Washington e a cibermoeda é descrita como “o único meme Trump oficial”. No domingo, foi a vez da mulher Melania também lançar uma cibermoeda em nome próprio, com esta a atingir os cinco mil milhões de dólares em poucas horas.

Dados da CoinGecko mostram que a $TRUMP valorizou 600% de sexta para sábado e depois mais 150% até domingo de manhã. Com um preço de 72 dólares, a capitalização fica acima dos 42 mil milhões de dólares.

A página oficial da moeda explica que é detida pela CIC Digital da Trump Organization e por uma entidade designada por Fight, Fight, Fight, expressão que Trump popularizou depois de ter sido alvejado num comício em julho.

Estes passos colocam Trump a seguir a estratégia que tinha prometido na sua campanha, de tornar as cibermoedas uma “prioridade nacional”.

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No domingo, entrou em vigor uma lei que obriga a ByteDance, dona do TikTok, a vender a aplicação ou a ver o seu uso banido nos EUA. Agora, após algumas horas de apagão, o serviço está novamente disponível: “com o acordo com os nossos fornecedores de serviços, a TikTok está no processo de restaurar o serviço. Agradecemos ao presidente Trump por fornecer a clarificação necessária e garantia aos nossos fornecedores de que não vão sofrer sanções por fornecerem o TikTok a mais de 170 milhões de americanos e por permitirem que mais de sete milhões de pequenos negócios prosperem”, afirma a ByteDance em comunicado.

Com a chegada de Trump à Casa Branca agendada para hoje, a Administração cessante de Joe Biden fez saber que deixaria a aplicação desta decisão legal para o novo presidente. Os fornecedores de serviços foram lestos a aplicá-la, por não terem qualquer indicação noutro sentido, e, no sábado à noite, a TikTok deixou de funcionar nos EUA e desapareceu mesmo das lojas de aplicações da Google e da Apple.

No domingo, Trump anunciou que ia assinar a ordem executiva que suspendia a proibição da rede social chinesa e que pretendia ter a rede operacional para que “os americanos possam ver a nossa estreia entusiasmante na segunda-feira”. O presidente confirmou ainda que “não há repercussões para qualquer empresa que tenha ajudado a TikTok a manter-se online antes da minha ordem”, cita o Tech Crunch.

Nem todos parecem estar sintonizados, no entanto, com a decisão de Trump. O senador republicano Tom Cotton publicou que “qualquer empresa que aloje, distribua, sirva ou de qualquer outra forma facilite a TikTok controlada por comunistas pode enfrentar multas de milhares de milhões de dólares”.

Trump parece estar a considerar a ideia de que a TikTok possa continuar a operar nos EUA, mas numa nova parceria, com um novo dono americano que detenha 50% da rede.

O estudo Mapping investors for European Innovators da Organização Europeia de Patentes identifica os investidores vitais para o lançamento comercial de invenções para as startups tecnológicas e que têm um potencial para impulsionar a inovação e o progresso económicos. O documento ajuda as startups a compreender quais são as entidades mais disponíveis para investir nos seus negócios e coloca Portugal no 16º lugar entre os países europeus com mais investidores ativos na área.

Em Portugal foram registadas 1450 transações neste domínio e investimentos de 3,6 mil milhões de euros captados entre 2000 e 2023. Apesar de haver um défice face ao investimento feito nos EUA, na Europa a maior parte do investimento em tecnologia é impulsionado por grandes programas públicos e investidores privados especializados.

“As startups desempenham um papel crucial na comercialização de ideias disruptivas com grande potencial para estimular o progresso. No entanto, conforme destacado no relatório de Mario Draghi, muitas empresas inovadoras enfrentam obstáculos financeiros para crescer na Europa”, afirma António Campinos, presidente da OEP. “Este défice de financiamento dificulta a transformação da inovação em startups escaláveis, levando os empreendedores a procurar oportunidades no exterior. Colmatar esta lacuna é crucial para revitalizar o crescimento sustentável em toda a Europa”.

A nova métrica TIS, de Technology Investor Score, introduzida neste estudo mede a percentagem de empresas que apresentaram pedidos de patentes na carteira de um investidor e revela que 88% dos investidores europeus têm carteiras que incluem empresas com patentes e 8% têm mesmo mais de metade das suas empresas detentoras de patentes.

Na rede europeia de co-investidores, os cinco investidores que lideram são o European Innovation Council (CEI), a Innovate UK, o Programa Eurostars para as PME, a Bpifrance e o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT). Os principais investidores em iniciativas de base tecnológica em Portugal são a Portugal Ventures, o EIC, a EIT Health, a Caixa Capital, a Startup Braga, a Armilar Venture Partners, a Shilling VC, o ESA Business Incubation Centre in Portugal, a Eurostars SME programme e o Indico Capital Partners, que representam 40% do investimento em Portugal na área das tecnologias.

Em termos de países europeus, Reino Unido, França e Alemanha lideram, com 75800 transações conjuntas e um financiamento de 392 mil milhões de euros entre 2000 e 2023.

Durante a campanha eleitoral de ‘Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?’, as escolas e os alunos podem criar cartazes e material de propaganda, organizar debates, sessões de esclarecimento e comícios, produzir podcasts para os tempos de antena de rádio, gravar vídeos e booktrailers, fazer campanha através das redes sociais.

Criar programas na rádio da escola ou em rádios locais, escrever artigos para o jornal escolar, compor canções e encenar peças de teatro ou dramatizações, entre muitas outras atividades, são excelentes formas de cativar os teus colegas a votar no teu livro-candidato.

O foco deve ser sempre tormar os livros o centro das conversas e das brincadeiras de recreio, contagiando os outros a ler. É importante ter sempre em conta os princípios de igualdade de oportunidades de todos os candidatos, permitindo a todos os grupos terem o mesmo ‘tempo de antena’ dentro da escola.

Lembra-te que a campanha ainda agora começou, mas prolonga-se até 10 de março. No dia 11 não se faz campanha, pois é o dia de reflexão (pergunta aos teus professores o que significa isto), anterior às eleições, que se realizam a 12 de março.

Aqui ficam algumas ações realizadas por alunos nas edições anteriores que te podem dar boas ideias para a tua campanha.

A música e o teatro são sempre uma boa ideia para cativar a atenção dos teus colegas.

Usa a tecnologia para fazer um booktrailer é uma opção muito apreciada pelos alunos mais velhos. Que tal experimentares?

A imaginação não tem limites, por isso, há quem pense em atividades “fora de caixa”, que costumam fazer muito sucesso.

O Carnaval é sempre uma boa oportunidade para fazer campanha e sair à rua. Queres ver o que fizeram os alunos de Penela numa edição anterior?

Os podcasts são uma forma interessante de divulgar o teu livro-candidato. Se a ideia te agrada, pede aos teus professores para te inscrever no webinar ‘Como Criar um Podcast?’, que se irá realizar no dia 24 de janeiro, às 10h30. Os professores podem fazer a inscrição aqui.

A OpenAI está a desenvolver um modelo de Inteligência Artificial (IA) com o objetivo específico de ajudar a aumentar a esperança média de vida saudável das pessoas. O GPT-4b micro, nome dado a este modelo, está a ser desenvolvido em conjunto com a startup americana Retro Biosciences, que entre os principais investidores conta com Sam Altman, que é o diretor executivo (CEO) da OpenAI.

Segundo a publicação MIT Technology Review, o modelo que está a ser criado pela tecnológica está a ser aplicado aos chamados fatores de Yamanaka. Esta descoberta, publicada em 2006 por um cientista japonês chamado Shinya Yamanaka, é considerada como um momento liminar nas ciências da vida que valeu, inclusive, um prémio Nobel ao seu criador. Este estudo descreve quatro fatores de transcrição, proteínas que têm capacidade de transcrever genes, que quando são induzidas ao mesmo tempo permitem transformar células específicas em células embrionárias. O que levantou a questão: será possível fazer o relógio biológico de uma célula andar para trás através da estimulação certa?

Várias empresas estão a trabalhar nesta possibilidade, incluindo a Retro Biosciences e a Altos Labs – a ideia é que a reprogramação celular impeça o aparecimento de doenças e, por consequência, o envelhecimento das células, órgãos e, no geral, do corpo humano. O que esta startup pretende alcançar é um aumento da esperança média de vida saudável dos humanos em dez anos nos próximos dez anos. E foi esta tecnológica que abordou a OpenAI, há cerca de um ano, para trabalharem juntas neste problema.

A equipa que se dedicou ao projeto percebeu que a mesma tecnologia que alimenta os grandes modelos de linguagem (LLM na sigla em inglês) pode trazer benefícios para tornar mais eficiente o processo de reconversão celular. Tipicamente, são precisas várias semanas para que uma célula mostre os efeitos de ‘rejuvenescimento’ dos fatores de Yamanaka e menos de 1% do total de células sujeitas a este sistema completa o processo.

O modelo GPT-4b micro foi treinado para sugerir formatos diferentes para as proteínas dos fatores de Yamanaka com o objetivo de otimizar o processo de reprogramação celular. E segundo a OpenAI, a equipa já conseguiu alterar dois dos fatores de Yamanaka tornando-os 50 vezes mais eficazes (segundo dados preliminares) aos resultados conseguidos exclusivamente pela investigação humana. “De uma forma geral, as proteínas parecem melhores do que aquelas que os cientistas conseguiram produzir sozinhos”, adiantou John Hallman, um investigador da OpenAI, à MIT Technology Review.

Este é o primeiro modelo da OpenAI focado em dados biológicos e representa a primeira aposta mais séria da tecnológica na utilização de IA para fins puramente científicos – algo que a Google já tem feito há muitos anos com a Deepmind e que valeu inclusive o mais recente Prémio Nobel da Química a Demis Hassabis.

O modelo GPT-4b micro foi treinado com exemplos de sequências de proteínas de diferentes espécies animais, assim como com a informação de quais proteínas funcionam melhor entre si. Depois, os cientistas da Retro Biosciences usaram o modelo para criar novos desenhos das proteínas dos fatores de Yamanaka. “Colocámos de imediato este modelo no laboratório e obtivemos resultados no mundo real,” salientou Joe Betts-Lacroix, CEO da Retro Biosciences.

Este modelo de Inteligência Artificial aplicado ao aumento da esperança média de vida saudável dos humanos não está ainda disponível fora dos laboratórios da OpenAI, mas a empresa confirmou que tenciona publicar estudos científicos com base neste trabalho de investigação.

No passado dia 13 de janeiro, no Supremo Tribunal de Justiça, teve lugar a sessão solene de abertura do ano judicial que, desde 2013, corresponde ao ano civil.

Tomaram da palavra a bastonária da Ordem dos Advogados, o procurador-geral da República, a ministra da Justiça, o presidente da Assembleia da República e por fim, o Presidente da República, em cumprimento, aliás, do que se encontra previsto no artigo 27.º na Lei de Organização do Sistema Judiciário,

Em uníssono, todos fizeram votos para que 2025 fosse um melhor ano para a Justiça! Que assim seja!

Renovamos os “desejos de ano novo” do senhor procurador-geral da República, de mais magistrados, de mais funcionários judiciais, de domínio da gestão dos dados informáticos e de autonomia financeira para o Ministério Público. São quatro pilares que nos parecem imprescindíveis à boa atuação do Ministério Público e à cabal realização da justiça.

Com agrado, ouvi a senhora ministra da Justiça assinalar a perda, em 2024, de uma das melhores mulheres da justiça portuguesa, Joana Marques Vidal, antiga procuradora-geral da República. Faço minhas as suas palavras. Mas o mais impactante do seu discurso foi, sem dúvida, a referência a Alcinda Cruz, mulher de 46 anos, morta pelo marido a golpes de faca e tesoura, à frente dos filhos. Destacou que havia uma queixa apresentada em 2022 e “arquivada no ano seguinte”.

Sem pretender falar do caso concreto, pois que o desconheço completamente, permitam-me deixar-vos a visão de quem, todos os dias, tem de tramitar inquéritos de violência doméstica e decidir sobre a acusação ou arquivamento dos autos.

A maioria destes inquéritos começa com a denúncia da vítima e são obrigatoriamente instruídos com instrumentos de avaliação do Risco de Violência Doméstica (ficha de avaliação de risco e subsequentes fichas de reavaliação de risco), o qual poderá ser classificado como baixo, médio ou elevado. Tais relatórios são fundamentais, permitindo fazer uma triagem dos casos que demandam uma atuação imediata.

Impõe a diretiva n.º 5/2019, da Procuradoria-Geral da República que, imediatamente após ao registo e autuação do inquérito por crime de violência doméstica, a secretaria pratique oficiosamente (sem necessidade de despacho) uma série de atos processuais (pesquisas de outros inquéritos pendentes ou arquivados, antecedentes criminais, etc.), que permitirão ao magistrado do Ministério Público titular obter um conhecimento mais abrangente do caso que tem em mãos.

Na verdade, na sua primeira intervenção processual, o magistrado titular deverá, num prazo curto, que não excederá 72 horas, diligenciar pela prática de atos que o habilitem a tomar de medidas de proteção à vítima e à promoção de medidas de coação relativamente ao arguido.

Acresce que o Ministério Público deverá promover, com a maior brevidade possível, a tomada de declarações de memória futura, especialmente, em situações de avaliação de risco elevado ou médio se assim entender, evitando fenómenos de revitimização.

Contudo, a gravíssima carência de oficiais de justiça e a falta de magistrados do Ministério Público não permite dar a célere resposta que se pretendia. Note-se o caso da SEIVD (Secção Especializada Integradas de Violência Doméstica) do Porto, onde os funcionários são metade do que seria exigível (em vez de 2 por magistrado apenas existe 1 por magistrado) e os magistrados do Ministério Público encontram-se a acumular serviço de outros colegas em falta.

Mas, afinal, porque são arquivados os inquéritos pela prática de crime de violência doméstica?

A prova rainha destas investigações é, indubitavelmente, o depoimento da vítima, a que acrescem os depoimentos de familiares e outras testemunhas (vizinhos, amigos), bem como exames periciais, prova eletrónica e digital e outros elementos documentais.

Concluída a investigação, cabe ao Ministério Público decidir sobre se prossegue ou não com o processo para julgamento, sendo que arquiva o inquérito quando, entre o mais, entender não terem sido recolhidos indícios suficientes da verificação de crime.

Perguntamos: Como é possível concluir pela insuficiência de indícios, se tínhamos uma denúncia tão clara? Então o crime de violência doméstica não é um crime público? Não era suposto a vítima não poder desistir do procedimento criminal?

Sim. De facto, o crime de violência doméstica é um crime público o que significa, grosso modo, por um lado, que não é necessário haver uma queixa formal da vítima (podendo ser um terceiro a apresentá-la) e, por outro lado, que a vítima não pode “desistir da queixa”, ao contrário do que acontece, por exemplo, num crime de furto, dano ou ofensa à integridade física simples.

Contudo, a prova dos inquéritos é dinâmica e carreada de acordo com as regras processuais previstas nos diplomas legais, em especial, no Código de Processo Penal.

Importa aqui ter presente o disposto no artigo 134.º do Código de Processo Penal que permite que possam recusar-se a depor como testemunhas, entre outros, o cônjuge do arguido ou quem com ele tiver convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação, bem como pais, filhos, irmãos e cunhados dos arguidos.

O legislador entendeu que as pessoas mais intimamente relacionadas com o arguido não são obrigadas a um depoimento incriminatório contra o mesmo, mesmo que sejam as vítimas. Esta norma serve não só para proteger as relações de confiança e solidariedade, essenciais à instituição familiar, como também para proteger a própria testemunha / vítima do conflito de consciência que poderia sentir ao ter que optar entre contribuir para a incriminação de pessoa que lhe é ou foi muito próxima e, a fim de evitar esse contributo, mentir e com isso cometendo ela própria um crime.

Muitas vezes sucede que a vítima ou familiar que denuncia os factos constitutivos da prática de crime de violência doméstica vem mais tarde a usar da faculdade prevista neste artigo e decidir não prestar depoimento.

E tal vontade tem de ser aceite pelo processo penal.

É que, conforme decorre dos artigos 4.º e 5.º da Lei n.º 130/2015, de 04 de setembro (Estatuto da Vítima), à vítima é assegurado, em todas as fases e instâncias de intervenção, tratamento com respeito pela sua dignidade pessoal (princípio do respeito e reconhecimento) e toda a intervenção junto daquela está limitada ao respeito integral da sua vontade (princípio da autonomia da vontade).

Note-se que o direito de recusa de depoimento é tão importante que existe uma corrente jurisprudencial que defende que as declarações para memória futura (já prestadas em fase de inquérito) não podem ser valoradas, em julgamento, por força do artigo 356.º, n.º 6, do Código de Processo Penal, caso a vítima vá a julgamento apenas para se recusar a depor (entendendo-se que apenas assim se efetiva a tutela do direito de recusa a depor e de não contribuir para a condenação do arguido com quem tem vinculação familiar).

Portanto, aquela prova que nos parecia muito forte no início do inquérito, esbate-se, sendo que os restantes elementos de prova, por si só ou mesmo que conjugados entre eles, poderão ser (consoante os casos) parcos para indiciar a prática do crime de violência doméstica e obter a condenação do arguido em julgamento.

Mas impõe-se sublinhar que este arquivamento do inquérito em processo penal tem uma característica fundamental que o distingue de uma absolvição em julgamento.

Se o arguido for absolvido em audiência de discussão e julgamento nunca mais poderá ser julgado novamente por tais factos. Falamos de caso julgado e do princípio constitucional non bis in idem (artigo 29.º, n.º 5, da Constituição da República Portuguesa). Enquanto que um inquérito arquivado está sujeito à cláusula rebus sic stantibus (enquanto a prova se mantiver a mesma), significa isto quepode ser “reaberto”, caso surjam novos elementos de prova (ou a vítima pretenda falar), conforme dispõe o artigo 279.º, n.º 2, do Código de Processo Penal.

Importa, por fim, destacar que mesmo que o inquérito seja arquivado por falta de indícios, o magistrado titular pode decidir que o procedimento de reavaliação do risco se mantenha, sempre que as necessidades de proteção da vítima o imponham e esta expressamente requeira a manutenção do estatuto de vítima.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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Esta semana arranca com um aumento significativo dos preços dos combustíveis, o maior registado nos últimos três anos. A partir de hoje, o gasóleo fica 5,5 cêntimos mais caro, passando a custar, em média, 1,69 euros por litro aos consumidores.

Também o preço da gasolina sofre alterações, com uma subida de 3 cêntimos, passando a custar 1,78 cêntimos por litro.

Estes valores podem, contudo, variar consoante a região do país e o posto de abastecimento.

O aumento do preço do petróleo é um dos principais motivos apontados para o aumento registado mas a Agência Internacional de Energia prevê que a desaceleração na procura de petróleo em 2025 resulte na descida de preços. Outra das principais razões prende-se com a subida do ISP – Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos -, três cêntimos mais caro desde 1 de janeiro de 2025.

Que imagem lhe vem à cabeça quando pensa numa cidade do futuro? É provável que lhe surja na mente uma paisagem urbana futurista e tecnologicamente avançada, coberta por estruturas arquitetónicas complexas, com carros voadores a pairar pelos céus e com humanos e robôs a viver em conjunto. Porém, estas imagens do imaginário da ficção científica não nos dizem propriamente como resolver os grandes desafios da vida urbana. 

Hoje estima-se que mais de metade da população mundial viva em cidades. De acordo com previsões da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050, espera-se que 7 em cada 10 pessoas habitem em áreas urbanas. Se, por um lado, as cidades são motores de inovação que impulsionam economias, por outro, o ritmo de crescimento desenfreado pode causar sérios problemas, sobretudo, se for acompanhado por falta de estratégias de planeamento adequado. 

Insuficiências no que respeita a infraestruturas críticas e habitação acessível, níveis de poluição insustentáveis, desigualdades sociais e maior vulnerabilidade perante cenários de crise são apenas alguns dos problemas que figuram desta lista. Alcançar a 11ª meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – “Tornar as cidades e as comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis” – tem-se revelado um desafio, como mostra o mais recente relatório da ONU dedicado a este tema. 

Há quem olhe para o conceito de Smart Cities (ou cidades inteligentes, em português) como uma forma de dar resposta a estes desafios. À medida que as áreas urbanas se tornam cada vez mais tecnológicas, a ideia tem vindo a ganhar expressão. Mas o que torna uma cidade verdadeiramente inteligente?

O recurso à tecnologia para otimizar processos e tornar as cidades mais eficientes apresenta-se como uma das bases das Smart Cities, com foco em particular na recolha e utilização de dados gerados pelos diferentes intervenientes em contexto urbano. 

Como explica Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA Information Management School (NOVA IMS) e Coordenador do NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, em entrevista à Exame Informática, “a tecnologia é bastante importante e nós conseguimos construir cidades inteligentes tirando partido da transformação digital, mas, não é por investimos em tecnologia que conseguimos fazer com que a cidade ou o território seja mais inteligente”. 

“Há dois grandes desafios que nós enfrentamos hoje nas cidades” e que, simultaneamente, se afirmam como as “duas dimensões de intervenção que conduzem as iniciativas e as estratégias de inteligência urbana”, detalha. 

Por um lado, a gestão de recursos, serviços e infraestruturas mais eficiente tem de ser feita de modo a “conseguir responder às necessidades das pessoas nas diferentes dimensões da sua vida”, com vista a garantir mais qualidade de vida e bem-estar. “Basta olharmos para o conceito da ‘cidade dos 15 minutos’, que é uma visão holística de como é que a cidade deve responder às pessoas”, afirma o responsável. 

O conceito de ‘cidade dos 15 minutos’ propõe o acesso a serviços essenciais a uma distância de até 15 minutos a pé, bicicleta ou transportes públicos | Imagem: Freepik

Por outro, Miguel de Castro Neto realça que “não nos podemos esquecer que isso tem de ser feito em paralelo com a resposta à emergência climática”, reduzindo o impacto das atividades humanas no meio-ambiente para “construirmos não apenas cidades inteligentes, mas também sustentáveis”.  

Smart Cities: Cenário idílico ou distopia? 

Apesar do potencial que as Smart Cities apresentam, a crescente digitalização das cidades, que depende das ligações que existem entre sistemas, sensores e dispositivos, traz desafios significativos. Na área da cibersegurança, por exemplo, a falta de uma abordagem sólida e concertada abre a porta a um vasto conjunto de ameaças que podem comprometer infraestruturas críticas e serviços essenciais, colocando em risco os cidadãos e os seus dados. 

A recolha de dados também traz preocupações éticas e legais, levantando questões importantes sobre privacidade e consentimento relativamente à disponibilização de informação por parte dos cidadãos, além de receios acerca da implementação de sistemas de vigilância massivos que desrespeitam direitos fundamentais. 

À escala global existem abordagens quanto à ideia de Smart Cities que reforçam essas preocupações. “Se olharmos, por exemplo, para a Ásia, a visão de cidade inteligente está muito relacionada com uma lógica também de controlo, monitorização e fiscalização”, afirma o diretor da NOVA IMS. Neste contexto, a China é um dos casos mais conhecidos pelos mecanismos tecnológicos de vigilância massiva. 

Mas as abordagens preocupantes também se estendem ao Ocidente. Nos “Estados Unidos vemos que há uma utilização um pouco ‘liberal’ demais na utilização da tecnologia, nomeadamente, da inteligência artificial, para tomar decisões que interferem depois na esfera social. Por exemplo, tomar decisões sobre quem é que tem ou não direito a programas de apoio quando se está numa situação de sem-abrigo a partir da utilização de um algoritmo de inteligência artificial”.

Iniciativas como a Cities Coalition for Digital Rights estão a reunir esforços para defender os direitos digitais em contexto urbano, tanto a nível local como global. Lançada pelas cidades de Amsterdão, Barcelona e Nova Iorque em 2018, esta coligação conta com mais de 60 cidades como membros – incluindo por terras lusitanas a cidade do Porto – e com o apoio do Human Settlements Programme da ONU (UNHabitat). 

Entre os seus projetos está o Digital Rights Governance, desenvolvido com a UNHabitat, United Cities and Local Governments (UCLG) e a Eurocities, em parceria com Open Society Foundation. Concebido para ajudar as cidades a fortalecerem as suas capacidades e a estarem preparadas para liderarem estratégias de transformação digital centradas nas pessoas e que promovem a urbanização sustentável, o projeto Digital Rights Governance é composto por um enquadramento normativo, com iniciativas-piloto em quatro cidades europeias (Bruxelas, Dublin, Sofia e Tirana), acompanhado por um helpdesk online. 

Inovação à moda portuguesa 

Centrando as nossas atenções na Europa, “o que nós vemos como a ambição da inteligência urbana nas cidades e nos territórios europeus é nós construirmos esta eficiência de funcionamento da cidade que, em última análise, faz com que ela seja ‘invisível’ no quotidiano das pessoas”, não existindo “atritos” no acesso e uso dos diferentes serviços. 

Enquadrado neste ecossistema europeu, Portugal está também a trilhar o seu caminho, numa situação particular “em que encontramos municípios que apresentam excelentes práticas que hoje são partilhadas à escala internacional e que não são apenas as grandes cidades que estão no litoral”, realça. 

“Não é apenas Lisboa e Porto que lideram este movimento. Nós encontramos por todo o país cidades com estratégias de inteligência urbana muito interessantes”, afirma Miguel de Castro Neto. Exemplo disso é a inclusão de Guimarães entre o vasto conjunto de cidades que fazem parte da missão europeia Climate-Neutral and Smart Cities (ou, Cidades climaticamente neutras e inteligentes, em português), a par dos dois grandes pólos urbanos do Porto e Lisboa.

A par de Lisboa e do Porto, a Guimarães é uma das mais de 100 cidades que fazem parte da missão Climate-Neutral and Smart Cities da União Europeia | Imagem: Joaomartinho63Guimaraes – Aqui nasceu PortugalCC BY-SA 3.0

A iniciativa, lançada em 2022, “ambiciona que 100 cidades europeias consigam alcançar a neutralidade carbónica até 2030 e que sirvam de ‘faróis’ de boas práticas e de projetos com sucesso para cumprir a ambição da União Europeia a ser neutra em carbono antes de 2050”. 

“Outro exemplo que tem vindo a dar cartas nesta matéria a nível europeu é Braga”, aponta o responsável. Em novembro do ano passado, a cidade venceu o prémio de Cidade Inovadora em Ascensão na Europa, na edição de 2024 dos Prémios Capital Europeia da Inovação (iCapital), uma iniciativa do Conselho Europeu da Inovação ao abrigo do programa Horizonte Europa. 

Braga ganhou a distinção de Cidade Inovadora em Ascensão na Europa, na edição de 2024 dos Prémios Capital Europeia da Inovação | Imagem: Conselho Europeu da Inovação

A propósito de distinções, os vencedores da mais recente edição dos Prémios Portugal Smart Cities, também mostram como se ‘move’ o ecossistema das cidades inteligentes no nosso país, com projetos que vão do laboratório vivo de descarbonização – i4 Efficiency da Câmara Municipal de Sintra à iniciativa de postos móveis de atendimento ao cidadão e espaços de convívio e lazer do Município de Cabeceiras de Basto. 

Há ainda espaço para a GeoCascais, a plataforma digital de informações georreferenciadas da Câmara Municipal de Cascais; a iniciativa de mobilidade sustentável Pedal in Águeda; o bairro inclusivo Sobreiro, do Município da Maia, na área de reabilitação urbana sustentável e inteligente; assim como para o Parque Recreativo da Cidade do Barreiro. 

A GeoCascais, a plataforma de informações georreferenciadas da Câmara Municipal de Cascais, foi uma das vencedoras dos Prémios Portugal Smart Cities 2024

“Pela sua dimensão e pela dimensão das suas cidades e municípios”, Portugal reúne uma “espécie de pequenos laboratórios vivos em que os projetos têm uma grande facilidade de implementação e a inovação pode, de facto, acelerar para criarmos nós próprios quase um setor da economia alavancado por esta temática das cidades inteligentes e sustentáveis”, realça Miguel de Castro Neto. Entre estes laboratórios vivos, contam-se, por exemplo, o projeto Aveiro Tech City, o Águeda Sm@rtCityLab e, mais recentemente, o Caxias Living Lab , uma iniciativa que junta o Município de Oeiras e Galp. 

O Caxias Living Lab é uma comunidade-piloto concebida para testar novos conceitos energéticos mais eficientes e sustentáveis | Imagem: Galp

A colaboração entre instituições de ensino, autoridades locais e a indústria afirma-se também como uma das forças motoras da inovação em Smart Cities no nosso país. O NOVA Cidade – Urban Analytics Lab da NOVA IMS é uma das entidades que estão focadas em investigar e inovar, tendo por base este tipo de colaboração, para soluções analíticas que tiram partido da transformação digital para “construir este novo paradigma de data-driven public policy, ou seja, políticas públicas baseadas em dados”.

Deste laboratório nasceram projetos como o Data 4 Oeiras Valley, com o objetivo “avaliar o conceito da cidade de 15 minutos em Oeiras”. “Nós avaliámos, casa a casa, quanto tempo é que as pessoas em Oeiras demoram a chegar de carro ou de bicicleta aos diferentes serviços da cidade para que seja possível, quando se faz um plano de investimentos, perceber como é que se pode garantir a equidade no acesso de todos aos serviços do município”.

Já a plataforma Oeste Smart Region, desenvolvida numa parceria com a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Oeste, foi concebida para ajudar os autarcas a perceber, por exemplo, o impacto de eventos em questões como trânsito, consumo de diferentes utilities, assim como na atividade económica, conseguindo aceder a “factos que lhes permitem avaliar uma política pública que foi apostar num evento” de determinada natureza. 

“Outro exemplo de analítica que desenvolvemos foi para a Comunidade Intermunicipal de Viseu Dão Lafões”, conta o coordenador do NOVA Cidade, num projeto criado para compreender como é possível dar uma resposta eficiente às necessidades das populações que vivem na região. “Quando nós vamos para as regiões do interior, sabemos que temos uma população idosa, dispersa no território e sem capacidade de se deslocar por meios próprios”. A partir desse trabalho, a CIM de Viseu Dão Lafões implementou um serviço de transporte a pedido, chamado IR e VIR, que dá aos habitantes da região a possibilidade de se deslocarem de táxi, ao preço de um bilhete de autocarro, a regiões que não são servidas pela rede de transportes públicos. 

Ir além das cidades

“Nem tudo acontece nas cidades e os países não são apenas as cidades”, motivo pelo qual importa ter uma visão que vai além das fronteiras urbanas e que permita encontrar formas de dar mais inteligência aos territórios.Neste contexto, a Estratégia Nacional dos Territórios Inteligentes (ENTI) poderá desempenhar um papel determinante para cumprir esta ambição em Portugal. 

Com um financiamento de cerca de 60 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a ENTI tem como objetivo transformar dados em ação, traduzindo-se em iniciativas de gestão eficiente e sustentável do território que tenham por base a inovação e transparência. A promoção de sinergias e partilha de conhecimento, a par de um planeamento que otimize recursos e despesas públicas, também fazem parte. 

“Em Portugal, este ano, vamos entrar na fase de implementação da Estratégia Nacional dos Territórios Inteligentes que o Governo aprovou”. Depois de terem sido lançados os avisos para os municípios se candidatarem para implementar projetos de inteligência urbana durante o ano passado, espera-se que, a partir de 2025, os projetos comecem a despontar no território. 

Apesar das ambições, também existem desafios que precisam de ser superados. “Eu diria que temos um trabalho muito longo ainda pela frente”, reconhece Miguel de Castro Neto, defendendo que, para conseguir percorrer este caminho de mudança rumo a cidades e territórios verdadeiramente inteligentes é necessário “promover investimentos em três dimensões”. 

Embora já esteja em curso um programa de capacitação no âmbito da ENTI, a área das competências é uma dimensão que o responsável vê como fundamental. “Será necessário conseguirmos, junto da administração local, fazer um exercício de capacitação”. 

A conectividade é outra das dimensões-chave: “a ideia da cidade ou do território inteligente assenta muito na capacidade de sensorizar e de tirar partido da conectividade para conseguirmos recolher dados e, por sua vez, para podermos comunicar e desencadear ações”. 

Por último, destaca-se a dimensão dos dados. Como explica, “tem que existir uma lógica de partilha de dados, uma lógica de olharmos para a cidade ou para o território como plataforma e nós termos a capacidade de, pela agregação e cruzamento dos dados de múltiplas fontes e formatos, tiramos partido de capacidades analíticas”. Aqui não se trata só de perceber o que aconteceu no passado: “mais do que isso, é tirar partido da capacidade atual e de conseguirmos fazer modelos preditivos”. 

“Nós temos de testar vários cenários para decidir qual é ação. Isso leva-nos ao verdadeiro desafio que enfrentamos hoje – não é apenas garantir a eficiência da gestão dos serviços e das infraestruturas, mas também criar um ambiente em que as próprias políticas públicas, as próprias intervenções que os autarcas e as autoridades locais desencadeiam, sejam baseadas em factos e tomadas tendo em conta as diferentes características que existem no território ao longo do espaço e do tempo”, realça. 

Deste modo é que podemos “ambicionar ter serviços públicos que são personalizados em função das características específicas de cada território, em última análise, de cada freguesia, cada bairro, e que podem variar ao longo do tempo consoante as dinâmicas do próprio território”. Para tal será necessária“toda uma transformação dos modelos de governação das nossas cidades em que todos são chamados a ter um papel”.

“O futuro da inteligência urbana só vai ser possível de ser construído com a participação de todos. Ou seja, o cidadão estará sempre no centro da ação e das estratégias que veremos a serem desenhadas”

— Miguel de Castro Neto
Diretor, NOVA IMS

A construção do futuro das Smart Cities em Portugal enfrenta um panorama desafiante e, como lembra Miguel de Castro Neto, “não nos podemos esquecer que há uma grande heterogeneidade na maturidade digital dos municípios e das suas associações, quer as comunidades intermunicipais como as áreas metropolitanas”. 

“Eu acredito que iremos assistir nos próximos anos a uma transformação bastante significativa do paradigma nacional no que concerne à inteligência urbana”, afirma, acrescentando que “iremos ver também como é que esta inteligência urbana tem um papel crucial na resposta aos desafios da emergência climática e em garantir que nós cumprimos a ambição de alcançar a neutralidade carbónica”. “Mais do que tudo iremos constatar que o futuro da inteligência urbana só vai ser possível de ser construído com a participação de todos. Ou seja, o cidadão estará sempre no centro da ação e das estratégias que veremos a serem desenhadas”.