Um recluso argelino que tinha fugido esta terça-feira junto ao Tribunal da Relação de Lisboa foi capturado esta quarta-feira de manhã em Estômbar, no concelho de Lagoa (Algarve), anunciou a GNR.

“Cumpre esclarecer que hoje, dia 13 de novembro, cerca das 09:40, na localidade de Estômbar em Lagoa, foi detido o suspeito ontem evadido do Tribunal da Relação de Lisboa”, lê-se num comunicado. Os militares receberam pelas 9h40 a denúncia de um popular que teria avistado o suspeito.

O homem ia ser presente a tribunal por um mandado de captura europeu, estando relacionado com o crime de fogo posto na Alemanha. Tinha sido detido no domingo, no aeroporto de Lisboa.

O detido vai agora ser presente pela GNR ao Tribunal da Relação de Lisboa.

Rui Lázaro, presidente do STEPH – Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar – explicou esta segunda-feira que o INEM não identificou quem deveria cumprir os serviços mínimos – que no pré-aviso estavam propostos apenas para o turno da noite.

“A lei diz que têm de ser designados, têm de os identificar. Uma vez que [o email do INEM] foi enviado as 15h57, três minutos antes do turno das 16h, já não surtia efeito para o turno da manhã. Em bom rigor, nem para o da tarde, pois alguém que more na margem sul e receba um ‘email’ três minutos antes de começar o turno como é que cumpre?”, disse.

De acordo com o presidente do sindicato, uma vez que a Federação Nacional de Sindicatos Independentes da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos – que decretou a greve a 4 de novembro – não possui um acordo coletivo de trabalho, “os serviços mínimos que prevalecem são os que estão no pré-aviso, que era [igual ao] turno da noite no período de férias”.

Segundo o pré-aviso de greve, a proposta de serviços mínimos aplicava-se a um número de trabalhadores “igual àquele que garante o funcionamento aos domingos, no turno da noite, durante a época normal de férias”. Lázaro acrescentou ainda que, dado que o pré-aviso de greve propunha o equivalente ao turno da noite no período de férias, “se o INEM não concordasse deveria ter comunicado à Direção-Geral da Administração e do Emprego Público”, de forma a existir um entendimento entre as partes e o conselho arbitral depois os definisse, o que não chegou a acontecer.

Lázaro esclarece que compete ao sindicato definir os trabalhadores que deverão cumprir os serviços mínimos, por lei, até 24 horas antes da greve. Caso tal não aconteça, passa a ser a entidade empregadora a responsável pela designação dos trabalhadores – “o que também não aconteceu”. “Até podem criar uma lista dos trabalhadores que devem cumprir os serviços mínimos e enviar um ‘email’ geral”, disse, sublinhando ainda que “até podem chamar pessoas que estão de folga”.

Deste modo, de acordo com o presidente do STEPH, o que aconteceu foi que “o INEM apenas enviou um ‘email’ já durante a greve, três minutos antes do turno começar, e não designou os trabalhadores”, explicou, defendendo ainda que “deveriam ter sido as chefias intermédias”, ao tomarem conhecimento da greve.

Ouvida esta terça-feira no parlamento, Ana Paula Martins, ministra da Saúde, disse que espera que a Inspeção-Geral da Saúde conduza uma “avaliação profunda” sobre o cumprimento dos serviços mínimos durante a greve do INEM. Estas falhas no atendimento de chamadas pelos serviços de emergência resultaram, alegadamente, na morte de 11 pessoas. As mortes levaram à abertura de sete inquéritos no Ministério Público e um na Inspeção-Geral das Atividades em Saúde .

A prática comum na ciência climática é usar os valores do período de 1850 a 1900 como referência das temperaturas para avaliar o ritmo do aquecimento global. Com essa base, as Nações Unidas estimam que o planeta aqueceu 1,3 graus centígrados desde aí e alertam que ultrapassar a barreira dos 1,5 graus pode trazer consequências desastrosas. Agora, Andrew Jarvis, da Universidade de Lancaster, liderou uma equipa que analisou a temperatura do planeta antes de 1700, recorrendo a bolhas de carbono capturadas no gelo na Antártica e chegou a um número mais alarmante: 1,49 graus centígrados.

A utilização de valores de 1850 a 1900 justifica-se pois, antes dessa altura, os dados e medições registadas são pouco consistentes. “Sabemos que houve aquecimento já nas estimativas de 1850 a 1900 simplesmente porque esse não é o início da Revolução industrial”, afirma Jarvis, citado pelo website Interesting Engineering.

As amostras analisadas pela equipa foram recolhidas na Law Dome no leste da Antártica e permitem um novo enquadramento do aquecimento global. Os investigadores mediram os níveis de dióxido de carbono capturado nas bolhas de ar e que correspondem a diferentes alturas, desde os anos 1300 até aos 1700. “Depois comparamos esses dados com as medições atuais de concentração, feitas desde 1850… Formamos uma linha quase perfeita de continuidade entre o núcleo do gelo e as observações de CO2”, explica Jarvis. A abordagem permite estimar as alterações da temperatura desde antes da Revolução Industrial e fornece um novo ponto de comparação. Os dados mostram que, se definirmos o início da análise em 1700, o planeta aqueceu 1,49 graus e, se aplicarmos o ponto de início em 1850, chegamos aos mesmos 1,3 graus que as Nações Unidas usam como base para criar a política climática atualmente em vigor.

A base revista sugere que a necessidade de acelerar a descarbonização é ainda mais urgente. Piers Forster, físico climático da Universidade de Leeds que também colaborou no estudo, enfatiza que “[o aquecimento de 1,5 graus] deve servir de toque de alerta para os países realmente acelerarem a descarbonização e apoiarem-se uns aos outros nesta meta”. Embora o ponto de viragem possa ser difícil de prever, qualquer aumento incremental nas temperaturas globais leva a um aumento dos riscos.

Trump transformou-se no grande profeta da nova religião. Alguns dos seus fiéis tratam-no mesmo como o filho de Deus. O presidente-eleito é muito mais do que um líder político carismático pois tornou-se ele mesmo num novo culto para milhões de americanos.

Trump cometeu a proeza de conseguir afastar a direita religiosa evangélica do evangelho, das suas comunidades de fé e da Bíblia, tudo princípios até agora inegociáveis neste segmento religioso e que seria impensável deixar cair.

Só que este abandono tem um preço. Ao afastar os evangélicos da moralidade bíblica e fazer com que o sigam religiosamente, Trump toma o lugar da figura central da fé cristã, Jesus de Nazaré. Ao abandonarem o evangelho e a ética cristã os evangélicos substituíram o amor ao próximo, ao estrangeiro, ao necessitado e ao enfermo pelo ressentimento e sentimentos negativos aos quais ele apela constantemente.

Mas também substituíram a alegria da comunhão cristã pela liturgia MAGA (Make America Great Again), pelo que, em vez se continuarem a ser cristãos, ou seja, centrados em Cristo, agora serão magãos, isto é, centrados na ilusão de recuperar milagrosamente a grandeza perdida dos EUA. Além do mais deixaram de ir à igreja por que o seu messias também nunca vai, o que lhe interessa pois assim pode manipulá-los à vontade, distantes que ficam do capital espiritual e comunitário daí decorrente.

Por outro lado, as igrejas evangélicas nos EUA têm vindo a reduzir a sua assistência devido ao secularismo e outros fenómenos sociais a ele associados, por que as novas gerações já não aceitam a politização das suas lideranças nem o conservadorismo de algumas das suas posições, mas também pelo movimento geral de maior individualismo presente na sociedade americana.

Uma apoiante envergava recentemente uma T-shirt num evento da campanha republicana em Wildwood, Nova Jersey, que dizia: “Deus, armas & Trump”. “Deus fez Trump” declara a sua rede social, a Truth Social. O político é assim elevado à condição de profeta e ungido de Deus que está a edificar a sua igreja. Daí resulta que os fiéis já não necessitam de se manter nas suas comunidades de fé e muito menos precisam dos seus pastores, até por que eles já tinham dado a sua bênção ao novo profeta de forma explícita e entusiástica, iludidos que foram pelas promessas de conquista do poder político e judicial, bastando para isso apenas apoiar o novo profeta.

Não só não ganharam nada com isso, como quando se quiserem arrepender será tarde demais. Mesmo em relação ao aborto, com a revogação de Roe, as coisas ainda terão piorado devido ao aumento no número de interrupções voluntárias de gravidez devido à presente insegurança.

Os líderes religiosos quiseram ganhar vantagem política mas não esperavam que Trump se apresentasse aos fiéis como o novo Cristo, o ungido de Deus. Uma coisa era ser uma espécie de Ciro moderno, o imperador pagão que facilitou a vida aos judeus exilados na Babilónia para que regressassem e reconstruíssem os muros de Jerusalém, as suas casas e o templo, coisa diferente seria ele próprio se auto-erigir em messias, ele que é uma espécie de anticristo santificado pela direita religiosa.

É que ao pisar, pelo seu discurso e exemplo de vida, a ética e os valores cristãos, Trump concede aos fiéis o direito de também eles passarem a desprezá-los. De facto, agora já não é mais necessário seguir Jesus, uma personagem que a lógica trumpiana classificaria imediatamente como falhado (loser). Em vez disso os seus discípulos são atraídos pela lógica ilusória e o discurso inconsequente de vencedor que ele protagoniza.

O Maganismo tornou-se assim a mais recente religião americana, em linha com a tradição dos Estados Unidos como alfobre de inúmeras propostas religiosas sob a capa do cristianismo.

Receia-se que se repita agora nos EUA um fenómeno semelhante ao da velha Europa do pós-guerra, quando a fé cristã sofreu duramente as consequências do apoio de vastos sectores religiosos aos extremismos emergentes no período entre guerras, incluindo o nazismo alemão e o fascismo italiano. Desde aí nunca mais a fé cristã voltou a erguer-se ao nível anterior, embora devido também a outros factores.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A cirurgia robotizada está a dar passos significativos rumo a tornar-se uma realidade nos blocos operatórios. Uma equipa da Universidade John Hopkins mostrou que conseguiu treinar um robô apenas com recurso a vídeos de cirurgias e, quando o colocou a operar, conseguiu um desempenho equivalente ao dos médicos humanos. O estudo foi aprensetado na Conference on Robot Learning em Munique, uma conferência especializada em robótica e machine learning.

Axel Krieger, autor do estudo, conta em comunicado que “é mágico ter este modelo e tudo o que temos de fazer é alimentar o input da câmara e o robô consegue prever qual o próximo movimento a executar para a cirurgia. Acreditamos que isto marca um passo em frente em direção a uma nova fronteira na medicina robotizada”.

Veja o vídeo

Note-se que o robô não foi testado em cenário real, mas sim em três situações e tarefas fundamentais para as cirurgias: manipular uma agulha, levantar tecido corporal e suturas. Em cada um dos casos, o robô da Vinci Surgical System conseguiu ter um desempenho tão bom quanto o dos cirurgiões humanos. A equipa, que incluiu também investigadores da Universidade de Stanford, usou técnicas de imitação e machine learning para ensinar o robô. O sistema recebeu centenas de vídeos captados a partir de câmaras colocadas nos pulsos de robôs da Vinci em todo o mundo. Atualmente, há sete mil destes robôs em uso e mais de 50 mil cirurgiões colaboraram para poder ensinar e treinar o sistema.

Apesar de estes sistemas da Vinci já serem bastante usados, são conhecidos por realizarem movimentos imprecisos. O treino em movimentos relativos, em vez de com ações absolutas, permite aumentar a precisão: “tudo o que precisamos de fazer é alimentar o sistema com imagens e o sistema de Inteligência Artificial vai descobrir qual a próxima ação correta a efetuar (…) Mesmo com apenas algumas centenas de demonstrações, o modelo é capaz de aprender o procedimento e generalizar os novos movimentos que ainda não encontrou”, detalha Ji Wong ‘Brian’ Kim, outro dos autores.

“O modelo é tão bom a aprender coisas que não lhe ensinamos. Por exemplo, se deixar cair a agulha, sabe que tem de a apanhar antes de continuar. Isto não é algo que lhe tenhamos ensinado”, complenta Krieger. Em teoria, o robô pode, desta forma, aprender a realizar qualquer tipo de procedimento cirúrgico. A equipa está agora focada em ensinar o robô a realizar uma cirurgia completa.

Em dezembro de 2022, uma equipa de Universidade de East Anguila, no Reino Unido, desenvolveu o “Marlin”, um veículo subaquático autónomo, lançado no mar de Ross, no oceano Antártico, de forma a recolher mais dados sobre as suas águas geladas. Programado com uma série de sensores destinados a fazer medições sobre processos oceânicos, o Marlin devia ter seguido para norte, em direção a águas abertas. No entanto, as correntes fortes do mar de Ross acabaram por arrastar o robô para sul e este ficou preso numa cavidade da plataforma de gelo de Ross, onde permaneceu durante quatro dias, até voltar a emergir. Apesar de encalhado, o Marlin continuou a fazer o trabalho para que estava programado, tendo realizado 79 “mergulhos” e medições das águas do interior da cavidade – a uma profundidade de 200 metros.

Os dados que recolheu, publicados na última sexta-feira na revista Science Advances, revelam aos cientistas novas perspetivas sobre a subida de temperatura da água do oceano Antártico e o subsequente degelo de uma grande plataforma de gelo. A equipa de especialistas registou uma “intrusão” de cerca de 50 metros de espessura de água relativamente quente que entrou na cavidade em que o robô se encontrava a partir de águas abertas próximas. Para além disso, foi possível verificar uma variação na temperatura da água situada entre os -1,9 graus celsius e -1,7 graus debaixo do gelo. “Embora o aumento da temperatura – quatro milésimos de grau por ano – possa não parecer muito, pode levar a uma perda adicional de gelo de cerca de 20 a 80 cm por ano durante os 45 anos que analisámos”, explicou Peter Sheehan, um dos autores do estudo, num comunicado da universidade.

Análises posteriores determinaram que ocorreu um aumento dos níveis de calor – ou seja, de água relativamente quente – que é transportada para dentro da cavidade nos últimos 45 anos, o que, segundo os cientistas, se pode ficar a dever às alterações climáticas. “Descobrimos que as águas da intrusão eram suficientemente quentes para derreter a parte de baixo da plataforma de gelo, ao contrário das águas do ponto de congelação que provavelmente deslocaram”, explicou Sheehan. “O que é novo aqui é que podemos seguir o rasto da água quente desde as águas abertas do Mar de Ross, na frente do gelo, até à cavidade. Nunca tínhamos visto uma intrusão destas a acontecer diretamente”, concluiu.

Os efeitos do aquecimento global na Antártida tem sido registados por diversos estudos nos últimos anos. Esta investigação foi a primeira a debruçar-se sobre os efeitos que as alterações climáticas têm numa importante plataforma de gelo da Antártida, provocando o seu degelo. Fenómeno que a equipa acredita vir a aumentar no futuro, à medida que as alterações climáticas resultem no aquecimento contínuo dos oceanos.

A equipa de cientistas da Universidade de East Anguila defende as correntes de Ekman – correntes de superfície impulsionadas pelo vento – são uma possível explicação para a entrada de calor na cavidade. “A influência das intrusões de águas superficiais, juntamente com as tendências e a variabilidade da dinâmica de Ekman que as pode impulsionar, deve ser incorporada nos modelos climáticos, sobretudo devido à incerteza contínua na resposta do gelo terrestre antártico às alterações climáticas”, explicou Sheehan.

1. Chico Fininho

“Gingando pela rua / Ao som do Lou Reed / Sempre na sua / Sempre cheio de speed / Segue o seu caminho / Com a merda na algibeira / O Chico Fininho / O freak da cantareira.” Com estes versos imortais, Rui Veloso lança, em 1980, o primeiro single do moderno rock português, embora acompanhado pelos UHF, com Cavalos de Corrida. O álbum Ar de Rock será o primeiro de uma longa parceria com Carlos Tê. O público, que vivia na primeira década consumista portuguesa, estava sequioso. Vieram mais, como os GNR, os Xutos, os Táxi, Salada de Frutas, Já Fumega, Trabalhadores do Comércio e muitos outros, em bandas ou a solo.

2. Televisão a cores

Em março de 1980, o sistema PAL andava na boca de toda a gente. Na verdade, era a tecnologia adotada pela RTP para lançar a televisão a cores, em Portugal, aproveitando o Festival da Canção desse ano. Em boa hora, numa altura em que, embora ainda sem canais privados, a televisão portuguesa se agitava, muito por ação da primeira e marcante telenovela nacional, onde vimos, em Vila Faia, um talentoso Nicolau Breyner, que conhecíamos da comédia, a fazer um grande papel dramático, no seu par com Margarida Carpinteiro.

3. O Cartão Jovem

Os jovens dos anos 80 foram os primeiros a viver uma década inteira em democracia. A adesão europeia surgiu mais ou menos a meio do decénio e o consumismo iniciou a sua longa ditadura. O cartão jovem, uma ideia europeia importada pelos governos de Cavaco Silva, dava acesso mais fácil a mais bens e serviços. Mais do que uma forma de pagamento com desconto, o cartão operou uma mudança de mentalidade…

4. MEC e Herman

O semanário O Independente, para os amigos, o “Indy”, lançava no panorama jornalístico e político português dois grandes nomes: Paulo Portas (então muito irreverente, quando jurava que jamais seria capaz de vestir fato e gravata…) e, sobretudo, a alma mater, Miguel Esteves Cardoso. O semanário tornou-se objeto de culto, só comparável ao Humor de Perdição com que, na cinzentona RTP, Herman José sacudia o mofo e as mentalidades…

5. A sida

Já andava por aí, mas foi quando se conheceram as primeiras mortes de famosos que o pânico invadiu a cidade. Ainda agora nos tínhamos libertado de preconceitos e entrado na nossa própria – e tardia – revolução sexual e já nos impunham a abstinência… É verdade que o preservativo podia mitigar a coisa, mas usá-lo foi, para muitos, pior do que usar máscara, na pandemia que nos assolou 40 anos mais tarde…

6. Portugal na CEE

Editado em março de 1981 pela EMI – Valentim de Carvalho, o primeiro single dos GNR chama-se Portugal na CEE. No final dos anos 70, o PS de Mário Soares tinha feito da adesão europeia um slogan célebre – “A Europa Connosco”. Mas, “perdidos no trânsito” de dois resgates do FMI, só chegámos ao Mercado Comum (Comunidade Económica Europeia, CEE), o grande El Dorado dos portugueses de todas as classes e idades, com o Tratado de Adesão, assinado em 1985, entrando, de pleno direito, a 1 de janeiro de 1986. Vinha aí “um milhão de contos por minuto” de fundos europeus, para olear as obras do cavaquismo…

7. Totoloto e multibanco

Numa época em que as apostas desportivas se confinavam ao Totobola, o advento do Totoloto marca um antes e um depois, nos jogos da Santa Casa. Entrava em declínio não só o Totobola, mas também a própria Lotaria Nacional… E para levantar dinheiro, na segunda metade da década, os bancos colocaram nas ruas uma espécie de slot machine e um mágico cartão de plástico que nos libertava de filas ao balcão: era o multibanco, com o seu icónico bonequinho…

8. O golo de Carlos Manuel

Foto: Lusa

Não há nenhum adepto que já tivesse consciência futebolística a 16 de outubro de 1986 que não se lembre onde estava quando o pontapé de Carlos Manuel deu o golo da vitória a Portugal, em Estugarda, frente à poderosa RFA (Alemanha Ocidental) e o apuramento para o Mundial do México, no ano seguinte (o 2º apuramento da História, 20 anos depois do primeiro). O pior foi o que aconteceu depois, em Saltillo…

9. O Tollan

Faziam-se excursões de todos os pontos do País para ver o destroço do Tollan, o porta-contentores britânico que, a 16 de fevereiro de 1980, após ter colidido com o navio cargueiro sueco Barranduna, encalhou, frente à Ribeira das Naus, na zona ribeirinha mais nobre de Lisboa. De “pernas para o ar”, o navio gigante parecia um desolado cachalote a contemplar, melancolicamente, o Cais das Colunas, ali ao lado. O Tollan até deu o nome a restaurantes e cafés da zona e, depois de muitas tentativas para o desencalhar, lá se despediu dos lisboetas em dezembro de 1983. Deve ter havido quem tenha vertido uma lágrima…

Foto: Lusa

10. A queda do Muro

A  9 de novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim seria a data mais marcante do final da Guerra Fria, depois de meia década de degelo trazida pela perestroika e pela glasnost de Mikhail Gorbachev. Os contemporâneos dos anos 80 assistiam, assim, ao vivo e a cores (pela TV) a um dos acontecimentos mais importantes do século XX.

Um calhamaço

Em A Década Prodigiosa. Crescer em Portugal nos Anos 80, o jornalista e diretor de canais da SIC Pedro Boucherie Mendes faz uma exaustiva investigação sobre os acontecimentos, os costumes e as pequenas e grandes histórias dos anos 80 do século XX. Partindo do ponto de observação de um adolescente que cresce ao ritmo da década, o autor não se limita às suas próprias memórias e experiências pessoais, tendo consultado extensa documentação, nomeadamente, jornais da época, e recolhido testemunhos de pessoas de vários pontos do País, o que permite uma abordagem inovadora que vai para lá da perceção geral. Da política às artes, dos hábitos às modas, da televisão ao consumismo – eis o relato de uns anos loucos que se estendem até 1992, data da abertura dos primeiros canais privados de televisão. — D. Quixote, 661 págs, €29,90