Bem-vindo à nova série do podcast Tech Flow, que será inteiramente dedicada à cibersegurança. Ao longo de cinco episódios, exploramos a segurança informática de forma descomplicada – dos conceitos gerais que definem esta área, às novas tecnologias que estão a transformar a forma como utilizadores, empresas e organizações devem abordar a segurança digital. Este é um podcast que tem como objetivo sensibilizar os utilizadores e os decisores – porque no fim de contas, todos usamos tecnologia – para a importância da cibersegurança no dia-a-dia.

Veja o terceiro episódio do Tech Flow:
Como a Inteligência Artificial está a mudar a cibersegurança

Quais as técnicas mais comuns usadas pelos piratas informáticos? Sabe o que é o smishing? Devemos ser proativos ou reativos perante o número crescente de ameaças informáticas? E quais as consequências dos ciberataques para as empresas portuguesas?

As respostas a estas e outras perguntas são dadas por Júlio César, coordenador do CERT.PT e do departamento de operações do Centro Nacional de Ciberseguraça, e André Alves, gestor do centro de operações de segurança da Warpcom. Pode ver o segundo episódio do Tech Flow na versão vídeo no início deste artigo ou ouvir aqui a versão em áudio:

Tech Flow, episódio 2

Veja ou reveja os outros episódios já publicados do podcast Tech Flow:

A nova série do podcast Tech Flow, dedicada à cibersegurança, é feita pela Exame Informática em parceria com a Warpcom. 

Conhecido cientificamente pela designação Diospyros kaki, o dióspiro é um fruto sazonal – como a castanha – muito consumido nos meses de outono, entre outubro e dezembro, com vários benefícios para a saúde. Originário da China, os dióspiros são cultivados desde o século XVII, tendo-se difundido pelo resto do mundo nos séculos seguintes. Atualmente, é produzido em países como o Japão, Coreia, Brasil, Índia, Espanha e em Portugal, na região algarvia.

Os dióspiros podem ser consumidos cozinhados, desidratados ou ao natural – a forma que mais potencializa as suas propriedades nutricionais. Sendo uma fruta muito rica em açúcar – e por isso bastante doce – são também frequentemente usados na confeção de sobremesas, evitando assim, a adição de adoçantes.

É um alimento com uma pele muito sensível e que amadurece muito rapidamente – sobretudo se estiver perto de outros frutos, como a banana – pelo que, de forma a conservá-lo durante mais tempo, deve ser colocado no frigorífico. A sua ingestão, especialmente quando ainda não está maduro, provoca uma sensação de adstringência – causada pela contração das mucosas da boca devido à presença de taninos (antioxidantes).

Existem dois tipos de variedades de dióspiros – de diferentes características – que se distinguem sobretudo pela forma como são consumidos:

  • Os dióspiros “de abrir” ou tradicionais: com uma textura mais mole e tom avermelhado, este tipo de dióspiros são mais doces e nutricionalmente mais ricos em taninos. Costumam ser consumidos à colher por serem mais moles.
  • Os dióspiros “de roer”: que possuem uma cor laranja mais intensa, sabor menos doce e consistência mais rija, podendo ser consumidos de forma semelhante a uma maçã, “à dentada”. Este tipo de dióspiros têm uma forma mais oval ou achatada e são menos adstringentes, sendo frequentemente encontrados em saladas, sumos ou compotas. Há também quem o consuma assado com canela.

Seja qual for o seu tipo, esta fruta sazonal é praticamente constituída por polpa, possuindo uma aparência mais gelatinosa, composta por mucilagem – uma substância que se encontra em quase todos os vegetais – e pectina – um polissacarídeo complexo.

Os benefícios nutricionais do dióspiro

  • São muito ricos em antioxidantes – Graças ao elevado teor de antioxidantes (taninos), os dióspiros possuem propriedades anti-inflamatórias, anti-infecciosas e anti-hemorrágicas. Características que, segundo o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde, contribuem para a diminuição do risco de problemas cardiovasculares e ajudam a reduzir alguns tipos de cancro. Os antioxidantes estão ainda associados a prevenção da degeneração ocular, contribuindo para uma boa saúde ocular;
  • Uma fonte de vitaminas e minerais – Para além de terem boas quantidades de vitamina A (carotenoides) e vitamina C, os dióspiros são também ricos em potássio e uma boa fonte de cálcio, cobre, fósforo e magnésio, minerais que estimulam a produção de glóbulos vermelhos;
  • São ricos em hidratos de carbono – A presença de fibras – como as pectinas e as mucilagens – ajudam a promover a sensação de saciedade, favorecem a regulação do funcionamento intestinal e das glicemias e ajudam a diminuir os níveis de “mau” colesterol – o LDL – associado a doenças cardíacas;
  • São muito ricos em água – Cerca de 80% da constituição de um dióspiro é água;

Apesar dos benefícios que têm para a saúde, o dióspiro, tal como outros alimentos (como o amendoim ou os tremoços), devem ser consumidos com moderação, especialmente devido ao seu alto teor em açúcar que os torna um alimento altamente calórico. O seu consumo pode também não ser indicado para pessoas com insuficiência renal – uma vez que aumentam a quantidade de potássio na corrente sanguínea.

Minutos antes de os deputados começarem a votar o Orçamento do Estado para 2025 na generalidade, o ministro da Defesa, Nuno Melo, encerrava o debate com um aviso nas entrelinhas. “Seria muito estranho ver destruir na especialidade o que se construiu na generalidade.” Com a abstenção do PS garantida na generalidade e na votação final global, a AD concentrou todos os seus avisos na discussão do documento na especialidade. Os dois dias do debate que iniciou os trabalhos orçamentais estiveram cheios de recados às oposições, com pedidos para não “desvirtuar” o Orçamento, apelos à “responsabilidade” e um “deixem o Governo da AD governar” lançado pelo deputado centrista Paulo Núncio.

A dramatização feita pelo Governo e pelas bancadas que o apoiam tem que ver com os riscos assumidos de chegar à discussão orçamental sem acordo, nem à esquerda nem à direita, e, por isso, ao sabor das maiorias que se possam formar a favor e contra as propostas de alteração que começaram a ser entregues esta segunda-feira no Parlamento. A forma como, mesmo tendo cedido no IRS Jovem e no IRC, o Governo não conseguiu selar um acordo com os socialistas abre caminho a todas as votações e põe em risco até essas cedências, que afinal não deixaram satisfeitas nem a esquerda nem a direita. Aqui estão os oito pontos que podem colocar areia na engrenagem do Orçamento.

Foto: ANTÓNIO COTRIM/LUSA

1 IRC, o pomo da discórdia

A AD tinha prometido baixar o IRC em dois pontos percentuais a todas as empresas, mas a proposta que fez ao PS na tentativa de encontrar um compromisso que permitisse viabilizar o Orçamento fez a promessa baixar para uma redução de apenas um ponto percentual. O problema? O PS entende que a AD não respeitou sequer as linhas vermelhas que tinha definido para iniciar uma negociação e Pedro Nuno Santos já fez saber que os socialistas partem de mãos livres para a especialidade. Isso significa que o PS deve chumbar a proposta de descida de 1% do IRC, que ficará assim nas mãos da direita para ser viabilizada. Só que nem o Chega nem a IL estão satisfeitos com essa descida e querem confrontar o Governo com as suas próprias promessas. Por isso, devem apresentar uma proposta de redução do IRC de dois pontos percentuais. Ora, isso é algo que baralha todas as contas e que provavelmente levará a AD a votar contra a sua própria ideia, uma vez que no debate da generalidade o Governo prometeu que iria cumprir o que tinha apresentado ao PS.

2 O problema das pensões

O Governo não se quer comprometer com um aumento permanente das pensões, preferindo acenar com um possível bónus, caso as contas o permitam. Mas essa posição é minoritária, se se pensar que PS, Chega, PCP e BE defendem aumentos permanentes para os pensionistas. O PS já tinha sinalizado querer uma subida de 1,25 pontos nas pensões (a somar aos aumentos de 2% a 3% resultantes da fórmula legal a aplicar em janeiro). O Chega anunciou que vai propor um aumento de 1,5% e o PCP quer uma subida de 5 por cento. Resta saber como irão estes partidos votar as propostas uns dos outros, havendo aqui a possibilidade de as oposições se unirem para aumentar os pensionistas, pressionando a despesa.

3 Combustíveis: o ponto de honra do Chega

André Ventura já prometeu que o Chega “de tudo fará na especialidade para reverter o descongelamento da taxa de carbono”. Mesmo com o Governo a garantir que não haverá novas subidas nesta taxa sobre os combustíveis, o Orçamento prevê um encaixe de mais cerca de 525 milhões de euros nesta rubrica. Se o líder do Chega mantiver a promessa, a incógnita é como votará o PS, que criticou a forma “encapotada” como o Governo se serviu desta taxa para ir buscar mais receitas ao mesmo tempo que se vangloria de este ser o primeiro Orçamento em muitos anos que não prevê a subida de nenhum imposto. Ainda assim, os socialistas podem mesmo dar aqui a mão ao Governo em nome da promessa que fizeram de não pôr em causa o saldo orçamental previsto, que corresponde a um excedente de 0,3% em 2025.

4 Exclusividade no SNS: esquerda contra direita?

PCP e BE há muito que defendem a criação de um regime de exclusividade para os médicos no SNS, que António Costa nunca quis, mas que Pedro Nuno Santos acha ser essencial para salvar a saúde pública. A esquerda está toda unida na defesa desta ideia. Por isso, é preciso que o Chega e a IL chumbem as propostas de criação deste regime para o travar.

5 Leis Laborais: Parlamento assina de cruz?

O Governo integrou no Orçamento uma proposta de autorização legislativa para poder mexer na Lei do Trabalho em funções públicas, matéria que é da competência exclusiva do Parlamento. O problema é que o pedido que chegou aos deputados não é claro sobre as alterações que o Executivo quer fazer em matéria de férias, baixas e direito à greve na Função Pública. E, apesar da grande insistência da oposição durante o debate na generalidade, o Governo não deu qualquer pista sobre o que aí vem.

A esquerda está desconfiada dos propósitos da AD e o PS já disse que não dá “cheques em branco” e que duvida da constitucionalidade de um pedido de autorização legislativa que é tão vago. Só o Chega e a IL poderão dar a mão ao Governo aqui. Mas há ainda a possibilidade de o PS requerer a revisão sucessiva da constitucionalidade do diploma.

6 O Estado quer vender, mas o quê?

Há duas incógnitas neste Orçamento que geram resistências à esquerda: o grupo de trabalho que vai ser criado para estudar a venda de participações do Estado em empresas públicas e o pedido de autorização legislativa para alienar quase 100 milhões de euros em imóveis que não se sabe quais são. O PS está contra estas medidas, sobretudo por não saber exatamente que património pretende o Governo alienar e por ter dúvidas de que faça sentido vender mais imóveis no meio de uma crise de habitação. Mais uma vez, a salvação pode vir do Chega e da IL, as bancadas da direita que (ao contrário do PS que se absteve) votaram contra o Orçamento na generalidade, mas podem ser essenciais na especialidade para aprovar medidas que contam com a oposição dos socialistas.

7 Benefícios fiscais nos seguros de saúde?

Os benefícios fiscais para as empresas que dão seguros de saúde aos seus trabalhadores são outro ponto deste Orçamento do Estado que, muito provavelmente, só passará com o apoio do Chega e da IL. O PS já fez saber que está contra, e a verdade é que a sua inviabilização não põe em causa as contas públicas, até porque o efeito desse chumbo seria ter um encaixe maior nas receitas.

8 Incógnitas da Madeira e dos Açores

Luís Montenegro tem passado os últimos dias em contactos com Miguel Albuquerque e José Manuel Bolieiro, para garantir que não há divisões embaraçosas na bancada do PSD. Até agora, tudo correu bem. As conversas com os presidentes dos governos regionais da Madeira e dos Açores têm ido no bom sentido e sociais-democratas eleitos pelas ilhas votaram ao lado da restante bancada na generalidade, mesmo apresentando declarações de voto. Agora, na especialidade, será o momento de dar à Madeira e aos Açores aquilo que tem sido negociado e isso terá sempre implicações nas contas. Ora, se como sinalizou o Governo, a margem para alterações é curta, grande parte dela pode mesmo ser consumida para este reforço das transferências para as regiões autónomas, algo que pode deixar ainda com menos espaço as propostas de alteração das oposições na discussão da especialidade. No caso dos Açores, o tema pode ainda aquecer, porque o PS regional tem feito alertas (desmentidos por Bolieiro) sobre a possível iminência de um resgate da região, denunciando atrasos cada vez maiores nos pagamentos a fornecedores e problemas de tesouraria.

Drama em 2010

O dia em que faltou um copo de água

FOTO: Marcos Borga

“O senhor ministro das Finanças contactou o professor Eduardo Catroga com o sentido de retomar contactos para apresentar uma proposta.” A declaração, de Miguel Relvas, então secretário-geral do PSD, a 29 de outubro de 2010, anunciava a retoma das negociações dramáticas entre Teixeira dos Santos, ministro das Finanças do segundo Governo de José Sócrates, e Eduardo Catroga, antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva e nomeado, pelo então líder do PSD, Passos Coelho, para representar o PSD nas negociações, com vista à viabilização do Orçamento do Estado para 2011. E já em 2001 tinha havido o “Orçamento Limiano”… ou seja, o espetro de eleições, em caso de chumbo do OE, não foi algo inventado pela prática do Presidente Marcelo… Neste caso, em 2010, o acordo foi assinado naquele mesmo dia 29, na sala de jantar da casa de Catroga. À saída, o ministro socialista desabafaria: “Nem um copo de água me ofereceram…” F.L.

Palavras-chave:

Paulo Cafôfo, líder do PS/Madeira, anunciou este sábado que o partido vai votar a favor da moção de censura ao Governo Regional, liderado por Miguel Albuquerque (PSD). “Por unanimidade, a comissão política aprovou esta deliberação, ou seja, a orientação a dar ao grupo parlamentar [na Assembleia Legislativa da Madeira] para votar favoravelmente a moção de censura”, disse após a reunião da comissão política regional dos socialistas.

De acordo com o líder socialista, o chefe do Governo regional “é arguido em casos de corrupção ativa e passiva, não quer responder à justiça e está a fugir à justiça porque não pede a retirada da sua imunidade enquanto membro do Conselho de Estado”. Cafôfo salientou ainda que o partido socialista foi sempre “coerente na sua ação” em todo processo, desde que Miguel Albuquerque foi constituído arguido, em janeiro, após suspeitas de corrupção.

O grupo parlamentar do Chega apresentou, esta quarta-feira, a moção de censura ao Governo Regional da Madeira. Em conferência de imprensa, Miguel Castro, líder parlamentar do partido, descreveu Albuquerque como “um entrave para haver uma estabilidade política”, justificando a moção com o facto de quatro secretários regionais serem também arguidos em processos judiciais. “Achamos que neste momento o governo liderado por Miguel Albuquerque e Miguel Albuquerque não têm condições para liderar a Região Autónoma da Madeira”, referiu Castro.

“Reparaste que têm quase todos um livro na mão?” “Não se ouvem gritos!”, “Turmas de 16 alunos? Que sonho!” À medida que atravessam as várias salas da International School of Billund (ISB), dez professores portugueses do pré-escolar, 1.º e 2.º ciclos, observam como funciona esta escola, pioneira na metodologia Learning Through Play (em português, Aprender Através do Brincar). Estamos em Billund, no Sul da Dinamarca, a cidade onde nasceu a célebre marca de brinquedos LEGO, que hoje tem cerca de 7000 habitantes.

As principais atrações desta pequena cidade estão relacionadas com os coloridos blocos de plástico criados por Ole Kirk Kristiansen, na década de 1940. A LEGO House, um sonho para os apaixonados deste brinquedo, e a LEGOland, o parque de diversões temático, fazem as delícias de fãs, que aqui chegam oriundos de 95 países. Mas é a cerca de cinco minutos a pé, na orla da floresta que rodeia a cidade, que se encontra o principal ponto de interesse para os dez professores que visitam a cidade a convite da Fundação Santander Portugal: a tal escola que acredita que as crianças aprendem melhor através da brincadeira.

Autonomia Na International School de Billund, os manuais não são a “Bíblia” dos alunos, que têm mais liberdade para escolher a forma como querem estudar um assunto

Na International School of Billund, uma escola privada com ligações à LEGO Foundation, estudam perto de 500 crianças, do pré-escolar ao 9.º ano, acompanhadas pelos 100 professores, todos formados na metodologia Aprender através do brincar, baseada na tese de que é através da brincadeira que se aprende melhor e se retém com mais facilidade o que aprendemos. Por outro lado, neste método de ensino, o professor não é encarado como único transmissor de conhecimento, mas um facilitador, que inclui os alunos no processo de aprendizagem, pois não os vê como simples “recetáculos” de informação, como nos explica a portuguesa Patrícia Castanheira, investigadora sénior da LEGO Foundation, especializada na formação de professores.

A viver em Billund há seis anos, Patrícia assegura-nos de que esta é a “cidade ideal” para quem tem filhos: “Além de segura e pequena, onde tudo se faz a pé, a cidade é planeada a pensar nas crianças.” De facto, Billund quer tornar-se a Capital Mundial das Crianças. Para tal, várias organizações e instituições culturais e públicas uniram-se em torno desta iniciativa, com o objetivo de tornar a cidade um lugar onde as crianças e a criatividade estão no centro das atenções e do processo de aprendizagem.

As instalações da ISB, modernas e acolhedoras, onde os livros parecem saltar das paredes, recebem o grupo português, que se deixa encantar assim que entra no átrio. Há crianças por todo o lado, mas não se percebe se estão num intervalo. Instrumentos musicais misturam-se com peças LEGO, computadores portáteis, uma impressora 3D, plasticina, tintas, galhos e folhas de árvores.

Liberdade para pensar

Nos vários espaços comuns por onde passamos, são poucas as cadeiras. Abundam, no entanto, espaços alcatifados e acolchoados, com recantos e desníveis que convidam as crianças a deitarem-se no chão, conferindo à escola um ambiente familiar. Aqui não há campainhas e as turmas não estão confinadas numa sala com quadro e mesas alinhadas. As aulas podem ser dadas na sala, em qualquer outro espaço do edifício ou até no exterior, dependendo do que o professor considerar mais conveniente para a matéria que estão a trabalhar. As portas largas de correr das salas do 1.º ciclo dão para uma sala comum, que pode ser utilizada por todos, e para o pátio exterior. Quando vemos um rapaz equilibrado num cavalo de ginástica a ler um livro pensamos cá para nós que esta escola é, realmente, diferente. “Os alunos têm liberdade para pensar nos assuntos que lhes são propostos”, explicam-nos. E a verdade é que, de facto, não há um sítio ideal para pensar…

Manuel Calado
professor do 1.º ciclo

Foto: Fundação Santander Portugal

Além de imaginar uma escape room para os seus alunos do 1.º ciclo, Manuel Calado criou uma aplicação onde as crianças podem conversar por whatsapp com D. Afonso Henriques e D. Dinis. O diálogo com o chatbot treinado pelo professor é uma verdadeira “lição de História” capaz de cativar os alunos.

Em junho, a Fundação Santander Portugal, em parceria com a LEGO Foundation, criou o prémio Quem Brinca É Quem É, que tem como objetivo distinguir projetos focados no método Aprender Através do Brincar, dirigidos a alunos do 1º e 2º ciclos, realizados em escolas públicas de todo o País. Inês Oom de Sousa, presidente da fundação, acredita que as centenas de candidaturas que receberam são o resultado do empenho e da criatividade dos professores portugueses. “Tinha a certeza de que seria um sucesso. Há de facto muitas coisas espetaculares que estão a ser feitas nas escolas. Os professores são uns heróis criativos, que não têm recursos nem tempo, mas conseguem pôr as crianças a aprender de formas diferentes.”

Das mais de quatro centenas de projetos recebidos pela fundação, escolheram-se dez. Alguns deles já foram postos em prática, enquanto outros se encontram ainda numa fase de preparação.

De cozinhas de lama a “escape rooms”

Um dos projetos vencedores foi o da Escola Básica 1 e Jardim de Infância de Estrada, em Braga, intitulado Brincar e Aprender à Chuva, Vento e Sol!, composto por uma horta escolar e uma cozinha de lama, que irá ser construída com parte do dinheiro do prémio. “Essencialmente, é um espaço exterior, em madeira, onde as crianças brincam com tudo o que encontrarem na Natureza, sejam folhas ou pauzinhos, terra, insetos mortos, cascas de caracóis. No fundo, aquilo com que alguns de nós brincávamos quando éramos crianças, mas que, atualmente, os miúdos, infelizmente, já não fazem”, explica-nos Alexandra Paz, a educadora de infância envolvida no projeto.

“A metodologia vai ser aplicada na cozinha, pois iremos aproveitá-la para fazer experiências científicas e ensinar, por exemplo, matérias de Estudo do Meio. Há tanta coisa que é tão mais interessante aprender fora da sala de aula e, no entanto, ao contrário do que vimos na escola de Billund, as nossas crianças são capazes de passar 12 horas fechadas.” Alexandra Paz foi um dos dez professores que receberam formação de Patrícia Castanheira e de Per Havgaard, da LEGO Foundation, este ano, em Lisboa. “Foram dois dias que nos abriram um mundo de possibilidades. Saímos dali cheios de vontade de chegar à nossa escola e aplicar o que aprendemos.”

Lego House O edifício, construído em 2017, é um ícone da cidade de Billund que os professores portugueses tiveram oportunidade de visitar

Isso mesmo sentiu Manuel Calado, professor do 1.º ciclo na Escola Básica de Alcobaça. Fã de escape rooms, decidiu transformar um gabinete da escola que servia para arrumos numa mini escape room para os alunos. “A ideia é fazer com que eles, ao entrarem, aprendam a trabalhar em equipa, a confiar nos colegas e a ser criativos, tal como teriam de ser numa escape room verdadeira para ultrapassarem o desafio.” O projeto, intitulado Escape Room Learning & Play, deverá estar pronto em março, e o professor espera que se divirtam a aprender.

A tecnologia é outra ferramenta que Manuel Calado gosta de usar nas suas aulas. E há uma em particular que agrada muito aos seus alunos. Trata-se da plataforma Magic School, onde podem entrar numa conta de whatsapp para conversar com D. Afonso Henriques e D. Dinis. A cerca de 40 quilómetros dali, no Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos, as turmas do 1.º ano também usam a tecnologia e a criatividade para resolverem problemas. O projeto chama-se My Machine e funciona desde 2014.

Paula Barros e Alexandra Paz professora de primeiro ciclo e educadora de infância

Foto: Fundação Santander Portugal

Executivo Júnior, o projeto da EB1 Bairro Económico, em Braga, em que Paula Barros está envolvida, consciencializa alunos do 1.º ciclo para a importância da democracia: os alunos compõem uma assembleia e simulam a atividade diária da junta de freguesia local. Com o dinheiro do prémio, vão visitar a Assembleia da República. Alexandra Paz, da EB1/JI de Estrada, venceu com o projeto Brincar e Aprender à Chuva, Vento e Sol!

A ideia foi trazida da Bélgica e implementada em conjunto com o município de Óbidos. “Há uma primeira abordagem em que discutimos com a turma os problemas que gostavam de ver resolvidos”, conta Manuel Calado. De seguida, cada aluno faz um desenho de uma “máquina” que possa resolver o problema que identificou, e a turma vota naquele que considera mais interessante. O desenho segue para a Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, onde os alunos da instituição concretizam o projeto da máquina, que por sua vez vai dali para o Cenfim, uma escola profissional das Caldas onde a máquina é construída. “Lembro-me de que uma das máquinas criadas foi um aspirador-cão, sugerido por uma aluna que tinha pânico de cães. Íamos pondo o aspirador a trabalhar na sala de aula, para ela se ir habituando à imagem de um cão em movimento”, explica Irene Carrilho, professora do 1.º ciclo, que integra a equipa da direção do AE Josefa de Óbidos.

Miguel Herdade, radicado no Reino Unido há vários anos, onde até outubro assumiu funções de diretor associado do Ambition Institute UK, foi um dos membros do júri de Quem Brinca É Quem É. É ele quem sublinha a importância dos projetos a concurso: “Acho notável que as escolas, tendo tão pouca autonomia e sendo tão difícil ser professor em Portugal, devido a um sistema que tantas vezes os obriga a fazer milagres, tenham projetos tão ricos. E em escolas que, muitas vezes, têm condições muito difíceis, com poucos recursos, e os poucos que têm não podem gerir, porque isso é feito centralmente.”

Perante um tão grande número de ideias inovadoras, Inês Oom de Sousa ganhou ainda uma certeza maior: os professores portugueses “estão ávidos” de novos métodos de ensino. Essa é uma das razões por que a Fundação Santander Portugal, criada há dois anos, apontou o foco da sua ação à Educação e a LEGO Foundation lhe pareceu a parceira mais interessante. “O objetivo é implementar o método Aprender através do Brincar e dar às crianças as competências do futuro fundamentais, que as Nações Unidas, aliás, já identificaram: a criatividade, a capacidade de resolver problemas e a comunicação/colaboração. Se tiverem estas três competências, terão meio caminho andado para se adaptarem a muitas profissões e empregos que ainda nem sabemos que irão existir.”

A VISÃO viajou para a Dinamarca a convite da Fundação Santander Portugal

Patrícia Castanheira

Investigadora sénior na LEGO Foundation, Dinamarca

“Aprendemos melhor em conjunto com os outros”

Especializada na formação de professores, a investigadora portuguesa defende que o método Aprender através do Brincar prepara de forma mais eficiente as crianças para o futuro, uma vez que trabalha autonomia e cooperação em simultâneo

Foto: Fundação Santander Portugal

Em que consiste a metodologia Aprender através do Brincar?
O método resulta de muitos anos de investigação realizada na LEGO Foundation e noutros setores da Educação. Vem muito na linha do construcionismo, ou seja, na ideia de construir a sua própria aprendizagem. É uma aprendizagem que promove alegria, que traz significado para as crianças, que fomenta a tentativa e erro e a interação social.

Quando fala em interação social, refere-se exatamente a quê?
Muitas vezes utilizamos uma metodologia de trabalho por projeto, em que os alunos colaboram uns com os outros, usando as suas características pessoais mais fortes. Mas também interação com o professor, que não é colocado num pedestal, mas antes facilita a aprendizagem. O tema de colaboração é muito forte neste tipo de aprendizagem, porque os seres humanos aprendem muito melhor em conjunto com outros. Claro que há exceções, mas a aprendizagem humana e dos mamíferos é feita por interação com outros mamíferos.

Essa metodologia implica mudanças estruturais na escola ou na sala de aulas?
Não. No fundo, é uma mudança de mentalidade, da forma como o professor se vê a si próprio: um facilitador e não um transmissor de conhecimentos. Isto porque a nossa metodologia parte do princípio de que as crianças devem ter autonomia e têm também conhecimento, e que o conhecimento pode ser construído através do coletivo com a ajuda do professor. Esta é a nossa filosofia, que não implica uma mudança estrutural, mas de mentalidade. O que talvez seja um bocadinho mais difícil de fazer…

E não utiliza necessariamente blocos LEGO…
Não.

Em relação à metodologia e à sua eficácia, o que se sabe sobre a forma como esta contribui para o desenvolvimento das competências cognitivas e socioemocionais das crianças?
Temos muita investigação realizada e que nos mostra que é muito eficaz. Ao contrário do que acontece através da aprendizagem por memorização, o facto de nos focarmos em atividades que tenham significado para as crianças cria uma ligação cognitiva mais forte. A nível do desenvolvimento do cérebro, brincar – especialmente nos primeiros mil dias de vida – cria ligações neuronais que, mais tarde, ajudam a que as crianças tenham melhores resultados académicos. Existem também estudos que mostram que a aprendizagem através da brincadeira traz muitos benefícios para as competências sociais, porque através da brincadeira as crianças aprendem estratégias de colaboração, de partilha e de negociação.

Palavras-chave:

A palavra burnout é-nos familiar; quase todos a associamos a exaustão e esgotamento. E, sim, falamos de situações em que os nossos recursos se esgotam face às exigências contínuas do trabalho, quando se trata de burnout laboral.

Caracteriza-se pela exaustão física e/ou emocional e pela diminuição do envolvimento pessoal no meio laboral. Há quem apresente queixas somáticas, como dores no corpo; há quem deixe de dormir ou tenha um sono não reparador, como se nunca desligasse. Há quem note que está impaciente e irritado com tudo ou apático e incapaz de se concentrar.

Existe outra manifestação de burnout especialmente estranha para o próprio e para quem o rodeia, que é uma mudança na atitude em relação ao trabalho: o cuidado e a excelência dão lugar ao ressentimento e à indiferença. A mudança é progressiva, insidiosa e, infelizmente, pode só se tornar clara quando está instalada.

Vamos ser realistas: muitos trabalhos implicam picos em que se trabalha muito mais do que o estipulado e em piores condições, mas, tal como o nosso corpo está preparado para lidar com uma grande ameaça limitada no tempo, canalizando todo o nosso esforço para tal, também conseguimos aguentar uns dias acima das nossas capacidades. O burnout não aparece nessas condições, mas sim quando a exigência está sempre acima do razoável.

E de onde vem esta exigência? Pode vir de dentro, pode vir de fora e, muitas vezes, altas pressões do exterior encontram as condições para a tempestade perfeita nas características perfecionistas que muitos de nós temos.

Comecemos pelo que depende da maneira como nos tratamos a nós próprios. Pela minha experiência clínica, constato que os maiores candidatos a burnout são usualmente pessoas muito competentes, que entregam resultados “inalcançáveis”, trabalham horas a fio e não o fazem num pico, fazem-no continuamente. Exigem a si próprias fazê-lo em todas as áreas da vida; são as pessoas que dizem “se é para fazer mal, não vale a pena fazer”. Máximo esforço para o máximo de resultados, em tudo, sempre.

Não é de estranhar que assim seja – as mensagens mais difundidas desde a infância, na sociedade atual, são as de que “és especial”, “podes ser tudo o que quiseres”, “não há limites”. Os pais e educadores fazem-no com a intenção de estimular, encorajar, aumentar a autoestima. Paradoxalmente, o efeito é o oposto: ensinamos, desde cedo, que vamos poder gostar de nós só quando atingirmos resultados brilhantes, mostrarmos que somos especiais e que conseguimos o impossível.

Passo muito tempo a dar uma visão diferente de autoconfiança e autoestima: o objetivo é gostar de nós próprios e confiar em nós próprios, mesmo quando não nos sentimos a pessoa mais inteligente da sala ou a que atingiu melhores resultados. Para competir com a mensagem de que “o céu é o limite!”, argumento que todos temos limites, físicos, de energia, de concentração ou de capacidade cognitiva, que estão bastante cá na terra.

Nunca tantos que têm acesso a colchões tão bons dormiram tão pouco e tão mal – o autocuidado também passa por respeitar os limites do corpo, dormir, descansar, rir e emocionar-se numa base regular. O amor-próprio e a autocompaixão nos momentos mais difíceis são condições necessárias a um sucesso sustentável, e, por isso, o mais difícil e mais corajoso de tudo passa por aceitar o nosso direito a falhar, a errar, a dizer “não” e a dizer “isso não consigo”. Então aí, e só aí, é que estamos em condições de pôr esforço, empenho e garra continuamente em objetivos exigentes sem canibalizar os nossos próprios recursos.

E os fatores contextuais ou externos à pessoa? Os que dependem do local de trabalho. É o tipo de cultura organizacional que precisa urgentemente de mudar. São os ambientes ameaçadores, controladores, onde as pessoas sentem sobretudo emoções como medo e vergonha, onde a pressão é constante e o elogio, escasso.

Se é crucial fazer webinars e workshops sobre saúde mental no local de trabalho, é ainda mais importante falar abertamente do impacto da cultura organizacional e das lideranças na nossa saúde mental. E continuar a trabalhar na consistência entre o que é proclamado como prioridade da empresa ou organização e o que é feito no dia a dia.

Artigo publicado originalmente na VISÃO Saúde nº 30 de Junho / Julho 2023

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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