Segundo a AFP, a moção de censura apresentada pela aliança de esquerda Nova Frente Popular deverá ser aprovada, uma vez que a União Nacional, de extrema-direita, também teve uma iniciativa idêntica. Após várias concessões a exigências da extrema-direita, o primeiro-ministro, de centro-direita e antigo comissário europeu (e antigo negociador da União Europeia para o ‘Brexit’), atribuiu ao executivo a aprovação do orçamento da Segurança Social sem votação, insistindo que tinha “chegado ao fim do diálogo” com os grupos políticos.

A moção de censura ao Governo – que cumpre 100 dias no próximo 13 de dezembro – tem aprovação quase garantida, uma vez que tanto a esquerda como a extrema-direita anunciaram que votarão favoravelmente (para derrubar o Governo, é necessário um voto de censura de 288 deputados).

Se o executivo cair, agrava-se a crise política criada pela dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente Emmanuel Macron, em junho, na sequência da vitória da extrema-direita nas eleições europeias.

No mês seguinte, as eleições legislativas deram origem a uma Assembleia Nacional muito fragmentada e Barnier só tomou posse como primeiro-ministro em 5 de setembro, sucedendo a Gabriel Attal, após 60 dias de impasse.

Longe vão os dias em que os museus eram belas adormecidas. Entrava-se aí, em passo sossegado e silêncio sacro, para fazer um intervalo do frenesim do mundo. Hoje, esses supostos santuários para uma mera contemplação da arte estão transformados em campos de batalha. Não se trata meramente do muito divulgado tiro ao alvo com sopa de tomate ou dedadas de tinta, apontado a obras canónicas como a Mona Lisa em nome das lutas ambientais – um ativismo visto como protesto eficaz por alguns e infantilidade mal direcionada por outros. O museu, e outras instituições culturais, têm sido empurrados a abandonar a sua suposta neutralidade (que, a bem dizer, nunca existiu já que sempre funcionaram como espaços de poder que selecionam quem é aí visto e valorizado), e a confrontar-se com temáticas como a sustentabilidade ambiental, a restituição de bens culturais aos países de origem, a igualdade de género nas coleções e programações, o colonialismo, a inclusão, a representatividade de minorias, a justiça social. Terem exposições bestseller, recordes de bilhetes vendidos, edifícios de arquitetos-estrela? Não chega para ficar bem na moldura. Aos museus, pede-se agora maior responsabilização social, cívica, política. 
Dificilmente poderá causar espanto, portanto, que as guerras do nosso tempo tão polarizado se reflitam nos espaços museológicos – incluindo os conflitos feitos com balas reais e mísseis rasantes. A guerra levada a cabo por Israel no território da Palestina, em consequência do atentado de 7 de outubro que vitimou 1200 israelitas, tem deixado um rasto de destruição também em insuspeitos white cubes. Na Alemanha, nos EUA ou na Grâ-Bretanha, ao longo do último ano, tem sido denunciada nos media uma vaga de cancelamentos de exposições e apoios dedicados a artistas que se manifestaram em prol da causa palestiniana ou do fim da guerra, sendo, consequentemente, acusados de alegado anti-semitismo. É, pois, uma significativa exceção a registar o facto da artista britânica Jasleen Kaur, 38 anos, ter sido ontem anunciada como vencedora da edição 2024 do Prémio Turner, o maior galardão anual atribuído a um artista visual no Reino Unido.

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Bem dizia o Emídio Rangel, em tempos, que a televisão podia “vender” um Presidente da República. E não foi isso que aconteceu com o atual? Só que Marcelo Rebelo de Sousa tinha atrás de si toda uma carreira política e o País conhecia o seu pensamento.

Se, por um lado, Gouveia e Melo tem a virtude de surgir de fora do universo partidário, numa altura em que os partidos políticos estão algo desacreditados aos olhos do cidadão comum, o grande óbice será a aura sebastianista que o cobre, em linha com a tradição mística portuguesa.

Afinal, o que tornou conhecido o homem dos submarinos foi o plano de vacinação contra a Covid-19. A questão é que isso não chega para assumir a presidência dum país. O militar criou uma persona a partir daquela bem-sucedida missão, mas cujo mérito não pode ser atribuído a um só homem. Como se sabe a task force contou com milhares de elementos, civis e militares e a atenção e empenho permanentes do governo, autarquias e presidência. Afinal, o mérito estará também e sobretudo no comando militar que o nomeou para essa missão.  

Cada vez é mais evidente que as pessoas andam à procura de heróis. É uma necessidade popular. Mas os verdadeiros heróis são os cidadãos que criam os filhos com sacrifícios e imensas privações, sobrevivendo neste país com o salário mínimo. Heróis são as mulheres dos subúrbios das grandes cidades que se levantam de madrugada para gastar horas nos transportes a caminho de empregos miseravelmente pagos, e no final do dia voltarem a casa derreadas no corpo e na alma.

O que Portugal precisa em Belém não é de um militar austero, sisudo e com fama de competente, mas sim de alguém que conheça o País, as suas forças e fraquezas, virtudes e defeitos, e saiba compreender as oportunidades que estão à sua frente. O episódio Eanes teve um tempo próprio e adequado que já lá vai, e apesar da sua impreparação política na época, Eanes soube honrar a confiança dos portugueses. Mas Gouveia não é Eanes porque este tem pensamento próprio. E não precisamos de um homem providencial, um dom sebastião ou um salvador da pátria, como querem as viúvas de Salazar, pois esse tipo de solução acaba sempre por correr mal.

A imagem de disciplina e autoridade não chegam para fazer um país. O discurso nacionalista pode agradar muito à extrema-direita mas não basta. Nem isso nem o facto de envergar um camuflado. É necessário ter pensamento político e um projeto próprio. Eu disse autoridade, não autoritarismo. Não nos esqueçamos da sua controversa atuação durante o incidente da tripulação dos militares da marinha na Madeira.

Por outro lado, voltarmos a ter um militar à frente do País, num estado de direito democrático é esquisito e perigoso. É andar para trás. E o último almirante em Belém só suscita más memórias.

Mas um dos maiores óbices a esta candidatura é o apoio oportunista do Chega. O apoio dos populistas da direita radical é razão mais do que suficiente para não a apoiar por uma questão de princípio. No momento em que se candidatar Gouveia e Melo tem que vir dizer se está à vontade com tal apoio político. Além disso, como vai ele lidar com o apoio dos negacionistas anti-vacinas que pululam no CH, quando em plena campanha de vacinação em massa, durante a pandemia, foi insultado e alvo de tentativa de boicote por parte de alguns deles?

A mais que provável candidatura de Gouveia e Melo a Belém resulta de um equívoco. Nada se sabe sobre as ideias políticas do almirante para o País, e mesmo assim o militar é apontado como favorito, graças à comunicação social que o tem vindo a levar ao colo há muito.

Claro que qualquer cidadão português com mais de trinta e cinco anos se pode candidatar, mas sejamos sérios, o País necessita de uma figura com experiência política em Belém, e de preferência que saiba o que é a governação. Já nos bastam uns quantos burgessos que temos como deputados municipais, no parlamento e nas assessorias políticas.

Além do mais, Portugal, apesar de já ter andado debaixo de água, ainda não é um submarino. E esperemos que nunca o seja.

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Palavras-chave:

Portugal atravessa uma das piores crises de acesso a imobiliário para habitação e a tendência é que o problema se mantenha ao longo dos próximos anos. As medidas políticas até agora tomadas e as que estão previstas nos próximos anos parecem ser insuficientes para despertar o interesse dos investidores para a construção de residências. Em apenas dez anos, passámos do País das casas vazias para o País onde o rendimento das famílias não é suficiente para comprar habitação. Já quem comprou casa “em bom tempo” vê o seu imóvel valorizado como nunca. Veja aqui quando pode valer a sua casa.

Os bombeiros sapadores que se manifestaram esta terça-feira em Lisboa alegam que usaram petardos para serem ouvidos pelo Governo, que acusam de recusar negociar aumentos para os profissionais, e prometem aumentar as ações de protesto. “Fazemos um bocadinho de barulho e cai o Carmo e a Trindade. Isto é uma negociação, não brinquem connosco”, afirmou à Lusa um dos bombeiros que se juntaram junto ao edifício do Governo para acompanhar a comissão sindical, que se reuniu com os secretários de Estado da Proteção Civil, Administração Pública e da Administração Local e Ordenamento do Território.

O Governo disse “não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação”, considerando que “não estão em causa, até ao momento, as condições de segurança”, segundo fonte oficial.

Os sindicatos insistiram na continuação da reunião até às 13:30, ocasião em que se dirigiram aos profissionais reunidos no exterior do edifício. Leonel Mateus, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS), criticou a decisão do Governo de “fechar as negociações”, pelo que irão analisar “novas formas de luta”. “Depois não venham pedir aos bombeiros para não fazerem greve ou não fecharem quartéis”, disse o dirigente, que criticou a proposta levada à mesa pelo executivo.

A Coreia do Sul está mergulhada numa crise política grave. O presidente Yoon Suk-Yeol decretou a lei marcial, apanhando de surpresa todos, incluindo os Estados Unidos, que mantêm 41 mil militares no país.

O modelo político sul-coreano é uma réplica do sistema americano. O presidente governa, escolhe o primeiro-ministro e os membros do governo, mas não legisla. Pode decretar a lei marcial, mas a Assembleia Nacional tem o poder de revogar essa decisão. E foi exatamente isso que fez, sem hesitação.

Esta crise não é política nem de segurança nacional. É pessoal. O presidente está furioso com uma investigação à sua mulher, acusada de manipulação bolsista. E perdeu a cabeça. Tentou ordenar às forças militares que invadissem o parlamento, mas falhou. O país reagiu. Milhares de sul-coreanos encheram a praça central para condenar a “golpada” presidencial.

Enquanto Seul treme, Kim Jong-Un festeja. Sente-se o dono da península. Tem tropas prontas para atacar e conta com Moscovo e Pequim. Em Washington, ninguém pia. Biden está em Angola, e nem a Casa Branca nem o Departamento de Estado sabem o que fazer. Adensa-se a trama de 2024, mesmo sem Trump na Sala Oval. O cenário é perigoso e instável. O Japão e Taiwan estão em alerta.

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