A 30 de junho de 2019, o então 45º Presidente dos EUA fez história ao encontrar-se com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em Panmunjom. O encontro não deu em nada, exceto muita euforia mediática e vagas promessas de paz. Curiosamente, horas antes de se encontrar com o líder da dinastia estalinista, Donald Trump sobrevoou parte daquilo que se designa há sete décadas como a zona desmilitarizada (DMZ) da península. Comentário que lhe terá saído ao ver os bosques e a área virgem, altamente minada, ao longo do paralelo 38: “Isto tem um enorme potencial para se fazerem condomínios fantásticos!” Já no ano anterior, em Singapura, os dois dirigentes conheceram-se pessoalmente e, na conferência de imprensa que se seguiu, a Casa Branca divulgou um vídeo promocional de quatro minutos, intitulado A Story of Opportunity, sobre as vantagens que o regime de Pyongyang teria em abdicar do seu arsenal bélico e investir, por exemplo, no turismo. Trump fora previamente informado de que o reino eremita dos Kim tinha “belas praias” e que podia ser uma “Riviera”.

Alvos As posições de Trump sobre a Gronelândia, o Panamá, Gaza e Guantánamo revelam que a sua política externa assenta sobretudo nos negócios e nas ameaças

Nos últimos dias, a “diplomacia do imobiliário” ganhou novos contornos com a proposta do antigo empresário da construção civil de converter a Faixa de Gaza num território sob tutela dos Estados Unidos da América e de a transformar numa estância balnear de luxo ‒ “para todo o mundo”. Pormenor: esta “Riviera do Médio Oriente” seria erguida sobre os escombros acumulados desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, a 7 de outubro de 2023, e os dois milhões de palestinianos que ainda vivem no retângulo de 360 quilómetros quadrados, junto ao Mediterrâneo, teriam de procurar abrigo em outras paragens. As reações foram imediatas e de repúdio. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou ser “essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica” e sublinhou que uma “paz duradoura exige progressos claros, irreversíveis e permanentes para (…) o fim da ocupação [israelita] e o estabelecimento de um Estado palestiniano independente, com Gaza como parte integrante”. Os países árabes manifestaram idêntica posição, incluindo os que são aliados tradicionais de Washington, e advertiram que jamais aceitarão uma tal deportação que pode desencadear mais uma crise de proporções inimagináveis na região. O líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, afirmou que os direitos dos seus compatriotas “não são negociáveis”, nem se encontram “à venda”.

Exemplos históricos de invasões e ocupações dos EUA

IMPERIALISMO LIBERTINO

Em declarações ao New York Times, Janina Dill, diretora do Instituto Oxford para a Ética, a Lei e os Conflitos Armados, garante que os EUA, a cumprirem-se as intenções do líder republicano, estariam a violar as convenções de Genebra e a cometer um “crime contra a Humanidade”. Outros académicos partilham da mesma opinião e recordam que o Tribunal Internacional de Justiça já por duas vezes reconheceu Gaza como parte integrante de um futuro Estado palestiniano ‒ aliás, já reconhecido por 146 dos 193 países que integram a ONU. “Trump está apenas a querer normalizar a violação ou a propor que se violem os princípios basilares da lei internacional. (…) Se passarmos a viver num mundo em que as conquistas são normalizadas e as regras legais são postas de lado, viveremos num planeta completamente diferente, que será também incrivelmente perigoso para os americanos”, alerta a académica. Nada que preocupe o homem que deveria ser o “líder do mundo livre” ‒ expressão que vem do início da Guerra Fria ‒ e que continua a assinar diariamente dezenas de memorandos e decretos presidenciais que estão a provocar uma crise constitucional a nível doméstico e uma vaga de indignação nos cantos mais remotos do planeta.

Depois de já ter retirado os EUA da Organização Mundial de Saúde, do Conselho de Direitos Humanos da ONU e do Tratado de Paris sobre o Clima, Trump decidiu, a 7 de fevereiro, impor sanções financeiras e restringir vistos aos funcionários, procuradores e magistrados do Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia (Países Baixos), por “abuso de poder” e “atacarem indevidamente” os Estados Unidos da América e Israel. Uma medida logo condenada por 79 dos Estados-membros do organismo que começou a funcionar em 2002 e tem por objetivo perseguir e julgar os responsáveis por crimes de guerra, genocídio e lesa-humanidade. António Costa, presidente do Conselho Europeu, foi uma das personalidades que não hesitou em tomar posição, em Bruxelas, ao lado de Tomoko Akane, a juíza japonesa que preside ao TPI: “Sancionar o TPI ameaça a independência do Tribunal e mina o sistema de justiça penal internacional.”

Recorde-se que, em 2020, Trump tomou uma iniciativa similar, que visava particularmente Fatou Bensouda, a então procuradora do TPI, que investigava denúncias de crimes de guerra cometidos no Afeganistão e nos territórios palestinianos ocupados. As retaliações contra a jurista gambiana também não foram um caso inédito. No início do século, a Administração de George W. Bush ameaçou utilizar todos os meios ao seu alcance caso algum cidadão dos EUA fosse indiciado pelo TPI e John Bolton, na altura secretário-adjunto para as questões de Segurança Internacional, e depois embaixador dos EUA na ONU, chegou a afirmar que Washington tinha planos de contingência para intervir militarmente nos Países Baixos e resgatar algum soldado norte-americano que estivesse detido em Haia.    

Na primavera de 2004, em plena guerra contra o terrorismo global e na sequência das invasões do Afeganistão e do Iraque, George W. Bush foi muito claro: “Não somos uma potência imperial, mas uma potência libertadora.” Atualmente, Donald Trump já nem se dá ao trabalho de negar o caráter messiânico do Colosso [Ascensão e Queda do Império Americano (Temas e Debates)], título de uma das obras mais conhecidas do historiador Niall Ferguson. A antiga vedeta televisiva assume com toda a naturalidade que os seus desejos são como ordens. No início desta semana, tanto na entrevista que deu à Fox News como na conferência de imprensa em que apareceu, reiterou que os palestinianos terão de abandonar Gaza e que o Egito e a Jordânia os devem acolher. Problema: o general Abdel Fattah El-Sisi, o Presidente do Egito e “ditador favorito” de Donald Trump ‒ expressão do inquilino da Casa Branca, em 2019 ‒ não está pelos ajustes. E o monarca do reino hachemita, em que metade da população é de origem palestiniana, ainda menos. Abdullah II reuniu esta terça-feira com o Presidente norte-americano e, à hora a que esta prosa está a ser escrita, não se conhece qualquer cedência de parte a parte. Como é habitual, Trump encarrega-se de gerir as narrativas e fez saber que está disposto a cancelar todos os apoios norte-americanos a Amã e ao Cairo. Como agora se diz, uma “lógica transacional” ‒ que só pode ser descrita como chantagem. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, agradece e prepara o fim da trégua com o Hamas. O governo de Telavive, uma coligação constituída por ultranacionalistas e fundamentalistas religiosos, é quem mais beneficia com as teses de Trump e com o ultimato que este fez ao movimento de resistência islâmica, exigindo a libertação de todos os reféns até ao meio dia de sábado, 15. E o que sucederá ao território pisado e conquistado pelo faraó Tutemés, por Nabucodonosor II, por Alexandre Magno, por Saladino e por Napoleão, caso isso não aconteça? “Vai ser o inferno”, assevera o governante mais alaranjado do mundo, ou seja, a “Riviera do Médio Oriente” volta a ser a maior prisão a céu aberto do planeta e acabam-se os planos e o dinheiro para a reconstruir ‒ qualquer coisa como 53 mil milhões de dólares, segundo um relatório divulgado por António Guterres na última terça-feira.

INUNDAÇÕES E DITADORES

Claro que o anúncio da ONU se perdeu entre os anúncios permanentes e iconoclastas do homem que pretende desmantelar o Ministério da Educação e a USAID (a agência de ajuda aos países em desenvolvimento criada por John F. Kennedy, em 1961), que já está a purgar o Pentágono e todo o setor da Justiça, e que não se poupa a esforços para despedir os funcionários que ponham em causa a ordem trumpiana ou expulsar os “maiores criminosos” que entraram de forma irregular na terra que já foi do Tio Sam. Com o precioso auxílio de Elon Musk (empresário que se já se comporta como vice-rei das Américas), de Stephen Miller (cruzado anti-imigração e vice-chefe de Gabinete) e de Russ Vought (ideólogo anti-woke responsável pelo Departamento de Gestão e Orçamento), o 47º Presidente tem todas as condições para continuar a sua (contra) revolução para devolver a grandiosidade aos EUA. O que quer que isso signifique. Trump promete uma nova Era de Ouro equivalente à Gilded Age, a época do capitalismo selvagem e dos multimilionários que monopolizavam a riqueza e ditavam as regras do poder, entre o fim da guerra civil (1865) e a afirmação do país como uma potência global (no início do século XX).

Ao suspender leis anticorrupção, ao dizer que o Golfo do México passa a chamar-se Golfo da América, ao impor taxas alfandegárias de 25% às importações sobre o aço e o alumínio, ao decretar o regresso das palhinhas de plástico ‒ porque as de papel “às vezes explodem” ‒, ou ao revelar a libertação de um professor norte-americano (Mark Fogel) que cumpria uma pena de 14 anos na Rússia, Trump e a sua equipa cumprem uma política comunicacional que tem por objetivo neutralizar adversários e críticas. Steve Bannon, o ex-estratega-mor do Presidente, chamou-lhe a estratégia da inundação ‒ flood zone. Com múltiplas notícias e iniciativas, verdadeiras ou falsas, com ou sem ligação entre si, o efeito de hiperatividade, de saturação, de caos, está garantido. 

Vamos a um exemplo. Quem se lembra ainda da recente promessa de colocar 30 mil migrantes em Guantánamo? O absolutismo de Donald Trump e a desinformação ‒ não só nas redes sociais ‒ fazem com que poucos se questionem sobre a exequibilidade de uma tal medida. No final da passada semana, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, informou que o plano já esta em curso e que os primeiros voos com “largas dezenas” de indocumentados tinham já aterrado na maior ilha das Caraíbas. Nem foi preciso explicar que há a forte possibilidade de se tratar de mais uma clara violação às convenções de Genebra e à lei internacional, como defendem vários académicos e organizações de direitos humanos. Os  “homo economicus” do Presidente estão dispostos a tudo, até a omitir que a famosa base norte-americana, com 117 quilómetros quadrados, não tem sequer capacidade para acolher tantos “criminosos estrangeiros”, por falta de instalações apropriadas. A não ser que seja erguida, à pressa, uma cidade de tendas. O que não parece razoável, nem possível, nos terrenos disponíveis e adjacentes à enorme baía de águas profundas. Há duas décadas, quando o complexo atingiu a sua lotação limite, com 800 prisioneiros suspeitos de terrorismo e seis mil militares e respetivas famílias, Washington teve de raspar o erário público. Segundo uma investigação da NPR, a rádio pública, os contribuintes têm de pagar, pelo menos, 380 milhões de dólares por ano.

Trump quer que Gaza seja a “Riviera do Médio Oriente”, desde que haja quem pague
a reconstrução: 53 mil milhões de dólares,
segundo António Guterres

Criada em 1903, na sequência da guerra entre Espanha e Estados Unidos da América, que ditou o fim do império colonial de Madrid, esta é a prisão mais cara do mundo. Em 1934, o governo de Havana aceitou subscrever um novo contrato de arrendamento, por tempo indeterminado e no valor de 3800 euros anuais. Com a chegada ao poder dos revolucionários barbudos, liderados por Fidel Castro, o cheque no montante atrás descrito deixou de ser cobrado. Barack Obama e Joe Biden quiseram fechar o complexo penitenciário na mais antiga base militar dos EUA, fora do seu território continental. Os republicanos não o permitiram e cerca de 15 “combatentes inimigos”, alegadamente responsáveis pelos atentados do 11 de Setembro, continuam num limbo legal e sem destino à vista. Para Trump não há problema. Guantánamo é apenas uma das sete centenas de bases militares norte-americanas espalhadas pelo mundo (ver infografia). O importante, no entender do Presidente, é que a América continua a ser a “nação indispensável” e ele possa dispor de todas as ferramentas para negociar e impor a sua lei. Tom Engelhardt, autor de A Nation Unmade by War (Uma Nação Desfeita pela Guerra, em tradução livre), defende que os EUA vivem numa “era do absurdo”, em que a desordem alastra. O economista Branko Milanovic diz o mesmo por outras palavras: “Não há absolutamente nada que se possa oferecer aos ditadores para que abandonem o poder.”

Palavras-chave:

1812 – Canadá
James Madison (1809-1817)

O Reino Unido tenta impor um bloqueio comercial aos EUA e Washington inicia uma guerra com a antiga metrópole que dura seis anos. Os soldados de James Madison ocupam Toronto e várias outras localidades canadianas (que integram a então colónia britânica), tropas inglesas incendeiam a Casa Branca. Os grandes perdedores do conflito são as populações indígenas, que perdem parte das suas terras ancestrais.

1818 – Flórida
James Monroe (1817-1825)

O 5º Presidente dos EUA considerava ter o inalienável direito de alargar as fronteiras do seu jovem país e de expulsar das Américas as potências europeias (dando origem à doutrina com o seu apelido). Além de ter conquistado mais de 115 mil km2 ao império britânico, mandou invadir a Flórida (colónia de Espanha). Madrid acaba por reconhecer a anexação e recebe 5 milhões de dólares.

Donald Trump: Quero, posso e mando!

1845 – Texas
John Tyler (1841-1845)

Fervoroso defensor da doutrina Monroe e do “destino manifesto” do seu país, o 10º Presidente tentou contrariar a influência do Reino Unido no Pacífico (quis apoderar-se do Havai) e terminou o seu mandato com a invasão do Texas. O México entrou depois em guerra com os EUA e, em 1948, derrotado, perde mais de metade do seu território (incluindo a Califórnia, o Nevada e o Utah).

1867 – Ilhas Midway
Andrew Johnson (1865-1869)

O 17º Presidente dos EUA, que se instala na Casa Branca após a morte de Abraham Lincoln, é recordado pelo melhor negócio da história: a aquisição do Alasca à Rússia. No entanto, no mesmo ano, Washington consolida a sua presença no Pacífico, com a ocupação do pequeno mas estratégico arquipélago de Midway.

1893 – Havai
Grover Cleveland (1893-1897)

Aproveitando-se das rivalidades na monarquia indígena havaiana, os EUA apoiam um golpe palaciano contra a rainha Lili’uokalani e invadem o arquipélago. É instaurada uma república fantoche e o território acaba por ser anexado por Washington em 1898.  

1898 – Porto Rico/Cuba/Filipinas
William McKinley (1897-1901)

Depois de décadas de escaramuças fronteiriças com o império espanhol, os EUA aproveitam o afundamento de um seu couraçado, o USS Maine, na baía de Havana, para declarar guerra ao governo de Madrid. Em três meses e meio, as tropas de Washington conquistam todas as províncias espanholas nas Caraíbas e no Pacífico: Cuba, Porto Rico, Filipinas, Samoa, Guam. Antes de ser assassinado por um anarquista, McKinley enviou, no verão de 1900, cinco mil marines para a China, que participaram na batalha de Pequim.

1903 – Panamá
Theodore Roosevelt (1901-1909)

O antigo militar e aventureiro que combateu em Cuba e foi vice-presidente de McKinley prosseguiu as políticas expansionistas e foi também decisivo na afirmação dos EUA como uma potência global. É ele o obreiro da intervenção militar que permitiu a independência do Panamá (separando-se da Colômbia) e a construção do canal a ligar o Atlântico e o Pacífico. Paradoxalmente, foi o primeiro norte-americano a receber o Nobel da Paz, em 1906.

1915 – Haiti/Ilhas Virgens/República Dominicana
Woodrow Wilson (1913-1921)

O 28º Presidente dos EUA, antes de envolver o seu país no primeiro conflito mundial, manteve as políticas dos seus antecessores e deu novo ímpeto às guerras das bananas – as sucessivas intervenções militares no continente americano. As Caraíbas foram um alvo privilegiado: Washington até convenceu a Dinamarca a vender-lhe as ilhas Virgens, por 25 milhões de dólares.

1947 – Micronésia/Palau/Marianas/Marshall
Harry Truman (1945-1953)

Logo no final da II Guerra Mundial, os EUA encarregaram-se de ocupar militarmente os dois principais derrotados do conflito: a Alemanha e o Japão. Só à custa do extinto Império do Sol Nascente, os EUA apoderaram-se de vários arquipélagos do Pacífico que continuam sob a sua tutela.

1965 – Vietname
Lyndon Johnson (1963-1969)

Os Presidentes Eisenhower e Kennedy começaram por enviar “conselheiros militares” para a península da Indochina. Mas seria o 36º inquilino da Casa Branca a dar ordem de marcha a dezenas de milhares de marines para combater numa guerra que só terminou em 1975, de forma inglória e humilhante para Washington, no consulado de Richard Nixon. Com este último, o conflito estendeu-se igualmente ao Laos e ao Camboja.

1988 – Honduras
Ronald Reagan (1981-1989)

Ao longo do século XX, os EUA invadiram este país da América Central em nove ocasiões. A mais recente ocorreu em março de 1988, a pedido do governo de Tegucigalpa, devido às interferências e às incursões, em território hondurenho, dos sandinistas nicaraguenses.

1989 – Panamá/Iraque/Somália
George H. W. Bush (1989-1993)

A quatro dias do Natal, o 41º Presidente dos EUA deu luz verde à Operação Justa Causa e, em cinco semanas, tudo ficou resolvido: Manuel Noriega, o general e Chefe de Estado panamenho, antigo colaborador da CIA que se convertera num barão do narcotráfico, foi capturado e julgado num tribunal da Flórida, sendo condenado a 40 anos de prisão. A Administração Bush, sob mandato das Nações Unidas, interveio também no Iraque (após Saddam Hussein invadir o Koweit) e na Somália.

1999 – Ex-Jugoslávia
Bill Clinton (1993-2001)

Após os fiascos da Somália e do Ruanda (1994), o 42º Presidente dos EUA empenha-se na queda do regime de Slobodan Milosevic e, para proteger as minorias albanesas e muçulmanas do Kosovo, forças norte-americanas e da NATO bombardeiam Belgrado, a capital sérvia, e instalam-se no território que declararia a independência em 2008.

2001 – Afeganistão/Iraque
George W. Bush (2001-2009)

Na sequência dos ataques de 11 de setembro, a Administração Bush lança a guerra global ao terrorismo, afasta os talibãs do poder em Cabul, declara Irão, Iraque e Coreia do Norte como o “eixo do mal” e acusa Saddam Hussein de possuir “armas de destruição em massa”. Desde a entrada da CIA e das tropas norte-americanas no Afeganistão, os EUA gastaram 14 biliões de dólares e provocaram 4,5 milhões de mortos.

2011 – Líbia/Síria/Iémen
Barack Obama (2009-2017)

Nove meses após instalar-se na Casa Branca, o 44º Presidente recebeu o Nobel da Paz, mas os seus dois mandatos demonstraram que não era um pacifista. Em 2011, os EUA e a NATO bombardearam a Líbia e permitiram o linchamento de Kadhafi. Em 2014, a Primavera Árabe estava enterrada, com a renovação de várias ditaduras no Médio Oriente e no Norte de África, enquanto as tropas norte-americanas se envolviam cada vez mais, a partir de 2014, nos conflitos sírio e iemenita.

A Adobe revela que o Generate Video entrou em fase de testes para o público. A ferramenta pode ser acedida através da aplicação Firefly e permite aos utilizadores gerarem, a partir de textos ou imagens, clipes de vídeo com duração até cinco segundos e uma resolução Full HD (1920×1080 píxeis). Além deste gerador, a empresa lança ainda novas funcionalidades para geração de imagens e de tradução.

O Generate Video já tinha surgido em beta para os subscritores da aplicação Premiere Pro, em outubro, e surge agora de forma independente para os utilizadores, dois meses depois de a OpenAI ter lançado um outro gerador de vídeos, chamado de Sora. Na ferramenta da Adobe, é possível usar descrições de texto ou imagens como pontos de entrada para o sistema gerar vídeos. A solução disponibiliza vários resultados que podem depois ser refinados, com diferentes estilos, ângulos de câmara, movimentos e distâncias, explica o The Verge.

A solução da Adobe demora cerca de 90 segundos a produzir os primeiros resultados e está limitada a cinco segundos (menos que os 20 segundos do Sora). A Adobe está a trabalhar em modelos mais rápidos, um modo de resolução mais baixa e ainda um modelo para gerar vídeo 4K, prometendo novidades para “breve”.

Na aplicação Firefly, os utilizadores vão encontrar uma nova interface, integração com as aplicações Creative Cloud como Photoshop, Premiere Pro e Express, o que torna mais fácil a movimentação de conteúdos gerados por IA. A Adobe usou conteúdos públicos e licenciados para treinar o modelo Firefly, pelo que os vídeos gerados podem ser usados sem o risco de estar a violar propriedade intelectual.

De recordar que há concorrência no setor: além da OpenAI, com o Sora, também a Google está a testar o Veo AI e empresas como a ByteDance ou a Pika Labs estão a lançar soluções próprias na área dos geradores de vídeos.

O Firefly tem agora duas novas modalidades de subscrição: Firefly Standard (9,99 dólares por mês para créditos para 2000 vídeos/ áudios e produção de 20 vídeos de 1080p até cinco segundos) e o Firefly Pro (de 29,99 dólares por mês com 7000 créditos e até 70 vídeos de cinco segundos). Ambas garantem acesso ilimitado às funcionalidades de imagem e vectoriais do Firefly.

Está de volta aos carris o programa turístico mais antigo da CP – Comboios de Portugal (vai na 71ª edição) que, aos sábados e domingos, até 2 de março, levará os passageiros a ver os amendoais em flor de Vila Nova de Foz Coa a bordo de carruagens Schindler.

Em fevereiro e março, Trás-os-Montes fica pintada de branco e rosa, as cores das pétalas das amendoeiras em floração que cobrem cerca de 26 770 hectares da região – a par do Alentejo, é a principal produtora de amêndoa em Portugal. 

Foto: Lucília Monteiro

A partir deste sábado, 15, o comboio viaja entre o Porto (saída da estação de Campanhã às 7h25) e o Pocinho, Vila Nova de Foz Coa (chegada às 10h48), uma das regiões do distrito da Guarda com Indicação Geográfica Protegida (IGP) da amêndoa de Trás-os-Montes, que abrange ainda os concelhos do distrito de Bragança, Valpaços, Murça, Alijó, São João da Pesqueira e Penedono.

“Junto ao rio Douro, em Castelo Melhor [a visita está incluída neste passeio da CP], a floração já está em pleno. Nas zonas mais altas, está mais atrasada. Se o tempo começar a aquecer, a floração abre. Se vier chuva e frio, anda mais devagar”, explica à VISÃO Alexandre Marinho, da Coamêndoa – Cooperativa Agrícola de Produtores de Casca Rija, ansiando que a colheita de amêndoa deste ano, que acontecerá lá para setembro, seja bem melhor do que a de 2024 (registou 85% de quebra).

A visita ao Museu do Coa faz parte do programa. Foto: DR

Além da visita guiada ao amendoal em Castelo Melhor, a Rota das Amendoeiras da CP inclui a entrada no Museu do Coa (com ou sem almoço no restaurante), obra dos arquitetos Camilo Rebelo e Tiago Pimentel na qual se conhece toda a arte rupestre do Vale do Coa. Antes do regresso ao Porto (partida do Pocinho às 17h12, chegada prevista ao Porto pelas 20h30), a viagem ainda inclui a entrada na ExpoCoa onde decorre a Festa das Amendoeiras em Flor.

Neste ano, estará disponível um serviço de cafetaria e bar no comboio, a bordo de uma carruagem-restaurante recuperada pela CP.

Rota das Amendoeiras em Flor > Porto-Pocinho > 15 fev-2 mar, sáb-dom 7h25-20h30 > adultos €51 (sem almoço), €76 (com almoço), crianças €26 (sem almoço), €39 (com almoço) > www.cp.pt

Pelo menos 28 pessoas ficaram feridas esta manhã em Munique, na Alemanha, na sequência de um atropelamento de uma multidão. De acordo com os bombeiros “várias (pessoas) correm risco de vida”. Ainda não são conhecidos os detalhes do incidente.

Através de uma publicação na rede social X, a Polícia de Munique afirma que o condutor do carro já se encontra detido e que “não representa mais perigo”. “Um veículo embateu contra um grupo de pessoas no local do incidente. Várias pessoas ficaram feridas”, escreveram, acrescentando que no local está “um grande número de operacionais”.

O trânsito foi cortado naquela zona e as autoridades estão a pedir à população para evitar a área “para que os serviços de emergência possam trabalhar sem obstáculos”.

De acordo com a polícia alemã o autor do atropelamento é um cidadão afegão, de 24 anos, requerente de asilo. Por enquanto, as autoridades não referem se o atropelamento foi intencional ou não.

(Notícia atualizada às 12h30)

A rádio é uma invenção incrível, mas o que é isso da rádio? Como é que a música e as vozes atravessam o ar até chegarem ao carro dos teus pais ou ao aparelho que tens em casa? Bom, esses sons chegam até ti graças às ondas de rádio, que são um tipo de energia que transporta sinais elétricos através do ar.

A grande aventura da rádio, que é um dos meios de comunicação mais populares do mundo, começou graças a um cientista e inventor italiano chamado Guglielmo Marconi. Foi ele quem criou o primeiro telégrafo sem fio, ou seja, um telégrafo que mandava mensagens através do ar.

Guglielmo Marconi junto dos aparelho que usou nas suas primeiras transmissões, na década de 1890 Foto: Wikicommons

Muitos não acreditavam que se conseguisse tal proeza sem fios à mistura, já que as mensagens dos telégrafos, até essa altura, eram transmitida através de fiação. Mas Marconi provou a todos que estava certo e, em 1901, enviou pela primeira vez sinais de rádio pelo ar que atravessaram o oceano Atlântico.

A mensagem, em código Morse, partiu da Cornualha, em Inglaterra, e chegou à Terra Nova, no Canadá. E que mensagem foi essa? O sinal “S”, que viajou mais de 3 mil quilómetros através do oceano Atlântico! Só mais tarde, graças ao trabalho de outros cientista, se conseguiram enviar sons, como vozes e música.

A rádio em Portugal

Em Portugal, as primeiras experiências em rádio aconteceram em 1914, com a Rádio Hertz. Mas só em 1925 começaram as primeiras emissões regulares de rádio, numa estação chamada CTI AA.

Uma década depois, em 1935, foi criada a Emissora Nacional, que contava com duas emissões diárias, uma à hora de almoço e outra depois da hora do jantar. Nessa altura, poucas pessoas tinham aparelhos de rádio em casa, por isso, juntavam-se em locais públicos para ouvir a rádio.

Na década de 1950, tudo era diferente. A rádio era o meio de comunicação por excelência, e as famílias reuniam-se em redor dos aparelhos que tinham em casa para ouvirem os programas mais populares. Havia muita música e teatro radiofónico. As pessoas que trabalhavam na rádio eram verdadeiras estrelas.

A situação mudou com a chegada da televisão a Portugal. A RTP iniciou as suas emissões regulares em 1957. Foi uma verdadeira loucura. Uns anos depois, em vez da rádio, as família juntavam-se em frente ao aparelho de televisão. Ter uma televisão era um luxo, mas repara: só havia um canal e a imagem era a preto e branco.

O papel da rádio na revolução de 25 de Abril


Na madrugada de 25 de Abril de 1974, os militares saíram dos quartéis e levaram a cabo um golpe de Estado, para deitar abaixo o Governo. A rádio teve um papel preponderante. Duas emissoras – primeiro os Emissores Associados de Lisboa, depois a Rádio Renascença – colaboraram com os militares, acordando transmitir a senha que daria aos vários quartéis a indicação de que a Revolução estava em curso. As senhas eram duas músicas: E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, e Grândola Vila Morena, de José Afonso.

D.R.


Poucas horas depois, outra emissora seria ocupada pelo Movimento das Forças Armadas – o Rádio Clube Português. Na antena, comunicaram o que estava a acontecer e pediram aos habitantes de Lisboa que se mantivessem em casa, receando que a Revolução provocasse incidentes. Mas, claro, tal não aconteceu e o povo saiu à rua para participar na Revolução dos Cravos.

Uma rádio para ti

Sabias que há em Portugal uma rádio feita por crianças e jovens? Se és leitor da VISÃO Júnior, provavelmente, já percebeste que falamos da Rádio Miúdos, a rádio parceira da tua revista na iniciativa “Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?”. É nesta rádio que são emitidos os podcasts realizados pelos alunos que participam nos “Miúdos a Votos” durante a campanha eleitoral.

A Rádio Miúdos é a primeira rádio portuguesa para crianças que iniciou as emissões experimentais em Novembro de 2015. É uma rádio exclusivamente on-line, com emissão 24 horas/7 dias por semana.

Destina-se a todas as crianças, pais e educadores, portugueses, luso-descendentes ou falantes de português que vivem em Portugal, no estrangeiro e nos países angolanos de lingua oficial portuguesa (PALOP).

O objetivo desta rádio, que desde este ano tem novos estúdios em Torres Vedras, é dar às crianças portuguesas uma rádio à sua medida, com conteúdos, música, linguagem e informação adaptados às suas idades e onde possam ter voz.

Se nunca ouviste a Rádio Miúdos, clica neste link e descobre-a. Ah! E há mais boas notícias: é que todos os anos, a rádio lança um desafio aos ouvintes que queiram trabalhar ali, e como é uma rádio online, podes participar, independentemente da região de Portugal onde vives!

Mesmo antes do início do seu mandato, a 20 de janeiro, Donald Trump deixou bem clara a sua intenção de comprar a Gronelândia, território autónomo da Dinamarca. Em resposta à proposta do líder dos Estados Unidos, foi criada uma falsa petição dinamarquesa que pretende angariar um bilião de dólares para ajudar o país nórdico a comprar o estado norte-americano da Califórnia. “Alguma vez olhaste para um mapa e pensaste: “Sabes do que a Dinamarca precisa? Mais sol, palmeiras e patins. Bem, temos uma oportunidade perfeita para tornar esse sonho realidade. Vamos comprar a Califórnia a Donald Trump!”, pode ler-se na página da petição satírica, que já conta com mais de 200 mil assinaturas.

Na petição “Måke Califørnia Great Ægain” – numa referência ao slogan de Trump “Make America Great Again” – consta uma lista de benefícios para a Dinamarca com a possível compra do estado, incluindo um fornecimento de abacates, o domínio da tecnologia e até a mudança da designação “Disneyland” para “Hans Christian Andersenland”. “O Rato Mickey com um capacete viking? Sim, por favor”, lê-se.

“Vamos trazer o hygge [palavra dinamarquesa para descrever bem-estar] para Hollywood, as ciclovias para Beverly Hills e o smørrebrød orgânico [prato dinamarquês] para todas as esquinas. O Estado de direito, os cuidados de saúde universais e a política baseada em factos podem aplicar-se”, acrescentam os criadores da petição. Tudo isto através de um financiamento coletivo (crowdfunding ) no valor de 1 bilião de dólares.

A petição dirige-se ainda a Donald Trump referindo que poderá constar no acordo “uma oferta vitalícia de pastelaria dinamarquesa” caso o Presidente aceite as negociações, para as quais a Dinamarca enviará os seus “melhores negociadores”, entre os quais executivos da Lego. “Sejamos honestos – Trump não é o maior fã da Califórnia. Ele chamou-lhe ‘o estado mais arruinado’ e tem-se desentendido com os seus líderes durante anos. Temos quase a certeza que ele estaria disposto a separar-se dele pelo preço certo”, conclui.

O Alfa Romeo Junior é o primeiro carro elétrico do fabricante italiano e marca o início da aposta deste fabricante em modelos globais. O que explica um design pensado para atrair um público diversificado. Ainda assim, considerando o que ouvimos, o visual pode gerar opiniões divididas, com faróis em “C” modernos e uma grelha marcante, mas com um estilo mais elaborado do que os clássicos designs simples da Alfa. Consideramos que se destaca pela postura agressiva e identidade distinta face aos concorrentes, onde se incluem modelos como Kia EV3, Jeep Avenger, Fiat 600e, Peugeot E-2008, VW ID.3, MG4 e Hyundai Kauai Electric. De destacar que alguns concorrentes do Junior utilizam a mesma plataforma tecnológica do grupo (Stellantis).

O Junior está disponível em três versões: a Elettrica e a Elettrica Speciale (versão ensaiada) contam com um motor de 154 cavalos, enquanto a versão desportiva Elettrica 280 Veloce, com 278 cv, recebe melhorias na suspensão e direção.

Bateria q.b.

As três versões recorrem a uma bateria com cerca de 51 kWh de capacidade útil (54 kWh totais), permitindo até 400 km de autonomia combinada WLTP nas versões menos potentes e cerca de 345 km no Veloce. No nosso teste, com a versão Speciale, conseguimos cerca de 350 km em condições reais.

O carregamento rápido chega a 100 kW, permitindo carregar de 10 a 80% em 35-40 minutos. Numa tomada doméstica de 7 kW, a carga completa demora cerca de nove horas. O modelo inclui uma bomba de calor de série, o que ajuda a melhorar a eficiência em dias de frio. Ainda assim, a autonomia é inferior à de alguns rivais, o que penaliza este Alfa.

A bagageira de 400 litros é espaçosa para um SUV compacto e conta com um fundo ajustável para guardar cabos. E pode crescer bastante com o rebatimento dos bancos traseiros (60/49). Até existe ainda um frunk… Mas é o mais pequeno que já vimos, feito à medida do cabo Type 2 – nem cabo o cabo de carregamento doméstico.

A mala é generosa para o segmento, embora um pouco à custa do espaço para os passageiros no banco de trás

Há um frunk… Ou melhor, um género de estojo para o cabo Type 2, já que não cabe mesmo mais nada

O espaço atrás não é o melhor para passageiros altos ou cadeiras volumosas. Além disso, não há apoio de braço traseiro. De outro modo, o Junior está longe de ser a melhor opção do segmento para famílias.

O habitáculo tem um ambiente desportivo, com estofos parcialmente em Alcantara e detalhes vermelhos. O volante fino e revestido a Alcantara destaca-se pelo toque premium.

O sistema multimédia, um nosso já ‘velho conhecido’ de outros carros o grupo Stellantis, inclui Apple CarPlay e Android Auto sem fios, navegação com sugestões de carregamento e atualizações remotas. Mas a interface gráfica tem um look algo antiquado e nem sempre responde rapidamente aos nossos comandos. E não gostámos da posição relativamente baixa do ecrã central, que obriga a desviar muito os olhos da estrada. Por outro lado, esta posição facilita a interação tátil. Por baixo do ecrã há vários botões físicos para controlo direto das funcionalidades mais utilizadas, nomeadamente na climatização, o que é uma mais-valia ergonómica. O mesmo podemos dizer dos controlos ao volante.

O interior tem um look muito bem conseguido, com vários elementos de design típicos da Alfa Romeo, com destaque para o volante desportivo de três raios e posição do botão Start/Stop. Mas não gostámos da posição demasiada baixa do ecrã central

A travagem regenerativa pode ser ajustada: desligada no modo Dynamic, moderada nos modos Natural e Active Efficiency, e forte no modo “B” para condução urbana.

A condução é envolvente e divertida, mantendo-se prática para o dia a dia. Gostámos particularmente dos travões, muito reativos e precisos. Neste aspeto, nota-se que estamos perante um Alfa Romeo.

Veredicto

O Alfa Junior não tem a maior autonomia nem o preço mais acessível, mas compensa com um design distinto, condução divertida e um bom nível de equipamento. Se valoriza emoção ao volante mais do que números frios e valências familiares, este Alfa pode ser a escolha certa.

Tome Nota
Alfa Romeo Junior Elettrica – Desde €38.500

alfaromeo.pt

Autonomia Satisfatório
Infoentretenimento Bom
Comunicações Satisfatório
Apoio à condução Bom

Características Potência e binário 115 kW, 260 Nm ○ Acel. 0-100 km/h: 9 s ○ Vel. máx. 150 km/h ○ Bateria: 54 kWh (50.8 kWh usáveis) ○ Autonomia WLTP 410 km ○ Potência de carregamento: 11 kW em AC e 100 kW em DC (10-80%: 30 min) ○ 1,981×1,532×4,173 m (LxAxC)

Desempenho: 4
Características: 3,5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 3,7

É um dos truques obrigatórios na afirmação das forças populistas que têm ganhado força um pouco por todo o mundo: propor soluções aparentemente muito simples para problemas muito complexos (quase sempre sem explicar minimamente a estratégia e as ações para cumprir os objetivos). É o “limpar Portugal”, do Chega, ou a insistência de Bolsonaro em prender e matar “a bandidagem” para salvar as pessoas de bem. Donald Trump, que parece assumir que foi eleito para ser o rei do mundo, sem que nenhuma ordem lhe possa fazer frente, é o grande especialista na matéria.

Uma das suas promessas quando concorria a presidente dos EUA estava, obviamente, condenada ao fracasso. Dizia ele que logo no primeiro dia na Casa Branca acabaria com a guerra na Ucrânia. Não acabou, claro. Mas esse é um dossier em que está a…mmmhh… “trabalhar”.

Há três anos, em fevereiro de 2022, o mundo assistia com estupefacção a uma invasão militar às portas da Europa, com filas de blindados russos a avançarem sobre Kiev. Os argumentos de Putin para aquilo a que chamava, simplesmente, “operação militar” pareciam (e continuam a parecer) absurdos: desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia para “defender as pessoas que há oito anos sofrem perseguição e genocídio pelo regime de Kiev”.

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1. “Um Governo recém-criado tem de deslumbrar e espantar”, disse Napoleão Bonaparte a um dos seus colaboradores, nos dias seguintes a ter sido eleito primeiro-cônsul de França. “Quando não o fizer, terá falhado.” Nos mais de dois séculos seguintes, muitos governantes levaram à prática este princípio. Em 2024, em Portugal, o candidato e depois primeiro-ministro Luís Montenegro anunciou um programa de emergência para o SNS, para começar a ser aplicado decorridos os primeiros dois meses de governação. Ao mesmo tempo, desdobrou-se em iniciativas para satisfazer diversos setores da administração pública, entre os quais se destacavam os professores e as forças de segurança, no sentido de pacificar a sociedade e obter ganhos reputacionais, relacionados com a eficácia governativa na resolução de problemas bicudos. Parecia deslumbrar. Ambicionava espantar. Teimosamente, porém, as sondagens não disparavam. Nas europeias, até perdeu.

Sabemos o que se passou depois: a seguir a professores e polícias, vieram bombeiros, médicos, enfermeiros e toda a extensa legião de corporações, fazendo o Executivo submergir debaixo de uma bola de neve que não para de crescer. Quanto ao SNS, tendo falhado estrondosamente o tal plano de emergência, acabou por ser objeto de uma gestão errática que deu prioridade à dança de cadeiras, exonerações, demissões e uma instabilidade permanente que já vai no terceiro diretor-executivo, enquanto serviços de obstetrícia e urgências dos principais hospitais encerravam à vez. Provavelmente, poucos fariam melhor do que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins. Mas a criação de expetativas, na ânsia de “deslumbrar” e de “espantar”, foi um feitiço que rapidamente se virou contra o feiticeiro. Na semana passada, atacada de todos os lados, a “pior ministra do Governo” – na expressão da deputada bloquista Joana Mortágua – defendeu-se galhardamente, com base, se não tanto na competência própria à frente do ministério, ao menos no argumentário político, nada mau para uma principiante. Combativa, a ministra procura reagir aos rumores que a dão como remodelável e espera, agora, que Luís Montenegro se lembre de outro ensinamento de Napoleão: “A arte de nomear homens [e mulheres, acrescentamos nós] não está sequer próxima de ser tão difícil como a arte de permitir aos que foram nomeados mostrar a sua plena valia.” Dar tempo ao tempo, portanto. Tempo, que é coisa que a ministra não terá.

2. Perdido no seu labirinto, pelo menos no momento em que fecha esta edição, resta ao PS colocar um anúncio nos classificados dos jornais com o seguinte texto: “Admite-se candidato à Presidência da República, nas eleições de 2026. Requer-se experiência política, idoneidade pessoal, serviço militar regularizado, cartão de militante do PS e altura mínima de 1,60m (1,55m se for mulher). Ordenado compatível. Resposta ao Largo do Rato.” Na verdade, os socialistas têm um candidato “de chave na mão”, que quer muito sê-lo e que, em termos de currículo, nada deve, por exemplo, à personalidade apoiada pelo PSD, Luís Marques Mendes. António José Seguro também já foi líder de um grande partido, foi deputado, foi ministro, foi conselheiro de Estado e até eurodeputado (coisa que Mendes não foi), e até presidente de um importante organismo do Estado (CNJ), cargo que também falta a Marques Mendes. No entanto, meio PS retorce-se na cadeira. O homem que (quase) renegou a herança “socrática” e declarou, em entrevista à VISÃO, que António Costa representava “o PS dos interesses”, comprou – se calhar, por isso… – ódios perpétuos no seio do seu próprio partido. Além do mais, o seu perfil algo cinzento e o discurso redondo não empolgam nem entusiasmam – aspetos, porém, em que Marques Mendes não lhe leva vantagem. O PS parece ainda esperar pelo eterno D. Sebastião, António Vitorino, a tal “D. Constança” que tem lugar em tudo quanto é “festa e festança” – e que, depois de muito solicitada, nunca aparece. Por estes dias, Seguro, quando acorda de manhã, deve verificar os sites informativos a ver se, durante a noite, algum socialista avançou. A sua calma aparente – ou nervoso miudinho?… – encerra uma dose de paciência que se mistura com calculismo, antes de dar o golpe de mestre. O tempo esgota-se. Seguro tardou em avançar, para que ninguém o acusasse de não ter dado todas as oportunidades à concorrência interna – e à liderança do partido. Ou de irromper com uma candidatura divisiva. No final, sobrará como o nome óbvio, o único nome, o senador que vai tirar o PS de uma enrascada. Pode estar há muito tempo retirado da política, mas ainda a sabe toda.

Golpe de Vista

Armas em vez de pensões

A pressão de Donald Trump e a crise existencial da NATO está a deixar os líderes europeus à beira de um ataque de nervos. Neste momento, a opinião pública está a ser preparada para prescindir de uma boa fatia do Estado Social a favor do rearmamento. É uma armadilha que deve ser contornada com criatividade. E se declararmos que vamos comprar armamento à China, a América fica-se?…

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