No palco de Atsumori, a coreógrafa tece uma tapeçaria onde o visível e o invisível se entrelaçam, convidando-nos a uma travessia pelos interstícios da existência humana. Inspirada na peça homónima Noh do século XV, este espetáculo transcende a narrativa para se inscrever no corpo, na luz e na memória, criando um território onde o humano e o fantasmagórico coexistem. A dança, aqui, não é apenas movimento; é invocação, um gesto que rasga o véu entre mundos e reivindica o direito de existir, de agir e de ser visto.

O espaço cénico de Atsumori é uma arena de contrastes. O chão e o teto luminosos, reminiscentes de salas de jogos com néons vibrantes, delineiam um campo onde o centro iluminado e a periferia sombria dialogam incessantemente. Os corpos, inicialmente contidos na periferia, emergem da penumbra como figuras translúcidas, quase etéreas, que parecem habitar um espaço intersticial entre a matéria e o espectro. O que se oculta à margem, nos recantos escurecidos, irrompe no centro com força renovada, onde a luz revela o que antes estava ausente ao olhar. Este movimento, meticulosamente coreografado, desafia o espectador a questionar: o que ignoramos quando só olhamos para o centro?

A periferia, muitas vezes invisível, torna-se um espaço ativo e político. Aqui, Catarina Miranda insinua que a marginalidade não é um lugar de ausência, mas de gestação — o invisível ganha forma, as sombras reclamam voz, e o que parecia secundário torna-se centro.

As figuras que habitam Atsumori são presenças fugidias, corpos que oscilam entre o sonho e a vigília, a memória e a realidade. Os intérpretes evocam a fragilidade da matéria humana, enquanto buscam, incessantemente, a sua potência máxima. Movem-se como espectros que dançam para se ancorar no mundo, recusando a invisibilidade.

Esta luta é profundamente física e simbólica. Os movimentos — inspirados pelo vudu, o folclore e as danças urbanas — criam um vocabulário híbrido que desafia a linearidade e reclama a singularidade do corpo. A pulsação rítmica dos gestos individuais, muitas vezes fragmentados, transforma-se numa expressão coletiva onde o grupo constrói o seu próprio discurso. Há aqui uma tensão entre a leveza fantasmática e a necessidade urgente de inscrição no presente. Catarina Miranda parece perguntar: de que forma nos materializamos no mundo? Como nos tornamos visíveis?

Atsumori respira através da memória. Os objetos em cena — isqueiros que lançam faíscas longas como sinais de vida, espelhos que refletem clarões de luz quase apotropaicos — são mais do que simples adereços: são vestígios de um passado que se repete, sinais de SOS de tempos de guerra e conflito. As memórias ancestrais, espectrais, mas persistentes, atravessam o espetáculo como ecos, como sombras que se recusam a desaparecer.

Os intérpretes tornam-se canais vivos desta comunicação com a ancestralidade, ora batendo palmas, ora emitindo sons vocais que ecoam no vazio. Há um ritual implícito nesta invocação, um desejo de conjurar o que foi esquecido, de abrir um portal entre o passado e o presente, entre o visível e o invisível.

No mundo atual, Atsumori reflete a condição social de um tempo marcado pelo conflito, pela opacidade e pela urgência de transformação. Os corpos que emergem da sombra para a luz encarnam o gesto político de sair da invisibilidade — de recusar a transparência fantasmática e tornarem-se agentes de mudança. A coreografia, neste sentido, não é apenas estética, mas ética: desafia-nos a abandonar o papel de vítimas, a agir sobre a realidade, a construir o futuro.

O espetáculo torna-se, assim, uma metáfora da resistência e da resiliência humanas. Cada gesto é uma tentativa de transformação, um ato que afasta as forças obscuras, como um ritual apotropaico que reivindica a vida face à sombra. Há, aqui, uma força silenciosa, mas profundamente subversiva, que interpela o espectador e perdura para além do espetáculo: como é que nos inscrevemos no mundo? Que espaço ocupamos? Qual o nosso papel singular? Qual a perspetiva que escolhemos ver? A sombra ou a luz?

Q-Day: é este o nome dado pelos criptógrafos ao dia em que chegar o primeiro computador quântico suficientemente poderoso para quebrar a criptografia atual. Ainda não existem máquinas suficientemente capazes para realizar tal ‘proeza’, no entanto, à medida que a tecnologia continua a avançar, é essencial jogar na antecipação e preparar novos métodos que garantam a segurança.  

Ainda em agosto do ano passado, o National Institute of Standards and Technology (NIST) deu um passo importante nesse sentido ao publicar a versão final dos seus primeiros standards de criptografia pós-quântica. Mas o desenvolvimento de algoritmos capazes de resistirem a ataques realizados através de computadores quânticos não é a única abordagem para este problema.  

A distribuição de chaves quânticas (QKD, na sigla em inglês) afirma-se como outra das possibilidades e é neste campo onde ‘joga’ a N10GLED. Sediada no Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia (PACT), em Évora, a startup já tem um ano e está a desenvolver um sistema de distribuição de chaves quânticas via satélite, concebido para assegurar que as comunicações permanecem invioláveis independentemente dos avanços tecnológicos.  

“A N10GLED nasceu por iniciativa dos seus dois sócios fundadores, que são a Omnidea e eu”, conta Rui Semide, CEO da startup em entrevista à Exame Informática. “Havia uma oportunidade de se fazer um projeto de desenvolvimento na área das comunicações e na distribuição de chaves quânticas e nós sentimos que era uma boa ideia fazer algo autónomo”. “Em vez de ser um projeto dentro da Omnidea, criámos uma empresa para explorar tecnologias quânticas”, detalha.  

O foco surge numa altura em que, apesar dos mais recentes marcos no desenvolvimento de sistemas de computação quântica, como o Willow, o novo chip quântico da Google, “os computadores quânticos que existem até à data são muito embrionários”, explica Rui Semide,  

“Eu costumo fazer a analogia de que nós estamos na década de 1960 da computação clássica, em que os computadores eram do tamanho de uma sala e tinham uma capacidade diminuta: ainda pouco se podia fazer com aquilo, a não ser umas contas. Nós estamos um bocadinho no mesmo pé na computação quântica”, afirma. “A questão é que temos noção do potencial que ela tem, apesar de ainda não conseguirmos fazer muita coisa em termos de computação quântica”.  

N10GLED

“Quando os computadores quânticos conseguirem implementar um algoritmo de Shor, as medidas que nós utilizamos hoje vão deixar de ser seguras. Por isso, nessa altura, nós temos que ter outra solução sem dúvida”

— Rui Semide, CEO da N10GLED

Este algoritmo quântico, desenvolvido em 1994 pelo matemático Peter Shor, mostra que é possível decompor fatores de forma muito mais rápida do que com os algoritmos da computação clássica, significando que é possível quebrar a criptografia atual.  

Além disso, “existem muitas pessoas que alegam que já se conseguem guardar dados de forma massiva e que podem estar hoje a ser gravadas, guardadas ou espiadas informações que, assim que os computadores quânticos forem capazes de implementar o algoritmo de Shor, vão ser quebradas”, sendo esta a ideia que está na base dos ataques store now, decrypt later (ou armazenar agora, desencriptar depois, numa tradução livre para português).  

Não é fácil perceber quando é que os computadores quânticos serão suficientemente potentes para quebrar a encriptação atual, mas “muitos apontam para períodos de 5 a 10 anos”, indica Rui Semide, acrescentando que este período corresponde ao tempo que a startup estima para fazer a implementação da sua solução. “Nós estamos focados em conseguir apresentar ao mercado – tão rápido quanto possível e, esperamos nós, a tempo em termos desta corrida contra o computador quântico capaz de implementar o algoritmo de Shor – uma solução comercial”.  

Entre Terra e Espaço 

Se a criptografia pós-quântica se baseia na matemática, a distribuição de chave quântica assenta na física. Através deste método, uma chave de encriptação começa por ser convertida num fluxo de fotões polarizados. O objetivo passa por “enviar feixes de luz tão ténues que chegam ao ponto de ter um único fotão ou menos por símbolo”, explica o CEO da N10GLED. “Ou seja, cada Qbit, cada fotão, tem uma informação” e “a segurança assenta no facto de que, pelo princípio da incerteza de Heisenberg e pelo No-Cloning Theorem, é impossível clonar exatamente um fotão”. “Isto significa que, se alguém interferir com este feixe de muito pouca luz que está a ser enviado, nós vamos detetar”.  

É possível ter sistemas de distribuição de chave quântica que recorrem a fibra ótica. Exemplo disso é o “portal quântico” desenvolvido pela Warpcom, IP Telecom e ID Quantique e inaugurado em 2021 que liga dois centros de dados, um em Lisboa e outro em Almada.  

“Mas como a fibra ótica tem perdas, para grandes distâncias nós precisamos de usar ligações de Espaço livre (ou Free Space) e é aí que surge exatamente aquilo em que nós estamos a trabalhar”, detalha. Neste caso, os feixes de luz muito ténue ‘navegam’ entre satélites e estações terrestres (ou ground stations), que “recebem estes fotões” e que “conseguem detetar informação para estabelecer uma chave”.  

A N10GLED começou com uma iniciativa para o desenvolvimento de uma estação terrestre com a Agência Espacial Europeia (ESA), um “primeiro projeto de performance review”, nas palavras de Rui Semide. “Entretanto, quando estamos a desenvolver uma ground station apercebemo-nos de que também temos de testar o que estamos fazer, como tal, também vamos ter de emitir”.  

Assim, e tendo em conta a experiência dos sócios e da equipa no que toca ao desenvolvimento de soluções para o Espaço, a startup avançou para outro projeto, neste caso, um estudo de viabilidade feito com o ESA Business Incubation Centre (BIC) Portugal.  

“E este estudo de viabilidade fez-nos ver que, de facto, era viável, pensarmos também no desenvolvimento para a parte do Espaço, para a parte do satélite”. Com o apoio da Agência Nacional de Inovação, a N10GLED está a fazer um primeiro desenvolvimento para o segmento do Espaço, com vista à criação de um satélite, chamado Hekate.  

A ambição valeu à startup a distinção com o prémio Born from Knowledge (BfK Awards), atribuído pela ANI, no âmbito dos Altice International Innovation Awards 2024. “É um reconhecimento muito importante para nós. O nome do prémio por si só faz-nos ficar contentes: ‘nascido do conhecimento’ – é o que estamos a trabalhar aqui”, conta Rui Semide.  

N10GLED

De olhos postos no futuro, a N10GLED tem a ambição de ser uma empresa global. “A nossa visão é que, de facto, daqui a 5-10 anos tenhamos um serviço completo, ou seja, não só um produto para a Terra e um produto para Espaço, mas sim termos ambas as metades e podermos oferecer quantum keys-as-a-service aos nossos potenciais utilizadores”.  

A startup conta já com parceiros nos projetos que estão a decorrer, incluindo na Holanda, e, em breve, espera encontrá-los também na Itália. “Não estamos muito preocupados com a questão da fronteira”, realça o responsável.  

“Vamos ter de nos integrar cada vez mais no nosso ecossistema e fazê-lo crescer o mais possível – seja com outras empresas, entidades académicas – mas temos que fazer este ecossistema crescer connosco”, afirma. “Onde existir conhecimento, onde existir vontade e onde existir capacidade, nós esperamos encontrar as pessoas e as equipas para nos ajudarem a chegar a este fim”.  

A Xiaomi apresentou hoje a nova série Redmi Note 14, composta por cinco modelos distintos. Em comunicado, a marca avança que desempenho, fotografia e durabilidade são pontos de destaque da nova linha, que chega com uma ampla gama de opções, desde o modelo básico até ao robusto Pro+, disponibilizando soluções adaptadas a diferentes necessidades e orçamentos.

A Inteligência Artificial está presente, com várias funcionalidades incluídas nos diversos modelos. Além do assistente Gemini, disponível em toda a série, a funcionalidade Circle to Search da Google chega aos modelos Redmi Note 14 Pro+ 5G e Redmi Note 14 Pro 5G para agilizar as pesquisas.

Conheça os novos modelos Redmi Note 14 ao detalhe

Redmi Note 14 Pro+ 5G: O modelo mais robusto

O Redmi Note 14 Pro+ 5G é o topo de gama desta linha e destaca-se pelo sistema de câmara principal de 200MP, estabilização ótica de imagem (OIS), zoom ótico de 2x e 4x, e zoom digital de até 30x. Conta ainda com uma câmara ultra grande angular de 8 MP, macro de 2MP e uma frontal de 20 MP.

No interior, o processador Snapdragon 7s Gen 3 promete um desempenho poderoso e é complementado por uma bateria de 5110mAh, com suporta a carregamento rápido de 120W. Está disponível em duas combinações de RAM/armazenamento interno: 8GB + 256GB e 12GB + 512GB. Este modelo conta também com resistência a água e poeira (IP68) e proteção Corning Gorilla Glass Victus 2.

O modelo com 8GB de RAM e 256GB de armazenamento tem um preço recomendado de 499,99 euros, enquanto a versão com 12GB de RAM e 512GB de armazenamento custa 549,99 euros

Veja o Redmi Note 14 Pro 5G+

Redmi Note 14 Pro 5G: Mais acessível e com qualidade

O Redmi Note 14 Pro 5G partilha muitas das funcionalidades do modelo Pro+, incluindo a câmara principal de 200MP, o ecrã AMOLED de 1,5K, e a estrutura resistente com IP68 e Gorilla Glass Victus 2. O smartphone está equipado com o processador MediaTek Dimensity 7300-Ultra para bons níveis de desempenho tanto em jogos como tarefas exigentes, afirma a marca.

Segundo a Xiaomi, a bateria de 5110mAh com carregamento rápido de 67W assegura uma autonomia prolongada. Este modelo vai estar disponível com 8GB de RAM e 256GB de memória interna, com o preço recomendado de 399,99 euros.

Redmi Note 14 Pro

O Redmi Note 14 Pro tem um sistema de câmaras com 200 MP, uma câmara ultra grande angular de 8 MP e uma frontal de 32 MP, tornando-o uma opção apelativa para quem procura uma boa experiência fotográfica. 

O modelo chega com um ecrã AMOLED de 6,67 polegadas e está equipado com o processador MediaTek Helio G100-Ultra. Com 8GB de RAM e 256GB de memória interna, o smartphone promete um bom desempenho para as tarefas diárias. A bateria de 5500 mAh com carregamento rápido de 45W torna-o prático para o uso diário. Estará disponível por 349,99 euros.

Veja o Redmi Note 14 Pro

Redmi Note 14 5G: Desempenho avançado a um preço acessível

O Redmi Note 14 5G destaca-se pela sua câmara principal de 108 MP, câmara, frontal de 20MP, macro de 2M, e grande angular de 8MP. A IA está também presente e fornece recursos como o modo AI Sky e AI Erase. Equipado com o processador MediaTek Dimensity 7025-Ultra, é uma opção ideal para quem procura um desempenho equilibrado em tarefas diárias e jogos, afirma a Xiaomi. O modelo dispõe ainda de 8GB de RAM e 256GB de armazenamento interno (expansível até 1TB), além de uma bateria de 5500 mAh com suporte a carregamento rápido de 45W. Este modelo vai estar disponível por 309,99 euros.

Veja o Redmi Note 14 5G

Redmi Note 14: No poupar está o ganho

O Redmi Note 14 pode ser uma opção a considerar para quem procura um modelo mais económico, sem comprometer o desempenho. Equipado com o processador MediaTek Helio G99-Ultra, este smartphone está disponível em duas versões de armazenamento (6GB de RAM + 128GB ou 8GB de RAM + 256GB, expansíveis até 1TB). O sistema de câmaras é idênttico ao da versão 5G, com única diferença a estar presente na câmara grande angular. Nesta versão tem apenas 2MP.

A bateria tem uma capacidde de 5500mAh e suporta carregamento rápido de 33W. Este modelo está disponível em três cores e os preços são: 239,99 euros para a versão com 6GB de RAM e 128GB de armazenamento e 269,99 euros para a versão com 8GB de RAM e 256GB de armazenamento.

Veja o Redmi Note 14

A Rictor apresentou na CES 2025 uma mota-quadcóptero híbrida que vai permitir aos utilizadores evitar o trânsito, passando por cima dos congestionamentos. Há uma versão de conceito que pode ser vista na CES em Las Vegas e a empresa espera ter as primeiras unidades a serem comercializadas já no próximo ano.

Este modelo vai ter um sistema de oito propulsores para redundância e estabilidade, conseguirá atingir os 100 km/h e ter a capacidade de voar durante 40 minutos, dependendo da configuração escolhida. A Skyrider X1 vai estar disponível com baterias de 10,5 kWh (25 minutos) ou de 21 kWh (40 minutos), noticia o Interesting Engineering.

Para aguçar ainda mais o interesse por este veículo, a Rictor promete descolagens e aterragens na vertical automatizadas e ajustes automáticos na rota de forma a ser o mais eficiente possível, baseando-se na localização, destino e bateria restante. A mota vai estar equipada com capacidades de ajuste, em tempo real, às condições meteorológicas e ao ambiente, adequando a velocidade, altura e direção conforme necessário. Os utilizadores vão ter à disposição a opção de controlos manuais sobre as operações, havendo um joystick para manobrar. Em jeito de prevenção, há ainda um para-quedas de emergência integrado.

A Rictor prevê começar as vendas no próximo ano, com preços a partir dos 60 mil dólares.

O Japão tem ambições consideráveis no que toca ao Espaço, com a intenção de fazer 30 lançamentos espaciais por ano até meados da década de 2030 e rivalizar com a China e os EUA neste capítulo, embora estes cheguem a passar a centena de lançamentos. Agora, sabe-se que a Toyota pode ter um papel importante nesta missão, depois de ter sido anunciado pela Interstellar Technologies que iria receber 44 milhões de dólares por parte do fabricante automóvel. A Interstellar foca-se no desenvolvimento de foguetões leves e que possam ser produzidos em massa.

A Interstellar lembra que o Japão fez três lançamentos espaciais em 2023, pelo que precisa de uma “transformação estrutural na indústria espacial doméstica” para conseguir atingir a meta dos 30 lançamentos anuais. A Toyota pode ter um contributo assinalável, ao trazer a experiência da indústria automóvel e adaptar os métodos de produção de foguetões, atualmente manufaturados, para um processo de elevada qualidade, eficiente em termos de custos e que possa ser escalável.

A Bloomberg lembra que o presidente da Toyota, Akio Toyoda, já tinha deixado pistas sobre este investimento durante o seu discurso na CES deste ano quando disse que “o futuro da mobilidade não deve ser limitado aos carros. Ou apenas a companhias automóveis”.

A colaboração da Toyota no Espaço já se fez sentir na parceira com a agência espacial japonesa JAXA em 2019 no desenvolvimento de uma sonda lunar a ser usada no programa Artemis da NASA.

Também o governo japonês anunciou ter um bilião de ienes disponível para investir nos próximos anos em startups, produtores e instituições de investigação espacial. A geografia do país, no entanto, não o favorece para ter redes extensas para instalações de lançamentos de foguetões. Aquele que seria o primeiro lançamento comercial de um foguetão japonês acabou por falhar pela segunda vez, em dezembro do ano passado.

“Livrem-se daquela linha artificial e vejam como fica”. Donald Trump fala como um agente imobiliário que entra pela casa enquanto nos convida a imaginar como ficaria melhor a sala se derrubássemos aquela parede que tira tanta luz. No caso, está a falar da fronteira do Canadá e, claro, apressa-se a explicar que não tenciona invadir o país vizinho, mas apenas usar “a força económica” para deitar abaixo o muro que o separa do norte, porque só são para manter as paredes viradas a sul. Esta ideia que Trump nos está a vender parece uma piada distópica, uma aberração, mais uma ilustração grotesca do ponto a que chegou o mundo, mas é mais do que isso: é o enunciado de uma nova era.

Donald Trump não podia ser mais claro. “Como Presidente, rejeitei as abordagens falhadas do passado e estou orgulhosamente a pôr a América primeiro, tal como vocês deviam fazer nos vossos países. Isso está certo. É isso que devíamos estar a fazer”. A frase resume um programa político e está longe de ser apenas sobre geopolítica. É sobre cada um de nós.

Trump e todas as suas derivações pelo mundo querem apenas uma coisa: que nos concentremos apenas em nós próprios, cada um por si. A lei da selva é a que mais lhes convém, por uma razão muito simples: numa sociedade dividida, serão sempre eles os mais fortes.

A política é um jogo de poder e o poder sempre esteve distribuído de forma muito desigual. Não há novidade nenhuma nisso. Durante as últimas décadas, os sistemas democráticos ajudaram a equilibrar um pouco as coisas, obrigando os muito poderosos em recursos a aceitar as regras que os menos poderosos mas muito numerosos lhes podiam impor. Claro que estes sistemas nunca foram perfeitos e claro que houve sempre formas de os perverter, mas há uma consequência clara e um dado novo nesta ascensão da ultradireita libertária.

A consequência clara é o fim das barreiras, o fim da vergonha, o fim da decência, o fim do limite aos que têm mais poder. E não é por acaso que Mark Zuckerberg aproveita a onda para deixar cair qualquer tipo de verificação de factos nas redes sociais da Meta. As barragens estão abertas e a partir daqui é mesmo cada um por si, como Trump quer.

A novidade é que desta vez essa entidade abstrata chamada “povo”, que a novilíngua diz serem “as pessoas”, está agora disposta a embarcar nesta voragem suicida. Os mais pobres acreditam que são os seus próprios empresários, felizes por encontrarem formas de “monetizar” a sua vida, crentes na próxima raspadinha ou criptomoeda, indiferentes ao sofrimento dos outros, que são demasiado preguiçosos para prosperar ou que os impedem de atingir os píncaros da riqueza simplesmente por existirem como falhados que dependem de apoios sociais (que muitas vezes não chegam sequer para sobreviver).

Há muito quem se escandalize por ver pobres de IPhone e até já ouvi uma autarca socialista defender que esse telefone era um sinal exterior de riqueza que devia ser usado para aferir quem pode ou não ter acesso a apoios sociais. Quem acha que ter uns ténis de marca ou telemóvel caro significa estar fora da pobreza não percebeu nada do que se anda a passar há décadas na cultura ocidental.

A obsessão pelas marcas e pelos sinais de luxo faz parte desta ideologia que nos distancia da nossa própria condição social. No caso dos mais pobres pode ser um IPhone, para os remediados uma viagem a Punta Cana, para alguém um pouco mais desafogado uma refeição num restaurante com estrelas Michelin.

Somos precários, comemos de pé de um tupperware à porta do frigorífico, fazemos horas extra e biscates, não sabemos por quanto tempo teremos teto, deixamos de ter vida social e amealhamos para conseguir alguma coisa que nos faça sentir melhor, um objeto de desejo que não vai mudar materialmente nada nas nossas vidas, mas que servirá como um símbolo de que também nós conseguimos chegar lá.

É mentira. Ninguém passa à condição de rico por ter um objeto de luxo. Muitas vezes o que se compra é uma espécie de luxo para pobres que as grandes marcas criam para satisfazer essa procura e que não é aquele que vendem a quem realmente tem dinheiro, outras não está em causa sequer o luxo mas a possibilidade de comprar de forma automática e aditiva que é dada pelas marcas de produtos baratos e descartáveis.

“Shop like a billionaire”, diz o anúncio da gigante chinesa Temu que passou no intervalo da Super Bowl nos Estados Unidos (o espaço comercial mais apetecido do mundo), onde se via uma rapariga de animação com ar de gata borralheira a ser transformada em Cinderela graças à magia das compras online, ao som de uma música de ressonância pop com o refrão “Now I belive I can have it”.

Esta mentira permite manter uma alienação que é o terreno mais fértil para que estes poderosos da ultradireita passem a manipular o sistema, descartando qualquer tipo de escrutínio ou constrangimento. Nós acreditamos que podemos ser como eles e, por isso, não os combatemos.

A palavra “liberdade” ganhou uma votação da Porto Editora para o título de palavra do ano, com 22% dos votos, numa disputa que a notícia do Público dizia ter sido “renhida” com as palavras “conflitos” (21,3%) e “imigração” (21,2%). Só podemos especular sobre aquilo em que estaria a pensar quem votou em cada uma delas. Mas há uma coisa que sei: a palavra “liberdade” está em mutação e não quer hoje dizer o mesmo que há 50 anos. Esta “liberdade” que agora as redes sociais anunciam com o fim da verificação de factos é parte integrante de uma narrativa do caos, que privilegia os de sempre.

A todos os que se encantam com essa liberdade, aos que endeusam os ultramilionários, aos que seguem os gurus e anseiam pela vitória das máquinas sobre os humanos, quero apenas recordar que é sobre os vossos despojos que se construirão os impérios deles.

Agora, repitam comigo: Não somos bilionários e nunca seremos.

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As pesquisas no Google sobre como cancelar e apagar contas de Facebook, Instagram e Threads aumentaram vertiginosamente nos últimos dias. Esta é a reação dos utilizadores dos EUA depois de Mark Zuckerberg ter anunciado o fim da moderação de conteúdos nas plataformas naquele país, um ‘relaxamento’ das políticas de moderação e ainda a retirada de limites previamente instituídos sobre o conteúdo político apresentado nos perfis. Estas medidas são vistas como uma forma de agradar a Donald Trump que está a poucos dias de assumir a liderança dos EUA.

As pesquisas por expressões como ‘como apagar permanentemente facebook’ atingiram um nível de 100, o máximo possível, no Google Trends. Também expressões como ‘como apagar todas as fotos facebook’, ‘alternativa ao facebook’, ‘como desistir do facebook’, ‘como apagar contas do Threads’, ‘como apagar conta do instagram sem fazer login’ viram a popularidade a aumentar 5000% comparado com períodos anteriores.

As políticas de moderação de conteúdos no Facebook foram instituídas após anos de desinformação e discursos violentos proliferarem na plataforma durante anos. A rede foi usada para apelos coordenados para os atos de violência no Capitólio dos EUA em 2021 ou para incitar a violência no genocídio em Myanmar, lembra o Tech Crunch.

A retirada agora da moderação humana no Meta é justificada por Zuckerberg como uma tentativa para restaurar a liberdade de discurso na plataforma, à semelhança do que fez Elon Musk com a X. O Meta vai ter também um sistema de notas da comunidade como tem o X, onde os utilizadores vão poder identificar as publicações que requeiram mais contexto.

A Rede Internacional de Verificação de Factos (IFCN), um organismo constituído por mais de 130 organizações e com sede em Miami, nos Estados Unidos, advertiu esta sexta-feira para os “danos reais” que o fim do programa de verificação de factos da Meta – empresa que detém o Facebook, WhatsApp e o Instagram – poderá causar a nível mundial. “Se a Meta decidir acabar com o programa a nível mundial, é quase certo que vai causar danos reais”, avisa a organização.

A decisão da Meta, gerida por Mark Zuckerberg, de substituir o programa de verificação de factos nos EUA por um sistema semelhante ao utilizado no X, de Elon Musk foi anunciada esta semana. Nesta quinta-feira a FIJ – Federação Internacional de Jornalistas – também alertou que o fim da verificação de factos nos Estados Unidos é um convite à “desinformação generalizada” e ao “discurso de ódio”.

Até agora apenas foi anunciado o fim do programa nos EUA. Caso a empresa queira estender a decisão à União Europeia terá de apresentar uma avaliação de risco à Comissão Europeia, que irá determinar se esta se encontra em conformidade com a legislação comunitária sobre serviços digitais.

De acordo com a agência Lusa, fontes da UE avançaram que a empresa norte-americana já terá enviado a Bruxelas uma avaliação sobre o impacto da medida na Europa. Bruxelas está a analisar a proposta sem ter apresentado um calendário específico.

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Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, afirmou esta quinta-feira estar a preparar uma reunião com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para pôr termo à guerra na Ucrânia. “O Presidente Putin quer que nos encontremos, até o disse publicamente, e precisamos de acabar com esta guerra, que é um verdadeiro desperdício”, referiu o magnata na sua residência em Mar-a-Lago, no estado da Florida. “Ele quer que nos encontremos, e estamos a organizar isso”, acrescentou.

O fim do conflito na Ucrânia foi uma das grandes promessas eleitorais da campanha republicana. Donald Trump, que toma posse já no próximo dia 20 de janeiro, prometeu acabar com a guerra “dentro de 24 horas”, tendo apelado a um “cessar-fogo imediato” e a negociações de paz.

O presidente da Rússia, em dezembro do ano passado, já tinha referido estar disponível para um encontro com republicano “a qualquer momento”. “Se algum dia encontrarmos o presidente eleito Trump, tenho a certeza de que teremos muito sobre o que conversar”, disse no decorrer de uma sessão de perguntas e respostas transmitida pela televisão russa.

Também esta quinta-feira, Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, disse ser “evidente que daqui a 11 dias começa um novo capítulo para a Europa e para o mundo inteiro”, numa clara referência à tomada de posse de Trump para um segundo mandato. “Percorremos um caminho tão longo que, honestamente, seria uma loucura deixar ‘cair a bola’ agora e não continuar a construir as coligações de defesa que criámos, especialmente já que elas nos ajudam a crescer e a fortalecer o que é basicamente o nosso poder de defesa partilhado”, sublinhou o líder ucraniano durante a 25.ª reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, uma coligação de mais de 50 países criada em 2022 com o objetivo de coordenar o apoio à Ucrânia.

Ao lado de Zelensky esteve Lloyd Austin, secretário de Defesa dos Estados Unidos, que preside aos trabalhos da coligação. O antigo general norte-americano anunciou recentemente um novo pacote de ajuda à Ucrânia no valor de 485 milhões de euros, a poucos dias da tomada de posse republicana. O novo pacote inclui “mísseis adicionais para a defesa aérea ucraniana, mais munições, mais munições ar-terra e equipamento para apoiar os F-16 da Ucrânia”.

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