Todos os movimentos de luta pelos direitos humanos precisam dos seus símbolos, dos seus momentos de coragem radical e das suas heroínas. O movimento pelos direitos civis das pessoas negras, nos EUA, teve Rosa Parks e a sua radical recusa em levantar-se do seu lugar na frente do autocarro e ir ocupar um lugar nas traseiras. O feminismo, e a sua luta pelo fim da cultura de violação, têm Gisèle Pélicot e o momento radical em que esta recusou que o julgamento dos crimes de que foi vítima fosse realizado à porta fechada, declarando que “La honte doit changer de camp!” (“A vergonha tem de mudar de lado!”).

Ao fazê-lo, Gisèle Pélicot tornou-nos testemunhas de tudo o que se passou naquela sala de audiências de Avinhão. E levantou o milenar manto de vergonha com que o patriarcado cobre as mulheres vítimas de violência sexual. Gisèle Pélicot quis que ouvíssemos e testemunhássemos todas as aleivosias que lhe fizeram e lhe disseram. E foram tantas.

É já consabido que, durante quase uma década, o seu (agora ex-)marido, Dominique Pélicot, a drogou e recrutou online dezenas de homens comuns que, numa pacata vila francesa, Mazan, a violaram enquanto dormia sob influência de sedativos, na sua própria casa, filmando e fotografando os ataques. Os violadores eram jornalistas, bombeiros, enfermeiros, DJs, trabalhadores da construção civil, brancos, negros, jovens, idosos, gordos, magros, solteiros, pais de família. A imprensa francesa chamou-lhes Monsieur Tout le Monde (Sr. Toda a Gente). E é isso mesmo que eles eram: o patriarcado, o sistema de poder que permite aos homens, desde que o mundo é mundo, oprimirem e objetificarem as mulheres pelo simples facto de eles serem homens e nós mulheres.

Durante 9 longos anos, não houve um único homem que, tendo visto o hediondo anúncio online, tenha feito uma denúncia, mesmo anónima, do absoluto horror que ali se passava. Uma simples denúncia anónima teria permitido poupar a Gisèle Pélicot anos de grande sofrimento físico e confusão mental, bem como as inúmeras doenças sexualmente transmissíveis que contraiu, pois que nem sequer a clemência de usar proteção os violadores tiveram para com aquela mulher indefesa.

Só que Gisèle Pélicot recusou a condição de vítima indefesa e reclamou agência sobre o que lhe aconteceu. Ao fazê-lo, pode bem ter-nos salvado a todas, porque mudou o discurso sobre crimes sexuais. É que Gisèle Pélicot é também a sobrevivente perfeita de um crime sexual: trata-se de uma senhora idosa que, adormecida e na suposta segurança do seu lar, foi violada repetidamente por dezenas de homens comuns, com a conivência e o encorajamento do homem que, segundo o contrato social que firmamos com o patriarcado ao casar-nos, a deveria proteger – o seu marido. Não lhe podem dizer que a saia que usava era demasiado curta, que bebeu demais, que estava num local perigoso a uma hora pouco recomendável, que foi imprudente, que estava a pedi-las. Não. Gisèle Pélicot é a própria negação de todo este caldo cultural tóxico. A vítima perfeita. E a cliente com que sonham todas as advogadas de direitos humanos: sempre calma, ponderada, digna, de queixo levantado mas sem ser demasiado virulenta nas suas declarações à imprensa. Inatacável.

Mas oh, se tentaram atacá-la! Gisèle Pélicot fez de nós testemunhas das perguntas que alguns membros do coletivo de juízes entenderam colocar-lhe sobre os seus hábitos sexuais, a sua vida sentimental, até sobre o método contracetivo que esta mulher sénior utilizava (!). Fez de nós testemunhas das alegacões orais em que os advogados dos seus violadores vociferaram contra a histeria das feministas e da imprensa, tecendo vis considerações sobre o perfil psicológico de Gisèle Pélicot como suposta cúmplice de um narcisista. Culpada do seu próprio infortúnio, no fundo.

O que, em 19 de dezembro de 2024, o Tribunal de Avinhão nos veio dizer com o seu veredito foi que, apesar de tudo, isso já não passa, e que o tempo da impunidade e da culpabilização da vítima acabou. Dominique Pélicot foi condenado a 20 anos de prisão por violação agravada, a pena máxima prevista na lei francesa para este crime. Os restantes 50 violadores de Gisèle Pélicot foram condenados a penas entre os 3 e os 15 anos. Não houve absolvições. É verdade que o Tribunal não condenou os 50 outros violadores nas penas pedidas pelo Ministério Público, mas quase nunca há vitórias totais em tribunal. A de Gisèle Pélicot andou muito perto disso. Justiça!

Aqui deixo os nomes dos 51 violadores de Gisèle Pélicot. Porque, hoje, a vergonha mudou mesmo de lado! Parabéns e obrigada, Gisèle Pélicot! Mil vezes, obrigada!

Dominique Pélicot

Jean-Pierre Marechal

Joseph Cocco

Didier Sambuchi

Patrick Aron

Jacques Cubeau

Hugues Malago

Andy Rodriguez

Jean-Marc Leloup

Saifeddine Ghabi

Simone Mekenesse

Philippe Leleu

Paul Grovogui

Ludovick Blemeur

Mathieu Dartus

Quentin Hennebert

Patrice Nicolle

Husamettin Dogan

Cyrille Delville

Nizar Hamilda

Redouane El Fahiri

Boris Moulin

Cyril Baubis

Thierry Postat

Omar Douiri

Jean Tirano

Mahdi Daoudi

Ahmed Tbarik

Redouane Azougagh

Lionel Rodriguez

Florian Rocca

Grégory Serviol

Abdelali Dallal

Adrien Longeron

Cyprien Culieras

Karim Sebaoui

Jean-Luc La

Christian Lescole

Thierry Parisis

Nicolas Francois

Cendric Venzin

Joan Kawai

Vincent Coullet

Fabien Sotton

Hassan Oamou

Charly Arbo

Cédric Grassot

Jérôme Vilela

Dominique Davis

Mohamed Rafaa

Romain Vandevelde

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O ano de 2025 deverá começar com uma subida generalizada dos preços. Apesar das descidas das taxas de inflação, diversos bens e serviços vão passar a custar mais aos portugueses, incluindo as telecomunicações, portagens, rendas e até o pão.

As rendas, por exemplo, podem vir a custar mais 2,16% aos portugueses no próximo ano, de acordo com o aviso do coeficiente de atualização de rendas, publicado esta quinta-feira, 26, pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Um aumento que equivale a uma subida de 2,16 euros por cada 100 euros de renda, ou seja, uma renda que custe 750 euros poderá vir a aumentar cerca de 16,20 euros em 2025.

Esta subida poderá vir ser mais acentuada para alguns inquilinos, uma vez que os senhorios que não atualizaram a renda nos últimos dois anos têm agora a possibilidade de somar os coeficientes de 2023 e de 2024 aos 2,16% de 2025, num total de 11,1% de aumento. Contudo, esta atualização não é obrigatória e os senhorios podem optar por não aumentar os preços das rendas.

Também a fatura das telecomunicações pode vir a aumentar para algumas pessoas, uma vez que os preços das comunicações da Altice Portugal – detentora da Meo – vão sofrer uma atualização em 2025, conforme o contratualmente previsto. Os seus serviços Uzo (digital) e Moche (para jovens), no entanto, vão manter os valores atualmente praticados. Já a NOS, tal como anunciado em novembro desde ano, não vai aumentar os preços dos seus serviços e tarifários. A Vodafone ainda não consegue antecipar informação sobre o tema.

Alguns produtos alimentares, como o leite e o pão, também vão ficar mais caros. O leite e outros produtos lácteos deverão manter a trajetória de preços crescente verificada nos últimos meses de 2024, provocada pela subida dos custos de produção (como gasóleo e eletricidade), e continuar a aumentar. O preço do pão também deve subir no próximo ano, influenciado pelos custos de produção e pelo salário mínimo nacional.

Já o preço das portagens deverá aumentar 2,21%, tendo por base o valor da inflação homóloga sem habitação de outubro, determinado pelo INE, ao que acresce 0,1% de compensação às concessionárias. Prevista no decreto-lei n.º 294/97, a fórmula que estabelece o aumento do preço das portagens de ano para ano tem como referência a taxa de inflação homóloga sem habitação verificada no último mês para o qual haja dados disponíveis antes de 15 de novembro (data-limite para os concessionários comunicarem ao Executivo as suas propostas de preços para o ano seguinte). Segundo os dados divulgados pelo INE esta quinta-feira, o referencial de inflação situou-se em 2,11%. A este valor acresce 0,1%, na sequência de um acordo celebrado com as concessionárias das autoestradas para as compensar pelo travão imposto a uma subida na ordem dos 10% em 2023.

Também o preço dos transportes públicos deverá aumentar cerca de 2,02% em 2025, segundo a taxa de atualização tarifária com base nos dados do INE sobre a inflação. Os passes Navegante e bilhetes ocasionais referentes à Carris Metropolitana vão, no entanto, manter os preços atuais.

Eletricidade é exceção

A eletricidade será a exceção à subida de preços de bens e serviços, estando prevista a diminuição das tarifas no mercado regulado e liberalizado no próximo ano. Devido à alteração legislativa, aprovada no parlamento, que aumenta o valor do consumo de energia sujeito à taxa reduzida de IVA (6%), os mercados regulados de eletricidade vão registar reduções entre 0,82 e 0,88 euros.

Já no mercado liberalizado, foram anunciadas pela EDP Comercial e Galp reduções de 6% na componente de eletricidade na fatura, motivadas pela melhoria das condições de mercado. De acordo com a EDP, as faturas dos seus consumidores deverão baixar, em média, 7%, a partir de 1 de janeiro de 2025.

A geração atual dos Ray-Ban Smart Glasses assenta em comandos de voz e gestos do utilizador para realizar todas as operações. Agora, a Meta reconhece que tal não será suficiente para rivalizar com o headset XR que a Samsung está a desenvolver no Projeto Moohan e tem um plano ambicioso para poder estar à altura. A nova geração dos seus óculos inteligentes vai ter um ecrã, de acordo com o Financial Times.

Os novos óculos da Meta devem chegar ao mercado na segunda metade de 2025 com este ecrã que irá mostrar notificações e respostas geradas pelo Meta AI. A Meta já mostrou um protótipo destes óculos há alguns meses, mas na altura referiu que a tecnologia ainda era demasiado cara para figurar num produto a ser lançado no mercado. Agora, o Project Orion pode mesmo chegar ao público, se bem que numa versão menos avançada do que a que foi demonstrada.

Este plano parece surgir como a resposta da Meta para a demonstração que a Google e a Samsung fizeram do Android XR e do primeiro headset com este novo sistema operativo. O aparelho de realidade mista da fabricante coreana deve surgir também na segunda metade do próximo ano, seguindo-se depois uma versão de óculos para realidade aumentada.

Um conjunto de investigadores do Korea Advanced Institue of Science and Technology KAIST desenvolveu um robô wearable leve que anda até ao paciente e se fixa no seu corpo, ajudando-o a andar. O conceito está na fase de protótipo e já ajudou Kim Seung-Hwan, paciente paraplégico, a andar a 3,2 km/h, subir um lance de escadas e deslizar de lado para se sentar numa bancada.

“Pode aproximar-se de mim onde eu estiver, até quando estou sentado na cadeira de rodas e posso usá-lo para me levantar, o que é uma das características mais distintas”, conta o Kim Seung-Hwan à Reuters.

Este fato, o WalkON Suit F1, é feito de alumínio e titânio, pesa cerca de 50 quilogramas e tem 12 motores eletrónicos para simular os movimentos das articulações humanas durante os movimentos. O exoesqueleto tem ainda sensores nas solas e na parte superior do corpo, que leem até mil sinais por segundo para manter o equilíbrio do paciente e até antecipar os movimentos desejados.

Na parte frontal, há lentes que conferem ‘olhos’ ao robô, ajudando-o a analisar o ambiente envolvente, medir a altura dos degraus e detetar obstáculos.

A criação, assumidamente inspirada nos filmes Homem de Ferro, valeu o primeiro prémio na Cybathlon 2024, uma competição de robôs assistentes para pacientes com limitações físicas.

À vista de um leigo, a descarga da azeitona para os tegões tem o seu quê de encantatório se nos deitarmos à adivinhação sobre quais serão as variedades que dão origem ao Azeite de Moura DOP, “o primeiro com Denominação de Origem Protegida em Portugal, uma certificação obtida há 30 anos”, diz Hélder Transmontano, diretor-geral da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos.

Carregamento atrás de carregamento, este fruto, incluído na Dieta Mediterrânica, é trazido pelos olivicultores associados, cerca de 1300 num universo de 4000 sócios. E assim há de continuar a acontecer até ao final de janeiro, quando terminar a campanha iniciada em novembro.

O ritual repete-se há 70 anos, nesta que é a maior cooperativa olivícola do País, com 20 mil hectares de olival na sua área de abrangência, e o maior e mais moderno lagar. Este ano, “a produção estimada é de cerca de 40 mil toneladas de azeitona e de quase 6500 toneladas de azeite”, diz o presidente da instituição José Duarte.

Apanha da azeitona em olival tradicional. Foto: DR

O Azeite de Moura DOP é feito exclusivamente com as variedades Cordovil de Serpa, Galega e Verdeal Alentejana, “um azeite maduro, com algum picante, um pontinho de verde folha, a fazer lembrar a planta de tomateiro, conjugada com um toque subtil de maçã e notas de amêndoa e frutos secos,” explica a cicerone da nossa prova de azeites, feita na loja da Cooperativa, um dos pontos de paragem da nova Rota do Azeite de Moura, lançada no final de novembro.

Pé no olival

Como se escreveu em cima, na loja da Cooperativa pode fazer-se a prova do azeite de Moura e ficar a conhecer um pouco da sua história. Mas bom, bom mesmo, é fazer o percurso pedestre de três quilómetros sugerido na nova rota lançada pela Câmara Municipal de Moura. Com grau de dificuldade fácil, a volta pede tempo, como tudo no Alentejo, aliás, e deve ser feita durante a campanha da apanha da azeitona, para se apanhar todo o ciclo produtivo.

O passeio começa numa extrema, num olival tradicional desta cidade, conhecida como terra mãe do azeite no Alentejo. O seu património olivícola inclui não só os olivais mas também o Lagar de Varas de Fojo, convertido em museu e testemunho do fabrico de azeite no século XIX, e o Jardim das Oliveiras. Localizado em frente ao lagar-museu, dá a conhecer as diferentes variedades desta árvore, incluindo uma oliveira albina, onde as azeitonas nascem verdes e, ao amadurecerem, vão ficando brancas.

As ruas floridas da cidade. Foto: Luís Barra

Com sete pontos de passagem, a Rota do Azeite de Moura, que também inclui locais ligados à produção, defesa, promoção e comercialização do azeite, é um passeio entre o campo e o coração da cidade que se pode fazer autonomamente, de mapa na mão, ou numa visita guiada, orientada pelos funcionários do Posto de Turismo (mediante marcação).

Aqui chegados, aproveite-se para percorrer as ruas de Moura. Sugerimos passar pela mouraria e pela zona das ruas floridas, descobrir a Igreja de São João Batista, Monumento Nacional, e subir ao castelo.

Vista do Castelo de Moura. Foto: Luís Barra

O roteiro gastronómico ficará para mais tarde, porque primeiro é preciso recuperar forças. O Hotel de Moura fica instalado no antigo convento da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, fundado no século XVII e adaptado para Grande Hotel de Moura no ano de 1900. O nome de Amália Rodrigues faz parte da lista de hóspedes ilustres – da varanda do quarto 101, onde pernoitou, cantou aos mourenses que chamavam por ela da Praça Gago Coutinho, também conhecida por jardim dos mal-encarados. 

Bendito azeite que chegas ao prato

Há coisa melhor do que começar uma refeição a molhar o pão num bom azeite? É assim em vários restaurantes da cidade, incluindo na Taberna O Barranquenho, que casa as tradições alentejanas com o vinho e os petiscos. Há três anos, o jovem Luís Rico deu nova vida a esta antiga tasca e transformou-a num lugar diferente dos que havia em Moura, evocando a tradição tauromáquica e o artesanato tradicional, na decoração, e o cante alentejano, todas as quintas-feiras com atuações de vários grupos e artistas. A carta, inspirada no receituário familiar, apresenta sugestões como os ovos com batatas e lascas de presunto, o frango frito da Avó Bia, bem temperado e crocante, e os saborosos calamares do Tio Estêvão.

Em Moura, há bons sítios para comer, como o Andre’s, junto ao jardim dos mal-encarados. O negócio familiar, com André na sala e a mulher, Laura, na cozinha, é uma boa opção para os amantes de carne, seja uma posta do acém ou um t-bone de mertolenga, bem grelhado e suculento. Também servem um bom choco frito, no prato ou na versão sanduíche em bolo do caco, e um prego da alcatra, também em bolo do caco, e pratos do dia.

De portas abertas há mais de meio século, O Molho é uma referência da cozinha tradicional alentejana e mourense. A esta casa singela vai-se pelo sabor do cozido de grão com carne e chouriço, pelas costeletas de borrego bem fritinhas, pelo caldo de espinafres com bacalhau, ovo e queijo fresco, pelas migas de espargos com carne de porco preto. Os grelhados – lagartos, abanicos, plumas de porco preto – também são de levar em conta e chegam à mesa com gulosas batatas fritas caseiras.

Avios na mercearia

Com azeite, essencial na gastronomia portuguesa, e mais ainda na alentejana, faz-se o tradicional Bolo Podre e os biscoitos de azeite, uma bela açorda alentejana e migas gatas, conservam-se as azeitonas, para que se possam consumir durante todo o ano, e confeciona-se um gaspacho, que tão bem sabe no verão. Muitos destes pratos e doces provam-se nos restaurantes. mas também se levam para casa.

Azeite da Cooperativa Agrícola Moura e Barrancos. Foto: DR

Na centenária Casa Cavalheiro, do casal Manuel Luís e Gina, destacam-se os enchidos artesanais produzidos na casa e a variedade de artigos de artesanato, dos cestos de vime aos taleigos alentejanos. Já a mercearia catita de D. Amália e do Sr. Herberto Telo (na mesma praça do restaurante Andre’s) está recheada de produtos locais, dos bolos, enchidos e queijos aos vinhos e pão fresco. Trazer uma destas iguarias é uma boa forma de recordar esta viagem, cheia de aromas e sabores.

Entre o olival e a cidade: Pontos de paragem para explorar

Rota do Azeite

Olival tradicional > Estrada dos Escoteiros

Olival moderno > R. de São Sebastião

CEPAAL – Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo > Pç. Gago Coutinho, 2

Jardim das Oliveiras > R. S. João de Deus, 17 > seg-dom 9h-12h30, 14h-17h30

Lagar de Varas do Fojo > R. S. João de Deus, 20 > T. 285 253 978 > seg-dom 9h-12h30, 14h-17h30 > grátis

Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos > R. Forças Armadas, 9 > T. 285 250 720

Loja da Herdade dos Coteis > R. de S. Lourenço, 4 > T. 285 253 363

Fora da rota

Andre’s > Pç. Gago Coutinho, 6A > T. 96 637 2119 > qui-seg 12h-15h, 19h-22h, qua 19h-22h

O Molho > R. Nova do Carmo, 11 > T. 285 252 895 > ter-dom 12h-16h

Taberna O Barranquenho > R. de S. Lourenço, 2 A > T. 96 146 3813 > qua-sex 11h-15h, 17h-1h, sáb-dom 11h-1h

Hotel de Moura > Pç. Gago Coutinho, 1 > T. 285 251 090 > a partir de €40

Loja da Esquina > Pç. Gago Coutinho, 14 > T. 92 512 4193 > seg-sex 7h30-13h, 15h-19h, sáb 7h30–13h  

Casa Cavalheiro > Lg. da Latôa, 21 > T. 96 582 4974 > seg-sex 9h-13h, 15h-19h, sáb 9h-19h

Quando partiram de férias para a Grécia, as amigas Isabel, Ema, Laura e Inês, cada uma bem instalada na sua profissão, com 30 e 31 anos, não poderiam imaginar que trariam na mala a ideia maluca de se tornaram gerentes de um quiosque.

Já em Lisboa, onde todas vivem, embora nenhuma tenha nascido na capital, o souvenir transformou-se num contrato assinado. Depois, dedicaram-se a esvaziar o quiosque trespassado, a limpá-lo de cima a baixo, pintá-lo e a acrescentar-lhe uma pérgula que agora protege os clientes dos dias mais feios.

Em pouco menos de um mês, ficaram à frente do Las Ganas, que se esconde no Parque Urbano Vale da Montanha, perto do cruzamento da Gago Coutinho com a Estados Unidos da América, num pedaço verde pouco conhecido da cidade.

Antes, as amigas eram frequentadoras de quiosques e andavam sempre em cima de festas e de coisas giras para fazerem nos tempos em que não estavam a trabalhar nas áreas do imobiliário, nutrição, contabilidade ou finanças.

Agora, a ideia é passar esse frenesim para a agenda cultural do Las Ganas, embora ainda estejam algumas ideias por concretizar. E, já se sabe, sem bebida, não se consegue nada, por isso têm a carta repleta de cocktails e um cartão de 13 euros que dá para beber 10 imperiais.

De resto, há menus de almoço, com sopa, tosta e bebida (€8,80) ou com salada por mais um euro. Têm também pizzas, aperitivos, petiscos e algumas sobremesas.

Estão planeadas muitas atividades como concertos, quizzes ou sessões de jogos de tabuleiro

Como o quiosque está aberto de manhã à noite, os públicos vão mudando. Ao fim de semana, de dia, juntam-se as famílias, pois há um parque infantil mesmo ao pé. Logo de manhã, são os vizinhos do bairro. Ao final do dia, aparecem os que vêm beber um copo, ver um jogo de futebol (passam-nos todos), ouvir uma musiquinha quando há concertos ou dj set, participar de um quiz (a partir de janeiro, aos domingos, às seis da tarde) ou de um jogo de tabuleiro (todas as segundas, às 20h30).

Isabel Vieira, a porta-voz do grupo, confessou que gostaria que o quiosque se transformasse numa espécie de café da série Friends, em que as pessoas aparecem sem combinar porque sabem que haverá sempre por lá alguém conhecido.

Quiosque Las Ganas > Parque Urbano do Vale da Montanha > T. 96 678 0330 > seg-dom 11h-23h

Na sessão de lançamento deste Vinil, no atelier da artista Joana Vasconcelos (filha do autor), em Alcântara, Lisboa, Jorge Pereirinha Pires (autor do posfácio) disse que Luís Vasconcelos foi uma das pessoas que mais contribuiu para construir uma imagem da música portuguesa nos anos 80, com destaque para o célebre boom do rock nacional – simbolicamente inaugurado com o sucesso do disco Ar de Rock, de Rui Veloso, lançado em 1980, com uma fotografia do autor deste livro na capa. Os mais distraídos poderão achar que é um desses exagerados elogios de circunstância, mas ao folhearem este novo livro vão sendo convencidos, página a página, de que a afirmação é totalmente justa.

Podia não ter sido assim. Luís Vasconcelos vivia em Paris, onde criou uma editora de livros, a Germinal, quando a explosão de liberdade do 25 de Abril aconteceu em Lisboa. No dia 29 de abril de 1974 chegava a uma cidade em festa, que ele não conhecia lá muito bem. A juventude, e a descoberta da paixão pela fotografia, tinha acontecido na Beira, Moçambique, e tinha passado um ano e meio no Porto, a estudar Arquitetura, antes de, como muitos, dar o salto para a Europa livre, escapando à Guerra Colonial.

No regresso a Portugal fez-se, rapidamente, fotojornalista de agência (na ANOP, Notícias de Portugal e, finalmente, na Lusa, quando esta foi criada, em 1986; mais tarde marcaria as redações do Público e da nossa VISÃO, onde esteve de 1999 a 2008).

Mas a música cedo se intrometeu no seu quotidiano de fotógrafo, não só na cobertura de concertos em Portugal e no estrangeiro mas também como fotógrafo muito solicitado pelas editoras para imagens de promoção e capas de discos num fervilhante meio musical, ansioso por novidades e por dar a banda sonora certa a um Portugal democrático, sintonizado com o mundo contemporâneo.

São esses dois registos – as poses ensaiadas e a espontaneidade nos palcos, não só de artistas nacionais – que fazem a força deste Vinil, grande viagem no tempo, a preto-e-branco e a cores.

Vinil (Tinta-da-China, 156 págs., €54,90) inclui mais de 130 fotografias de Luís Vasconcelos a músicos portugueses e estrangeiros realizadas nos anos 70 e 80 do século passado. O único texto nessas páginas é o posfácio de Jorge Pereirinha Pires que contextualiza o trabalho do fotojornalista que passou pela VISÃO, como editor de fotografia, entre 1999 e 2008

Ignorando todos os pedidos de cessar-fogo imediato, semana após semana, vindos de organizações de direitos humanos ou de países aliados, já para não falar do Tribunal Internacional de Justiça e das Nações Unidas, supostamente um farol mundial em matérias como a paz e a segurança, os direitos humanos ou a ajuda humanitária, Israel manteve-se firme, ao longo de todo o ano, no seu propósito de aniquilar o Hamas, arrastando para a morte, sob tal pretexto, mais de 45 mil palestinianos, a maioria crianças e mulheres, e impondo uma destruição brutal de uma ponta à outra da Faixa de Gaza.

O balanço de vítimas mortais é contabilizado desde o atentado de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que desencadeou a ofensiva em larga escala sobre o território vizinho, com uma população estimada em quase 2,4 milhões antes dos acontecimentos dos últimos 15 meses. No atentado em solo israelita, cerca de 1200 pessoas foram assassinadas a sangue frio e outras 251 raptadas pela organização terrorista que controla Gaza desde 2007.

Genocídio? É a conclusão a que chegaram a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, por identificaram uma intenção deliberada de destruir os palestinianos de Gaza LUSA/MOHAMMED SABER

Segundo um relatório do comité especial da ONU para a investigação de violações dos direitos humanos por parte de Israel contra o povo palestiniano, no início deste ano já tinham caído sobre a Faixa de Gaza “mais de 25 mil toneladas de explosivos, o equivalente a duas bombas nucleares”, o que “causou uma destruição massiva e o colapso dos sistemas de água e sanitário, devastação agrícola e poluição tóxica”.

Revelado a 14 de novembro, este relatório cobre o período do conflito até julho e concluiu que “Israel está intencionalmente a causar mortes” e a usar “a fome como arma de guerra”, “infligindo uma punição coletiva à população palestiniana”, ações “consistentes com as características de genocídio”.

Já neste mês de dezembro, a Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW) foram taxativas em classificar de genocídio o que está a acontecer em Gaza.

“Israel argumenta repetidamente que as suas ações em Gaza são legais e podem ser justificadas pelo objetivo militar de erradicar o Hamas, mas a intenção genocida pode coexistir com objetivos militares, não precisa de ser a única intenção”, sustentou Agnès Callamard, responsável máxima da AI, alegando que “as atrocidades” do atentado de 7 de outubro de 2023 “não podem nunca justificar o genocídio de Israel contra os palestinianos de Gaza”.

Na mesma linha, a ativista francesa dos Direitos Humanos defendeu que a presença de combatentes do Hamas entre a população não desobriga Israel de tomar “todas as precauções para poupar os civis e evitar ataques indiscriminados e desproporcionais”, acusando Israel de “manter um bloqueio sufocante e ilegal” sobre Gaza, além de “obstruir a entrega de ajuda humanitária”.

Em declarações à VISÃO, Jorge Moreira da Silva, o português que dirige a agência da ONU encarregada de coordenar a entrada e distribuição de bens essenciais em Gaza, confirma estas e outras dificuldades: “As quatro fronteiras abertas são insuficientes, o número de autorizações de Israel para os camiões circularem em Gaza é inferior ao necessário, mesmo com essas autorizações os veículos são afetados por bombardeamentos e, finalmente, a proliferação de assaltos a que se está a assistir nos últimos tempos, em virtude do desespero da população.”

Dor Imagens de sofrimento dos dois lados do conflito, que parece não ter fim à vista, apesar de decorrem conversações para um cessar-fogo
Guerra EUA lançam ajuda humanitária por via aérea na Faixa de Gaza, em março; soldados israelistas detêm um palestiniano nos territórios ocupados da Cisjordânia, no início do ano

A fome grassa, mas a desidratação é outro grave problema e está na base das conclusões da HRW, que escreve no seu relatório que “as autoridades israelitas obstruíram deliberadamente o acesso dos palestinianos às quantidades adequadas de água para a sobrevivência”, ao destruírem várias infraestruturas e inviabilizarem reparações dos danos causados.

“Isto não é só negligência. É uma estratégia calculada de privação que levou à morte de milhares de pessoas por desidratação e doenças, o que constitui nada menos do que um crime contra a Humanidade e um ato de genocídio”, declarou a diretora executiva da ONG, Tirana Hassan.

Regras do Direito Internacional “como as que referem que os civis e as infraestruturas não podem ser atacados não têm sido respeitadas”

Jorge Moreira da Silva

No âmbito das suas responsabilidades logísticas em Gaza, Jorge Moreira da Silva passou pelo território no início do ano e, entre o que viu e os testemunhos das equipas da ONU no terreno, não hesita em afirmar que “houve uma forte restrição do acesso a água, alimentos e medicamentos durante estes 15 meses”, ressalvando que as Nações Unidas deixam para a Justiça a classificação dos acontecimentos. Ainda assim, sublinha que “várias regras do Direito Internacional não têm vindo a ser respeitadas, nomeadamente as que referem que os civis não podem ser atacados nem as infraestruturas civis, como escolas, hospitais e habitações, podem ser alvo de bombardeamentos indiscriminados, assim como restrições à circulação de ajuda humanitária dentro de Gaza e o ataque a funcionários nas Nações Unidas e organizações humanitárias não estão em conformidade com essas regras”.

As Forças Armadas israelitas classificaram as acusações de genocídio como “infundadas” e lembraram que o Hamas viola a lei internacional quando “usa civis como escudos humanos e tem como alvos deliberados civis em Israel”. Grupos ligados ao Irão, como o Hezbollah e os rebeldes do Iémen, além do próprio Irão, também atacaram diretamente o território de Israel, em defesa do Hamas, alargando o conflito no Médio Oriente, sobretudo ao Líbano, onde o Hezbollah tem as suas bases e Israel entrou em força.

Guterres a falar sozinho

António Guterres tem sido das vozes mais ativas a condenar a investida israelita, mas parece ter sido só mais um a pregar no deserto durante todo este tempo, a ponto de Benjamin Netanyahu, o chefe do Governo israelita, ter deixado de lhe atender o telefone. Em janeiro, o secretário-geral da ONU salientou que “as operações militares de Israel espalharam destruição massiva e mataram civis numa escala sem precedentes” durante os oito anos que já leva no cargo. Em março, defendeu que “nada justifica os atos hediondos do Hamas no dia 7 de outubro”, assim como “nada justifica a punição coletiva do povo palestiniano”. Em julho, falou numa “situação de terror verdadeiramente dramática” e, dois meses mais tarde, classificou a Faixa de Gaza como “o lugar mais perigoso do mundo para a assistência humanitária”. Várias organizações de ajuda humanitária sofreram baixas, como a Médicos Sem Fronteiras ou a Save the Children, e muitas abandonaram o local. Só a ONU perdeu cerca de 230 funcionários no terreno.

“Apocalítica” foi o adjetivo que o português escolheu para descrever, já no início deste mês, a vida na Faixa de Gaza, que tem agora “o maior número de crianças amputadas ‘per capita’ do mundo”, com muitos dos feridos a serem “submetidos a operações cirúrgicas sem anestesia”.

Os bombardeamentos de Israel no Líbano, supostamente contra posições do Hezbollah, também atingiram os capacetes azuis da ONU e o exército libanês. Perante a chamada de atenção dos EUA, o então ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, desculpou-se com a proximidade de alvos do Hezbollah, que “usa missões de manutenção da paz como escudo para as suas atividades”.

Neste final do ano, decorrem negociações de paz no Qatar, e até tem havido sinais de algum otimismo de ambas partes no sentido de se chegar a um acordo desta vez, mas o conflito já dura há tanto tempo que manda a prudência não lhes atribuir muita importância até haver fumo branco.

Números do terror

Os reféns, as mortes e a devastação em Gaza

62

reféns que podem estar vivos
Segundo a BBC, é esta a expectativa das autoridades israelitas, num total de 96 do grupo inicial de sequestrados a 7 de outubro de 2023 que ainda se encontram retidos pelo Hamas.

45 mil

Mortos em Gaza
É a estimativa do Ministério da Saúde do Hamas, considerada credível pela ONU e pela Organização Mundial de Saúde. Há ainda mais de 10 mil desaparecidos, muitos sob os escombros, a que se soma o receio de o número real triplicar, devido às mortes indiretas, por fome, desidratação ou doença. Israel alega que matou cerca de 17 mil membros do Hamas.

88%

Das escolas foram danificadas
Tal como mais de metade das casas, 47% dos hospitais, 68% dos campos agrícolas e 80% do comércio, divulgou a Al Jazeera, com base em dados oficiais até 18 de dezembro.

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