Trump — pois claro — quer a sua própria Cúpula de Ferro. Para imitar Reagan, dizem. Para proteger os EUA com o que de mais moderno existe em escudos antimíssil. Como os israelitas. Os dos israelitas, esses sim, com eficácia comprovada.
Mas os mais maldosos — e há muitos — garantem que a tal cúpula do ex-presidente nada tem a ver com tecnologia de interceção, nem com o sistema Arrow 3, esse engenho israelo-americano de alta sofisticação. Não. Nada disso. A verdadeira cúpula de Trump — asseguram — é a da sua careca.
E ele, verdade seja dita, é inventivo. Inventa-se. Reinventa-se. Ao mesmo tempo que sonha com lasers no céu e sensores supersónicos, estará — por certo — a investir em cientistas para resolver o seu drama capilar. Não é tanto a calvície, atenção, é a queda de cabelo. A maldita queda que se nota. Que salta à vista.
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Aquele arranjo capilar — que geringonça — só se sustenta com cabelo. Muito cabelo. E se o está a perder, disfarça. Postiços, talvez. Ou cola. Mas o importante, mesmo, é reservar parte dos 125 mil milhões de dólares que quer meter na dita Cúpula — a de ferro, não a de couro cabeludo — para investir no cultivo direto de cabelo que se veja.
Ele viu — com olhos de ver — o espetáculo noturno: o Irão a lançar mais de cem mísseis e drones contra Israel. Um ataque, sim. Mas que acabou em fogo de artifício. Luzes no céu. Como numa festa nacional. A Cúpula funcionou. Impecável.
Ora, a ideia — convenhamos — é boa. Muito boa. E não seria de todo descabido que a parte europeia da NATO, ou vá, a União, pensasse o assunto com mais rigor. E ponderasse, por uma vez, um passo estratégico sério. Desses que ficam na História.
Porque — vejam bem — até Xi Jinping já franziu o sobrolho. E com razão. Tal como Gorbachev, nos seus tempos, percebeu o óbvio: a URSS nunca conseguiria acompanhar a “Guerra das Estrelas” de Reagan. Nunca. E agora, senhores, o impensável de ontem está quase todo cá. Instalado. Operacional. Em terra firme. é por isso que Trump — com ou sem cabelo — quer entrar nessa galáxia.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
O guião de Luís Montenegro para governar sem maioria não mudou. “Não fazemos coligações. Nem com o Chega nem com o PS. Os compromissos mantêm-se. A única maneira de funcionar é termos uma atitude construtiva e de abertura para dialogar com todos sobre medidas concretas, esperando sentido de responsabilidade e de estabilidade de todos”, diz à VISÃO António Leitão Amaro.
A governação à vista faz-se, por isso, sem parceiros preferenciais. Sem conseguir formar uma maioria absoluta com a IL, Luís Montenegro não quer nem associar-se ao Chega nem fazer um Bloco Central. A tese do “não é não”, repete-se na cúpula da AD, não mudou. Como acontecia há um ano, há um “não” claro a qualquer tipo de acordos de governação – sejam eles de incidência parlamentar ou de coligação –, mas a necessidade de formar maiorias parlamentares faz com que não se fechem portas a conversas, nem à direita nem à esquerda.
Uma fonte próxima de Montenegro explica à VISÃO que as afinidades em cada tema ditarão com quem se faz a conversa. “Se se tratar, por exemplo, de uma descida de impostos, o mais natural é que a conversa se faça à direita. Se for uma coisa para valorizar a Administração Pública, a conversa pode ser com o PS.”
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Para que serve a nova maioria de direita?
Na AD ninguém quer, pelo menos para já, falar naquela que é a maior alteração trazida pelos resultados das eleições de 18 de maio: a possibilidade (inédita na História da democracia) de a direita fazer uma revisão constitucional sem qualquer intervenção do PS. “As pessoas que nos ouvem querem saber de questões concretas”, disse Hugo Soares, em entrevista à SIC Notícias, defendendo que “ninguém lá fora está preocupado se vai haver uma revisão constitucional”.
Recomeço Sem muitas palavras, Montenegro definiu a audiência desta terça-feira, com Marcelo, como “normal” Foto: Luís Barra
Mas há outras coisas para as quais pode ser usada esta nova maioria de dois terços dos deputados à direita. Uma delas é confirmar decretos provenientes do Presidente da República que digam respeito a matérias de “relações externas”, “limites entre o setor público, o setor privado e o setor cooperativo e social de propriedade dos meios de produção” ou a “regulamentação dos atos eleitorais previstos na Constituição, que não revista a forma de lei orgânica”.
É também com maiorias de dois terços que se confirmam decretos que o Tribunal Constitucional julgue estarem feridos de inconstitucionalidade. E é essa a soma necessária de votos para mudar a lei que regula a comunicação social ou eleger os dez juízes do Tribunal Constitucional, o provedor de justiça, o presidente do Conselho Económico e Social (CES), os sete vogais do Conselho Superior da Magistratura e os membros da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social).
PSD à espera do PS que se segue
Na direção do PSD há expectativa sobre o rumo que o PS vai tomar. Depois da demissão de Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro foi rápido a anunciar que está outra vez na corrida para a liderança socialista. Não é indiferente saber que atitude poderá ter o próximo secretário-geral socialista. “Queremos saber que PS vem aí. Se é como no passado ou se temos de seguir para a frente”, comenta um dirigente social-democrata, lembrando precisamente que os votos do PS podem ou não continuar a somar-se aos da AD em várias das decisões para as quais são precisos os tais dois terços dos deputados. Com um pormenor matemático: as bancadas da AD e do PS sozinhas já não chegam aos 154 votos que constituem essa maioria.
Havendo uma maioria clara à direita, esse não devia ser um problema. Mas é. O histórico entre a AD e o Chega faz Luís Montenegro ter razões para não estar confiante na palavra de André Ventura. Foi assumido publicamente, pelo próprio Hugo Soares, que Ventura roeu a corda à AD em pelo menos três ocasiões na legislatura passada. Aconteceu quando o PSD tentou negociar a eleição de José Pedro Aguiar-Branco para presidente da Assembleia da República – acabaria por ser eleito depois de um acordo assumido com o PS – e quando estavam em causa votações sobre as tabelas de IRS e sobre o fim das portagens, altura em que o Chega acabaria por votar ao lado da bancada socialista.
Na São Caetano à Lapa há, por isso, alguma apreensão sobre aquilo com que poderão contar não só em relação ao PS, mas sobretudo em relação ao Chega, que passou agora a ter ainda mais força parlamentar. Na cúpula social-democrata há quem se interrogue sobre se Ventura poderá ou não moderar-se e quem acredite que o Chega não terá muito a ganhar em hostilizar abertamente o Governo que acabou de ver reforçada nas urnas a maioria para governar, apesar de todos os casos e casinhos de 11 meses de governação. “Não me parece que o Chega tenha crescido à conta do descontentamento com a AD”, defendeu Hugo Soares na SIC Notícias no dia a seguir às eleições, aproveitando o raciocínio para pressionar André Ventura. “O Chega pode vir a ser a segunda força política em Portugal, mas é por isso que tem de demonstrar maturidade democrática”, declarou.
“Não conseguimos fazer passar sozinhos uma lei ou um Orçamento do Estado no Parlamento, embora muitas vezes as abstenções de PS e Chega poderem ser suficientes para isso”, nota uma fonte do Governo, explicando que, à semelhança do que aconteceu no último ano, a estratégia de Luís Montenegro passará por empurrar a oposição para assumir as suas responsabilidades, mais do que para fazer grandes negociações ou acordos escritos. “Vamos fazer o nosso trabalho, esperando que do lado de lá haja responsabilidade e que as oposições percebam que, se não a tiverem, vão deitar o Governo abaixo e as pessoas não querem instabilidade”, nota a mesma fonte.
A incógnita da Spinumviva
Essa ideia de que o ónus está nas oposições e que não há margem para grandes entendimentos formais pode fazer com que Hugo Soares se mantenha como líder parlamentar em vez de subir ao Governo para substituir Pedro Duarte, o ministro dos Assuntos Parlamentares que deixou o executivo antes das legislativas por ser candidato à Câmara Municipal do Porto. O mais provável é que Soares – que é o verdadeiro braço-direito de Luís Montenegro e, a seguir ao primeiro-ministro, o homem com mais poder no partido – continue mesmo na frente política parlamentar. “É alguém em quem Montenegro confia muito e com grande capacidade política para estar no combate no Parlamento”, afirma uma fonte da bancada social-democrata.
Entre as incógnitas sobre como se comportará a oposição está o caso que esteve na origem da crise política que fez cair o governo. Com Pedro Nuno Santos de saída do Largo do Rato, é improvável que o PS insista numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Spinumviva, a empresa familiar de Montenegro. Mas não é de descartar, no entanto, que seja o Chega a insistir nessa CPI. “Se esses esclarecimentos não forem dados de forma clara e inequívoca, naturalmente que o Chega apoiará a criação de uma CPI”, garantiu Marta Silva, deputada eleita pelo partido de André Ventura, aos microfones da Antena 1 no dia a seguir às eleições. Resta saber se tomará a iniciativa de o propor.
Com a mulher Politicamente, o caso da Spinumviva ficou, para já, arrumado… Em baixo, a audiência em Belém, nesta terça-feira Fotos: José Carlos Carvalho
Para já, Ventura ainda não abriu o jogo, a não ser para dizer que não vai parar até ser primeiro-ministro e que não tenciona mudar de estilo. “Ouvi o secretário-geral do Partido Socialista reconhecer a derrota e dizer que fomos muito agressivos nesta campanha. Eles ainda não viram nada”, disse no rescaldo da noite eleitoral. Ventura até quis apresentar o Chega como “um garante de estabilidade”, mas também voltou a insistir que “nunca é nunca” perante a possibilidade de dar o seu apoio a Luís Montenegro. Por isso, as incógnitas são grandes.
O certo é que, mais uma vez, Luís Montenegro deve ser chamado a formar Governo, depois de o Presidente da República ouvir os partidos, contando o Presidente que a saída de cena de Pedro Nuno dê espaço ao PS para viabilizar o novo Executivo.
Até lá, na AD já se volta a pensar em pastas, com a ideia, porém, de que as mexidas não deverão ser muitas. No PSD, espera-se cara nova no Ministério da Administração Interna, com Margarida Blasco de saída, mas ninguém acredita que a polémica Ana Paula Martins saia do Ministério da Saúde. De resto, os sociais-democratas acham que Luís Montenegro vai mexer o mínimo possível neste novo Governo.
Isto só agora começou. Os próximos tempos prometem ser conturbados, repletos de incertezas e, seguramente, muito mais radicais do que alguma vez suspeitámos. Se olharmos para o caderno de encargos que se avizinha, a tarefa mais fácil para Luís Montenegro será a formação do novo Conselho de Ministros (com um prazo de vida supostamente mais alargado do que o anterior e, portanto, menos arriscado para quem o integrar) e a consequente apresentação do seu Programa de Governo na Assembleia da República. Depois, a partir daí, não voltará a ter sossego: precisará de se preparar para mais uma escalada de tensões, de provocações e da multiplicação dos habituais “casos e casinhos”.
“Eles ainda não viram nada”, avisou André Ventura no seu discurso de vitória na noite eleitoral, em que também decretou a “morte definitiva do bipartidarismo”. E se os resultados que o Chega obteve justificam essa proclamação, a pose combativa e o discurso revanchista que Ventura adotou de imediato prenunciam que ele não está disposto a dar qualquer descanso ao Governo da AD nem a procurar, a partir de agora, assumir uma postura de estadista mais consoante com as normas e o protocolo de um líder da oposição. Muito pelo contrário: se a algazarra já era grande com 50 deputados, será ainda maior com os previsíveis 60 lugares que o Chega passará a ocupar no Parlamento (se repetir os dois da emigração), com um aumento de 20% na escala de decibéis.
O calendário político vai ajudar à tensão e será até usado como desculpa para muitos exageros de linguagem. Dentro de poucas semanas, as ruas e praças do País vão começar a ser inundadas de cartazes com os candidatos às eleições autárquicas do outono. E, quase em simultâneo, começará também a rolar a campanha para as presidenciais de janeiro de 2026 – em que André Ventura pode voltar a ser candidato e, com isso, reabrir o “circo” nos diretos das televisões.
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No entanto, o calendário económico deveria exigir uma outra postura e um outro comportamento. Embora o contexto internacional tenha estado completamente ausente da campanha eleitoral, este é o momento em que, como país, vamos ter de enfrentar o choque de realidade. E é um choque que, inevitavelmente, irá pôr a nu muitas das promessas feitas e repetidas ao longo das últimas semanas – porque não haverá dinheiro para tudo.
Comparativamente com outros parceiros europeus, a situação económica de Portugal até se recomenda. Mas continua a exigir muitas cautelas e prudência. Conforme o Banco de Portugal já tinha avisado e agora a Comissão Europeia reiterou, depois de uma previsão semelhante do Conselho de Finanças Públicas, a probabilidade de voltarmos a ter défice (embora baixo, de apenas 0,1%) está mesmo ali ao virar da esquina, já em 2026, mesmo que o Governo continue a jurar que isso não acontecerá.
Não será um défice preocupante, como avisam os especialistas, mas significa que haverá menor margem orçamental para acomodar as despesas que se prometem fazer para a melhoria dos serviços públicos, em simultâneo com a redução de impostos. As contas ainda ficarão mais difíceis perante a necessidade de aumentar os encargos em Defesa, mesmo que não sejam os “astronómicos” 5% do PIB que os EUA exigem aos outros membros da NATO. E continua a ser uma incógnita o impacto que podem ter as tarifas de Trump numa economia como a nossa, a necessitar de mais pessoas e de maior investimento estrangeiro.
Por outro lado, os próximos meses serão decisivos para a concretização e a conclusão das obras com os muitos milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) – que não podem ser desperdiçados. Mas que também não devem alimentar falsas ilusões: apesar do muito dinheiro que possa vir de Bruxelas, das boas políticas que possam ser aprovadas – mesmo através de um improvável consenso alargado de partidos num Parlamento tripartido e ainda mais fragmentado –, nunca será de um dia para o outro que ficarão resolvidos os problemas da habitação, da demografia, da saúde, da educação, dos baixos salários, da desigualdade económica e de um elevador social tantas vezes avariado. Tudo isso exige dinheiro, é verdade, mas também tempo. Por isso, também nunca será de um dia para o outro que vão desaparecer os descontentes nem as razões para o descontentamento.
Animado com o resultado eleitoral, o Chega vai procurar explorar esse ressentimento, com uma energia ainda mais redobrada. Não em nome do interesse nacional, mas unicamente como caminho para alargar a sua base de apoio e chegar ao poder. De facto, ainda não vimos nada…
Talvez alguém tenha falado dele, mas não ouvi. Mesmo que alguém o tenha lembrado, esteve muitíssimo longe de ser o protagonista da noite eleitoral e dos dias posteriores. No entanto, foi ele quem espoletou a sucessão de eventos que conduziu à maior transformação no sistema político-partidário desde o 25 de Abril.
Claro que a subida das forças antidemocráticas não é um exclusivo português, bem pelo contrário, até chegou tarde ao nosso país.
É também evidente que transformações no perfil sociodemográfico trazem sempre reações complicadas.
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Não se ignora o amor assolapado das televisões a André Ventura que faz com que qualquer espirro que o antigo comentador desportivo dê seja acompanhado por emissões em direto e que o mesmo Pedro Pinto que advoga assassinatos por forças de segurança continue a ser convidado pelas estações para dizer o que lhe vai na gana.
A corrupção que havia (?) no governo PS e fez cair o governo não dá saúde a nenhum regime, nem um primeiro-ministro com problemas éticos.
Lamento referir, mas a qualidade do pessoal político dos partidos tradicionais está a níveis tão absurdamente baixos que um aldrabão com boa verve e sabedor de todos os truques parece um génio.
É sabido que a expressão do descontentamento passou da esquerda para a direita e que por influência das redes sociais deixou de ser institucional, mas baseada em insultos, ofensas e gritaria.
E, bem entendido, o discurso do PSD e do PS sobre imigração foi um maná para o Chega: o original é sempre mais eficaz do que a imitação.
Mais do que os muitos eteceteras que aqui faltam, não tenho a mais pequena dúvida de que há uma franja importante do País que sempre teve as convicções e, sobretudo, os sentimentos, rancores e preconceitos que o Chega amplifica, mas não tinha quem os protagonizasse. E não mudei de opinião: quem vota no Chega não quer uma democracia liberal, nem um Estado de direito. Pode ter outras razões, mas as que exprime, as que contam, são essas.
Tudo isto me parece verdadeiro, mas, lá está, sem ele esta revolução poderia chegar – e diria que chegaria –, mas não agora.
É certo, Montenegro ficou em primeiro e vai poder continuar a governar, mas quem ganhou as eleições e teve os votos para liderar a tal revolução foi o Chega.
O PS e o PSD ou foram governo ou lideraram a oposição: esse exclusivo acabou. Mas quem agora terá o último debate nas próximas eleições legislativas será um partido cujo discurso é contra a democracia e que advoga que os últimos 50 anos foram piores do que os anos da ditadura. Esse debate será um diálogo entre um primeiro-ministro com problemas éticos que em qualquer circunstância o impediriam de exercer o cargo e um líder da oposição que quer derrubar a democracia liberal.
Esse mesmo partido é agora o interlocutor do primeiro-ministro em situações de especial relevância e terá palavra decisiva na designação de pessoas para organismos de regulação e juízes do Tribunal Constitucional. E, claro, a revolução faz com que uma revisão constitucional possa ser feita sem a esquerda.
Aquele de quem não se falou provocou a tal cadeia de acontecimentos que fez com que o Chega seja a principal alternativa à governação.
E a possibilidade de um governo liderado por André Ventura está muito mais próxima do que parece.
A situação económica está a piorar, com ela virão o desemprego e as várias dificuldades. Se os sentimentos contra os imigrantes são o que são numa situação de pleno emprego e crescimento económico, é fácil prever como evoluirão numa conjuntura de crise. Não foi em vão que Ventura esqueceu a corrupção e fez toda a campanha a atiçar o ódio contra os imigrantes. Junte-se a isso a muito provável continuação do caso Spinumviva e doutros que surgirão e temos o cocktail perfeito para um governo de Pedro Pinto, Frazão, Rita Matias e companhia limitada.
O processo em curso é simples de prever, até porque é igual em vários países: termos as forças democráticas de um lado e as não democráticas do outro. Isso tem uma consequência imediata e outra próxima.
A imediata é o desaparecimento de um dos partidos estruturantes da democracia. O cenário que exponho faria com que os eleitores democratas concentrassem o voto no partido democrático mais forte, no caso o PSD, o que tornaria o PS um objeto arqueológico da história da democracia portuguesa, mas o mesmo pode acontecer ao PSD.
A próxima é algo que já aqui referi muitas vezes: quando o voto é entre a democracia e forças antidemocráticas, estas já venceram, é apenas uma questão de tempo.
O regime está num momento decisivo, melhor, está já à beira do colapso. A vertigem de acabar com o outro partido democrático ficando só na luta contra as forças democráticas é grande, mas pode ser decisiva para o enterro definitivo do sistema. Pede-se bom senso democrático.
Aquele bom senso que não existiu quando se escreveu o parágrafo de que ninguém quer falar.
O bom senso que migrou para parte incerta quando uma procuradora resolveu derrubar um governo maioritário por, pelos vistos, nenhuma razão. O bom senso que o Presidente da República não teve ao não respeitar o eleitorado e não ter aceitado o primeiro-ministro que o partido maioritário escolheu.
Repito: mais cedo ou mais tarde chegaríamos aqui, parece ser esse o caminho do mundo, mas a ignição para ser agora foi um parágrafo.
O parágrafo representa boa parte da manipulação a que os portugueses estão sujeitos. As mentiras que engolem sobre imigração, segurança e corrupção; a conversa dos 50 anos, como se não tivéssemos tido os melhores 50 anos da nossa História em desenvolvimento, em condições de vida, em liberdade, em conquista de direitos. Aquele parágrafo que nada tinha de substantivo é a melhor metáfora duma gigantesca mentira que está a conduzir o País para o fim da democracia.
Estas eleições que Portugal não queria estão feridas de mediocridade. Desde logo pela forma como surgiram. A falta de transparência do primeiro-ministro levou à queda do governo, a fim de fugir a uma comissão parlamentar de inquérito que punha em causa a sua seriedade enquanto servidor público.
Depois, a paupérrima campanha eleitoral veio reforçar ainda mais a mediocridade, ao não trazer para a discussão pública praticamente nenhum dos temas que interessam ao país. Alguém a apelidou de “inoportuna e estúpida”.
Ninguém discutiu a sério temas como a saúde, o ensino, a segurança social, a defesa, a Europa ou as relações internacionais. Não houve uma única entrevista a sério aos principais candidatos à chefia do governo. A coisa ficou pelos debates nas televisões e rádio. De resto, as arruadas e o folclore do costume, incluindo os programas televisivos de entretenimento, só demonstram que temos décadas de atraso em matéria de campanhas eleitorais. Parece que os candidatos estavam mais preocupados em surgir aos olhos da opinião pública como sendo simpáticos, “cool”, fixes. Tivemos motas, mergulhos na praia, voleibol e até um Rui Rocha que quase pediu por favor aos miúdos activistas que lhe sujassem o fato com pó verde.
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Mas a questão de fundo é mesmo a crise das elites. Sabemos que não é um problema exclusivamente nacional, mas a falta de qualidade política é demasiado notória no nosso país. Os melhores estão de fora, e lá terão as suas razões, ou porque são mal pagos, ou porque não querem lidar com um sistema partidário viciado, ou porque não querem ver a sua vida pessoal e familiar devassada sem dó nem piedade.
A outra razão é relativamente nova. Parece que o eleitorado português desistiu de exigir honestidade e transparência aos políticos, num processo que se tem vindo a agravar cada vez mais. A ética tornou-se uma batata. Isaltino de Morais foi condenado e esteve preso, mas voltou ao poder autárquico através de eleições quando saiu da cadeia. Miguel Albuquerque diz que vai continuar a liderar o governo regional da Madeira mesmo que venha a ser acusado de corrupção, de que é suspeito e arguido.
De acordo com a imprensa “Portugal caiu cinco lugares na edição de 2025 do Índice de Qualidade das Elites, a maior queda desde que o ‘ranking’ foi criado, para a 30.º posição (…) Segundo este estudo – elaborado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e pela Universidade de Saint Gallen (Suíça), em colaboração com uma rede internacional de parceiros e instituições académicas – o índice da qualidade global da elite portuguesa deteriorou-se, sobretudo, devido à ‘evolução negativa no sub-índice de poder, em especial no que diz respeito ao poder económico das elites”. Pode parecer que o estudo se refere apenas às elites económicas, mas nesta pesquisa foram consideradas quatro grandes dimensões: poder económico, poder político, valor económico e valor político, e o facto é que Portugal recuou para o 30.º lugar entre 151 países.
Montenegro trouxe a família para a campanha. Simulou um encontro com a mulher enquanto peregrina a caminho de Fátima, para piscar o olho aos católicos. E até o filho surgiu para dar um toque de carinho familiar, quando as trapalhadas da Spinumviva ainda estão por esclarecer. Um dos homens que mais dinheiro lhe meteu no bolso, eventualmente por troca com a indicação do filho para candidato à presidência de Braga, não soube explicar que serviço lhe prestou a empresa de Montenegro, serviço esse pago a peso de ouro. Valeu tudo, mas o povo não quer saber.
Apesar disso e ao contrário do que parece, Montenegro pouco ganhou com estas eleições. Não faz maioria com a IL e está dependente dos outros para governar.
A democracia corre perigo. Os portugueses votaram no partido que apresenta a maior taxa de deputados suspeitos e investigados por crimes, votaram em perfeitos desconhecidos, uma vez que o partido não revelou quem eram os seus candidatos, e votaram no partido que mais tem desestabilizado a vida política com o seu persistente discurso de ódio, notícias falsas reiteradamente plantadas nas redes sociais e cujo líder mente todos os dias como nenhum outro. A mudança a que assistimos hoje não é só política, mas cultural e ética. Podemos agradecer a Donald Trump.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
A Google anunciou uma nova vaga de atualizações ao Gemini 2.5, o modelo de inteligência artificial mais avançado da empresa até à data, elevando ainda mais o patamar em áreas como raciocínio complexo, multimodalidade e interatividade. Depois de ter lançado o Gemini 2.5 Pro em março e ter antecipado funcionalidades para programadores na conferência I/O, a gigante tecnológica traz agora melhorias tanto ao modelo Pro como à versão Flash, focando-se na performance, segurança e experiência de desenvolvimento.
Com um contexto de um milhão de tokens (unidades de texto como palavras ou partes de palavras que a IA usa para processar linguagem) e integração com o LearnLM (o conjunto de modelos criados com especialistas em educação), o Gemini 2.5 Pro tornou-se líder não apenas nos benchmarks académicos, mas também nos rankings WebDev Arena e LMArena, onde supera os concorrentes em tarefas de codificação e preferências humanas em diversos cenários.
A grande novidade agora é o modo Deep Think, uma funcionalidade experimental que permite ao modelo explorar múltiplas hipóteses antes de responder, reforçando as capacidades de raciocínio. Por enquanto, esta funcionalidade estará disponível apenas para testers de confiança através da Gemini API, enquanto decorrem avaliações adicionais de segurança.
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Gemini 2.5 Flash mais rápido e eficiente
A versão Flash do Gemini 2.5, pensada para tarefas de alta velocidade e menor custo computacional, também recebeu uma atualização significativa. Agora é mais eficiente — reduzindo o uso de tokens em 20 a 30% — e apresenta melhor desempenho em raciocínio, multimodalidade, codificação e gestão de contexto longo. Está disponível para todos na app Gemini e será lançado oficialmente em produção a partir de junho no Google AI Studio e Vertex AI.
Interações mais humanas com áudio nativo
Outra das grandes novidades é a introdução de saída de áudio nativa, permitindo interações mais naturais e expressivas com os modelos Gemini. Os utilizadores podem ajustar o tom, o sotaque e o estilo da voz — por exemplo, pedindo uma narração dramática. Além disso, o novo sistema de texto-para-fala com múltiplos locutores suporta mais de 24 línguas e mudanças de idioma em tempo real, captando até sussurros e emoções subtis.
Funcionalidades como diálogo afetivo (em que o modelo deteta emoções na voz do utilizador), áudio proativo (que filtra ruído de fundo) e a integração da capacidade de “pensar” no Live API estão também em fase experimental.
Segurança e controlo melhorados
Com o crescimento das funcionalidades, a segurança foi uma prioridade. O Gemini 2.5 implementa agora novas salvaguardas contra injeções indiretas de prompts — ataques onde comandos maliciosos são disfarçados em dados — aumentando significativamente a proteção do modelo durante o uso de ferramentas.
Pensado para programadores: transparência e integração com ferramentas abertas
A experiência para programadores também foi reforçada. O Gemini 2.5 Pro e Flash passam a incluir resumos que organizam os raciocínios do modelo com cabeçalhos, passos e decisões, o que facilita a compreensão.
Além disso, a funcionalidade de thinking budgets permite agora controlar a quantidade de tokens usados para pensar antes de responder, ajudando a equilibrar custo, latência e qualidade — uma funcionalidade inicialmente lançada com o Flash e agora expandida ao Pro.
Há também suporte nativo para o Model Context Protocol (MCP) na Gemini API, facilitando a integração com ferramentas open-source e permitindo a construção de aplicações mais inteligentes e autónomas.
Com inspiração na Cúpula de Ferro de Israel, os EUA anunciam a intenção de construir uma Cúpula Dourada para proteger o país de ameaças vindas de terra, ar, mar e até do espaço. Donald Trump afirma que o sistema de defesa dos EUA representa um passo de transformação nas atuais capacidades de defesa do país.
A cúpula americana vai ser maior que a de Israel e cobrir um espetro maior de potenciais ameaças, incluindo mísseis hipersónicos e sistemas de bombardeamento orbital que podem ser disparados do espaço. A solução integra tecnologias avançadas, incluindo sensores baseados no espaço e intercetores que asseguram uma cobertura alargada. As ameaças vão poder ser impedidas em várias fases: antes do lançamento, durante o voo e mesmo se estiverem em plataformas em órbita. “Temos algumas áreas de mísseis e certas defesas contra mísseis, mas não há um sistema… nunca houve algo como isto”, descreveu o presidente americano na Sala Oval.
O projeto tinha um orçamento inicial de 25 mil milhões de dólares, mas as novas estimativas apontam para um valor a rondar os 175 mil milhões de dólares. O general Michael Guetlein, vice na Força Espacial, vai liderar a iniciativa.
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O programa ambicioso, conta o Interesting Engineering, reflete a preocupação dos EUA em conseguir acompanhar nações como a Rússia ou a China que têm vindo a desenvolver armamento cada vez mais sofisticado.
Tump também afirmou, num passado recente, que o Canadá já manifestou a intenção de também estar protegido por esta cúpula, algo que foi confirmado pelo então ministro da Defesa canadiano Bill Blair quando de uma visita a Washington que o descreveu como “tema de interessa nacional” e que “faz sentido” o Canadá estar envolvido.
A Google anunciou o Veo 3, a mais recente versão do modelo de geração de vídeo com inteligência artificial, que pela primeira vez inclui áudio sincronizado com as imagens, como diálogos entre personagens, sons ambientes e efeitos sonoros
O anúncio foi feito durante o Google I/O, o evento anual da gigante norte-americana que decorre em Mountain View, EUA, e integra um conjunto de novas ferramentas criativas desenvolvidas pela Google DeepMind. O Veo 3 representa um avanço significativo face ao seu antecessor, não apenas pela introdução de som, mas também pela capacidade de compreender e transformar descrições complexas em cenas realistas, com física detalhada, movimentos naturais e som ambiente. O modelo consegue interpretar histórias curtas escritas pelos utilizadores e gerar vídeos com animações, expressões faciais e áudio perfeitamente integrados na narrativa.
Veja abaixo exemplos de geração de vídeos do Veo 3:
Colaboração com criadores e novas ferramentas
Segundo a Google, o desenvolvimento do Veo 3 envolveu uma colaboração próxima com profissionais do cinema, da música e das artes visuais, com o objetivo de fornecer uma ferramenta criativa útil e responsável. A empresa sublinha também o uso da tecnologia SynthID, que marca digitalmente os conteúdos gerados por IA para evitar desinformação ou atribuições erradas.
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Em paralelo, a Google anunciou melhorias no modelo anterior, o Veo 2, incluindo controlo de câmara, expansão de enquadramento (outpainting) e edição de objetos em cena, além do lançamento do Flow, um estúdio virtual onde é possível criar filmes com base em texto, referências visuais e direções estilísticas.
O Veo 3 junta-se agora à nova geração de modelos generativos da Google, que inclui também o Imagen 4 (criação de imagens com tipografia avançada) e o Lyria 2 (música generativa interativa).
A nova versão do Veo 3 está, para já, disponível apenas nos Estados Unidos, através da aplicação Gemini, para subscritores do plano Ultra, e para empresas via Vertex AI. O modelo pode também ser utilizado na Flow, a nova plataforma da Google dedicada à produção cinematográfica com inteligência artificial.
O Chega reforçou o seu grupo parlamentar e a sua bancada terá 15 novos deputados, entre os quais autarcas, dirigentes e o assessor que celebrou a morte de Odair Moniz, Ricardo Reis, eleito pelo círculo de Setúbal, onde ocupava o sexto lugar da lista.
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Em outubro do ano passado, esteve envolto numa polémica depois de ter reagido no X, antigo Twitter, à morte de Odair Moniz, o cidadão cabo-verdiano que foi baleado mortalmente por um agente da PSP no bairro da Cova da Moura, com a frase: “Menos um criminoso… menos um eleitor do Bloco”.
Na altura, a Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou a abertura de um inquérito a estas declarações, bem como às do líder do Chega, André Ventura, e do líder parlamentar, Pedro Pinto.
Foram vários os jovens eleitos deputados pelo Chega no domingo. Além de Ricardo Reis, também Lina Pinheiro, coordenadora da Juventude Chega de Vila Nova de Famalicão foi eleita por Braga, e Rui Cardoso, assessor do grupo parlamentar para a área da Educação, dirigente da juventude e candidato do partido à Câmara Municipal de Viana do Alentejo, foi eleito por Lisboa (11.º da lista).
Paulo Seco, líder da distrital de Coimbra, Patrícia Almeida, deputada municipal em Loures e vice-presidente da distrital de Lisboa são outros dos até agora assessores do partido que vão passar a sentar-se no plenário, eleitos por Coimbra e Lisboa, respetivamente.
João Lopes Aleixo foi eleito deputado pelo círculo de Portalegre. É presidente da Mesa da Convenção e do Conselho Nacional do partido e, desde fevereiro, deputado municipal em Lisboa, substituindo Nuno Pardal, acusado de prostituição de menores.
No círculo dos Açores, Francisco Lima substituiu Miguel Arruda, acusado de roubar malas no aeroporto, enquanto cabeça de lista. O veterinário, empresário na área dos produtos químicos e deputado no parlamento regional açoriano, vai rumar a Lisboa na nova legislatura.
Também por Setúbal foi eleita Cláudia Estêvão, enfermeira e vogal do Chega na Assembleia de Freguesia da Quinta do Anjo, em Palmela.
Outro autarca eleito deputado à Assembleia da República foi António Ricardo Moreira, adjunto da distrital de Faro do Chega, deputado municipal em Olhão e candidato àquela câmara municipal algarvia.
Cristina Vieira, médica, foi eleita deputada por Leiria. Adjunta da Comissão Política Distrital de Leiria, foi anunciada como candidata à Câmara Municipal de Óbidos nas eleições autárquicas deste ano. Nas eleições europeias do ano passado, integrou, como suplente, a lista de candidatos do partido ao Parlamento Europeu.
Catarina Salgueiro, advogada e candidata à câmara de Almeirim, foi eleita deputada por Santarém. Pelo mesmo círculo, foi eleito também José Dotti, líder daquela distrital do Chega (segundo da lista).
Outro novo nome que se vai juntar à lista de deputados do Chega é Pedro Tavares dos Santos, secretário da Comissão Política Distrital de Aveiro. No seu perfil de Facebook manifestou-se contra a vacina para a covid-19 ou as medidas de proteção recomendadas durante a pandemia, como o uso de máscara.
Pelo Porto foram eleitas também Idalina Moreira Costa, advogada, e Patrícia Nascimento.