O VOLT Live é um programa/podcast semanal sobre mobilidade elétrica feito em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).

Neste VOLT Live, episódio número 102, gravado a dia 16 de maio de 2025, Carlos Ferraz, diretor geral da Atlante Portugal, revela os planos deste operador de carregamento para o nosso país (e não só). Planos que incluem uma nova aliança com outros grandes operadores europeus para facilitar o carregamento, sobretudo em viagens pela Europa; a utilização da tecnologia pioneira desenvolvida em Portugal pela REN, que permite alimentar postos de carregamento diretamente a partir de linhas de alta tensão (para facilitar a instalação de carregadores em zonas remotas, por exemplo); e um novo sistema de pontos para premiar os clientes mais leais.

Em Polo Positivo e Polo Negativo, comentamos o novo ‘corredor’ de camiões 100% elétricos da MAN criado pela TJA e a situação complicada da Nissan e da Honda.
Em Produto em Destaque mostramos um acessório que permite transformar as baterias da Silence num powerbank de grande capacidade para casa (e não só).
Em E-Dica explicamos por que muitas casas com painéis solares e baterias ficaram sem energia duranta o apagão – e explicamos o que é necessário fazer para que isto não aconteça em futuros apagões.
Em Carrega Aqui apresentamos as novidades mais importantes na rede de carregamento, com destaque para abertura de novos hubs.

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O Bruno [18 anos] sofreu uma paragem cardiorrespiratória em 2023, dia 6 de novembro, às oito e meia da manhã. Tinha acabado de chegar ao colégio, onde estava a tirar o curso técnico-profissional de Mecânica e Design Industrial – queria ser mecânico de Fórmula 1, era o seu sonho.

Nem teve tempo de começar a aula de Educação Física, caiu inanimado no chão. A escola ligou para o INEM, demoraram muito a atender, mas um funcionário, o senhor Augusto, felizmente não desistiu do meu filho e fez-lhe as manobras de reanimação. Os bombeiros sapadores também tentaram reanimá-lo com o desfibrilhador, assim como a equipa médica do INEM, mas ele não respondeu. Levaram-no para o Hospital Eduardo Santos Silva, em Gaia, e ficou ligado à ECMO, suporte que substitui temporariamente os pulmões e o coração. Mas todo este processo demorou muito tempo, cerca de uma hora e 40 minutos, e a falta de oxigénio no cérebro, hipoxia, provocou-lhe danos graves. Nessa manhã, passou-me tudo pela cabeça, inclusive, “vou ficar só com um filho” [Rafael, 14 anos, é o filho mais novo].

Depois de ter sido transferido para o Hospital de São João, no Porto, logo nessa manhã, permaneceu nos cuidados intensivos três semanas, cinco dias ligado à ECMO, e ao fim dessa semana o coração dele já estava a trabalhar sozinho. Esteve dez meses internado na pediatria, à espera de conseguir vaga no CRN – Centro de Reabilitação do Norte, onde só entrou em setembro de 2024.

As lesões cerebrais afetaram parte do sistema nervoso central e tudo o que possa provocar desconforto a nível físico e psicológico, o meu filho reage com espasticidade muscular, o corpo enrijece. O Bruno não fala e do pescoço para baixo não mexe quase nada. Também não come sozinho, é alimentado por uma peg gástrica e embora já respire sozinho, está traqueostomizado (pequeno orifício na garganta). Em vez de dizer que ele perdeu muita coisa, prefiro pensar ao contrário, que ele tem de conquistar mais coisas.

O que nos dá esperança é que entende tudo o que dizemos: se lhe contar uma anedota, reage, se disser uma piada, também sorri. Tem um grau de compreensão bastante razoável para aquilo por que passou. Temos tentado estar sempre com um espírito positivo à volta dele, sempre a puxar por ele.

Inicialmente, tudo isto foi um terramoto para nós. Depressa me dei conta de que, se me fosse abaixo emocionalmente, viria tudo atrás de mim. Como o meu marido [Miguel Pires, 57 anos] tem um salário superior ao meu e houve muita compreensão da sua entidade patronal, foi ele quem meteu baixa médica e esteve sempre com o Bruno nos internamentos, enquanto eu ia gerindo a minha atividade profissional [designer de vestuário por conta própria] e também tinha de estar focada no Rafael, sentia-se desamparado, com medo.

“Não cabe no elevador”

Dezasseis meses depois do incidente, a 13 de março, o meu filho regressou a casa. Sabemos que é uma recuperação muito lenta, mas acreditamos que é possível dar-lhe qualidade de vida. É nisso que queremos estar focados e o irmão também já interiorizou isso. Costuma fazer palhaçadas para o Bruno sorrir e também me ajuda quando preciso pegá-lo ao colo. É complicado fisicamente, sem dormir e sem descansar. Já tenho marcada fisioterapia para mim, por causa das costas.

Voltou a ser um bebé. Só o banho e arranjá-lo são quase duas horas: é preciso mudar a traqueostomia, fazer a aspiração de secreções, hidratar o corpo para evitar escaras. Nós não conseguimos dormir uma noite inteira, de três em três horas é preciso ir virar o Bruno para evitar essas lesões no corpo.

Duas horas de fisioterapia por dia numa clínica privada custam €75, a terapia da fala €35 por dia, e como não temos carrinha adaptada, também pagamos €40 por dia pelo transporte feito pelos bombeiros. A somar a tudo isto, toda a medicação para a parte cardíaca, relaxantes musculares, protetores gástricos, prevenção para convulsões, fraldas, cremes.

Fizemos obras totais na casa de banho, para conseguir dar banho ao Bruno sentado numa cadeira própria; no quarto dele foi preciso abrir espaço junto à porta, assim como no corredor deitei abaixo uma parede para conseguir ter uma abertura maior para fazer as manobras com a cadeira. No prédio, está a entrar pela garagem, mas vamos ter de fazer rampas de acessibilidade. No elevador, como ele mede 1,85 metros [pesa 50 quilos], quase não cabe lá dentro, pois tem as pernas compridas e a rigidez muscular faz com que tenha dificuldade em dobrá-las.

Em vez de dizer que ele perdeu muita coisa, prefiro pensar ao contrário, que ele tem de conquistar mais coisas. O que nos dá esperança é que entende tudo o que dizemos: se lhe contar uma anedota, reage, se disser uma piada, também sorri. Tem um grau de compreensão bastante razoável para aquilo por que passou. Temos tentado estar sempre com um espírito positivo à volta dele, sempre a puxar por ele

A cadeira de rodas que temos foi emprestada pelo CRN, porque estamos a aguardar desde setembro que a Segurança Social nos forneça a cadeira adaptada. Estamos desesperados pela cadeira com assento especial antiescaras, com uma separação entre os joelhos, com guias telescópicas, costas próprias e almofadinhas para segurar a coluna. Pedi um orçamento a uma empresa e custa quase dez mil euros.

Os 22 mil euros que precisamos são para cobrir terapias e tratamentos, além da fisioterapia. O Bruno já fez 20 sessões de ozonoterapia, que acelera o processo de regeneração das células mortas ou adormecidas. Também está a fazer Estimulação Magnética Transcraniana para recuperar caminhos que ficaram “cortados” pela falta de oxigénio da paragem cardiorrespiratória.

Em julho, vamos a Madrid para uma intervenção cirúrgica pouco invasiva que vai trabalhar a fáscia [membrana de tecido conjuntivo fibroso], ajudando a libertar as partes mais presas do Bruno e depois potencializar a fisioterapia. 

Nunca tivemos grandes problemas financeiros. Agora, investimos tudo o que temos e o que não temos e criámos a página Unidos Pelo Bruno no Instagram e no Facebook para divulgar iniciativas solidárias que estamos a organizar para conseguir apoio financeiro: jantar a 29 de maio com a Associação Rotary Club de Vila Nova de Gaia e caminhada a 22 de julho.

Infelizmente, o Estado não nos oferece tratamentos suficientes. E, se um de nós vai ter de deixar de trabalhar, como é que podemos assumir um crédito?

Depoimento recolhido por Sónia Calheiros

Esta é uma das conclusões da tese de doutoramento apresentada no Centro Médico da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, em junho de 2009, por Wouter de Ruijter. Este médico de família e investigador era, então, o diretor do programa de formação em Medicina Geral e Familiar do Departamento de Saúde Pública e Cuidados Primários. As suas conclusões foram surpreendentes e de enorme importância.

Em geral, os resultados da investigação científica demoram 5 a 10 anos, ou mais, a serem integrados nos livros da especialidade e lecionados nas universidades. Isto se os professores resolverem atualizar os seus conhecimentos, pois conhecimentos fundamentais há muito evidentes e validados, nem sequer são tidos em consideração. Exemplificativa é a enorme relevância e a não atenção que é dada ao caráter – moral, ético e psicológico – dos profissionais que cuidam, ensinam e decidem, como é o caso dos médicos, advogados, professores, políticos, diretores de empresas e administradores. O seu comportamento afeta a vida das pessoas que os solicitam ou deles dependem.

O médico Wouter de Ruijter acompanhou mais de 4500 pessoas saudáveis com mais de 55 anos em Roterdão reunindo dados como a tensão arterial mas também outros fatores de risco (colesterol, tabagismo, diabetes, género, etc.) com os quais os médicos podem avaliar o risco cardiovascular de uma pessoa. Nos participantes mais jovens (55 anos), uma tensão arterial sistólica alta (≥140/90 mm Hg) era (e continua a ser) um marcador importante de risco cardiovascular. No entanto, com o avançar da idade, a utilidade preditiva desse valor foi diminuindo progressivamente, sendo nula quando as pessoas ultrapassavam os 75 anos.

O investigador constatou também que em pessoas saudáveis com mais de 85 anos, valores de tensão arterial sistólica superior a 140 estavam associados a maior longevidade. A longevidade ainda era maior quando a tensão arterial sistólica era superior a 160.

Numa entrevista concedida a um jornal neerlandês, o médico reconhece que a pressão arterial tem quase um estatuto “mítico” tanto entre profissionais como entre pacientes, mas que vai ser mesmo necessário aceitar que um médico possa dizer a uma pessoa saudável, com mais de 80 anos e uma pressão arterial sistólica de 180: “Está ótimo, não é necessário fazer nada.”

Nas pessoas com 85 anos ou mais, a hipertensão não é um fator de risco.

Em 2010, o médico internista Thomas van Bemmel defendeu a sua tese de doutoramento no Centro Médico da Universidade de Leiden (LUMC), com o título High blood pressure at old age : The Leiden 85 plus study. O investigador acompanhou 571 pessoas com mais de 85 anos. Dentre estas, 223 apresentavam um historial de hipertensão arterial.

No período de cerca de quatro anos em que estas pessoas foram acompanhadas, registaram-se 290 óbitos. A taxa de mortalidade em ambos os grupos (hipertensos e não hipertensos) foi semelhante, o que é bastante relevante pois não era expectável de acordo com as práticas seguidas.

O grupo de pessoas com um historial de hipertensão não apresentou aumento de mortalidade, enquanto os valores tensionais se mantiveram elevados. Contudo, verificou-se um aumento significativo da mortalidade quando a tensão arterial foi reduzida, com recurso a fármacos anti-hipertensores, para valores inferiores a 140/70, sobretudo entre as pessoas com historial prolongado de hipertensão. Com base nestes dados, o LUMC conclui que pessoas com mais de 85 anos e um historial de hipertensão arterial, mas que nunca foram medicadas, não o devem ser de forma automática.

O autor do estudo explica: “Uma pessoa pode ter uma tensão arterial de 120 aos vinte anos, de 160 aos sessenta, de 180 aos oitenta e de 160 aos oitenta e cinco. Embora 160 continue a ser um valor elevado, ao tentar reduzi-lo ainda mais, pode-se comprometer a perfusão sanguínea e o funcionamento de todo o organismo.” Por outro lado, pessoas que sempre tiveram tensão arterial normal, que aos 85 anos apresentam uma tensão arterial de 160, devem ser tratadas.

Van Bemmel questiona a diretriz tradicional que defende que “quanto mais baixa a tensão arterial, melhor”, no caso de pessoas com mais de 85 anos. Acrescenta ainda que, neste grupo, os dados demonstram que a função renal, a memória e as capacidades cognitivas eram melhores nas pessoas com valores tensionais mais elevados.

Tensão arterial sistólica elevada associada a menor risco de quedas em pessoas com mais de 85 anos

Em 2023, com base nos dados do Leiden 85 plus study, os investigadores David Röthlisberger e Katharina Jungo, da Universidade de Berna (Suíça), publicaram um estudo adicional. A conclusão, algo inesperada, foi a de que valores mais elevados de tensão arterial sistólica estavam associados a menor risco de quedas.

Neste estudo foram acompanhadas 544 pessoas (66% mulheres), avaliadas clinicamente e entrevistadas anualmente durante cinco anos, a partir dos 85 anos. A média da tensão arterial sistólica em repouso era de 155 mmHg. Verificou-se que os episódios de queda eram menos frequentes nas pessoas com hipertensão.

O conhecimento científico inspira, faz-nos evoluir e salva vidas. Por isso mesmo, as universidades e as ordens profissionais deveriam considerar a aptidão ética, psicológica e moral como critério essencial para o exercício de profissões que envolvam responsabilidade direta sobre terceiros, na saúde como no ensino, no setor empresarial como no setor público, na governação como na justiça. Quando não exista essa aptidão, devem ser tomadas medidas que protejam, efetivamente, os cidadãos, as crianças, as mulheres e as famílias, assim como a sociedade. Um educador de infância, tal como um gestor de uma empresa, têm de ser pessoas excecionais, numa perspetiva humanista.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Está longe de ser inédito o campeão nacional de futebol ser conhecido apenas na última jornada da competição. Nos últimos 25 anos, os mesmos com que já conta o século XXI, esta será a oitava vez que o vencedor da principal prova do desporto-rei português ficará a conhecer-se só na derradeira ronda. Mas poderá ser apenas a segunda vez, em toda a História do nosso futebol, em que o campeão não é a equipa que liderava a competição na penúltima jornada. Isso só aconteceu uma vez, há 70 anos (1954/1955), quando uma vitória do Sporting sobre o líder Belenenses evitou a conquista do segundo título da equipa do Restelo e o ofereceu de bandeja ao Benfica, que era segundo classificado na penúltima ronda, mas acabou campeão ao vencer o Atlético.

Além da disputa pelo título, esta edição da Liga Portugal vai ficar na História por chegar à sua última jornada com quase tudo por decidir. Não é ainda claro quem vai ter entrada direta na Liga Europa, quem vai participar na Liga Conferência, bem como que equipas vão descer de divisão ou adiar o sofrimento para um play-off decisivo. Algo que está bem patente no facto de sete dos nove jogos da jornada 34 irem disputar-se à mesma hora (18h) deste sábado, 17.

Mas vamos a contas e por partes.

Contas do título

Depois do empate a um golo registado no derby do último sábado, 10, o Sporting tem via aberta para a conquista do título, que será seguramente seu se vencer, em casa, o Vitória de Guimarães. Se não conseguir fazê-lo, qualquer outro resultado só lhe permitirá festejar no Marquês de Pombal se for igual àquele que o Benfica fizer em Braga. Isto porque, em caso de igualdade pontual, os leões terão a vantagem de ter feito mais pontos nos dois jogos que disputaram contra as águias (vitória em Alvalade e empate na Luz). Por essa mesma razão, o Benfica não depende só de si próprio, precisando de fazer um resultado melhor do que o dos rivais da Segunda Circular. Se estes perderem, bastará um empate, mas se empatarem, só a vitória servirá para os encarnados regressarem de Braga com o “caneco”.

Falamos com esta simplicidade da questão do título como se ela dependesse apenas dos dois primeiros classificados e não também dos seus adversários. Ora, como qualquer jogo de futebol tem o condão de poder ser imprevisível, as ambições de Vitória de Guimarães e Sporting de Braga poderão vir a ter influência no desfecho final. Isto porque ambas as equipas têm ainda aspirações a melhorar ou a garantir o seu lugar nas competições europeias da próxima temporada.

Contas europeias

Com Sporting e Benfica já garantidos na próxima edição da Liga dos Campeões (um com entrada direta e outro na terceira pré-eliminatória) e ambos com presença garantida na final da Taça de Portugal, o lugar de entrada direta na Liga Europa (inicialmente destinado ao vencedor deste troféu) passará para o terceiro classificado da Liga Portugal, que é, atualmente, o FC Porto. Porém, e apesar de os dragões terem a posição praticamente segura (para a garantir matematicamente basta um empate, em casa, frente ao Nacional da Madeira), o Sporting de Braga ainda tem hipóteses matemáticas de subir a esse posto na classificação, embora isso dependa de uma combinação de resultados muito difícil de acontecer. Seria preciso que o FC Porto perdesse por muitos e que os arsenalistas goleassem o Benfica, desfazendo a vantagem entre golos marcados e sofridos (mais sete) que dá atualmente superioridade aos dragões. O mais certo, portanto, é que tenha mesmo de ir jogar a pré-eliminatória da Liga Europa, tarefa que está destinada ao quarto classificado da Liga.

A outra equipa do Minho, que perdeu na última jornada em casa contra o Farense, complicou o apuramento para a fase de qualificação da Liga Conferência. Tudo vai depender do resultado que conseguir em Alvalade e daquele que o Santa Clara obtiver na deslocação a Faro. Em igualdade pontual no quinto lugar, o Guimarães tem vantagem no confronto direto, pelo que garantirá a ida à Europa se fizer o mesmo resultado que os açorianos, os quais, por seu lado, só se qualificarão se conseguirem fazer, em Faro, melhor do que os vimaranenses fizerem em Alvalade.

Contas da descida

Uma tarefa que também não se afigura fácil, uma vez que pela frente estará um Farense a lutar com todas as forças para escapar à descida de divisão. Uma disputa que, além dos algarvios, envolve mais três equipas, separadas por cinco pontos. O Boavista, atual lanterna vermelha com apenas 24 pontos, precisa de vencer em Famalicão e esperar que Farense e Aves percam para garantir um lugar no play-off contra o terceiro classificado da Segunda Liga, última oportunidade para assegurar um lugar na primeira divisão da próxima temporada. O Farense e o Aves, empatados com 27 pontos, mas com os nortenhos em vantagem, disputam o mesmo lugar no play-off, que será assegurado pela equipa que fizer um melhor resultado na última ronda. E até pode acontecer um deles garantir já a manutenção, se vencerem (ambos ou só um deles) o jogo derradeiro e o Estrela da Amadora, que tem 29 pontos, perder na deslocação ao Estoril.

Como se vê, são muitas as indecisões, que farão do próximo sábado um atípico dia de reflexão para as eleições legislativas antecipadas do dia seguinte.

Para nós, aqui no cantinho ocidental com vista para o mar, parece que se tornou consensual, nos últimos dias, olhar para as eleições como um cansaço, até mesmo como uma perda de tempo, segundo alguns. Só que não nos deveríamos esquecer que os votos que forem depositados neste domingo, 18 de maio, podem ter um papel decisivo para o futuro europeu.

Não serão os nossos votos, aviso desde já – até para me livrar de qualquer condenação futura por violação das antiquadas regras do nosso “singular” Dia de Reflexão. Para o futuro da União Europeia o que conta mesmo são os votos contados em Varsóvia e em Bucareste.

Desculpem a franqueza, mas mais importantes do que as nossas eleições legislativas são as eleições presidenciais que se realizam, no mesmo dia 18, na Polónia e na Roménia. Nesses dois países, os mais populosos do Leste europeu, os resultados não terão impacto apenas para polacos e romenos. Podem mesmo ter um efeito (mais desastroso do que benéfico) para a União Europeia.

Na Roménia, existe a forte possibilidade de vitória do populista George Simion (depois dos 40% de votos obtidos na primeira volta), um candidato com uma agenda pró-Trump, que é contra o apoio da UE à Ucrânia e que, se vencer, pode juntar-se ao húngaro Viktor Orbán e ao eslovaco Robert Fico, reforçando o grupo dos dirigentes nacionais que optam por bloquear as decisões importantes que precisam de consenso no Conselho Europeu, nomeadamente a continuação do apoio militar a Kiev, com tudo o que isso implica.

Na Polónia, embora esta ainda seja apenas a primeira volta das eleições presidenciais, estão já em jogo as duas conceções diferentes de projeto europeu e, acima de tudo, de democracia, que deverão enfrentar-se na segunda volta, a 1 de junho. De um lado, temos o presidente centrista da câmara de Varsóvia, Rafał Trzaskowski, empenhado em apoiar o atual governo liderado por Donald Tusk na sua missão de reverter o retrocesso democrático no país. E, do outro, Karol Nawrocki, da direita extremista do Partido da Lei e Justiça, que pretende continuar a bloquear essa missão, dando continuidade ao trabalho que tem estado a ser feito pelo atual presidente, Andrzej Duda.

Por causa destas realidades, quando se veem as primeiras páginas dos jornais com um posicionamento responsável e de referência desses países percebe-se porque – ao contrário do que sucede noutras latitudes muito próximas de nós… – não gastam espaço a noticiar sondagens, quase sempre de eficácia duvidosa. E não o fazem porque sabem que está em jogo, como sublinham, algo muito mais importante: continuar a pertencer a uma Europa democrática, justa e que respeita os direitos humanos.

“Dar voz à democracia” é, por isso, a manchete do jornal polaco Gazeta Wyborcza, desta sexta-feira, 16, cuja primeira página escolhi para ilustrar este texto. A publicação de Varsóvia explica bem o que está em jogo naquele país, cada vez mais central e decisivo nas decisões europeias: “Mais uma vez, nós, cidadãos, estamos diante de uma escolha histórica: ou a Polónia será democrática, europeia e igual para todos, ou será antidemocrática, xenófoba e anti União Europeia. Depende de nós saber que caminho iremos escolher”.

É sobre isto, exatamente sobre isto, que precisamos de refletir neste nosso dia de reflexão: queremos ou não uma Europa unida pelo respeito da democracia, dos direitos humanos, da justiça social, da paz e do progresso social?

Por cá, sem estes dilemas urgentes, caímos facilmente na tentação de pensar que todos estes temas são muito distantes e que nada têm a ver com a nossa realidade. Será mesmo assim?

Se o dia de reflexão serve para alguma coisa que seja para nos ajudar a refletir sobre o que está em jogo na Polónia e na Roménia. Acima de tudo, porque não sabemos se, algum dia, podemos ter de enfrentar um dilema semelhante. E pior: se, nessa altura, já não teremos liberdade nem tempo para refletir, em conjunto, sobre o que fazer – apenas porque já alguém decidiu por nós, sem se preocupar em saber a nossa opinião.

Afinal, o dia de reflexão, mesmo que seja anacrónico, ainda pode ser útil.

A arruada pelos jardins da Fundação Gulbenkian já é um clássico neste dia de festa de ‘Miúdos a Votos’, momento em que são conhecidos os livros mais votados pelos alunos do País, do 1º ciclo ao secundário.

Já tinham terminado o almoço-piquenique quando as turmas se reagruparam e empunharam os seus cartazes com slogans inspiradores, como “literatura em ação”, e apelos a “mais leitura, mais cultura”. Há quem tenha o megafone vermelho na boca para fazer valer palavras de ordem e há quem toque bombo (Escola Básica da Barranha, Senhora da Hora).

Liana vestiu-se hoje de pequena Fada Oriana e Vitória de velhinha, personagem do livro A Viúva e O Papagaio. As duas explicam-nos a diferença entre caixas, bombos e timbalões, os maiores, e tocados com duas baquetas. Ao longo deste ano letivo, tiveram aulas duas vezes por semana para aprenderem os ritmos e os movimentos de coreografias simples.

Todos aos seus lugares, o espetáculo vai começar.

Leonardo Pereira, 13 anos e Sara Claro, 17, são locutores da Rádio Miúdos e estão a postos para conduzirem a grande festa de ‘Miúdos a Votos: Quais os livros mais fixes?’.

Leonardo e Sara, no início do espetáculo

Sabemos que houve 121 060 votantes, alunos de 960 escolas do País, divididas por 420 do Norte, 137 do Centro, 48 do Alentejo, 71 do Algarve, 283 da Área Metropolitana de Lisboa e duas de França. O 1º ciclo foi aquele que teve mais escolas inscritas (436), seguido do 2º (248), 3º (213) e secundário (63).

Esta edição, que já é a nona, bateu o recorde de votos, a caminho de triplicar os 53 mil da primeira edição, em 2017, e longe, longe da mais baixa participação, 16 mil, durante a pandemia em 2020.

Todas estas informações foram partilhadas por Luísa Loura, diretora da Pordata, que sugeriu a leitura de Um Gentleman em Moscovo, de Amor Towles, aos estudantes mais velhos do ensino secundário.

Luísa Loura, Pordata

As apresentações levadas a palco pelas diversas escolas tanto celebraram Luiz Vaz de Camões e os 500 anos do nascimento do maior escritor português de sempre e grande aventureiro, como alguns temas das principais obras em campanha (bullying, discriminação, guerra ou amizade).

Na festa do ano passado, assinalaram-se os 50 anos do 25 de Abril de 1974. Desta vez, evocaram-se os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal, em que 91% dos eleitores foram votar na assembleia constituinte, um recorde nunca mais batido. Veremos o que acontece este domingo, 18, nos resultados das eleições legislativas.

Manuela Pargana Silva, coordenadora da RBE e Sara Belo Luís, diretora-executiva da VISÃO Júnior

Antes da primeira atuação, Manuela Pargana Silva, coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares sublinhou a importância da iniciativa: “É a festa da promoção do livro, da leitura e da liberdade. As crianças e adolescentes são os decisores. Votar permite fazer melhores escolhas.” E não desceu do palco sem antes deixar a sugestão de um livro para lerem, Era Duas Vezes o Barão Lamberto, de Gianni Rodari.

Escola Básica do Carandá

Camões vestido de veludo preto e pala no olho direito, um saltimbanco cheio de energia e três donzelas serenas, jovens da Escola Básica do Carandá, de Braga, apresentaram a sua ‘Miscelânea de Camões’. Seguiu-se um grupo de Guimarães, da Escola Básica de Cruz de Argola, lembrando José Saramago, o único escritor português que recebeu um Prémio Nobel, e o seu conto infantil A Maior Flor do Mundo.

Apresentação de A Maior Flor do Mundo

Durante o ano letivo, muitos dos intervalos entre as aulas dos alunos do 4º ano da Escola Básica de São Lázaro, de Braga, foram passados a tratarem da produção de todos os adereços para virem apresentar o seu livro preferido, uma novidade nas lista dos livros-candidatos: Coelho vs Macaco. E é com eles que entram em palco. São cartazes e faixas ao alto, fantoches de mão e cabeçorras das várias personagens do livro, feitas em plasticina.

Escola Básica de São Lázaro

Não há duas turmas iguais e cada uma escolheu um livro que serviu de inspiração: E Se Os Bichos Se Vestissem Como Gente, de Luísa Ducla Soares, para os estudantes da Escola Básica de São Faustino, de Guimarães ou A Fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, para os da Escola Básica Mestre Martins Correia, da Golegã, com um grupo de meninas a subirem ao palco com saias e vestidos em tule, flores e tranças nos cabelos, representando fadas e rainhas eternas.

É emocionante assistir dos últimos lugares do auditório à revelação dos livros mais votados. Anunciados os terceiros e segundos lugares, os miúdos não se aguentam sentados e começam a elevar-se à medida que o gráfico cresce para revelar, finalmente, o mais votado de todos.

Um dos livros mais votados desta edição, aqui com um Greg em carne e osso

A seguir é a explosão de palmas para O Diário de Um Banana 1: Edição Especial Toque do Queijo, de Jeff Kinney (1º ciclo) e Gravity Falls – Diário 3, de Alex Hirsch, Rob Renzetti (2º ciclo).

Coube à subdiretora da VISÃO, Sara Belo Luís, fazer a revelação. E também ela deixou uma sugestão de leitura: Atlas das Viagens e dos Exploradores, de Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho, com biografias de grandes exploradores que se fizeram à estrada muitos anos antes de existirem… estradas.

Sara Belo Luís

Apesar dos momentos descontraídos e de gargalhada, também houve tempo para assuntos sérios. Os alunos da Escola Básica de Óbidos escolheram O Rapaz Milionário, de David Walliams para falarem de como não somos todos iguais fisicamente, mas todos merecemos ser respeitados por essas diferenças. No fundo, falaram de como o bullying pode ser uma experiência traumática e apelaram à sua denúncia.

Escola Básica de Óbidos

Foi depois dessa divertida dramatização que os poemas de Camões voltaram a ser cantados pelos alunos de Braga. Desta vez, um dos sonetos mais conhecidos do autor, Amor é fogo que arde sem se ver. Mas numa versão rap muito enérgica.

Alunos da Escola Básica do Carandá

A mensagem de Guilherme d’Oliveira Martins, presidente da Fundação Gulbenkian, costuma pôr-nos a pensar e, mais uma vez, conseguiu. “Ler é podermos compreender a vida, a existência, a realidade que temos. Votar é escolher, dizer o que pensamos, partilhando”, começou por dizer.

Lembrou também o pensamento de Umberto Eco, escritor e filósofo italiano, que dizia: “Uma pessoa que não lê vive apenas o tempo exato e curto da sua vida. Quem lê vive várias vidas, que podem recuar cinco mil anos, a idade das civilizações que nos influenciaram.”

Seguiu-se um bom momento musical, fácil de trautear. Os alunos da Escola Básica do Alvito, em Óbidos, pegaram na música Conquistador da banda portuguesa Da Vinci, selecionada para representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção 1989, e deram-lhe uma nova letra alusiva ao universo de Harry Potter. O público acompanhou com efusivas palmas que encheram o auditório.

Escola Básica do Alvito

Culpa Minha, de Mercedes Ron, foi o livro mais votado no 3º ciclo e O Rapaz do Pijama às Riscas, de John Boyne, deu o mote para a Escola Básica e Secundária Dr. Ferreira da Silva, de Oliveira de Azeméis, apresentar o seu booktrailer que termina com a máxima: “Uma história de inocência num mundo de ignorância”.

A mesma obra, que fala da amizade entre dois adolescentes durante a II Guerra Mundial, serviu para a performance de dança, cuidada e elegante, das alunas da Escola Secundária de Paços de Ferreira.

Na reta final, subiu ao palco Rui Tavares Guedes, diretor da VISÃO e da VISÃO Júnior. Levava no bolso Contos do Gin-Tonic de Mário-Henrique Leiria, que o jornalista terá lido por volta dos 17 anos quando “é preciso começarmos a pensar pela própria cabeça”. “Nada melhor do que o poder da imaginação através dos livros para ajudar”, aconselhou.

Foi ele quem revelou o livro mais votado no Secundário, Isto Acaba Aqui, de Colleen Hoover. Uma obra “impactante, devastadora e profunda”, na opinião dos alunos do 10º ano da Escola Secundária de Paços de Ferreira. Fala-nos de abuso físico e psicológico, e incentiva os leitores a denunciar os casos e a pedir ajuda aos adultos, familiares e professores. Um alerta importante.

Esta foi uma edição com uma novidade, a atribuição do Prémio Melhor Campanha, cujo objetivo é reconhecer e valorizar as campanhas eleitorais mais participativas, aquelas que saíram à rua e se envolveram-com a comunidade. Foram quatro as escolas vencedoras que levaram para casa 600 euros.

João Pedro Costa, coordenador da Rádio Miúdos – que também leu uma parábola de Mário-Henrique Leiria e sugeriu a leitura de O Velho e O Mar, de Ernest Hemingway – anunciou as escolas vencedoras. Foram elas a Escolas Básica da Serra das Minas, em Sintra, a EB2/3 Paula Vicente, de Lisboa, e as Secundárias de Ponte de Sor e Padre António Martins Oliveira em Lagoa, Algarve.

A despedida fez-se ao som do hino criado pela Escola Básica da Barranha, da Senhora da Hora, Matosinhos, que pegou na música tradicional A Saia da Carolina e lhe deu uma nova letra, invocando muitas das personagens dos livros-candidatos que passaram este ano po ‘Miúdos a Votos: Quais os Livros mais fixes?’, como Ulisses, Ali Babá, a Fada Oriana ou Harry Potter. Uma festa que foi uma verdadeira inspiração.

“Nos próximos dias, terá lugar uma troca maciça de prisioneiros, 1.000 por 1.000”, anunciou o negociador russo Vladimir Medinsky no final da reunião que juntou negociadores russos e ucranianos em Istambul.

A informação foi confirmada pelo chefe da delegação ucraniana, o ministro da Defesa Rustem Umerov, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

As delegações discutiram também a possibilidade de um cessar-fogo e de um encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.

Natural de Lisboa, viveu parte da infância em Kinshasa, capital da atual República Democrática do Congo (antigo Zaire), durante 12 anos. Numa viagem de regresso a Portugal, o pai ofereceu-lhe um Timex Sinclair 2048 e, desde então, o interesse pelos videojogos nunca mais parou de crescer.

Há 20 anos, quando o YouTube foi fundado, poucos imaginariam que produzir vídeos para a plataforma se tornaria uma profissão. A verdade é que o universo do YouTube cresceu de forma impressionante em relativamente pouco tempo, e hoje existem milhares de criadores de conteúdo que vivem exclusivamente desta atividade. RicFazeres é um desses casos — um dos maiores e mais acarinhados youtubers portugueses. Prefere jogar em consolas do que em computador e, este ano, está particularmente entusiasmado com o lançamento de Ghost of Yotei, um exclusivo da PlayStation.

Em que momento quis ser youtuber?

O canal tem 12 anos. Estive a fazer contas há uns dias porque comecei recentemente a fazer diretos na Twitch e reparei que a Twitch era um ano mais nova do que o YouTube. Eu comecei a criar conteúdo para o YouTube, e utilizava a plataforma para aquilo que ela servia: carregar vídeos e, através de um link, partilhar esse conteúdo com alguém. Eu tinha um clã de Call of Duty, e nós estávamos registados num site que era a Game Battles, em que eu organizava, por exemplo, uma batalha contra jogadores individuais ou equipas.

No final de cada batalha, como era uma coisa independente, nada impedia, se eu tivesse ganho, de chegar ao site e dizer que outro jogador é que ganhou. Então, o que é que nós fazíamos? Gravávamos essas batalhas, carregávamos para o YouTube para, mais tarde, comprovar que eu tinha ganho. E isso começou a ter visualizações, começou a crescer. Eu fui perdendo as habilidades, que a malta mais nova é que tem, por norma, nos videojogos E acabei por ser comentador. Virei-me para a frente de comentador. Depois percebi que aquilo começou a ser como uma bola de neve com os seguidores a crescerem. E pensei: “Tu já jogas desde menino, porque não partilhas as tuas emoções, as tuas gameplays que tu fazes diariamente?” E começou dessa forma.

Quando é que sentiu que podia começar a viver apenas do YouTube?

Isto aconteceu anos depois de eu já ser youtuber. Quando eu já não conseguia conciliar o Metropolitano de Lisboa com o YouTube. Eu, na minha vida, tenho uma palavra que sempre fez muito sentido, que foi a palavra “acreditar”. Em determinado projeto que eu inicie, eu acredito muito que aquilo vai resultar. E, para isso, dedico-me bastante. E foi isso que eu fiz. Andei durante sete anos, depois da coisa começar a crescer um bocadinho, em que eu acreditava que realmente poderia ter sucesso, em que eu fazia oito horas no metro e depois tirava mais oito horas para o YouTube.

Sempre acreditei que ia correr bem. Cheguei ao ponto em que eu já estava a pedir demasiadas vezes aos meus colegas para virem trabalhar nas folgas por mim, ou para eu ir a um evento, ou para ir a um convite da PlayStation no estrangeiro. E, a partir desse momento, pedi uma licença sem vencimento e já não voltei mais. Trabalhei 16 anos no metro. Hoje, a primeira pergunta de quem está a começar é: “Como é que se ganha dinheiro nisto?” Na altura, não. Fazia-se muitas coisas por paixão, queria-se partilhar realmente aquilo que estávamos a fazer.

Quando olha para trás, despedir-se do Metropolitano de Lisboa foi a decisão difícil que permitiu arrancar este projeto de forma mais séria?

Era difícil, e deixou de ser possível conciliar as duas coisas, porque eu hoje sinto que prejudicou a minha saúde, nomeadamente. Eu dormia duas horas em muitos dias. Eu não podia sair do metro, porque era um trabalho profissional, mas, por outro lado, queria dedicar-me a uma coisa que gostava muito de fazer. Porque, acima de tudo, acho que isto funciona, porque é realmente uma paixão.

O YouTube era um ‘escape’ daquele tempo que eu passava a atender o público e a lidar com as pessoas. As pessoas que me encontram hoje num evento dizem-me: “Ric, tu és tal e qual aquilo que és nos vídeos.” Eu que sempre fui, no tempo da escola, o parvinho de turma, fazia rir os outros. E isso acabou por dar-me esta liberdade. Cada vez que eu ligo a câmara, há uma coisa que as pessoas não sabem, eu sou muito envergonhado. Muitas vezes aparecem projetos em que me querem meter com o microfone na mão a apresentar um evento, e isso é a última coisa que me podem pedir, eu sinto uma ansiedade gigante.

Criou o canal RicFazeres, nome pelo qual é conhecido, em 2012, quando ainda trabalhava no Metropolitano de Lisboa. Hoje, com 45 anos, soma mais de um milhão de subscritores no YouTube

Sente que a sua vida pessoal está muito sobrecarregada com os videojogos? Sente que às vezes há atividades que gostava de fazer e acaba por não ter tempo devido ao YouTube?

Não sinto isso. Se calhar naquela altura, naqueles sete anos ou naqueles primeiros dez anos sim, porque trabalhava, gravava e ainda tinha que editar, agora sinceramente não sinto isso. Eu já joguei durante toda a minha vida e vou jogar durante toda a minha vida. Encontrei uma companheira, que é a minha Silvinha, que também adora videojogos e tenho um editor para os vídeos. A minha equipa é composta por este trio. Acho que isto não resultava se não fosse dessa forma, porque acaba por haver um equilíbrio, que tem que haver sempre. Anda tudo muito à volta dos videojogos e desta nossa paixão que temos pelo o que fazemos.

O RicFazeres joga praticamente todo o tipo de videojogos. Sente que isso é uma mais-valia para o canal?

Eu acho que já foi mais assim. Porque eu sinto que o público hoje, devido muito a esta nova onda do conteúdo curto e desta febre das pessoas que estão ali uma hora e meia antes de adormecerem no telemóvel, a ver conteúdos curtos e a fazer o slide para cima, e em conteúdos de cerca de 15 segundos, nos leva ali àquele êxtase, como se fosse o consumo de algo que as pessoas querem muito. As coisas mudaram muito. E o meu canal já não é tanto aquilo que foi durante muitos anos, que era: as pessoas vinham ao canal assistir a um novo jogo que saiu como se tratasse de uma série por episódios, como na Netflix, mas dos videojogos.

Apesar de eu querer continuar a fazer isso, muitas das vezes sinto que, se for fazer um simulador graficamente pouco desenvolvido, que não custou quase dinheiro nenhum a fazer, consigo ter muito mais pessoas a ver isso do que a visualizar um videojogo que se calhar custou milhares de dólares a produzir. E por isso acaba por ser o público a ditar aquilo que eu trago para o canal. Apesar de no meu canal só gravar realmente aquilo que eu gosto. Eu não trabalho por visualizações.

Sente-se confortável a jogar todo o tipo de videojogos?

Sim, sinto-me bastante confortável. Gosto de todo o tipo de jogos, mas gosto realmente mais de histórias com uma narrativa forte, com personagens das quais eu me possa ligar, que possa viver lado a lado com elas, como é o exemplo do meu jogo favorito, que é o The Last of Us.

Que tipo de parcerias é que o Ric tem neste momento?

Tenho parcerias como embaixador, representando determinadas marcas.  Estou a trabalhar recentemente com a Vodafone, a falar sobre a nova fibra FTTR. Felizmente, há alguns anos consolidei a minha imagem, e essa imagem é agora acreditada por várias marcas que se querem juntar a mim. As marcas querem publicitar o seu produto e querem que o Ric mostre. O Ric só aceita uma parceria em que realmente acredite e confie no produto em questão. Tenho apoio por parte da publicidade do próprio YouTube, tenho subscritores que me apoiam, nomeadamente nas ‘lives’, como fazem com qualquer outro YouTuber, que é o chamado “subscrever a página”, que traz várias vantagens.

Como é que se processam os pagamentos nesta área do YouTube? Por exemplo, o YouTube paga diretamente ao Ric? Ou são as marcas e os patrocinadores?

No meu caso, estou ligado a uma network — uma espécie de agência que gere vários criadores de conteúdo. Essa network está associada ao YouTube. O processo funciona mais ou menos assim: o YouTube recebe publicidade de marcas e anunciantes externos. Depois, distribui esses anúncios pelas diferentes networks, que por sua vez os fazem chegar aos canais dos criadores com quem trabalham. Ou seja, há uma cadeia, os anunciantes pagam ao YouTube, o YouTube partilha essa receita com as networks, e estas distribuem a sua parte pelos criadores.

Considera que a capacidade de entreter o público mais jovem é a sua grande essência?

Muitas pessoas têm a ideia errada de que faço vídeos para crianças. Na realidade, o meu público mais forte vai dos 18 aos 25 anos, mas tenho também uma boa parte entre os 35 e os 45 anos, que são mais do que as crianças dos 12 aos 18 anos. Aliás, eu não faço vídeos para menores de 12 anos.

Ainda se lembra do equipamento que usava quando gravou os primeiros vídeos do canal?

Lembro-me de estar no meu quarto, com um setup junto à janela. Comecei com uma placa de captura que se usava na altura, com RCA’s, para gravar o conteúdo que eu, neste caso, fazia. Capturava o Call of Duty e tudo mais. Comecei com uma webcam e o meu primeiro computador para editar os vídeos, que comprei a prestações.

Isso tudo ainda em casa dos pais?

Sim, tudo em casa dos meus pais. Eles foram uma ‘bengala’ muito importante. Não foram financiadores, mas deram-me um apoio muito grande durante anos e permitiram-me ser quem sou hoje. Não financeiramente, porque sempre trabalhei para obter o que queria. Aliás, eu saí da escola e disse aos meus pais: “Não me sinto feliz. Não quero mais ir para a escola, quero trabalhar”. Larguei a escola numa quinta-feira, na sexta-feira não fiz nada, passou o fim de semana e, na segunda-feira, estava a trabalhar em fotografia. Trabalhei em fotografia durante oito anos. No final da minha carreira na fotografia, fui fazer os testes para o metro. Saí da fotografia numa terça-feira e entrei no metro na quarta-feira. A minha vida sempre foi assim. Nunca parei.

E como é que escolhe o seu equipamento de trabalho? O que considera essencial para um criador de conteúdos especializado em gaming?

Para mim, qualidade. Utilizo as famosas placas de captura, que podem ser internas ou externas ao PC, que permitem capturar conteúdo de uma consola com qualidade. Se for um criador de conteúdo que faz apenas streams, é interessante ter um setup com dois computadores: um para jogar, de boa qualidade, e outro para capturar o conteúdo, seja para YouTube, Twitch ou outras plataformas.

Mas, acima de tudo, um bom microfone e uma boa câmara são essenciais. Embora ainda muita gente use webcams, eu já não trabalho com webcam há muito tempo; uso uma câmera DSLR digital que consegue desfocar o fundo e traz uma qualidade muito melhor. O ponto de focagem é muito superior, o que considero essencial. Quanto ao computador, qualquer PC consegue capturar o que estamos a jogar, desde que tenha componentes adequados para isso.

Ao longo destes anos, qual foi o upgrade no equipamento que teve mais impacto no seu trabalho?

Foi quando ainda toda a gente gravava em resolução 720p e eu já estava em 1080p. Quando a malta passou para o 1080p, eu já estava em Full HD, e agora gravo em 4K. Revi há pouco dias um vídeo meu de há 7 anos em 4K, foi quando comecei a gravar nesta resolução. Sempre priorizei a qualidade.

Já estão a trabalhar com ferramentas de Inteligência Artificial (IA) na edição de vídeos?

Apenas em conteúdos curtos, só para adicionar legendas automáticas com a ajuda do meu editor. As redes sociais agora têm um pequeno pop-up que pede para assinalar se o vídeo foi criado com IA. Nos meus vídeos, digo sempre que não uso IA, porque não uso, exceto para as legendas.

Sente que a IA pode vir a mudar o mundo dos videojogos? Pode trazer algo novo, algo diferente?

Acho que sim. O poder de processamento da IA vai, sem dúvida, impactar a indústria. Já vemos coisas impressionantes feitas com IA, mas é uma IA muito cara para os utilizadores comuns. No cinema e nos videojogos, já é usada há muito tempo, por exemplo, para criar exércitos gigantes ou multiplicar pessoas em filmes de guerra. Em breve, talvez a IA faça tudo por nós, inclusive trabalhar e viver (risos).

Nos próximos cinco anos quais as maiores mudanças que prevê no mundo do gaming?

Acredito que a grande revolução será quando conseguirmos conectar diretamente ao nosso sistema nervoso. Veremos os jogos de uma forma completamente diferente. A realidade virtual está a evoluir, mas o futuro consiste em integrar a IA e outras tecnologias de forma que possamos viver experiências totalmente novas. Estamos a caminhar para um futuro onde a IA vai assumir muitas funções.

Se estivesse a começar agora, faria algo diferente?

Se tivesse começado mais cedo, teria-me focado mais em criar conteúdo centrado em mim, RicFazeres, e teria dedicado mais tempo a jogos como Counter-Strike, que têm uma comunidade gigantesca. O problema de criar conteúdo de certos jogos é que tens de dedicar 100% àquilo. Eu não tenho esse tempo, pois jogo muitos videojogos diferentes.

Que conselhos daria aos mais jovens que te vêem como exemplo e querem seguir esta profissão?

Estudem, estudem, estudem. Percebam o que realmente querem ser no futuro e trabalhem muito para isso. A vida de criador de conteúdo não é fácil, apesar de parecer. Muitos criadores mostram uma vida de luxo, mas é um trabalho árduo. Tive pais a enviarem-me emails a dizerem que os filhos já não queriam mais continuar a estudar. Respondi que não foi nos meus vídeos que ficaram com a perceção de que tudo é fácil neste mundo. Eu sempre disse que foi difícil. Comecei com muito esforço e sacrifício. Não se pode entrar no YouTube pensando logo em ganhar dinheiro. Tem de ser por paixão, e se for, não custa nada. Um amigo meu disse-me um dia: “Se fizeres o que amas, nunca trabalharás um dia na tua vida.” E é nisso que continuo a acreditar.

Como hoje, também naquele dia era maio. Um sábado que se planeara em família, apesar das dificuldades inerentes a um quotidiano escoltado. A 23 de maio de 1992, o juiz Giovanni Falcone, após uma viagem de Roma para Palermo, na Sicília, seguia de carro para a sua casa. Previa passar o fim de semana com a sua esposa, a juíza Francesca Morvillo. Saídos do aeroporto, seguiram pela estrada A29 quando, em Capaci, pelas 17h58, meia tonelada de explosivos, colocada na tubulação de água que passava por baixo da via, foi detonada à distância. A violência da explosão foi de tal ordem que a sua intensidade foi registada pelo Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia, entidade responsável pela monitorização do vulcão Etna.

No dia seguinte, o jornal Corriere della Sera preenchia a sua primeira página com imagens da destruição provocada pelo atentado, acompanhadas pelo marcante título “Orrore, ucciso Falcone” (“Horror, Falcone Assassinado”). À data, este juiz encontrava-se envolvido em diversas operações de coordenação tendo em vista o fortalecimento e a eficácia do combate ao crime organizado, em especial direcionado para a luta anti máfia na Itália. Esta emboscada previamente planeada e levada a cabo pela Cosa Nostra, também conhecida por “Strage di Capaci” (massacre de Capaci), interrompeu os esforços de Falcone, elevando-o, porém, à qualidade de símbolo do difícil combate à máfia.

Após a morte de Falcone, o juiz Paolo Borsellino, seu amigo de infância e, igualmente, uma figura proeminente na luta contra a máfia siciliana, prosseguiu o trabalho. Todavia, no dia 19 de julho de 1992, após uma reunião no Conselho Superior da Magistratura em Roma, já no regresso a Palermo, a caminho de um encontro com a sua mãe, foi morto numa violenta explosão ocorrida na Via d’Amélio.

Ambas as mortes geraram forte indignação pública e foram uma violenta demonstração do brutal poder da máfia para intimidar e atacar o Estado. Para além dos dois juízes faleceram os agentes responsáveis pelas respetivas escoltas, destacando-se Emanuela Loi, a primeira mulher a morrer em serviço na polícia italiana, com apenas 23 anos de idade.

Na sequência desta brutalidade, a sociedade civil italiana percebeu o que estava em causa e de que lado se deveria posicionar. Lençóis brancos foram pendurados nas varandas de Palermo, em sinal de protesto contra a máfia. Criaram-se associações dedicadas à promoção da legalidade e à luta contra o crime organizado. Ao nível legislativo, foram incrementadas medidas anticrime, designadamente com a criação de estruturas judiciais especializadas. A segurança na Sicília foi reforçada com ajuda militar e endureceu-se o regime prisional para os mafiosos com as normas conhecidas por “carcere duro”.

Os exemplos de Falcone e Borsellino, para além de demonstrarem a violência que o crime organizado pode gerar, são também evidenciadores do alto preço que um juiz pode pagar por agir sob o signo da independência em sistemas em que a criminalidade ou o autoritarismo procuram controlar ou intimidar o judiciário.

Pela importância que estes exemplos extremos têm ao nível da integridade judicial, a MEDEL (Magistrados Europeus pela Democracia e Liberdades) instituiu o dia 23 de maio como o “Dia de Alerta pela Independência da Justiça”. Recorrendo a esta data simbólica, pretende-se sensibilizar a sociedade e os sistemas políticos para a necessidade constante de defesa de um sistema judicial independente e eficaz na proteção dos direitos e liberdades fundamentais, reforçando-se a necessidade constante de respeitar e renovar o compromisso político e social com os valores que Falcone representava.

Pelo 30º aniversário da morte de Falcone, o Presidente da República, Sérgio Mattarella foi lapidar: “A máfia temia-o porque ele demonstrou que a organização não era invencível e que o Estado era capaz de derrotá-la com a força da lei”. Também nesse momento, o primeiro ministro Mário Draghi acrescentou que: “Graças à coragem, ao profissionalismo e à determinação de Falcone, a Itália é agora um país mais livre e mais justo”.

A importância da evocação deste “Dia de Alerta” remete-nos para a ligação direta que se verifica entre a segurança e a independência dos magistrados e a proteção dos direitos dos cidadãos. Pois se Falcone desafiou o poder da máfia, com investigações profundas e estratégias inovadoras, recusando-se a ceder perante pressões de vária ordem, incluindo ameaças pessoalmente dirigidas, fê-lo numa luta pela defesa da sociedade, em ordem à proteção desta perante fenómenos de corrupção e de criminalidade organizada. A evocação do seu falecimento, nos dias de hoje, é ainda plena de atualidade, visto que, mais do que nunca, vivenciamos a experiência de ataques ao sistema judicial provindos não apenas de grupos do submundo do crime, mas também de governos de cariz autoritário que fazem caminho um pouco por todo o globo.

Com efeito, as ameaças persistem. Sem precisarmos de recuar muito, no passado mês de abril, uma juíza de Cádis, em Espanha, que havia condenado um traficante pelo assassinato, em fevereiro de 2024, de dois polícias no porto de Barbate, foi alvo de ameaças por um cartel de droga. A sua morada foi descoberta e o seu carro vandalizado com tinta e os pneus furados. Do mesmo modo, no final do ano passado, um carro de um agente de uma brigada antidroga da Guardia Civil foi incendiado à porta de sua casa. Na verdade, o crime violento e altamente organizado tem vindo, um pouco por toda a Europa, a criar uma especial pressão sobre o sistema policial, investigatório e judicial, em especial em cidades portuárias que constituem pontos estratégicos para os objetivos dos cartéis. Um pouco por toda a América, o fenómeno já não é de hoje e é sobejamente conhecido, fazendo dezenas de mortes entre magistrados e operacionais.

Pese embora em Portugal ainda não se verifique o grau de gravidade de outros países, a verdade é que, num mundo globalizado e com ramificações cada vez mais complexas, o nosso país, geograficamente situado num ponto especial do globo, também não está imune à disseminação de grupos organizados, sendo recentes e conhecidos os casos em que magistrados da área criminal tiveram necessidade de acompanhamento permanente pelo Corpo de Segurança Pessoal da PSP.

Mas as ameaças atuais provêm também dos próprios regimes políticos autoritários que se vão disseminando um pouco por todo o mundo. Nesta semana, o jornalista norteamericano, Chris Walker, da Truthout, noticiava que, nos Estados Unidos, vários juízes federais que haviam proferido sentenças contra os interesses da administração Trump, estavam a receber em suas casas pizas não encomendadas por si, num ato de demonstração de conhecimento das respetivas moradas pessoais. No caso da Juíza Esther Salas, cujo filho Daniel foi assassinado em 2020, o caso ganhou contornos ainda mais macabros, tendo as pizas sido remetidas para a sua residência sob a indicação de que haviam sido encomendadas pelo seu falecido filho. Ao fim e ao cabo, três avisos estão a ser feitos. Primeiro: “sabemos onde vives”; segundo: “sabemos onde vivem os teus filhos”; e terceiro: “certamente não quererás acabar como o Daniel”.

Este tipo de ataques ao judiciário, qualquer que seja a proveniência, não pode ter lugar numa sociedade moderna e democrática e são exemplo de como a proteção física dos magistrados é também uma questão de defesa dos direitos dos cidadãos, de salvaguarda do Estado de Direito e da segurança da comunidade. Não pode haver independência judicial num contexto em que o Estado não seja capaz de colocar os juízes a salvo de pressões direcionadas, desde logo, à sua própria vida ou dos seus familiares, importando que, no mundo atual, as democracias consolidadas não estejam dispostas a quaisquer concessões nessa matéria.

Nas palavras proferidas por alguém insuspeito de estar ligado ao poder judicial, disse esta semana, em Cannes, Robert de Niro: “No meu país estamos a lutar com todas as forças pela democracia que tínhamos por garantida, e isso afeta-nos a todos. (…) Este não é apenas um problema americano. É um problema global. E ao contrário de um filme, não podemos simplesmente ficar sentados a assistir. Temos de agir e temos de agir agora. Sem violência, mas com paixão e determinação. É o tempo de todos os que se preocupam com a liberdade de se organizarem e protestarem”. É este o sobressalto que o dia 23 de maio nos deve provocar.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

A internet e, em particular, as redes sociais, têm tido uma grande influência no mundo do trabalho nos últimos anos, servindo como uma ferramenta cada vez mais utilizada para procurar emprego. Face a esta realidade, é impossível ignorar o papel crescente das plataformas online na forma como os profissionais procuram oportunidades, sobretudo com a presença crescente da Geração Z no mercado de trabalho. Mas como podem os empregadores adaptar-se para atrair e construir relações duradouras com os profissionais, nesta era digital?

De acordo com um estudo da plataforma Zety, a Geração Z vê as redes sociais como um recurso essencial para a sua carreira, sendo que já prioriza plataformas como o Instagram e o TikTok em detrimento de ferramentas tradicionais. De facto, 76% dos jovens desta geração recorrem ao Instagram para obter conselhos sobre gestão de carreiras, um valor superior ao dos que recorrem, por exemplo, ao LinkedIn (34%). É também no Instagram que a Gen Z (66%) tem mais probabilidade de se conectar com colegas ou profissionais do mesmo setor, sendo que 64% já conseguiu mesmo um emprego ou estágio através desta rede e 46% através do TikTok.

O estudo destaca também o crescimento dos career influencers nas redes sociais. Atualmente, 75% destes jovens seguem múltiplos criadores de conteúdos focados em carreira, revelando o peso crescente destes influencers na formação de perceções sobre o mundo do trabalho. A mesma tendência é igualmente observada ao nível das mensagens consumidas, com os vídeos como o “Get Ready With Me” (GRWM) e “A Day In My Life” (DIML) – onde as pessoas mostram aos espectadores as suas rotinas matinais ou dias típicos de trabalho – a revelarem-se dois dos géneros mais populares no TikTok, neste âmbito.

Apesar desta crescente procura, existem também riscos associados ao consumo destes conteúdos, com preocupações a surgirem relativamente à fiabilidade dos conselhos partilhados. Efetivamente, são poucos os utilizadores da Geração Z que validam as informações do TikTok em outras fontes, e muitos julgam a credibilidade dos criadores de conteúdos com base apenas no número de seguidores. Neste âmbito as empresas podem ter um papel importante a desempenhar, promovendo uma produção de conteúdos mais responsável e fiável, sem, por isso, abdicarem da autenticidade e relevância para os jovens.

Efetivamente, com o online a ocupar este lugar de destaque para encontrar oportunidades profissionais, cabe às empresas posicionarem-se de forma estratégica nestas plataformas. Os empregadores devem repensar a forma como comunicam com os candidatos, estando presentes e ativos nos canais onde eles estão, sendo que as empresas mais atrativas serão precisamente as que se posicionem de forma autêntica e transparente, com propostas de valor alinhadas com as prioridades do talento. Neste sentido, conteúdos como vídeos de “um dia na minha vida”, insights sobre a cultura no local de trabalho e demonstrações de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) podem ser particularmente relevantes, indo ao encontro das atuais preferências dos candidatos.

Estar presente nas redes sociais, e em particular no TikTok e no Instagram, permite às empresas estar onde os jovens pesquisam e falar com eles numa linguagem que entendem e que os motiva. Por isso, neste Dia Mundial da Internet, importa reconhecer o poder transformador que as plataformas online têm hoje no mundo do trabalho, revelando-se verdadeiras ferramentas para aliar o melhor talento às melhores organizações.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.