Os números não mentem: em 2024, foram identificadas mais de 40 mil vulnerabilidades de segurança a nível global. Cada uma delas representa uma porta aberta para ciberataques. Mas não se trata apenas de estatísticas; são alertas de que os agentes maliciosos dispõem de mais oportunidades do que nunca.

Os acontecimentos de 2024 demonstraram a gravidade do problema. Nos Estados Unidos, hackers infiltraram empresas de telecomunicações. Na Roménia, a primeira volta das eleições presidenciais teve de ser anulada devido a uma interferência cibernética. Na Ucrânia, todos os dias acontecem novos incidentes. Os ciberataques deixaram de ser uma questão meramente tecnológica e passaram a impactar diretamente eleições, economias e a própria estrutura das sociedades, sobretudo das que se encontram a lutar pela sua existência.

Novas conjunturas que nos remontam a 21 de fevereiro de 2022…

A invasão russa à Ucrânia, iniciada há três anos, não se tem desenrolado apenas no campo de batalha tradicional, como o leitor saberá. Desde os primeiros momentos do conflito, que remontam à invasão da Crimeia, o ciberespaço revelou-se um domínio fundamental para ambas as partes, com ataques informáticos a infraestruturas críticas, campanhas de desinformação e a mobilização de atores estatais e não estatais.

A preponderância do ciberespaço na guerra foi evidente antes mesmo da invasão terrestre, no dia 21. Nos meses que a antecederam, a Ucrânia foi alvo de uma série de ciberataques coordenados, muitos dos quais atribuídos a grupos ligados ao Kremlin. Estes ataques visavam desestabilizar o país, comprometendo redes governamentais, bancos e serviços essenciais. Recordemo-nos, por exemplo, do uso do malware WhisperGate, projetado para destruir dados e inviabilizar sistemas ucranianos.

Durante a invasão, o ciberespaço tornou-se um campo de batalha paralelo. A infraestruturas energéticas, transportes e comunicações foram alvos de ciberataques, numa tentativa de minar a resiliência do país. No entanto, a Ucrânia conseguiu resistir graças a um reforço significativo das suas capacidades digitais, apoiada por aliados ocidentais e empresas tecnológicas privadas. A migração de dados críticos para servidores no estrangeiro foi uma das estratégias mais bem empregues para proteger informações sensíveis.

Os ataques contra os setores de segurança e defesa aumentaram significativamente. O grupo APT44, ligado aos serviços de inteligência militar russos, tem-se especializado na espionagem digital, explorando dispositivos capturados de soldados ucranianos para extrair informações valiosas sobre movimentações militares e cadeias logísticas.

A utilização de malware através de aplicações de comunicação também se intensificou, comprometendo tanto militares como civis. Por isso, o governo ucraniano proibiu o uso do Telegram em dispositivos oficiais, temendo que a plataforma servisse como canal de espionagem. No entanto, apesar das restrições, o Telegram continua a ser amplamente utilizado no país.

Novos recursos, sofisticação das ameaças

A inteligência artificial tem sido utilizada para sofisticar ataques cibernéticos, como a geração de e-mails de phishing mais convincentes ou interações mais realistas entre hackers e vítimas. Em 2024, assistimos a uma mudança tática dos hackers russos: em vez de ataques destrutivos altamente divulgados, passaram a focar-se na inteligência cibernética, operando silenciosamente para permanecer indetectáveis pelo maior tempo possível.

O grupo APT44 foi responsável por um ataque massivo em dezembro de 2024, que comprometeu cerca de 60 bases de dados nacionais da Ucrânia. O incidente interrompeu serviços essenciais, incluindo o registo de nascimentos, casamentos, transações imobiliárias e outros processos legais. Embora algumas funções tenham sido restauradas rapidamente, a dependência digital da sociedade moderna foi exposta como um ponto frágil.

Para além dos ataques diretos, o ciberespaço tem sido palco de uma intensa guerra de informação. A Rússia usa as redes sociais e meios de comunicação controlados pelo Estado para disseminar narrativas que justificassem a invasão e minem o apoio interno e internacional ao governo de Kiev. Em contrapartida, a Ucrânia tem utilizado estratégias digitais para expor as atrocidades cometidas pelos invasores, mobilizar apoio global e manter a moral da sua população e das suas tropas.

Outro elemento inédito foi a participação de grupos de hackers independentes. O coletivo Anonymous declarou “guerra” contra a Rússia, conduzindo ataques DDoS a websites governamentais e revelando informações sensíveis. Grupos ligados ao governo russo, como o Killnet, respondem com ataques contra alvos ocidentais em retaliação às sanções impostas contra Moscovo.

Os próximos tempos

É certo que 2024 diz-nos que o número de incidentes críticos e de grande impacto diminuiu, mas o número total de incidentes e ataques contra instituições governamentais e autoridades locais aumentou.

Os ciberataques contra os setores da segurança e da defesa aumentaram em relação ao ano anterior e a Rússia intensificou os esforços para recolher informações através dos dispositivos dos militares ucranianos, como foi mencionado ao longo deste texto. Estas atividades não vão parar.

Uma tendência notável que comprova a utilização cada vez mais sistemática de ciberataques para apoiar objetivos militares.

A cibercriminalidade com fins lucrativos, os grupos ligados ao Estado que visam as infraestruturas críticas e as atividades encobertas dos serviços secretos, essas prosseguirão sem interrupção.

A guerra na Ucrânia demonstra-nos exatamente que o ciberespaço não é apenas um complemento das operações militares convencionais, mas um domínio essencial dos conflitos modernos. O equilíbrio de poder nos próximos conflitos será cada vez mais determinado pela capacidade dos Estados de defenderem as suas infraestruturas digitais e de utilizarem a informação como uma arma estratégica.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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Aos 22 anos, Noland Arbaugh teve um acidente num lago, enquanto monitorizava um campo de férias. Depois de ter sido empurrado por um dos colegas e ter sofrido uma forte pancada na cabeça, veio a si, mal podendo respirar e sem conseguir mexer-se. Percebeu imediatamente que estava paralisado, sem poder imaginar que iria ficar preso a uma cadeira de rodas – e totalmente dependente de cuidadores – para o resto da sua vida. Este episódio passou-se em 2016, perto de Nova Iorque.

Hoje, ele vive com a mãe, o padrasto e o meio-irmão, numa cidade perto do deserto de Sonora, no Arizona, a sua terra natal. Viu-se obrigado a largar os desportos que praticava, a deixar de tocar música e a abandonar os estudos na Universidade do Texas, pois perdeu a autonomia.

Noland teve um bocadinho de sorte neste azar todo. Em vez de, no embate, ter partido o pescoço, deslocou-o, tendo as suas vértebras regressado ao lugar rapidamente. Só que a espinal medula ficou seriamente afetada. No entanto, quanto mais baixo é esse estrago, menos extensa é a paralisia – no caso de Noland, ele situa-se entre a quarta e a quinta vértebra, o que lhe permite mexer a cabeça e os ombros.

Esta seria apenas mais uma dramática história de um jovem que viu a sua vida virada de pernas para o ar quando tinha toda a agilidade da vida à sua frente, não fora Elon Musk cruzar-se na sua existência. Como?

Há pouco mais de um ano, e apenas quatro meses depois de Noland ouvir falar, pela primeira vez, de um BCI, a sigla para brain-computer interface, que em português pode traduzir-se por um interface entre o cérebro e o computador, entrou numa sala de operações para, em menos de duas horas, lhe ser implantado, por um robot, um chip desenvolvido pela empresa de Musk, a Neuralink, em 3,5 milímetros do seu córtex motor. Trata-se do mais pequeno e poderoso dispositivo do género.

Se a coisa continuar a correr bem, tal como tem vindo a acontecer nos últimos meses, isso permitir-lhe-á, enquanto primeiro ser humano a usar esta tecnologia específica, ter controlo sobre um computador, usando apenas o poder da sua mente. O sucesso da Neuralink realiza o delírio do homem mais rico do mundo: o de fundir mentes com máquinas e assim controlá-las facilmente.

Isto não é ficção

Parece ficção científica, mas já é uma realidade. E nasceu de forma prosaica. A história está contada na biografia autorizada de Elon Musk, da autoria do jornalista Walter Isaacson. Curiosamente, sem o saber, o multimilionário começou a pensar em implantar chips no cérebro no mesmo ano em que Noland teve o acidente no lago.

O interlocutor deste embrião foi o diretor de recursos humanos, Sam Teller, durante uma viagem de carro, lado a lado. O dono da Tesla confessou a sua frustração pelo tempo que se demorava a enviar uma mensagem no iPhone. “Imagine se conseguíssemos pensar para o telemóvel, com uma ligação direta de alta velocidade entre a mente e a máquina”, terá comentado.

Daí a consumar o facto passaram-se apenas oito anos, os mesmos em que Noland se viu impedido de jogar os seus jogos favoritos ou de consultar a internet a seu bel-prazer, sem depender de cuidadores.

Noland não é o primeiro indivíduo a usufruir de um BCI. Existem outros casos, com histórias parecidas (ver caixa). No entanto, é o primeiro a tornar-se numa espécie de ratinho de laboratório humano do polémico Elon Musk, indiferente aos perigos que isso acarretará para ele e, de uma forma geral, para a Humanidade, tal a felicidade de, atualmente, mexer num computador com a mesma destreza que qualquer um de nós, ou até com mais. E sem ter de usar os dedos.

Antes dele, o detentor da rede social X já mostrara, em duas apresentações públicas, uma porquinha e um macaco a fazerem habilidades proporcionadas pelo implante do chip da Neuralink. Em 2023, a Food and Drug Administration (FDA) deu à empresa tecnológica a possibilidade de recrutar participantes para o primeiro ensaio com humanos. Noland inscreveu-se assim que pôde, alertado sobre a possibilidade por um amigo, fã de Elon Musk. Só depois de várias entrevistas, avaliações, análises, testes de memória e despistes psicológicos, que demoraram três meses, é que se tornou o primeiro homem a experimentar fazer parte de um cenário de filme de ficção científica durante, pelo menos, seis anos.

Leitura de sinais

“Às vezes, até me esqueço de quão impressionante isto é, por ser tão natural para mim”, confessou ao jornalista do The Guardian, que o visitou em sua casa. Mas nem sempre foi assim, pois a adaptação entre o cérebro e a máquina exige alguma persistência. Ao ser humano cabe-lhe criar os melhores sinais com a mente, ao computador, descodificá-los corretamente. Ainda hoje, a cobaia humana faz quatro horas diárias de exercícios com a Neuralink.

Ao princípio, Noland ficava frustrado de cada vez que tinha de parar de usufruir das maravilhas do chip – com o nome técnico de N1 –, sempre que a bateria se ia, ao fim de cinco ou seis horas de uso. Entretanto, a equipa de técnicos da Neuralink tratou desse problema e agora o dispositivo é de utilização contínua, através de um boné de beisebol, equipado com uma bobina que carrega a bateria sempre que ela está fraca.

Até para um leigo é simples perceber como funciona um BCI. Ele lê os sinais elétricos produzidos pelos neurónios – que num tetraplégico continuam a funcionar, embora não consigam viajar pela espinal medula – e transforma-os em comandos de computador. Apesar de estes dispositivos poderem estar conectados ao cérebro através de chapéus especialmente concebidos para o efeito, a pessoa que os usa beneficiará da proximidade do chip com o tecido cerebral, daí que seja aconselhável o implante, tal como fez Noland há um ano. Depois dele, já mais dois tetraplégicos entraram neste desafio e com chips mais desenvolvidos. Entretanto, Elon Musk vaticinou que nos próximos 20 anos centenas de milhares de pessoas terão este chip no cérebro. 

Tratar a depressão?

Há mais de 60 anos que se estuda a possibilidade de se implantarem chips no cérebro para melhorar a vida de quem não pode mexer-se. Hoje, a investigação quer ir ainda mais longe

As primeiras experiências que envolveram este tipo de dispositivos e animais aconteceram em 1960. No entanto, o primeiro BCI com possibilidade de ser implantado num cérebro humano – chamava-se Utah Array – foi desenvolvido em 1992. Mas só em 2004, um homem tetraplégico de nome Matthew Nagle se tornou a primeira pessoa em quem se colocou um chip dentro do crânio.

Atualmente, a investigação científica já avançou e diversificou a área de atuação dos dispositivos. Um ensaio inovador, no Reino Unido, está a tentar melhorar o humor dos pacientes, usando este tipo de interface entre o cérebro e o computador, através de um ultrassom. O dispositivo, projetado para ser implantado no crânio, mas fora do cérebro, mapeia a atividade deste órgão e manda impulsos para os neurónios. A segurança e a tolerabilidade estão, neste momento, a ser testadas em cerca de 30 pacientes. Se este BCI passar nos testes, os cientistas apostam que a tecnologia revolucione o tratamento de doenças como depressão, dependência, transtorno obsessivo-compulsivo e epilepsia. No entanto, também neste campo de atuação as tecnologias levantam dúvidas éticas e discussão, como a questão da privacidade de dados e a possibilidade da chamada neurodiscriminação, que acontece quando, por exemplo, os dados cerebrais são utilizados para definir a adequação de uma pessoa a um emprego.

Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, a Europa acordou para uma nova e muito esperada fase de construção e desenvolvimento em direção a uma maior prosperidade económica, com mais democracia e maior robustecimento do Estado de Direito.

Volvidos todos estes anos de construção europeia e, sobretudo, quando em Portugal se alcançou um sólido meio século sobre o 25 de Abril, falar de independência judicial pode soar a algo exótico ou fora de moda.

Desenganemo-nos.

A questão está na ordem do dia e já afeta de forma muito impactante diversos países da União Europeia.

Antes de mais, um pouco de contexto.

Ao nível da União Europeia, os diversos Estados-membros tendem a partilhar uma mesma matriz, designadamente a de corresponderem a democracias modernas que assentam em eleições livres e legitimadoras e, bem assim, a Estados de Direito onde vigora a separação de poderes e plena consagração da independência dos tribunais.

Todavia, a própria vigilância popular relativamente aos direitos fundamentais de uma comunidade tende a ser afetada pela erosão provocada pelo decurso do tempo, como que gerando um “adormecimento coletivo” muito facilitador do surgimento de discursos políticos mais disruptivos e populistas.

Ora, é neste âmbito que, a nível europeu, se assiste ao ressurgimento de forças que, após 89, não se queria acreditar que pudessem fazer caminho.

Na verdade, a história tem demonstrado uma manifesta vocação para ser replicada, mesmo nos contextos onde aparentemente o Estado de Direito parecia ser uma realidade consolidada e inabalável.

Ora, nos casos em que forças de cariz autoritário alcançam o poder, mesmo que de forma democrática, a verdade é que rapidamente tendem a instituir regimes de cariz iliberal, com imediato enfraquecimento de direitos e liberdades fundamentais.

E nessa senda autoritária, em regra, o primeiro raio de ação tende a visar a independência do poder judicial.

Porém, para aqueles a quem o tema pareça mais esotérico, o fundamental a reter é que a independência dos tribunais não é um privilégio ou um capricho dos agentes da justiça e dos juízes em particular.

É, na verdade, uma das principais conquistas civilizacionais e é o garante para qualquer cidadão de que pode fazer valer os seus direitos perante qualquer pessoa ou entidade sem interferências de outros poderes.

Dito de outro modo, ter juízes independentes, designadamente dos poderes políticos, é um direito de todos os cidadãos, não admirando por isso que sejam dos primeiros a ser alvo de ataque quando o autoritarismo pretende executar os seus planos de domínio

Dito de outro modo, ter juízes independentes, designadamente dos poderes políticos, é um direito de todos os cidadãos, não admirando por isso que sejam dos primeiros a ser alvo de ataque quando o autoritarismo pretende executar os seus planos de domínio.

E as formas de ataque ao judiciário são várias, iniciando-se em regra por alterações na composição dos tribunais superiores e constitucionais, seguidas de tentativas de controlo dos Conselhos Superiores da Magistratura, gizando novas e convenientes regras de nomeação e/ou recrutamento de juízes, o que tudo, e complementarmente, é acompanhado, não raro, do lançamento de processos disciplinares ou criminais infundados visando os magistrados, do estrangulamento das suas remunerações e, por vezes, de campanhas públicas visando a imagem da justiça no seu todo, apregoando-se necessidade de reformas profundas, até às suas mais longínquas fundações.

De muito disto padeceu a Polónia até há bem pouco tempo e nisto vive hoje, de forma angustiante a Hungria, onde a degradação do judiciário atinge proporções preocupantes.

Com efeito, assiste-se naquele país a uma pressão muito forte sobre os juízes, visando, desde logo, a sua componente remuneratória, a qual não tem sofrido qualquer atualização, contrariamente a todos os demais servidores e representantes do Estado.

Esta circunstância mereceu já uma intervenção da Associação Europeia de Juízes, que considerou que a situação em causa tinha um efeito adverso sobre a independência do poder judicial, conforme, de resto, tem vindo a ser frequentemente afirmado quer pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (designadamente no Acórdão de 27.02.2018, no Caso C64/16, Associação Sindical dos Juízes Portugueses), quer pelo Comité de Ministros do Conselho da Europa [designadamente na Recomendação (2010)12], sendo ainda sublinhada ao nível dos Princípios Básicos da ONU sobre a Independência do Poder Judicial, da Magna Carta dos Juízes do Conselho Consultivo dos Juízes Europeus (CCJE, de resto, um organismo do Conselho da Europa).

O CCJE, na verdade, é particularmente assertivo na sua Opinião nº1, onde se pode ler que “é necessária uma remuneração judicial adequada para salvaguardar os juízes de pressões dirigidas às suas decisões e, de uma forma mais geral, ao seu comportamento, para assegurar que os melhores candidatos entram no poder judicial. A assistência de um ‘staff’ qualificado, e a colaboração de assistentes judiciais, que devem libertar os juízes de trabalho de rotina e preparar as decisões, pode, evidentemente, contribuir para um melhoramento da qualidade das decisões tomadas por um tribunal. Se tais recursos estão em falta, o funcionamento efetivo do sistema judicial para atingir um produto de alta qualidade será impossível.”

Porém, e apesar de todas estas aquisições que se tinham por seguras, o governo húngaro optou por uma estratégia alarmante.

Assim, no passado dia 20 de novembro de 2024, representantes, além do mais, do governo e dos órgãos de gestão de disciplina dos juízes reuniram-se na cidade de Gyula (uma localidade de difícil acesso para a maioria dos juízes), sem possibilidade de participação online e sem qualquer tipo de negociação com as associações representantes dos juízes (que não se confundem com os Conselhos Superiores).

Ali estipularam um acordo em que o governo encetaria reformas ao nível do sistema judicial e da carreira dos juízes, de conteúdo desconhecido, a troco de um aumento salarial, cujo valor não cobre sequer a inflação dos últimos anos.

Isto é, foi passado um cheque em branco.

Tendo tido conhecimento do sucedido e em face da degradação de princípios constitucionais basilares, vários juízes húngaros apresentaram a sua demissão, tendo sido remetidas milhares de cartas ao Conselho Superior manifestando oposição perante tal falta de transparência e salientando que uma reforma do sistema não pode ser feita nos bastidores, à margem de uma ampla consulta dos profissionais do foro.

Por estes motivos, no próximo dia 22 de fevereiro de 2025, em Budapeste, terá lugar uma manifestação sem precedentes de muitas centenas de juízes húngaros, com o apoio das diversas associações europeias, em defesa da independência judicial e dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Os potenciais participantes foram já avisados de que poderia ser elaborada uma “lista” com os seus nomes, cuja finalidade bem se pode adivinhar.

Contudo, para aqueles a quem uma manifestação de juízes cause estranheza, é preciso ter bem presente que, conforme tem afirmado o CCJE: “Nas situações em que a democracia, a separação de poderes ou o Estado de Direito estão ameaçados, os juízes devem ser resilientes e têm o dever de se manifestar em defesa da independência judicial, da ordem constitucional e do Estado de direito, tanto a nível nacional como internacional”.

É por isso que, no dia 22, os juízes húngaros se levantarão, ensinando a toda a Europa a importância de se estar atento aos sinais de perigo para a integridade o Estado de Direito.

Nós também não estamos imunes.

A nossa solidariedade com o povo húngaro é plena.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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Os dispositivos com Inteligência Artificial (IA) vão continuar a ser uma aposta forte, e as marcas continuam a desenvolver e a lançar no mercado produtos com IA que respondem às diferentes necessidades do dia a dia dos consumidores. Além de melhorarem substancialmente a experiência dos consumidores, tornando-as mais dinâmicas e interativas, vão também ao encontro de outra das tendências nesta área em 2025: a personalização da experiência dos consumidores. A capacidade de personalizar a experiência é, de resto, uma das características mais apelativas da eletrónica de consumo e dos eletrodomésticos com IA.

No setor da imagem, um bom exemplo, verificamos uma incessante ‘ebulição’ face à procura por experiências visuais mais atrativas e realistas e com tendências bastante diversificadas. A Laser TV e os projetores, que proporcionam em casa as experiências do cinema, vão ter um destaque ainda maior. Os televisores, por outro lado, seguem o aperfeiçoamento contínuo da sua tecnologia, com a qualidade de imagem a atingir níveis superiores, cada vez mais leves, mais finos, mais transparentes (alguns) e os seus grandes formatos a ganharem especial foco nas lojas. Os televisores de 110 polegadas estão a chegar, para ficar.

O maior conhecimento dos consumidores relativamente aos produtos com IA é mais do que uma tendência, é uma realidade que vai marcar este ano. Mais conscientes do potencial da IA, os consumidores são mais exigentes com os produtos que lhes são apresentados. Além disso, televisões e eletrodomésticos inteligentes deixaram de ser produtos encarados como tecnologia futurista – e muitas vezes até considerada de luxo – para se tornarem em produtos necessários e que contribuem para uma crescente comodidade e bem-estar das pessoas.  

Paralelamente, existe uma preocupação maior com a sustentabilidade e a eficiência energética. Por esse motivo, haverá uma gama mais ampla de dispositivos que otimizam o consumo de energia e que vão permitir uma gestão mais eficiente aos consumidores. Isto já acontece com a área de ar condicionado, com equipamentos de eficiência energética superior, desenvolvidos com materiais amigos do ambiente e com tecnologia que permite garantir maior conforto e mais saúde.

À medida que os televisores e os eletrodomésticos inteligentes se vão integrando mais nas nossas casas, aumenta a expetativa de maior conforto e de experiências mais personalizadas. Inovar e criar produtos tecnologicamente mais avançados e que se diferenciem será um desafio cada vez maior para as empresas. Mas não basta acompanhar o progresso tecnológico, é fundamental estar à frente nesta corrida e ser pioneiro.

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A grande variedade de tecnologia de ecrãs pode ser uma ‘dor de cabeça’ para quem procura um novo televisor e valoriza a qualidade de imagem, a eficiência energética e a durabilidade. Mas há uma tecnologia que se destaca por juntar os pontos fortes de outras tecnologias, o MiniLED. Com um contraste aprimorado, brilho intenso e cores vibrantes, esta inovação eleva a qualidade da imagem a um novo nível. Mas o que torna o MiniLED tão especial?

Como funciona?

Antes de perceber a revolução do MiniLED, é importante conhecer as principais tecnologias de ecrã:

– Os ecrãs LCD (Liquid Crystal Display) utilizam cristais líquidos para formar imagens, mas dependem de uma luz de fundo (backlight) para iluminar o painel;
– Os ecrãs LED (Light Emitting Diode) são uma evolução do LCD, substituindo as lâmpadas fluorescentes por LEDs, o que resulta em maior eficiência energética e melhor contraste.

A tecnologia MiniLED vai ainda mais longe. Utiliza LEDs significativamente mais pequenos, permitindo um controlo de iluminação extremamente preciso. Em vez de centenas de LEDs, um ecrã MiniLED pode ter milhares, garantindo:

– Um contraste superior, com negros mais profundos e brancos mais brilhantes;
– Maior brilho, tornando os ecrãs ideais para conteúdos HDR (grande intervalo dinâmico) e ambientes bem iluminados;
– Detalhes mais nítidos, especialmente em cenas escuras, onde as nuances tendem a perder-se noutras tecnologias;
– Redução do efeito “blooming”, evitando que a luz vaze para áreas escuras e garantindo imagens mais limpas.

Porque é que o MiniLED é Perfeito para Filmes e Séries?

As capacidades tecnológicas descritas traduzem-se em mais-valias qualitativas para quem valoriza a experiência de ver filmes ou séries:

– O elevado contraste torna as imagens mais realistas, com maior profundidade e detalhe;
– A precisão na iluminação permite exibir cores mais ricas e vibrantes;
– O desempenho superior em conteúdos com grande intervalo dinâmicos (zonas muito claras e muito escuras na mesma imagem) garante cenas mais intensas e impressionantes;
– A adaptação a diferentes condições de iluminação mantém a qualidade da imagem, seja numa sala escura ou bem iluminada.
– A redução do efeito “blooming” evita distorções e borrões, mesmo em cenas de alto contraste.
– Maior longevidade em comparação com os ecrãs OLED, tornando-se uma opção fiável a longo prazo.

A melhor opção

Se procura uma qualidade de imagem excecional e fiabilidade, o televisor Bravia 9 da Sony é a melhor opção, seja para ver um filme de ação cheio de efeitos visuais ou para captar todos os detalhes de uma série dramática, esta tecnologia garante uma experiência visual de alto nível.
Com mais brilho, mais contraste e imagens mais nítidas, é uma escolha que faz toda a diferença.
Saiba mais aqui

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A Google anunciou a ferramenta ‘Career Dreamer’ que analisa a experiência profissional, o currículo, capacidades e interesses dos utilizadores para os orientar na carreira. A solução usa Inteligência Artificial para ajudar a criar expressões de identidade que podem ser usadas para enriquecer os currículos ou mesmo para fornecer pontos de conversa que podem ser abordados em entrevistas de emprego. A ferramenta só está disponível, por agora, nos EUA, mas é possível aceder à mesma usando uma rede privada virtual (VPN).

O Career Dreamer mostra carreiras que se alinham com o passado e os interesses de cada pessoa, permitindo depois explorar esse conhecimento mais a fundo, oferecendo mais detalhes e explicações. A ferramenta está integrada com o Gemini da Google para permitir criar cartas de apresentação, currículos e explorar mais ideias. A funcionalidade não se destina a ajudar a encontrar anúncios de emprego propriamente, mas sim a explorar diferentes opções de carreira de forma mais eficiente.

“Durante o desenvolvimento, consultámos várias organizações que alcançam diferentes perfis de indivíduos, desde estudantes a chegar ao mercado, recém-licenciados à procura de emprego, adultos que procuram novas oportunidades, a comunidade militar, incluindo membros em transição, cônjuges de militares e veteranos. Se está pronto para uma mudança de carreira ou a questionar-se sobre o que existe no mercado, experimente o Career Dreamer”, explica o comunicado da Google.

A gigante tecnológica cita um estudo do Fórum Económico Mundial que revela que uma pessoa tem, em média, 12 postos de trabalho ao longo da carreira e que a Gen Z deverá ter 18 empregos em seis carreiras diferentes.

Desde o ano 2000, os desastres climáticos provocaram 3,6 biliões (milhões de milhões) de prejuízos. Mas esta é só uma ínfima parte do que aí vem: com o agravamento das alterações climáticas, calcula-se que o PIB mundial caia cumulativamente de 16% a 22% até ao fim do século, devido aos eventos climáticos extremos.

A estimativa consta de um relatório da consultora BCG (Boston Consulting Group) e do Fórum Económico Mundial. O documento, intitulado “O custo da inação: um guia para os CEO navegarem no risco climático”, avisa que as medidas de ação climática em vigor são insuficientes para limitar o aumento da temperatura média global a 2º C face ao período pré-industrial e que os sinais de recuo em algumas políticas climáticas (a começar pela retirada dos EUA do Acordo de Paris) tornam o futuro ainda mais incerto.

As consequências para as empresas serão tremendas. “Os eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios florestais, danificam os ativos, interrompem as cadeias de abastecimento e reduzem a produtividade, especialmente nos serviços públicos, na agricultura, nas comunicações e noutros setores que dependem fortemente de infraestruturas físicas vulneráveis”, lê-se no relatório. “Os riscos relacionados com o clima expõem até 25% do EBITDA [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização] a potenciais perdas nestes setores. Enfrentar estes desafios exige a adoção de medidas de resiliência robustas em todas as operações e cadeias de abastecimento.”

O risco não é igual para todos os setores económicos nem para todas as regiões. Os setores da comunicação e das utilities (eletricidade, gás, água, etc) são os mais afetados, sobretudo em África, na Ásia e no Médio Oriente, que atingem o patamar máximo de perdas no EBITDA, na atual trajetória de aquecimento global. Na Europa, o potencial de perdas vai de 10% a 15% nestes dois setores e de 5% a 10% na construção e infraestruturas, materiais e alimentação e bebidas.

Além dos riscos associados a fenómentos extremos, as empresas têm ainda de contar com os custos da própria transição energética. Por exemplo, os impactos de uma transição rápida, que impliquem pesadas taxas de carbono até 2030, coloca em risco 50% do EBITDA no setor dos materiais e de 30% a 50% nos metais e mineração, indústria química e utilities, na Europa.

Em comunicado, Manuel Luiz, diretor e partner da BCG em Portugal, diz que os custos económicos das alterações climáticas dispararam nas últimas duas décadas e que os riscos continuam a crescer. “Para mitigar impactos e manter a competitividade, é essencial reduzir as emissões carbónicas e fortalecer a resiliência empresarial num mercado onde a sustentabilidade já não é uma escolha, mas uma exigência.”

É um caminho que dá frutos económicos, adianta o relatório. ”As empresas que avaliam de forma abrangente a sua exposição ao risco reportaram que os seus investimentos atuais em adaptação e resiliência podem gerar retornos de 2 a 19 dólares por cada dólar investido.”

Mas a própria transição está também a criar um mundo de oportunidades de negócio, devido à crescente procura de soluções de adaptação para infraestruturas e cadeias de abastecimento. “Prevê-se que a economia verde salte de 5 biliões de dólares em 2024 para mais de 14 biliões de dólares até 2030. Os pioneiros em energia renovável, transportes sustentáveis ​​e produtos de consumo ecológicos podem ganhar vantagens competitivas e regulamentares substanciais, posicionando-se como líderes em mercados em rápida expansão.”

Os setores que mais deverão beneficiar deste crescimento são as energias alternativas, os transportes sustentáveis e os bens de consumo sustentáveis. Os crescimentos anuais nestes segmentos vão de 10% a 20%.

É frequente ouvir dizer que “o tempo voa” e é um cliché, mas a realidade é que, de repente, já estamos no segundo mês de 2025. Lembra-se do momento em que definiu as resoluções de ano novo? Cuidar melhor do corpo e da mente? Desacelerar ou, para alguns, socializar mais? Cuidar do planeta? Usar transportes públicos, fazer escolhas conscientes e consumir menos? E a nossa comunidade?

Precisamente neste contexto, proponho que o voluntariado faça parte dessa lista de boas intenções. Afinal, ele contribui para todas essas dimensões: melhora a nossa saúde física e mental e fortalece a sociedade, tornando-a mais justa, equilibrada e solidária.

O voluntariado é a expressão máxima da cidadania ativa e uma ferramenta poderosa para enfrentar os desafios locais e globais, como as alterações climáticas e as desigualdades sociais e económicas. Embora seja difícil medir o impacto financeiro desta atividade, estimativas apresentadas pela Fundação Eugénio de Almeida relatam que, quando se convertem as horas de trabalho voluntário em valor monetário, o contributo anual pode representar entre 2% e 3% do PIB em nações com elevada taxa de participação, como é o caso dos países nórdicos.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, apenas 6% dos portugueses participa em atividades de voluntariado, colocando Portugal em 26º lugar entre os 28 países da União Europeia. Esse número torna-se ainda mais alarmante quando comparado com o dos Países Baixos e Malta, onde quase metade da população participa ativamente em diversas iniciativas e causas, demonstrando uma cultura de participação cívica profundamente enraizada.

Questiono-me frequentemente sobre os motivos desta baixa taxa de envolvimento. A resposta será multifatorial: horários de trabalho rígidos, o desafio de equilibrar carreira e vida familiar, o desconhecimento sobre as ações e os reais impactos das organizações não governamentais e cívicas e, talvez, uma ideia enraizada de “fazer o bem sem olhar a quem”, dificultando a divulgação e inspiração necessárias para multiplicar esse movimento. Se ninguém sabe que somos voluntários, como podemos motivar e inspirar outros a seguir o mesmo caminho? Partilhar as nossas histórias e vivências de impacto real e positivo nas comunidades pode ser precisamente a inspiração que outros precisam para se juntar a este movimento, tornando-o um motor de mudança social. 

Faço orgulhosamente parte de uma equipa de voluntários que trabalha um ano inteiro para construir um evento onde damos palco a ideias e projetos com a capacidade de mudar o mundo, o nosso país, a nossa comunidade e a nossa forma de pensar. E acredito que esta é uma extensão natural da minha responsabilidade na sociedade: trabalhar em prol do bem comum.

O papel cívico de cada um de nós pode ir muito além do importantíssimo ato de votar nas eleições. A verdadeira cidadania ativa requer um envolvimento contínuo em iniciativas que promovam a justiça social e contribuam para um futuro mais sustentável. Por este mesmo motivo, proponho que o voluntariado seja como as resoluções de ano novo: válidas em dezembro e janeiro, ou em qualquer um dos outros meses do ano. Afinal de contas, sermos melhores para nós próprios e para os outros é mesmo intemporal.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Para fazer esta verificação de faturas na plataforma e-Fatura é necessário ter uma senha de acesso ao Portal das Finanças para cada membro do agregado familiar – incluindo as crianças. Caso não tenha uma senha de acesso esta deve ser criada.

Em seguida, na página inicial do e-fatura, os contribuintes devem selecionar a opção “Despesas dedutíveis em IRS” e depois em “Adquirente”. Será então necessário indicar o Número de Identificação Fiscal (NIF) e senha de acesso para o portal.

Após ser feito o acesso à plataforma, encontram-se as deduções provisórias em IRS por cada categoria de despesas, por exemplo, “Despesas Gerais Familiares”, “Educação” ou “Saúde”. As faturas devem estar associadas à categoria correta para garantir os valores corretos são contabilizados nas deduções fiscais de IRS.

O portal assinala imediatamente quantas faturas tem pendentes e que devem ser validadas uma a uma, através do botão “Complementar Informação Faturas”. As faturas pendentes são o resultado de duas situações: o sistema não reconheceu em que categoria deve colocar a despesa ou o contribuinte é trabalhador independente e necessita de indicar se a despesa foi feita a título profissional.

Já para validar faturas que necessitam de receita médica para poder beneficiar da respetiva dedução, basta clicar em “Associar Receita” e indicar o valor que é relativo à despesa com receita médica.