Jensen Huang, o CEO da Nvidia, revelou durante a conferência VivaTech a intenção de construir a primeira plataforma da nuvem com Inteligência Artificial (IA) para fins industriais na Alemanha. O objetivo é servir fabricantes automóveis como a Mercedes ou a BMW com tecnologia para processos desde simulação de design de produtos até à gestão de logística.

Os planos da Nvidia incluem construir 20 fábricas de IA, grandes infraestruturas criadas para o desenvolvimento, treino e lançamento de modelos de IA, na Europa: “a Europa acordou agora para a importância das fábricas de IA e para a importância da infraestrutura de IA”, afirmou Huang no palco.

Na sexta-feira, a Nvidia reuniu com responsáveis políticos e empresariais na Alemanha e anunciou depois que a Deutsche Telekom está envolvida no projeto. Os primeiros dez mil processadores gráficos desta empreitada vão ser fabricados nos centros de dados já existentes da operadora alemã.

O chancellor Friedrich Merz elogiou a iniciativa considerando que “investimentos em infraestruturas estratégicas de IA são centrais para a força inovativa do nosso país” e que “damos expressamente as boas-vindas à Nvidia e aos seus parceiros. Esta cooperação pode ser um passo importante para a soberania digital da Alemanha e o seu futuro económico”. Merz planeia promover a construção de grandes centros de dados que suportem a transição para a IA nos próximos anos e pretende assegurar até cem mil chips com um subsídio estatal de 35%.

Em fevereiro, a Comissão Europeia revelou planos liberar 20 mil milhões de dólares para construção de centros de dados de IA para rivalizar com a China e os EUA.

Nas últimas décadas, a magistratura do Ministério Público tem sido confrontada com exigências crescentes, complexidade processual, escassez de meios e sobrecarga de trabalho. No meio deste cenário desafiante, surpreende e inquieta que se proceda à marcação de formações ou reuniões durante a hora de almoço dos magistrados do Ministério Público.

Uma prática aparentemente inócua, mas que, a nosso ver, levanta sérias questões de legalidade, proporcionalidade e, acima de tudo, de respeito pela dignidade do exercício da função de magistrado.

Atentas as especiais atribuições e competências do MP em matéria de defesa dos interesses e promoção dos direitos das pessoas com vulnerabilidades, designadamente no âmbito do regime jurídico do maior acompanhado, no dia 11 de junho de 2025, a Procuradoria Geral da República divulgou a “Estratégia do MP para os Adultos com Vulnerabilidades”.

No âmbito das atividades previstas na execução do eixo de intervenção do MP, consta o seguinte ponto ”7 -Criação de momentos de reflexão e discussão de procedimentos e concreta atuação funcional sobre específicos aspetos Lei de Saúde Mental, através de rubrica online, pela hora de almoço, denominada “50 minutos de (lei de) saúde mental”.

Apesar de tal documento merecer a nossa concordância pela relevância do assunto abordado, o ponto 7 não pode deixar de nos causar perplexidade e inquietação.

Na verdade, muitas têm sido as vozes que vêm dar conta do estado de exaustão em que se encontram os magistrados do MP, trabalhando horas a fio, à noite e a fim de semana, e agora têm que prescindir da sua hora de almoço?

Embora os magistrados estejam sujeitos a um regime de dedicação exclusiva e disponibilidade funcional, importa recordar que não perderam os seus direitos fundamentais por força do uso da Beca.

A Constituição da República Portuguesa é clara: todos os trabalhadores têm direito ao descanso, à proteção da saúde, à conciliação da vida pessoal e profissional. Os magistrados não estão fora do alcance destes princípios basilares.

Os magistrados não estão sujeitos a horário fixo de trabalho, mas sim a uma disponibilidade permanente, variando a carga profissional em função das exigências processuais, cada vez mais acentuadas e a sua função é considerada essencial à administração da justiça.

Considerando as concretas funções desempenhadas, os sacrifícios exigidos, o debate sobre o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal dos magistrados não está, nem pode estar, ausente.

Questões relacionadas com a saúde mental, carga excessiva de trabalho e compatibilização com responsabilidades familiares têm ganho cada vez maior relevo no seio dos magistrados, o que resulta patente no “Estudo sobre Condições de Trabalho, Desgaste Profissional e Bem-Estar dos/as Magistrados/as do Ministério Público Portugueses/as” realizado pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

A realização de formações à hora de almoço, sobretudo quando impostas sem alternativa ou compensação, viola o direito ao repouso e à integridade pessoal, previstos nos artigos 59.º e 25.º da Constituição.

Quando se normaliza a ocupação do tempo de refeição para cumprir deveres funcionais, envia-se uma mensagem perigosa: a de que o tempo pessoal do magistrado é descartável. Pior ainda, de que o direito ao descanso é uma concessão – e não um direito.

É paradoxal que se exija dos magistrados decisões ponderadas, atenção ao detalhe, lucidez argumentativa e rigor técnico… ao mesmo tempo que se lhes retira o mínimo intervalo necessário para retemperar forças durante o dia.

Um magistrado exausto é um risco para a qualidade da justiça, por mais competente ou dedicado que seja.

Formações, por mais importantes que sejam, devem ser realizadas em horários apropriados, com planeamento e com respeito pela estrutura funcional dos tribunais. Não há formação verdadeiramente eficaz quando o corpo pede repouso e a mente clama por silêncio.

Está em causa a humanização do exercício da magistratura. Está em causa o exemplo que o próprio Ministério Público dá enquanto guardião da legalidade. Está em causa a coerência de uma instituição que, legitimamente, exige respeito da sociedade, mas que também deve respeitar os seus próprios membros.

Está na hora de parar.

Parar para comer, para respirar, para pensar, para descansar, uma vez que dedicação exclusiva não pode significar esgotamento permanente.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

As convencionais lentes de contacto inteligentes já disponíveis operam, tipicamente, quando o utilizador está acordado. Agora, uma equipa da Universidade de Ciência Eletrónica e Tecnologia da China desenvolveu uma lente de contacto que é capaz de monitorizar os sinais do paciente, mesmo quando este está adormecido. Esta diferença é particularmente relevante para o glaucoma, uma vez que é importante detetar sinais da doença o mais cedo possível.

Estas lentes monitorizam continuamente os olhos do utilizador, atentando em métricas como a pressão intraocular (IOP) e movimento irregular dos olhos (EM). As lentes desenvolvidas na China designam-se por BCL (de bimodal contact lenses) e têm aproximadamente a mesma espessura das lentes ‘normais’, mas cada uma destas é composta por cinco camadas de material, explica o New Atlas.

No topo e no fundo das BCL há uma camada de silicone biocompatível, diretamente acima e abaixo de cada uma está uma camada de componentes de cobre que servem como sensor capacitativo de pressão intraocular. No centro destas lentes, está uma camada de neodímio que ajuda o sensor da pressão e que também serve de sensor para movimento magnético do olho (MEM)

O sistema é composto depois por um leitor externo e por um medidor Tesla, capazes de lerem os sinais dos sensores das lentes e de os converter em formatos de dados interpretáveis. Os investigadores propõem que, em cenários de uso real, estes leitores e o medidor podem ser integrados numa armação de óculos utilizada pelo paciente enquanto dorme. A informação é enviada depois para um smartphone ou tablet conectado ao sistema e é feita a interpretação de valores anómalos, com os devidos alertas.

Em testes em laboratório, com pacientes humanos e também coelhos, concluiu-se que o sistema fornece leituras fiáveis e precisas e, no caso dos coelhos, as lentes não produziram qualquer inflamação na córnea ou outros danos nos olhos após uma semana ininterrupta de utilização.

Leia o estudo completo publicado no Microsystems & Nanoengineering.

No poupar é que está o ganho.” Este provérbio aplica-se na perfeição a este smartphone da SPC, que combina um preço acessível com um conjunto de características equilibradas — tendo sempre em conta o segmento a que pertence. Numa altura em que proliferam os modelos de topo com preços elevados, é essencial que existam alternativas económicas, pensadas para utilizadores que dispensam grandes sofisticações.

A construção em metal e plástico é convincente, e o design agrada, com cantos arredondados que conferem um aspeto harmonioso. No entanto, o módulo das câmaras sobressai em excesso do chassis do Discovery 3 Pro, integra três sensores e um flash, todos com o mesmo tamanho, mas poderia ser mais discreto.

Um ecrã q.b

O smartphone integra um ecrã IPS de 6,7 polegadas que, embora não impressione, revela-se adequado para o segmento a que pertence. A resolução HD+ (1600×720 píxeis) e a taxa de atualização de 120 Hz permitem uma experiência de visualização aceitável, ainda que longe da nitidez e vivacidade dos ecrãs dos smarphones de topo. O brilho máximo de 900 nits é limitado, o que compromete a visibilidade em ambientes exteriores com forte incidência solar. Além disso, o painel apresenta uma moldura preta à volta do ecrã que se revela algo excessiva.

Não puxem muito por ele

Durante a nossa utilização, experimentámos um pouco de tudo: navegámos na internet, vimos vídeos e abrimos várias aplicações. A experiência revelou-se um misto de sensações. A navegação no browser é fluída e eficaz, mas ao abrir aplicações, a falta de rapidez denuncia as limitações de um equipamento de entrada de gama. Quando várias aplicações estão ativas em simultâneo, notámos alguma lentidão geral, incluindo na navegação pelo sistema operativo. Chegámos mesmo a ter de reiniciar o smartphone por não conseguirmos visualizar vídeos na galeria. Além de um processador modesto, a placa gráfica também é limitada — nos testes de benchmark obtivemos resultados discretos e, em tarefas mais exigentes, a resposta do equipamento foi visivelmente comprometida.

Câmaras modestas

A qualidade das câmaras está em linha com o restante hardware deste smartphone, ou seja, não esteja à espera de um desempenho de topo. O sensor principal de 50 MP capta imagens com uma qualidade razoável e algum nível de detalhe, com cores realistas. No entanto, a focagem é um dos pontos fracos: é difícil fixar o alvo com precisão e, por vezes, as imagens saem desfocadas. O sensor macro de 2 MP oferece um ligeiro ganho na focagem em planos muito aproximados, mas continua a ser limitado. Já o zoom digital, com um alcance máximo de 4x, não garante qualidade suficiente para capturas com detalhe.

No registo de vídeo, os resultados são satisfatórios. É possível gravar em resolução 2 K, o que proporciona alguma definição e nitidez, especialmente tendo em conta a gama de preço deste equipamento.

Veredicto

Este é um smartphone com um objetivo claro: atrair utilizadores que procuram gastar pouco, mas que ainda assim querem um dispositivo capaz de acompanhar as exigências do dia a dia. Vem equipado com o assistente  de IA Gemini, integrado e permite um desempenho satisfatório para quem não exige demasiado do equipamento. A autonomia ronda as 14 horas de utilização contínua, o que é suficiente para um dia de uso normal. No entanto, por este valor, ou investindo apenas mais alguns euros, é possível encontrar alternativas que oferecem uma experiência mais completa.

Tome Nota
SPC Discovery 3 Pro – €169,99
Site: spcstore.pt

BENCHMARKS Antutu 267454 • CPU 85769 • GPU 31404 • Memória 74334 • UX 75947 • 3D Mark: Wild Life 606 • Wild Life Extreme 158 ( 0.95 fps) • Wild Life Extreme Stress Test 159 • Geekbench CPU 433 (single) / 1390 (multi) • GPU 505 • PCMark Work 3.0 9153 • Autonomia 13h58m

Ecrã Satisfatório
Autonomia Muito Bom
Fotografia Satisfatório
Construção Bom

Características Ecrã IPS LED 6,7” (1600×720, 120 Hz, 900 nits máx.) ○ Processador: Mediatek Helio G81 Octa Core 2 GHz ○ GPU: Mali G52 MP2 ○ RAM: 8 GB; Armaz. Interno: 256 GB ○ Câmaras traseiras: 50MP; 2 MP (macro); Câmara frontal:  32MP , Vídeo: 2K ○ Android 14 ○ Bateria: 5000 mAh ○ Bluetooth 5.0 ; Wi-Fi 5 ; USB-C ○ Resistência: IP68 ○ Diemensões: 166,3×77,8×8,6 ○ Peso: 196 g

Desempenho: 3
Características: 3
Qualidade/preço: 4

Global: 3,3

Os responsáveis do Washington Post estão a investigar um ciberataque que poderá ter afetado as contas de correio eletrónico de alguns dos seus jornalistas. Numa comunicação interna, assinada pelo editor Matt Murray, é revelado que a intrusão foi descoberta na quinta-feira e que a investigação foi prontamente iniciada. Na sexta-feira, todas as credenciais dos funcionários foram repostas e estes convidados a alterar as suas palavras-chave.

Murray afirma na comunicação que a intrusão não terá resultado em qualquer impacto adicional nos sistemas dos jornais ou nos seus clientes. Segundo o The Wall Street Journal, que foi o primeiro a noticiar este ciberataque, acredita-se que a intrusão seja trabalho de uma potência estrangeira. Os funcionários terão ainda sido informados de que os hackers comprometeram as contas Microsoft profissionais e poderão ter tido acesso às mensagens de correio eletrónico das vítimas.

Entre as vítimas, estão jornalistas que trabalham de forma próxima em assuntos de segurança nacional e em temas de políticas económicas.

Na Europa do século XXI, as trincheiras ideológicas já não se cavam nas ruas, mas sim nas redes sociais, nos grupos de Telegram, nos fóruns subterrâneos da internet e nos metadados que determinam quem vê o quê, quando e de que forma. Se noutros tempos o radicalismo político alimentava-se de panfletos, comícios ou emissões de rádio clandestinas, hoje a extrema-direita (e, em menor escala, a extrema-esquerda) nutre-se de algoritmos, plataformas digitais e inteligência artificial. Estamos perante uma transformação estrutural do espaço político, onde a tecnologia deixou de ser uma ferramenta neutra de informação para se tornar um instrumento de radicalização, manipulação e conquista de poder.

Uma nova gramática da propaganda

Na era digital, o discurso extremista não é apenas visceral — é visual, viral e altamente partilhável. O crescimento eleitoral de partidos como o Rassemblement National (França), AfD (Alemanha), Fratelli d’Italia (Itália) ou Vox (Espanha) está intrinsecamente ligado à sua capacidade de dominar a linguagem das redes sociais: memes provocadores, vídeos com bandas sonoras épicas, reels com frases curtas e contundentes, transmissões ao vivo com uma estética “caseira” que reforça a ilusão de autenticidade.

A AfD alemã é um caso paradigmático: enquanto os partidos tradicionais publicam comunicados institucionais e discursos formais, a AfD aposta em vídeos no TikTok com confrontos encenados entre deputados e jornalistas, provocações em eventos locais ou teorias da conspiração envoltas em sarcasmo. O resultado? É o partido com maior envolvimento nas redes sociais na Alemanha.

Inteligência artificial ao serviço da desinformação

A utilização de inteligência artificial generativa por forças extremistas europeias é a nova fronteira da manipulação. Em 2024, durante a campanha para as eleições europeias, circularam vídeos deepfake de Ursula von der Leyen a defender alegadamente o “extermínio da identidade europeia” ou de Emmanuel Macron a anunciar “a entrega das escolas a organizações islâmicas”. Nenhum desses conteúdos era verdadeiro, mas foram vistos por milhões antes que qualquer desmentido fosse possível.

Contrariamente ao que se julga, não são apenas entidades estatais estrangeiras a produzir este tipo de material. Muitos partidos extremistas e os seus ecossistemas digitais utilizam ferramentas de IA open source, como o ElevenLabs, o Sora ou tecnologias de clonagem de voz, que permitem criar estes conteúdos com baixos custos e elevado impacto. O objetivo não é tanto convencer, mas sim gerar dúvida, poluir o espaço informativo e normalizar a mentira.

Targeting político: a arma invisível da polarização

O que começou com o escândalo da Cambridge Analytica tornou-se uma prática generalizada. Com acesso a bases de dados comerciais e a sistemas de anúncios altamente personalizados, os partidos extremistas conseguem mapear com precisão quase cirúrgica os medos, frustrações e ressentimentos da população. A mensagem que chega a um jovem desempregado no interior francês não é a mesma que se dirige a um pequeno empresário italiano ou a um agricultor alemão preocupado com a transição ecológica.

Mais do que fazer política, estes partidos praticam engenharia emocional de massas. Cada anúncio é calibrado, cada vídeo otimizado para provocar reações, cada publicação é parte de um processo gradual de radicalização. A extrema-direita, em particular, domina esta lógica com uma eficácia quase empresarial.

Plataformas alternativas e ecossistemas de ódio

Expulsos ou desmonetizados das plataformas tradicionais, os extremistas digitais europeus criaram os seus próprios canais em Telegram, Rumble, Odysee, Gab ou Discord. Nestes espaços, onde a moderação é quase inexistente, proliferam o reforço grupal, a desumanização do adversário e a disseminação de narrativas conspiratórias.

Um exemplo flagrante é o canal de Telegram associado ao movimento identitário Identitäre Bewegung, onde circulam vídeos que apelam ao “regresso da Europa aos europeus”, listas (muitas vezes falsas) de migrantes acusados de crimes, incitamentos à mobilização física e até instruções para “agir contra jornalistas traidores”. Estes espaços funcionam como incubadoras ideológicas, com percursos progressivos de radicalização até ao envolvimento político ou activismo extremista.

Financiamento opaco e tecnologias evasivas

Com os sistemas bancários tradicionais a bloquear as suas operações, muitos destes grupos recorrem a criptomoedas e a serviços financeiros alternativos. Uma investigação do EU DisinfoLab ao portal “Voice of Europe” revelou como esta plataforma, ligada a oligarcas russos, canalizava milhões de euros para partidos extremistas europeus — incluindo a AfD (Alemanha), o FPO (Áustria) e o Vlaams Belang (Bélgica). Tudo isto com total opacidade e anonimato, garantidos pelas ferramentas digitais.

Paralelamente, utilizam VPNs, aplicações de mensagens efémeras e fóruns fechados para escapar ao escrutínio das autoridades. Em alguns casos, recorrem mesmo a hackers ideologicamente alinhados para campanhas de doxxing, sabotagem digital ou ataques a instituições democráticas.

Uma resposta institucional tímida e fragmentada

Os Estados europeus começam, lentamente, a reconhecer esta ameaça — mas as respostas são, ainda, tímidas, reactivas e descoordenadas. A aprovação do Digital Services Act (DSA) pela União Europeia foi um avanço importante, mas está longe de ser suficiente. As plataformas resistem à moderação, receando acusações de censura, e os partidos extremistas reinventam-se com mais rapidez do que os reguladores conseguem acompanhar.

Falta, sobretudo, uma visão estratégica clara de que estamos perante uma guerra política no campo digital. Não se trata apenas de conteúdos problemáticos ou de fake news — trata-se da reconfiguração do espaço público europeu sob a lógica do extremismo algorítmico.

Num contexto de incerteza económica, medo em torno das migrações, choques culturais e desconfiança nas elites, a tecnologia tornou-se a arma perfeita dos extremistas: acessível, eficaz, omnipresente e emocionalmente poderosa.

Se as forças democráticas não conseguirem ocupar este mesmo terreno — com narrativas fortes, campanhas inteligentes e presença digital consistente — perderão a batalha, não só nos ecrãs, mas também nas urnas.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Há pouco mais de um século, milhares de homens partiram para as frentes de batalha na Europa decididos a participar na guerra que, como se dizia nesses tempos, iria “acabar com todas as guerras”. Como sabemos, a ilusão que conduziu às mortandades irracionais da I Guerra Mundial – em que milhões de jovens pereceram nas trincheiras, numa demonstração cruel do que significa ser usado como “carne para canhão” – não acabou com as guerras e, como se viu mais tarde, até contribuiu para desencadear uma Segunda Guerra, ainda mais mortífera e global. 
Agora, vivemos num tempo substancialmente diferente, mais avançado tecnologicamente, mas em que somos igual e rapidamente iludidos pelas perceções da realidade. E vivemos também num mundo em que, novamente, um conflito regional pode desencadear uma guerra global, de proporções alarmantes, tendo em conta o nível de armamento atualmente disponível no planeta. 
Há quatro dias que Israel e o Irão se atacam mutuamente, com ataques permanentes de mísseis sobre os dois territórios. Tudo desde que, numa ação inesperada, Israel decidiu cumprir um ameaça de décadas e bombardear as instalações nucleares do Irão e aniquilar alguns dos principais comandantes do programa nuclear de Teerão. 


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Quem manda tem de saber dar o exemplo e o ambiente no 32º piso do edifício-sede das Nacões Unidas, em Nova Iorque, já reflete a crise financeira da organização liderada pelo antigo primeiro-ministro português. António Guterres deu ordens para desligar ou reduzir drasticamente o ar condicionado porque é preciso poupar nas contas. As consequências de uma tal medida vieram apenas intensificar o habitual burburinho nos gabinetes do emblemático arranha-céus junto ao East River, em Manhattan, cujas escadas rolantes, no hall de entrada e nos primeiros quatro andares, raramente funcionam em condições – sim, por falta de manutenção e dinheiro.

Há muito que o pessoal da organização criada pela Carta das Nações Unidas, assinada a 26 de junho de 1945, em São Francisco, se habituou aos constrangimentos financeiros. Só que, desta vez, trata-se de uma situação crítica. Em março, António Guterres apresentou um programa especial para remodelar, modernizar, descentralizar e reduzir os custos do maior organismo multilateral do planeta, com 193 Estados-membros, intitulado Iniciativa UN80. Estas reformas e prioridades, de acordo com o secretário-geral, “não são um fim em si mesmo; pretendem servir melhor as pessoas cujas vidas dependem de nós”. Em rigor, tem razão. Do Afeganistão à Etiópia, passando pela Índia e pelo Paquistão, centenas de milhões estão reféns do apoio prestado pelos diferentes organismos e agências tutelados por António Guterres.

MENOS COM MENOS

O despesismo e as disfuncionalidades históricas da própria ONU, a par do recrudescimento dos conflitos e da violência, as catástrofes naturais, as alterações climáticas, mais o congelamento dos financiamentos dos EUA e de outros países (ver caixa) à Organização Mundial da Saúde (OMS), à UNICEF ou ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) obrigam a terapias de choque. “Antes mesmo da eleição de Donald Trump, a ONU já estava muito fragilizada por três anos de profundas divisões sobre a Ucrânia e também pelos desentendimentos entre os Estados-membros sobre a guerra em Gaza (…), agora está à beira do colapso”, alerta Richard Gowan, um dos mais influentes diretores do International Crisis Goup, um centro de reflexão com sede em Bruxelas. Este académico e antigo consultor da ONU considera que a organização liderada por Guterres está condenada “a fazer menos com menos” recursos, para evitar a irrelevância e a paralisia. Aparentemente, o português concorda e subscreve algumas das propostas que várias personalidades têm apresentado nas últimas semanas, caso de Erica Harper, principal investigadora da Academia de Direito Internacional Humanitário e de Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça, que acaba de publicar um artigo cujo título fala por si: É a Economia, Estúpido: Porque é a ONU Ineficiente e o que Fazer Quanto a Isso.

Com quase 37 mil funcionários, perto de 100 mil colaboradores (sobretudo militares e polícias, os também chamados capacetes azuis) e um orçamento para este ano de 3 717 milhões de dólares (cerca de 3 250 milhões de euros, metade dos quais para salários), o homem que governou Portugal entre 1995 e 2002 está numa corrida contra o tempo. Para evitar que os cofres fiquem vazios, tem de aplicar um duro plano de austeridade que passa por economizar 600 milhões dólares, pela redução de 20% dos recursos humanos (irá despedir algum dos seus 50 secretários-gerais adjuntos?), pela anulação de dezenas de projetos e ainda pela fusão e/ou a deslocalização de algumas entidades.

Sudão A guerra civil no país, iniciada em abril de 2023, é um dos conflitos esquecidos,o qual já fez 125 mil mortos,estando 24 milhões de pessoas a passar fome e a depender da ajuda da ONU Foto: Marwan Mohamed/ LUSA

Uma “revolução” que Guterres comunicou aos seus subordinados, num polémico memorando interno que se tornou público no início de maio, e cujos efeitos se fazem sentir nas principais cidades que acolhem sedes e filiais das instituições onusianas. Em Roma, onde funcionam o Programa Alimentar Mundial (PAM), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura), um milhar de contratos foram já cancelados – o que significa que haverá menos meios materiais e humanos para assistir às vítimas da fome em todo o globo (300 milhões, segundo o mais recente relatório recém-divulgado por estas três instituições). Em Genebra, onde se concentra a maioria das agências humanitárias, multiplicam-se também os rumores e as más notícias. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) está com dificuldade em honrar os compromissos financeiros e o seu diretor-geral, o togolês Gilbert Houngbo, mandou encerrar meia centena de projetos, admitiu que vai despedir “cerca de 200” dos 3 600 funcionários e que o futuro da agência galardoada com o Prémio Nobel da Paz em 1969 pode ter de mudar as suas instalações para uma cidade mais barata. A imprensa suíça fala em Budapeste (Hungria), Pretória (África do Sul) e sobretudo em Doha (Qatar). Quanto à OMS, deverá suprimir perto de 25% do seu pessoal até 24 de outubro, data em que se assinala o 80º aniversário da entrada em vigor da Carta fundacional das Nações Unidas: “A recusa dos EUA em pagar as suas quotizações para 2024 e 2025, combinada com as reduções na ajuda pública ao desenvolvimento de alguns outros países, significa que estamos confrontados com um défice salarial para o exercício de 2026-2027 que pode ficar entre os 560 e os 650 milhões de dólares”, explicou, em abril, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o médico etíope que chefia este organismo. Ou seja, estão em causa incontáveis programas de luta e investigação contra a sida, a tuberculose e a malária, bem como campanhas de vacinação nalgumas das comunidades mais vulneráveis do planeta.

FUSÕES POLÉMICAS

As autoridades suíças estão assustadas com um eventual êxodo de expatriados altamente qualificados e com a descentralização da ONU à custa do elevado nível de vida na cidade junto ao maior lago da Europa Ocidental. Para evitar que a OMS se transfira para qualquer outro sítio, o governo helvético injetou o equivalente a 85 milhões de euros na agência do doutor Ghebreyesus e tenta fazer frente à forte concorrência. Os executivos de Banguecoque (Tailândia), de Addis-Abeba (Etiópia), Kigali (Ruanda) e Doha (Qatar) querem aproveitar o facto de Genebra ser uma das metrópoles mais caras do planeta para lhe roubar o estatuto de “capital do multilateralismo”. O emirado da família Al-Thani, sempre empenhado em apresentar-se como um regime democrático, parece estar na linha da frente para acolher o maior número possível de agências da ONU e repetir o expediente que lhe permitiu abrir, em Doha, em março de 2023, uma delegação especial do Comité Internacional da Cruz Vermelha. O velhinho Tribune de Genève, jornal francófono fundado em 1879 por um banqueiro americano, noticiou há três semanas que o Qatar enviou a Genebra uma delegação oficial, encabeçada por um dos irmãos do emir, para negociar discreta e diretamente com os responsáveis suíços – e da ONU – as eventuais mudanças de sedes.

“Em diferentes lugares problemáticos do mundo, os capacetes azuis podem fazera diferença entre a vida e a morte”, António Guterres sobre as 11 missões de manutenção de paz da ONU cujo financiamento está cada vez mais em causa

Que se saiba, tudo permanece em aberto. Os cataris podem também estar na corrida para receber outras agências que têm o seu quartel-general em Nova Iorque e com ordem de marcha para sítios mais baratos. A ONU Mulheres, o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) estão nessas circunstâncias, e Nairobi, capital do Quénia, é outro dos destinos equacionados. Os meios de comunicação social suíços, com acesso a informação privilegiada, já revelaram que Guterres e a sua equipa põem a hipótese de concentrar a maioria das grandes agências numa única metrópole africana e que o regime ruandês, presidido por Paul Kagame, em busca de uma crescente notoriedade internacional, manifestou o desejo de converter Kigali numa plataforma para a OMS, o PAM, a UNICEF e a OIM. Porquê juntar todas elas? Erica Harper explica: “Cada uma tem o seu próprio departamento de recursos humanos, de gestão de risco, de tecnologias da informação, de gestão de recursos financeiros, de parcerias público-privadas, de serviços jurídicos, um inspetor-geral e um provedor.”

Será esta racionalização de meios suficiente para equilibrar as contas? Talvez, mas pode não chegar. As operações de manutenção de paz e as missões políticas em curso, algumas delas com décadas de existência – UNTSO (em Jerusalém, desde 1948), UNMOGIP (em Caxemira, desde 1949) ou UNFICYP (em Chipre, desde 1964) – representam 43% do orçamento da ONU e serão particularmente difíceis de eliminar, por mexerem com múltiplos interesses geopolíticos. O que sucederia à República Centro Africana se os capacetes azuis da MINUSCA (que inclui 225 militares portugueses) abandonassem o regime de Bangui à sua sorte? Sem a UNMISS, qual o destino do Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo? A Ucrânia e Gaza, por motivos óbvios, constituem o alvo das atenções políticas e mediáticas, mas há demasiados conflitos esquecidos e regiões que dependem – ou deveriam depender – dos bons ofícios da ONU. O Presidente brasileiro, Lula da Silva, numa entrevista que concedeu ao Le Monde, afirmou que “Trump foi eleito para governar os EUA, não para governar o mundo”. E mais: “As Nações Unidas devem recuperar o seu papel de mediador; hoje, as suas decisões são ignoradas.” Demagogia? Pegue-se num caso extremo e vejamos as estatísticas oficiais da guerra civil no Sudão, iniciada em abril de 2023: 125 mil mortos, 12 milhões de deslocados e 24 milhões a passar fome. Alguém acredita que estes números digam algo a Trump, a Putin, a Xi Jinping ou aos líderes europeus? Guterres sabe que os 20 meses que lhe faltam para terminar o mandato vão ser bem complicados.

Caloteiros

Países com maiores dívidas para com o orçamento da ONU

1500
Milhões de dólares
Valor das quotizações em falta dos EUA, país que mais contribui para o orçamento da ONU (22%). Em fevereiro, a Administração Trump deu ordens para Washington suspender praticamente todo o financiamento.

597
Milhões de dólares
Montante que a China, segundo maior financiador da ONU, tem a pagar. Em 2024, só saldou a sua contribuição a 27 de dezembro. Caso quisesse, Pequim estaria em condições de alterar os equilíbrios de poder na organização e beneficiar da hostilidade de Trump às instituições multilaterais.

72 Milhões de dólares
Quantia que a Rússia deve para cumprir a sua quota relativa ao presente ano. Com as dificuldades de tesouraria, resultantes do conflito ucraniano, é natural que só pague no final do outono.

42 Milhões de dólares
Dívida do atual quarto maior devedor às diferentes agências da ONU, a Arábia Saudita. A curta distância, ex aequo, estão o Méxicoe a Venezuela, ambos em falta com 38 milhões.

O balanço foi feito este domingo pelo porta-voz do Ministério da Saúde iraniano., Hossein Kermanpour, que sublinhou que estes sãos números muito provisórios, dado que as equipas de resgate ainda estão a vasculhar os escombros, de acordo com a imprensa iraniana.

Dos cerca de 900 feridos hospitalizados, cerca de 230 já tiveram alta, acrescentou o porta-voz.

A guerra entre Israel e o Irão, desencadeada na madrugada de 13 de junho por bombardeamentos israelitas que visaram instalações militares e nucleares iranianas, matando lideranças militares, cientistas e civis.

Entre os mortos, contam-se pelo menos 15 oficiais superiores, confirmados por Teerão, incluindo o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Mohamad Hossein Baqari, o comandante-chefe da Guarda Revolucionária Iraniana, Hossein Salami, e o chefe da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, general Amir Ali Hajizadeh.

Os ataques israelitas, efetuados por 200 aviões contra uma centena de alvos, atingiram sobretudo Teerão (norte) e atingiram as centrais de enriquecimento de urânio de Fordo e Natanz (centro), o aeroporto nacional de Mehrabad e várias bases militares.

O Irão retaliou com centenas de mísseis direcionados às cidades de Telavive e Jerusalém, que fizeram pelo menos 13 mortos e mais de 200 feridos.

“Quero deixar claro que o chumbo do Orçamento de Estado não implica automaticamente dissolução do Parlamento”, afirmou o antigo secretário-geral do PS na apresentação da candidatura a Belém, que decorreu este domingo no Centro Cultural de Congressos das Caldas da Rainha, no distrito de Leiria.

António José Seguro defende que o “País não pode andar de eleições em eleições de ano e meio em ano e meio, nem ter governos a prazo”, alertando que “governos a prazo conduzem Portugal a prazo”.

“Estou preparado para promover a conciliação e os compromissos necessários para mudarmos Portugal”, indicou, sustentando que “Portugal precisa de mudar, e muito, começando na forma como se faz política”.

Para o candidato, “gerir a conjuntura já não basta, nem é maneira de governar”, e é “necessário um projeto nacional, consensualizado, participado por todos, independentemente de quem está no governo”.

“O País tem de ter um rumo, não pode andar aos ziguezages. Portugal precisa de um rumo, não apenas de governo. Precisamos de governos de projeto e não de governos de turnos”, acrescentou.

O candidato a chefe de Estado considerou também que a revisão da Constituição não é um tema prioritário neste momento e propôs um “pacto para a prosperidade”, apontando a necessidade de um “projeto nacional mobilizador”.

“Prioritário é promover o acesso das pessoas à habitação e aos cuidados de saúde a tempo e horas, prioritário é criar riqueza para haver melhores salários e melhores pensões, prioritário é capacitar o país para apoiar as nossas empresas, para que os jovens se fixem e não emigrem”, elencou.

Seguro considerou que “o País precisa de um projeto nacional mobilizador, de um rumo e de uma estratégia”.

“Proponho-me e empenhar-me-ei nesse desígnio: Pacto para a prosperidade. Essa será a minha agenda prioritária, envolvendo todos os partidos políticos, os parceiros sociais, universidades e todos os interessados”, indicou.