Dois ou três dias antes de cair o governo foi apresentada publicamente a Estratégia Nacional para a Gestão da Água – Água que Une. Mais uma estratégia. Conforme Luís Montenegro afirmou, a “transformação estratégica e estrutural do nosso país”, como sempre, na água e em tudo, “agora é que vai ser”. Devemo-nos questionar para que serviram todos os planos e estratégias anteriores.

O primeiro-ministro disse muito mais, afirmou que “em Portugal não há um problema de falta de água, há um problema de falta de capacidade de gestão da água”. É um facto, mas não deixa de ser inacreditável.

Quase em jeito de resposta, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, escreveu o seguinte no documento a que tivemos acesso: “Toda a água – superficial ou subterrânea, doce ou salgada – está interligada e deve ser administrada de forma sustentável. Integrada. Conjunta. Consensualizada. Modernizada.”

Conclusão, como muitas vezes afirmo e escrevo: na Europa, somos dos países com mais disponibilidade de água, apenas usamos cerca de 10%, mas somos incapazes de gerir eficazmente tão importante recurso. Às vezes, até parece que não compreendemos a irrevogável importância da “segurança hídrica do País”. Não nos falta sequer competente saber, a maioria das vezes com as pessoas certas no lugar certo, mas, porque “há sempre um mas”, a gestão estratégica e estrutural, a médio e a longo prazo, não se concretiza mais uma vez.

Temos, desta vez, uma forte desculpa, “o governo caiu”. A importância vital da água, bem mais do que um recurso, será outra vez esquecida e adiada, enquanto a procura aumenta e o desperdício prevalece (parece fazer parte do nosso modo de vida), pelo menos até uma nova crise, conhecida por seca. E quando chegar esse novo episódio de seca, a gestão será a emergência que se improvisa e iremos esperar pacientemente que a bendita chuva jorre dos céus.

Efetivamente, o ciclo da água em Portugal é muito assimétrico, variável, irregular e, cada vez mais, imprevisível. No Minho, chove três vezes mais do que no Alentejo, e digo aos meus alunos que esta é a justificação mais remota para que o Minho tenha seis ou sete equipas de futebol na 1ª Liga e o Alentejo nenhuma.

Não importa só quanto chove, mas, também, onde e como chove. Deve igualmente ser referido que a gestão da água em Portugal não é uma questão linear e o desafio não se fica só pela quantidade. Cada vez mais, temos de atender e tomar decisões em função da qualidade das massas de água.

Num contexto realista de restrição de disponibilidade, já que a Estratégia aponta para 6% em 15 anos, e de crescimento da procura em cerca de 26%, é fundamental que o País assuma, definitivamente, uma gestão estratégica que transcenda claramente os ciclos eleitorais. Ou seja, urge um pacto de regime.

Por último, e não menos importante, teremos igualmente de estar cientes de que não haverá nenhum tipo de sustentabilidade sem existir o equilíbrio financeiro entre os custos da água e os valores que os diferentes utilizadores pagam; na água, o balanço é brutalmente negativo. 

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Quem reduz a democracia à vontade popular nas urnas de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos esqueceu-se do imenso trabalho de décadas (ou séculos) a erigir instituições. Instituições que podem dissolver-se em inundações por ruas da amargura, mas que, de vez em quando, emergem e nos fazem exclamar: “Ah, elas existem!” A Justiça é uma dessas.

Em França, Marine Le Pen está numa encruzilhada. O Tribunal Penal de Paris condenou-a – e a oito eurodeputados do seu partido, a União Nacional – a quatro anos de prisão, dois dos quais em prisão domiciliária, pelo desvio de fundos europeus. O esquema, que durou de 2004 e 2016, passava por contratar assessores para o Parlamento Europeu com “contratos fictícios”, já que não fariam nada porque, de facto, trabalhavam era para o partido, estando a União Europeia a financiar essas despesas, num total de 4,4 milhões de euros desviados.

Além da multa que o partido terá de pagar, a própria Marine Le Pen ficou sujeita a um pagamento de 100 mil euros. Mas isso não é o pior. A sentença dita que, durante cinco anos, ela é inelegível para qualquer cargo público, ou seja, a sua candidatura às eleições presidenciais de 2027 está fora de questão. Mesmo que haja recurso – e haverá –, os prazos dificultam uma candidatura a tempo desse ato eleitoral. Se é que ganha o recurso.

Em entrevista ao canal TV1, Marine Le Pen classificou a sentença do tribunal como sendo uma “decisão política”, uma “violação do Estado de direito”, um “dia desastroso para a democracia”. Enquanto o site da União Nacional apelava a uma “mobilização popular e pacífica” contra a “ditadura dos juízes”.

Do outro lado do Atlântico, Jair Bolsonaro colou-se. O ex-Presidente brasileiro foi na semana passada declarado réu, acusado de tentativa de golpe de Estado. “O crescimento da direita é uma realidade em todo o mundo. A esquerda na França, como no Brasil, opta pelo caminho do ‘lawfare’, do ativismo judicial, para buscar eleições sem oposição”, disse Bolsonaro, também ele declarado inelegível até 2030 por abuso de poder.

Já Donald Trump foi bem elegível – a Justiça não conseguiu travá-lo, embora o tenha condenado por pagamentos ilegais a uma ex-atriz pornográfica. Sobre Le Pen, afirmou: “Parece o nosso país, parece-se muito com o nosso país”, secundado por Elon Musk, que foi mais longe na sua rede social X: “Quando a esquerda radical não consegue vencer através do voto democrático, abusa do sistema judicial para prender os seus opositores. Este é o seu modus operandi em todo o mundo.”

E foi assim por todo o lado. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, escreveu no X: “Je suis Marine.” O porta-voz do regime russo, Dmitry Peskov, teve a lata de falar numa clara “violação das normas democráticas”. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, sublinhou que “ninguém que se importa com a democracia pode celebrar uma medida que afeta a líder de um grande partido e tira a representação de milhões de cidadãos”.

Só André Ventura destoou. Afinal, estamos em campanha eleitoral (ou quase), teremos eleições legislativas no próximo mês e o Chega está cheio de casos e casinhos a braços com a Justiça. Ventura aproveitou a deixa para comparar a agora ex-amiga Marine ao nosso primeiro-ministro. “Se eu não acho que o Luís Montenegro se deve recandidatar (…) com as suspeitas que há de que esteve a receber dinheiro que não devia enquanto era primeiro-ministro, não posso dizer o contrário em relação a alguém que é suspeito de ter desviado dinheiro público para utilização partidária”.

Neste ponto, temos mesmo de citar Fernando Pessa. “E esta, hein?”

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Paris foi o palco escolhido para anunciar uma parceria histórica que, segundo os prometores, promete mudar o panorama da mobilidade elétrica no continente europeu. Os CEOs da Atlante, Electra, Fastned e IONITY reuniram-se no Cercle de l’Union Interalliée, para oficializar a criação da Spark Alliance, a maior rede pública de carregamento de veículos elétricos da Europa.

De acordo com o comunicado de imprensa, a Spark Alliance simplifica o processo de carregamento e pagamento para os condutores de veículos elétricos. A rede conta com mais de 1.700 postos, que totalizam 11.000 pontos de carregamento distribuídos por 25 países europeus. Os condutores poderão aceder aos postos através das aplicações das empresas participantes, sem necessidade de instalar novas apps ou configurar outros métodos de pagamento. “Os condutores podem ir a qualquer posto de carregamento de qualquer membro e utilizar qualquer uma das aplicações dos outros membros para iniciar e pagar a sessão de carregamento”, afirma o comunicado.

“O carregamento de veículos elétricos não deve ser uma fonte de ansiedade, mas sim um processo simples e confiável. A Spark Alliance marca um grande passo nesse sentido, criando um padrão de qualidade no mercado”, afirmou Michiel Langezaal, CEO da Fastned.

Além da conveniência, a Spark Alliance compromete-se a utilizar exclusivamente energia 100% renovável em todos os seus postos, consolidando assim o seu papel na transição para uma Europa mais sustentável. “Com esta colaboração inédita, estamos a abrir caminho para uma nova era de viagens limpas e contínuas pelo continente europeu”, destacou Jeroen van Tilburg, CEO da IONITY.

Para os responsáveis, a Spark Alliance tem como objetivo a democratização da mobilidade elétrica, resolvendo desafios cruciais como a fragmentação de operadoras, métodos de pagamento e acesso a carregadores. “Estamos a padronizar a experiência de carregamento e a remover barreiras à adoção de veículos elétricos”, reforçou Aurelien de Meaux, CEO da Electra.

Para quem não utiliza veículos elétricos, é importante referir que em Portugal já existe esta interoperabilidade, ou seja, os cartões e apps dos operadores portugueses funcionam em todos os postos da rede pública gerida pela Mobi.e.

Um cidadão com origens familiares em Braga, Pedro Mesquita, descobriu por acaso que uma parte de um terreno que herdou naquele município tinha sido parcialmente ocupado com a construção de uma moradia e ficado sem acesso à estrada. “Foi uma prima que passou por lá e avisou. O terreno tinha estado arrendado a um caseiro até 2018 e, como moramos em Lisboa, só em 2022 percebemos o que tinha acontecido”, conta à VISÃO o cabeça de casal da herança que se reclama como proprietário de um terreno, no qual apareceu parte da construção de uma casa que, por sua vez, pertence à filha de um importante empresário da região. Tudo com a autorização da Câmara de Braga.

A disputa sobre o terreno já está em tribunal. E a forma como foi autorizada a construção deu origem a uma queixa ao Ministério Público contra o departamento de Urbanismo da Câmara de Braga, liderado por João Rodrigues, o social-democrata que é candidato à sucessão de Ricardo Rio e que ganhou projeção nacional, por ser filho do dono da gasolineira responsável por uma parte substancial da faturação da Spinumviva, a sociedade familiar de Luís Montenegro.

Câmara alvo de denúncia

A denúncia enviada ao Ministério Público explica que, apesar de possuírem um terreno de apenas 1150 metros quadrados, os proprietários da moradia ocuparam 3500 metros quadrados em edificações e vedaram o acesso a seis mil metros quadrados. O texto, a que a VISÃO teve acesso, nota “a conduta passiva e de pouco interesse pela reposição da legalidade e da verdade” adotada pela Câmara de Braga, que é acusada de permitir a construção em terrenos que estão na Reserva Agrícola Nacional (RAN). “O município não só permitiu a construção em parcelas de terreno que não estariam afetas para esse fim, como tão-só permitiu a existência de construções que não correspondem ao licenciado e que extravasaram o limite da área do terreno do proprietário do edificado.”

Candidato Juntos Por Braga resulta de um acordo entre PSD, CDS, PPM e Aliança

Contactada pela VISÃO, fonte oficial da Procuradoria-Geral da República confirma que “o inquérito se encontra em investigação e está sujeito a segredo de justiça externo”. Além da queixa ao Ministério Público, o caso foi já participado também à Inspeção-Geral de Finanças, à CCDR e à Provedoria de Justiça.

De resto, a Conservatória do Registo Predial de Braga aceitou, por requerimento dos herdeiros que reclamam a propriedade do terreno, incluir no registo do referido imóvel uma nota sobre “falsas declarações”, sinalizando que há uma disputa sobre a quem pertence. Segundo a queixa feita à Conservatória do Registo Predial de Braga, a que a VISÃO teve acesso, os herdeiros alegam que o terreno onde está a moradia está “ilicitamente ocupado” e que os registos prediais existentes entre 1915 e 2023 atestam isso mesmo.

Empresário alega usucapião

Na ação que corre em tribunal sobre a propriedade dos terrenos, Marcelino Peixoto (um dos mais importantes empresários da região) alega ter usucapião dos terrenos em causa, uma figura jurídica que permite a aquisição da propriedade com fundamento na posse (na prática) e uso de longa duração.

Marcelino Peixoto fez mesmo uma doação de terrenos à filha e ao genro para dar base legal à área de implantação da moradia. No entanto, Pedro Mesquita e os outros herdeiros acusam-no de “doar o que não lhe pertence”, tendo feito à Conservatória do Registo Predial de Braga uma exposição em que o tentam demonstrar. Nesse texto, acusam Marcelino Peixoto e os seus familiares de “uma atuação dolosa e de má-fé” e de ter “uma vontade manifesta de ludibriar os serviços notariais”.

Rodrigues manda arquivar

Além da disputa dos terrenos, há ainda uma questão relacionada com o índice de construção e com o facto de a obra ter na prática deixado sem qualquer servidão de acesso uma parcela de seis mil metros quadrados que pertence à herança da qual Pedro Mesquita é cabeça de casal.

Apesar de todas estas dúvidas legais e de o tribunal ainda não se ter pronunciado sobre o caso, o vereador do Urbanismo de Braga, João Rodrigues, decidiu emitir um despacho, em setembro de 2024, no qual anuncia a intenção de arquivar o processo aberto por Pedro Mesquita na Câmara, alegando ter sido “reposta a legalidade urbanística no local em apreço”. Rodrigues sustenta a decisão com o facto de, “conforme atestado pelo diretor de obra em termo de responsabilidade”, a casa ter sido “concluída e executada com base no projeto”.

Pedro Mesquita contestou o despacho, argumentando que as inscrições e descrições constantes do registo predial “têm averbadas a indicação da existência de um incidente de falsidade documental, que a Câmara não pode ignorar”, sob pena de virem a ser “responsáveis criminal e civilmente pelos atos ilícitos que vierem a praticar e danos que vierem a causar com esses atos”.

Terrenos em causa Uma construção deum proprietário apareceu no terreno de outro. “Foi uma prima que passou por lá e reparou”, diz o segundo…

Nessa exposição, Mesquita aponta várias ilegalidades, incluindo a forma como foram parcelados terrenos rústicos, dividindo-os abaixo do que a lei permite e o facto de o que resta do seu terreno ter ficado sem qualquer possibilidade de acesso, completamente vedado pela construção da moradia.

Pedro Mesquita frisa ainda o facto de o Urbanismo tutelado por João Rodrigues ter conhecimento da disputa sobre a posse dos terrenos. “Mesmo assim a análise/apreciação técnica feita a este licenciamento/legalização (com nova área e configuração da parcela), apenas refere tratar-se de ‘assunto entre particulares’, não exigindo qualquer confirmação sobre a titularidade dos terrenos em face da situação acima referida, nomeadamente sobre ponto de situação da decisão judicial”, lê-se no texto.

Pedro Mesquita alega mesmo que a Câmara de Braga teve posição diferente noutros processos de licenciamento, aguardando o trânsito em julgado de ações judiciais pendentes antes de licenciar. “Por estes motivos, foram apresentadas reclamações/exposições à Câmara de Braga, solicitando esclarecimentos para esta dualidade de critérios”, frisa Mesquita, que diz ter ficado sem resposta.

Contactada pela VISÃO, fonte oficial da Câmara de Braga não quis fazer qualquer comentário.

1- Quando um governo impõe tarifas sobre produtos estrangeiros, estes chegam ao país mais caros. Resultado? Desde sapatos até eletrodomésticos, tudo passa a custar mais ao consumidor comum. A inflação volta, e os salários não acompanham. Uma guerra falhada.

2 – As tarifas podem proteger uma indústria, mas prejudicam muitas outras. Se as empresas não conseguem exportar, perdem receitas, cortam postos de trabalho ou até encerram. Ou seja, não há empregos.

3 – Numa guerra comercial, empresas e investidores não sabem o que esperar. Uma tarifa aqui, uma retaliação ali… Resultado? Travam investimentos, adiam contratações e a economia perde força.

Exemplo: em 2018, Trump aplicou tarifas sobre máquinas de lavar importadas. A ideia era proteger os fabricantes locais, como a Whirlpool. E sim, os concorrentes asiáticos ficaram mais caros. Que aconteceu?

O preço das máquinas subiu, em média, 86 dólares por unidade. E o mais surpreendente: o preço das máquinas de secar (sem tarifas!) também aumentou — apenas porque os vendedores aproveitaram a boleia.

Esta guerra, no primeiro mandato de Donald Trump, acabou assim: os consumidores americanos gastaram mais de 1,5 mil milhões de dólares extra só para lavar e secar roupa. E apenas 1.800 empregos foram criados.

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PSD e CDS-PP vão propor ir a votos nas eleições legislativas antecipadas de 18 de maio com a denominação “AD – Coligação PSD/CDS”, anunciou hoje o secretário-geral social-democrata, Hugo Soares.

O anúncio foi feito em conferência de imprensa na sede nacional do PSD, dois dias depois de o Tribunal Constitucional ter recusado a denominação “AD – Aliança Democrática – PSD/CDS” para as legislativas.

No final do Conselho de Ministros, que se realizou esta manhã no Mercado do Bolhão, no Porto, os membros do Governo de Luís Montenegro seguiram, a pé, para um almoço na Rua Santa Catarina. Pelo caminho, a comitiva foi cercada por populares e distribuiu cumprimentos.

À Lusa, depois de ter sido questionado sobre o envio de mensagens a militantes do PSD para estarem presentes no Mercado do Bolhão, como a VISÃO noticiou, fonte do Executivo esclareceu que o Governo informou todos os grupos parlamentares sobre a realização do Conselho de Ministros no Porto e convidou deputados de todos os partidos, como acontece habitualmente nestas deslocações.

Antes, à chegada ao Mercado do Bolhão, onde foi recebido pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, questionado sobre se estava em campanha eleitoral, Luís Montenegro respondeu “não propriamente”, dizendo apenas que estava a cumprimentar as pessoas.

Enquanto percorria o piso inferior do Mercado do Bolhão, Montenegro foi abordado por comerciantes que o incentivaram, com palavras de “muita sorte”, “vamos ganhar”, “sou do PSD”, “vamos mostrar quem somos” ou “felicidades”.

A oposição não tem dúvidas de que o que se passou esta manhã no Porto foi uma ação de campanha. O PS acusou o Governo de estar a “instrumentalizar o Estado” para fazer campanha eleitoral e o PCP fez coro, classificando o episódio como uma “grande operação de propaganda”

Em declarações aos jornalistas, Montenegro recusou ter violado “deveres de neutralidade e de isenção” ao fazer este Conselho de Ministros no Mercado do Bolhão, onde tinha entrado ladeado pelo ministro e hoje anunciado candidato à Câmara Municipal do Porto, Pedro Duarte.

“As pessoas não vão decidir o seu sentido de voto pelo Governo ter vindo aqui hoje ou não. As pessoas vão decidir o seu sentido de voto por aquilo que acham que é melhor para o país daqui para a frente, e nós sujeitamo-nos a essa avaliação com humildade”, garantiu.

Não vamos ser tão taxativos como a jornalista inglesa Cathy Adams do The Times, que começa um dos seus textos recentes mandando os leitores para o Algarve em janeiro, depois de usar muitas palavras para elencar as vantagens de ir de férias nesse mês em que os aeroportos são zonas mortas, as temperaturas estão agradáveis e toda a gente fica contente por nos ver. “Provavelmente poderá usar a piscina exterior sem se sentir como o Wim Hof [guru dos banhos gelados].”

Vamos antes mostrar-lhe como, fora dos meses de verão, o Algarve é só vantagens – se o seu objetivo não for apenas “ver e ser visto”. Na realidade, sem ser em julho e agosto, e escolhendo os lugares certos, não se veem assim tantas pessoas.

Cathy esteve, como nós, a descobrir o novo Viceroy by Ombria, um hotel que mais parece uma nova aldeia, situado na região de Loulé, algures entre o mar e a serra, naquela faixa a que poeticamente se chama Barrocal. A cadeia americana criou, numa área de 153 hectares e a partir de um campo de golfe, uma oferta de 76 quartos e 65 residências, entre Tor e Querença, a meia hora da praia de Vale do Lobo.

Mas o mais interessante é o que fez à volta disso, aproveitando por vezes algumas ruínas que se encontravam no terreno, como uma antiga fábrica de tijolo – os jardins, os pomares, os restaurantes e a ligação à cultura local. “Queremos mostrar o que realmente é genuíno no Algarve”, nota Pedro Coelho, gerente do resort, e também ele algarvio.

A Quinta do Pinheiro, em Luz de Tavira, conseguiu uma mescla equilibrada de rústico com conforto e modernidade nas cinco casas

Aliás, o pessoal é todo da região e quem achar que isso não faz a diferença mudará de opinião quando souber que uma das experiências em que aposta este hotel é a visita a um apicultor, da família de Glória, uma das pessoas que nos recebem na cheirosa receção.

Não vamos até ao campo ver essa produção de mel, nem aprender a fazer pão ou chocolate com os mestres da cozinha, mas descemos até à casinha de pedra destinada às experiências para um workshop de empreita, que resulta de uma parceria com a Casa do Esparto, nascida há oito anos na aldeia de Sarnadas para dar continuidade à arte que entrança os caules desta planta e com isso faz cestos e tapetes.

Elsa Silva, a criadora do projeto, conta que as senhoras que nos anos 1970 do século passado montavam, juntavam e cosiam as peças não recebiam um tostão por isso. “Era pago com loiça, roupa ou sapatos. Isso desmotivou-as, claro, e foram todas trabalhar para o turismo até à reforma”, conta. “Quando me mudei para a aldeia, tomei consciência da História, do património e da importância que esta atividade tinha tido. Encontrei quatro senhoras reformadas, mas cheias de vontade de reabilitar o que faziam em peças mais modernas.”

Uma delas é Manuela Lima, 74 anos, que agora se dedica a ensinar a arte aos turistas, quando a chamam aos hotéis. Por 50 euros, passa com eles três horas a fazer uma peça que depois levam para casa. A associação instalou-se na escola primária da aldeia e lá também pode saber-se tudo sobre a tradição algarvia que aproveita a presença desta planta no Barrocal (apesar de atualmente ela vir quase toda de Espanha).

Água na boca

Poderíamos sair daqui a pé ou de bicicleta, tal como fez a jornalista britânica, para espreitar a paisagem protegida da Fonte da Benémola, com 400 hectares de extensão, até porque esta será a época ideal para lá ir, depois de semanas a fio a chover, já que uma das riquezas da área é a água (além das centenas de espécies identificadas).

Mas desviamos logo para Loulé, porque a cidade pede sempre uma visita, nem que seja um toca-e-foge ao mercado de estilo neoárabe e conteúdo fresco e tradicional. Se calhar a um sábado, ele espraia-se para as ruas adjacentes à custa dos produtores locais que trazem as suas colheitas para sorte de quem lá compra.

Não dá para aproveitar o tanto que Loulé oferece, porque temos a chefe Noélia Jerónimo à nossa espera no seu novo restaurante, na marina de Olhão, e vale bem o carregar de acelerador pela Via do Infante fora, agora que já não se ouve o plin constante da cobrança de portagens.

O caminho faz-se com água na boca, pois já sabemos daquilo que esta cozinheira algarvia é capaz. Embora aqui, no Marina com Noélia, situado no rés do chão do hotel Real Marina, se tenha dado um passo em frente na formalidade e na apresentação dos pratos, servidos em loiça Costa Nova.

O novo Viceroy by Ombria, um hotel que mais parece uma nova aldeia, situado na região de Loulé, organiza workshops de empreita de palma, a arte que entrança os caulesdesta planta e com isso faz cestos e tapetes

Ao som de música portuguesa – quase sempre fado –, começamos por provar tártaro de atum com batata-doce algarvia, carpaccio de gamba da costa com gelado de wasabi e croquetes de pescada de anzol com caril. E nem houve esperas, como aquelas que se costumam formar especialmente em agosto.

Os produtos são fresquíssimos e comprados no imperdível mercado de Olhão, nem que seja só para apreciar a sua construção e a sua localização de frente para a ria.

A refeição prossegue com filetes de peixe-galo e xerém (a palavra mágica que nos transporta diretamente para a felicidade quando andamos pelos Algarves) de amêijoas e maionese de alho negro. “Os pratos são diferentes dos do restaurante de Cabanas, mas os meus sabores estão cá, os produtos têm a mesma qualidade. As pessoas sabem ao que vêm”, nota, antes de entrar na cozinha para trocar impressões com Bruno Sousa, o chefe que trocou o Porto pelo Algarve desde que este restaurante abriu. Hoje é ele quem assume os comandos quando Noélia não está por perto.

“Há lá forma mais bonita de amar do que dar comida às pessoas?”, questiona, enquanto se despede do nosso sorriso de satisfação, só do que precisa para continuar a dedicar-se àquilo de que gosta.

Um pouco de ruralidade

De um ano para o outro, há sempre novidades a sul e nós aqui andamos de nariz no ar para as descobrir. Foi assim que soubemos que o Alfarrobeira Nature estava a receber hóspedes numa casa algarvia de 1930, há quatro gerações na mesma família. Manuela e Paulo Raminhos são os herdeiros que decidiram transformá-la num agroturismo de sete suítes e uma vila, através de uma recuperação com memória. Por exemplo, em vez de as paredes continuarem caiadas, deixam-se agora a descoberto as bonitas abóbadas de vela.

“Queremos implementar atividades ligadas ao cultivo da alfarrobeira”, revela a dona, apontando para o pomar e a zona da futura horta. Também aqui está uma enorme nora, que ainda funciona, mas que serve agora essencialmente de peça de museu agrícola ao ar livre, assim como a bicicleta pasteleira dos anos 1960, usada pelo pai do dono para as deslocações no campo.

A Praia da Falésia, em Albufeira, em 2024, foi eleita a melhor do mundo pelos utilizadores do Tripadvisor, um ranking criado a partirdas avaliações feitas nesta plataforma

Na sala de estar, em que também se toma o pequeno-almoço caseiro (os ovos, por exemplo, saem das galinhas do quintal e há sempre um bolo feito por Manuela), as fotos da família vão contando mais histórias.

Apesar deste ambiente rural, daqui ao centro de Olhão são menos de três quilómetros que até podem ser vencidos em cima de uma bicicleta. Mesmo antes de entrarmos na cidade, e como a Páscoa se aproxima, vamos à fábrica de folares que, avisou Margarida, foram eleitos uma das sete maravilhas de doces de Portugal.

Saber a mar

“A senhora desculpe, mas isto agora está complicado”, diz-nos Anabela, 60 anos, a atual dona da fábrica João Mendes & Rita, que encontramos em modo “linha de montagem”, para dar vazão ao milhar de exemplares que tem de despachar hoje e nos próximos dias.

Para comprar estes famosos folares, qualquer pessoa pode entrar aqui, vencer o piso escorregadio e driblar a azáfama das mulheres à volta das mesas, que vão enchendo os púcaros de metal, tudo a olho e à mão, ora com açúcar, ora com manteiga derretida, para garantir que a calda de caramelo mantém a massa sempre húmida. Depois, metem-se no forno durante uma hora. À medida que estão prontos, são embrulhados em película aderente para chegarem em condições às mesas fartas da Páscoa.

Para eliminar o peso na consciência do nível calórico destes doces tradicionais, nada melhor do que entrar pela cidade adentro e sentir como Olhão ainda é genuíno, quer seja nos edifícios cubistas, quer na gastronomia ou na oferta cultural, especialmente nestes meses de limbo até ao verão.

Chefe João Viegas no novo Mesa Farta, em Tavira, onde tudo é mar,e muito ritmo na fábrica de folares de Olhão, eleitos uma das sete maravilhas de doces de Portugal

Tavira, estendida sobre o rio Gilão, também é sempre um valor seguro, não só pelo seu castelo medieval – esta cidade tem mesmo muito charme. E o restaurante Mesa Farta, ainda a cheirar a novo, vem agora acrescentar mais um ponto às vantagens de se visitar a capital do Sotavento.

O chefe João Viegas, 37 anos, é o responsável por isto. Depois de nove anos ao lado de Leonel Vieira, nomeadamente no estrelado São Gabriel, o algarvio de gema decidiu libertar-se e recuperar esta antiga fábrica onde se trabalhava o ferro, mesmo colada à linha do comboio.

Cá dentro, tudo é mar, desde os peixes na parede aos candeeiros a lembrar redes de pesca, passando pelos pratos que se fazem valer do sabor da cavala, dos carapaus ou das ostras da ria Formosa. “Visualmente, os pratos são modernos, mas as receitas são tradicionais”, avisa o chefe, que optou por não ter menu degustação. O carapau alimado, que está a sair do balcão que separa a cozinha aberta da sala, não tem espinhas, para gáudio de quem vai saboreá-lo.

Aqui há sobretudo pratos para partilhar, por enquanto só ao jantar e a preços simpáticos, se tivermos em conta a qualidade dos produtos que João Viegas traz para o Mesa Farta.

Quem ficar alojado no novo turismo Quinta do Pinheiro, em Luz de Tavira, irá com certeza ouvir falar deste restaurante que promete fazer correr alguma tinta no próximo verão. Agora, é a altura perfeita para o conhecer, antes dos outros.

O luxo dos pormenores

O casal de holandeses – ela foi jornalista até há pouco tempo – que abriu a sua quinta do século XIX ao turismo conseguiu uma mescla equilibrada de rústico com conforto e modernidade nas cinco casas que comportam 13 camas. “Mantivemos as coisas como estavam. Felizmente, os antigos donos eram colecionadores”, conta Monique, enquanto faz uma entusiástica visita guiada pela propriedade, com abacates de um lado e vinha do outro.

Com este aviso, percebemos que a tónica está nos pormenores, nas recordações que deixaram em cada canto. E, quando se passa a porta de madeira de uma das casas (são todas diferentes), vemos que a cozinha está equipada com eletrodomésticos modernos e que não falta nada para aqui fazermos uma refeição, servida em loiça Bordalo Pinheiro.

Depois de pernoitar na Quinta do Pinheiro (em baixo), refeição na Taberna by Lúcia Ribeiro, em Almancil, com sopa da avó,um caldo de pão velho que faz lembraras açordas alentejanas

A receber-nos está uma jarra com lindas rosas, uma garrafa de vinho tinto e dois copos. Antes de nos servirmos, continuamos a perscrutar por este T2 e encontramos mais flores a mimar as toalhas de banho.

Estamos no campo, não há como escapar, embora a ria esteja à simpática distância de um passeio a pé ou de bicicleta. A piscina, que era um antigo tanque, está mesmo a pedir um mergulho, ainda que o tempo não chegue aos trintas, como no verão. Em vez disso, mergulhamos nas mãos de Mishelle Cláudia, a terapeuta que se desloca à quinta para proporcionar um momento de evasão na casa em que normalmente ficam os amigos dos donos. Há outras hipóteses de programas extra e serão sempre adaptados ao perfil dos hóspedes.

Agradecemos antes de abandonar este lugar escondido da confusão algarvia – mas a dois passos dela. Como o chefe Ben van Geelen, baseado em Amesterdão, ainda não está cá para cozinhar para nós e os outros hóspedes da Quinta do Pinheiro, vamos ter com a chefe Lúcia Ribeiro para experimentarmos a sua taberna, em Almancil.

A melhor praia do mundo

A refeição começa logo com um vinho branco Lagoa reserva, da casta Castro, que teve um renascimento recente. No entanto, estamos rodeados de muitos exemplares da cultura vínica nacional, que não servem apenas para acompanhar a refeição, mas também para vender a quem ficar rendido a algum dos vinhos. Aqui nos acusamos – trouxemos na mala algumas garrafas do vinho algarvio, até porque fora da região ele é difícil de encontrar devido ao pequeno número de garrafas.

A decoração respeita aquele estilo desirmanado que permite um prato de cada nação, talheres diferentes e copos que mudam consoante a conveniência da cozinha – feita à custa de enxovais antigos. De resto, o que vem para a mesa é pura comida caseira, com pequenos twists que surpreendem, e vai mudando ao sabor das épocas. Tivemos a sorte de ainda ser tempo da sopa da avó, um caldo de pão velho que faz lembrar as açordas alentejanas.

“As pataniscas andam comigo de restaurante em restaurante e ainda não consegui tirar os rolos de queijo cabra do menu”, conta Lúcia, 46 anos, algarvia, de lenço tradicional amarrado na cabeça, e com um “pé na serra e outro no mar”.   

Vista panorâmica do Viceroyat Ombria, hotel de cinco estrelas entre Tôr e Querença, a meia hora da praia de Vale do Lobo

Quanto aos peixes, abastece-se muito no mercado de Quarteira, mas não sem antes ligar aos pescadores a saber o que mais merece a pena nesse dia. Hoje havia sarrajão, uma espécie desprezada durante anos e que atualmente passou a fazer sentido na lógica das cozinhas sustentáveis e que fica mesmo bem em ceviche.

Não podemos deixar o Algarve sem ver o areal que, em 2024, foi eleito o melhor do mundo pelos utilizadores do Tripadvisor, um ranking criado a partir das avaliações feitas nesta plataforma. Embora este ano tenha caído cinco posições, a Praia da Falésia continua a ser a única representante portuguesa. No site sugere-se uma caminhada “pelo trilho pitoresco no topo das falésias” para contemplar “as vistas incríveis”. Fizemo-lo, num belo dia de sol de fim de inverno, e podemos sublinhar tudo o que foi louvado pelos utilizadores. Com a vantagem de não termos sentido calor e de, lá em baixo, só haver umas quantas cabecinhas a aproveitar o areal.

“É uma alegria visitar Portugal quando a paisagem é verdejante e fresca e as encostas salpicadas de flores silvestres amarelas. Para famílias como a nossa, que adoram o ar livre e preferem evitar multidões, Portugal é um destino perfeito fora de época para descobrir praias tranquilas, passeios panorâmicos e ondas maravilhosas”, escreveu a escritora inglesa Lucy Clarke, no The Guardian, a propósito da sua recente experiência algarvia. Se os ingleses já se encantaram com estas vantagens, que mais faltará para os portugueses se convencerem de que esta é melhor altura para rumar a sul?

Bruno Sousa e Noélia Jerónimo no novo Marina com Noélia, em Olhão, prepararam-nos filetes de peixe-galo e xerém de amêijoas e maionese de alho negro, típicos sabores da ria Formosa

Para não se perder

Queremos que aproveite o Algarve ao máximo sem andar à procura das nossas sugestões

Viceroy at Ombria
R. da Ombria, 9, Tôr > T. 289 078 243 > quarto duplo a partir de €305

Casa do Esparto
Beco da Escola, 3, Sarnadas, Alte > T. 91 487 3515

Marina com Noélia
Av. 5 de Outubro, Olhão > T. 91 330 8129 > seg-dom 12h30-15h, 19h-22h30

Alfarrobeiras Nature
Caminho das Areias 191, Olhão > T. 92 045 9306 > quarto duplo a partir de €90

Folar de Olhão João Mendes & Rita
Estr. Nacional 125, Olhão  > T. 28 970 5421 > seg-sáb 12h30-15h, 09h-19h00

Mesa Farta
R. de Santo Estêvão, Tavira > T. 28 141 6371 > seg-sáb, 19h-22h30

Quinta do Pinheiro
Luz de Tavira > T. 91 600 5441 > T2 a partir de €300

Taberna by Lúcia Ribeiro
Estr. Vale Formoso 221, Almancil > T. 96 856 7373> seg-sáb 12h- 23h

Fora dos meses de verão, o Vila Vita, resort de muitas estrelas com 22 hectares, é quase uma enseada privada

Armação de Pera

Um programa que é um luxo
Vila Vita Parc

Está frio em Lisboa, dizem-nos por telefone, a quase 300 quilómetros de distância. E nós aqui, estendidos ao sol, com um mar deslumbrante pela frente e um pequeno areal exclusivo. Há gente que se aventura água adentro, mesmo que a temperatura do mar ainda não cumpra com os mínimos olímpicos para nos estrearmos nos banhos salgados. A praia que serve o Vila Vita, um resort de muitas estrelas com 22 hectares e vegetação subtropical farta, costuma estar repleta de pessoas no verão, mas agora é quase uma enseada privada, abrigada em falésias ocre que caracterizam esta parte do litoral algarvio. Não há como não sentirmos o privilégio de sermos dos poucos que por aqui estão, a receber os raios quentes do sol de inverno.

Para rematar o programa, e como não está o calor dos meses mais quentes, damos uma vigorante caminhada por um trilho improvisado no cimo da falésia. Atravessamos zonas de pinhal em que o caminho se torna mais complicado, passamos por várias praias pequeninas, escondidas entre rochas, e às vezes descemos até elas para sentirmos de novo a areia nos pés. Cruzamo-nos com alguns estrangeiros, e apostamos que vivem por aqui ou que já conhecem bem a região. Também há cães, que seguem os donos pela trela.

Armação de Pera nem parece a mesma, quando a avistamos aqui de cima, e com a devida distância em relação ao que fizeram desta vila piscatória, estragando-a. Sem as enchentes de verão, até apetece ficar num dos restaurantes que se situam no passadiço, com vista para o mar e onde se come peixe e marisco fresquíssimo, acabado de apanhar neste pedaço de oceano.

Três desses apoios de praia, chamemos-lhes assim, pertencem ao Vila Vita (Arte Náutica, NANA e Praia Dourada) e completam a oferta gastronómica que ultrapassa a dúzia, quando está tudo a funcionar, com destaque para o Ocean, que detém uma Estrela Michelin. Por agora, e porque os clientes não chegam para esgotar os 203 quartos disponíveis, há menos restaurantes por onde escolher. Ainda assim, pudemos almoçar comida tradicional algarvia, num ambiente informal, na esplanada do Adega, o que obrigou a besuntarmo-nos com protetor solar e a pormos um chapéu. Também experimentámos o original brunch de domingo, no Bela Vita, que alia os pedidos à carta com oferta em estações a que se pode ir buscar, vezes sem conta, uma massa com trufa negra, finalizada na carcaça do queijo pecorino, peças de sushi ou um enchido italiano (que por acaso prováramos na véspera, ao jantar, no restaurante Giardino). 

Se já não bastasse andarmos descontraídos neste cá e lá, por entre as construções de arquitetura mourisca do resort, que tem mais de três décadas na mão de uma família alemã que se apaixonou por esta zona de Portugal, ainda temos o spa. É neste edifício que começamos o dia, bem cedo, numa aula de ioga (pena não termos apanhado a de pilates), para depois continuarmos a conhecer todas as terapias inovadoras que constantemente descobrem para usufruto dos hóspedes. Nesta época, o que sobressai são as técnicas não invasivas de rejuvenescimento, proporcionadas pela máquina Icoone, a tecnologia de radiofrequência que melhora a circulação e trata das dores, graças à Indiba, a que se juntam as quatro estações Hypoxi que, com fatos lunares e algum esforço físico, ajudam a perder peso e a tratar de celulite. Já a pensar no verão, pois.

Vila Vita Parc > R. Anneliese Pohl, Alporchinhos, Porches

> T. 282 310 100

Alvor

A ria que dá ostras especiais
Ostra Select

“Não há um ano igual ao outro. A produção depende da quantidade de sol, das temperaturas e das correntes, pois tudo influencia a quantidade de comida disponível”, explica Rui Ferreira, o dono da Ostra Select, que fica mesmo em frente a um pedaço da ria de Alvor onde crescem as suas ostras.

Pode ouvir este tipo de explicação e ainda mais umas quantas sobre o processo que dá origem a estes bivalves especiais, que nem precisam de ir à depuradora dada a pureza das águas em que se desenvolvem – palavra de IPMA – , se vier até ao seu estaminé. Rui, que produz cerca de 200 toneladas por época, vende-as aqui a cinco euros o quilo (a maioria é exportada para outros países).

E, se quiser, ainda pode comprar uma faca especial para as abrir, como manda a ciência, depois de aprender a lição diretamente com o produtor.

Foto: MB

Alcoutim

De uma ponta a outra
Via Algarviana

O tempo mais ameno característico desta altura do ano propicia passeios de bicicleta. E a Via Algarviana tem todas as condições para isso acontecer, no meio da Natureza. Inicia-se em Alcoutim e termina no Cabo de São Vicente, ao largo de Sagres. São 300 quilómetros que atravessam as três serras algarvias (Caldeirão, Monchique e Espinhaço de Cão), o Barrocal e ainda parte do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Esta Grande Rota é muitas vezes percorrida a pé, essencialmente por estrangeiros habituados a caminhadas, mas também é ciclável em mais de 90% da sua extensão. Só em pequenos troços se torna obrigatório transportar a bicicleta à mão ou carregá-la aos ombros.

Normalmente, a Via demora cinco dias a ser percorrida em duas rodas, mas a vantagem deste enorme trilho é poder escolher um ritmo e uma resistência e adaptar o programa ao que quer e consegue fazer.

T. 289 412 959 > viaalgarviana.org

Foto: MB

Cacela Velha

O Sol a pôr-se só para nós
Casa da Igreja

Se as ostras do Alvor são impolutas, as da ria Formosa não lhes ficam atrás e têm muitíssima boa reputação no outro extremo do Algarve. Mas o encanto de uma ida à aldeia de Cacela Velha, longe das multidões dos dias mais quentes, vai muito além deste petisco, que obriga a longas filas ao final das tardes de verão.

Se já desistiu de lá ir nessas condições, porque não tentar nesta altura em que as pessoas estão distraídas? Garantimos que apreciará a beleza simples desta terra como nunca. Aconselhamos que se deixe ficar no adro da igreja, a olhar para a paisagem tranquila lá em baixo – o mar sossegado ao longe e a ria na primeira linha do olhar.

A hora mágica do pôr do sol vive-se aqui com outro encanto. Pode seguir-se o caminho até à água ou ficar cá em cima, a provar as delícias que servem nos restaurantes, sem ter de esperar por um lugar. Há ostras, já se disse, servidas na tosca Casa da Igreja, em mesas e bancos de madeira. Mas também pode comer-se bom arroz de lingueirão na Casa Velha, já melhor sentado no grande restaurante habituado a servir centenas de pessoas por noite. 

Foto: JCC

Carvoeiro

Uma janela para o mar
Sete Vales Suspensos

Há seis anos, este foi eleito o melhor destino de caminhadas da Europa, liderando o top do site European Best Destinations. Desde então, o trilho Sete Vales Suspensos tornou-se famoso e muitos passaram a percorrê-lo (ou parte dele) e a suspirar à medida que as paisagens vão aparecendo no caminho. Agora há pouca gente e o Carvoeiro, esta pequena vila que se encaixa no mar com muita delicadeza e que fica no epicentro do caminho, ganha outro encanto.

Aqui o litoral formou-se por deposição de sedimentos marinhos ao longo de milhões de anos. Encontram-se, por isso, diversas fendas e cavidades (os chamados algares) e o Algar Seco é dos mais emblemáticos. Não deve perder-se uma ida à gruta da Boneca para espreitar por esta “janela” sobre o oceano.

Antes ou depois dos passeios, deve tomar-se um brunch saudável no Earth Shop & Cafe, um poiso muito simpático, gerido pela holandesa Pauline (a viver no Algarve há décadas) e aberto todo o ano. 

Silves

Ir ao princípio da História
Castelo vermelho

Se é daqueles que dizem “há quanto tempo não vou a Silves!”, está na altura de mudar o discurso e meter-se a caminho quando ainda não é época de ir a banhos. Esta cidade algarvia, que em tempos foi a sua capital, tem a capacidade de nos surpreender a cada visita, pois o ambiente que se sente não tem nada a ver com outros pontos mais turísticos da região.

Além da catedral gótica e do castelo vermelho (os árabes usaram grés na sua construção no século XI), em bom estado de recuperação (obra profunda de 1940), passeie-se pelas ruas empedradas do centro e aproveite-se para descansar numa das muitas esplanadas em que se pode provar o melhor da gastronomia algarvia e sentir os vestígios árabes que se descobrem a cada esquina. E não dá para ignorar o pórtico manuelino da Igreja da Misericórdia, pois parece que foi aqui posto de propósito para que o fotografemos vezes sem conta. 

Sagres

Olha a onda!
Praia do Zavial

Sagres é daqueles sítios em que não se pode planear uma ida à praia – há alta probabilidade de vendaval e frio. Portanto, é preferível ter sempre uma alternativa quando se visita este inesquecível final do mundo. E o surf ganha cada vez mais adeptos por estas bandas, mas não praticantes de primeira viagem, que aqui o mar pia mais fino. No entanto, para quem ainda é novato, sugere-se uma ida à praia do Zavial, pois aqui as ondas não ultrapassam o metro e meio e existe todo o tipo de infraestruturas para o empurrar no novo desporto.

Foto: MB

Faro

Conquilhas à beira-mar
Ilhas da ria Formosa

Esta ria que nos ampara o mar consegue arrebatar os corações de quem vai ao Sotavento algarvio. Sem gente por perto, sentimos que ela nos pertence em exclusivo. Saindo do Vila Adentro de Faro, peguemos num barco (alugado, de carreira ou de um amigo) e vaguemos ria abaixo, ria acima, parando obrigatoriamente nas ilhas que costumam abrigar muitos (demasiados?) veraneantes e que por estes dias estão quase vazias de pessoas. Em calhando numa maré baixa, até pode dar para se apanhar conquilhas escarafunchando na areia fina da beira de água – um prazer relaxante, que ainda por cima tem o bónus de acabar à mesa, com muito alho e coentros.

Foto: JCC

Lagoa

Almoço na vinha
Morgado do Quintão

Os vinhos do Algarve, até há pouco tempo quase inexistentes numa garrafeira de qualidade, têm vindo a transformar-se em boas referências, embora ainda não sejam do conhecimento generalizado. Para acabar com esse preconceito, e a título de exemplo, deixa-se aqui a sugestão de uma visita à produção biológica da quinta do Morgado do Quintão. Existem vários programas de enoturismo, como o almoço debaixo da árvore com mais de dois mil anos e vista para as vinhas velhas de Negramole, a casta autóctone em estado de reabilitação. Seja ao ar livre ou na adega, o menu será simples e far-se-á acompanhar pela prova de três dos vinhos da propriedade. 

Lagoa > T. 96 520 2529

Foto: Gonçalo Santos

Quarteira

Peixe do bom
Mercado

Quase parece impossível que num artigo de revista sobre o Algarve se fale desta cidade, dada a construção desenfreada e a confusão que se instala por aqui na altura do verão. Mas fazemo-lo porque queremos que vá ao mercado do peixe – lá, os exemplares encontrados serão frescos, variados e pescados por perto. Embora funcione agora em horário ligeiramente mais reduzido (8h-14h), é a altura ideal para esta experiência, pois evitará as filas diárias típicas dos meses estivais.

Palavras-chave:

Ocupámos os dois últimos lugares. A seguir a nós, na porta do Botequim da Mouraria, Domingos Canelas pendurou a tabuleta com a inscrição “completo”. Este balcão é uma instituição de Évora, mas com escassos nove lugares, característica que o torna único e tão requisitado, a juntar à amabilidade do dono e à mão certeira da sua mulher, Florbela, na cozinha.

Com porta aberta há 30 anos, bem perto da Rua de Aviz, no centro histórico classificado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, o Botequim da Mouraria passou a servir apenas almoços, de segunda a sexta, simplificando a ementa, depois da pandemia. Saíram os pratos do dia, ficando receitas seguras, como o bife de vitela do lombo (€22,50), naco alto, servido com uma boa salada e gulosas batatas fritas. As entradas, por si, também compõem bem a refeição: carapaus de escabeche (€4,90), ovos com espargos verdes bravos (€11,50), cogumelos assados com azeite e sal (€9,80), queijo assado com orégãos (€8).

Homenagem ao tradicional receituário alentejano em mesas novas, como n’A Cozinha do Paço (em cima), o novo fine dining da Adega Fita Preta, e no Forno da Telha, ambas em Évora

Tal como Domingos, 63 anos, e Florbela Canelas, 56, são ilustres figuras de Évora, um dia também André Panoias, 29 anos, será reconhecido como distinto artesão que reavivou a arte pastoril. O Mal Barbado, assim se chama o seu projeto, tem vindo a recuperar objetos de madeira bordados, sobretudo as colheres, em que o entalhe é de baixo-relevo. “A inspiração é tradicional, mas não tem de ser tudo rústico”, esclarece André, por enquanto sem atelier aberto ao público. Com mestrado em Design de Produto e Serviços, a este professor universitário interessa-lhe a relação entre artesanato e design, e as colheres “são o pretexto para contar a história da arte pastoril, uma tradição em nada mercantil e bastante democrática”.

Na decoração das colheres dos namorados, por exemplo, substitutas do anel de noivado para pastores e gentes do campo, sobressaem os padrões geométricos. Quem encomendar, saiba que uma colher simples demora entre quatro e cinco horas a fazer (€40 a €50), uma mais trabalhada ocupa três ou quatro dias (acima de €80). A colher-provadeira, usada quando a tuberculose era incurável, comprova o lado utilitário e funcional da arte pastoril.

Quem quiser encontrar o Mal Barbado, além de no Instagram, é vê-lo ali para os lados da Barragem do Divor e da Igrejinha, na zona de Valverde, com serra e eucaliptos, onde faz uma fogueira, leva a sua cafeteira e, com a navalha, descasca a madeira de preferência verde, melhor para trabalhar, de zambujeiro (oliveira-brava), menos porosa, mais densa. Uma verdadeira terapia inspiradora.

Viagem no tempo

Pela Adega Fita Preta, no Paço do Morgado de Oliveira, a 15 minutos de carro de Évora, passam dez mil visitantes todos os anos, entre portugueses e estrangeiros interessados em conhecer o enoturismo da região. O nome de António Maçanita, 45 anos, produtor de vinhos e enólogo, está agora também ligado à restauração alentejana, não tivesse ele planeado A Cozinha do Paço, o novo fine dining da adega. O objetivo é honrar o receituário alentejano e para isso convocou Afonso Dantas, 25 anos, chefe madeirense cheio de garra que tem o apoio do chefe Manuel Maldonado (100 Maneiras). Com cerca de 30 lugares disponíveis, sempre com reserva, aqui as refeições requerem disponibilidade para se estar, saborear, apreciar e criar novas lembranças.

Os sabores são tradicionais, as técnicas são as melhores para os fazer sobressair nos quatro menus de degustação. A apresentação faz, claro, parte da performance. Pão, vinho, azeite, migas, toucinho, espargos, borrego, peixe do rio, laranja e mel não vão faltar. Na primavera, os menus pensados para serem exclusivos – com acesso à biblioteca do produtor, ou seja, a vinhos que já não se vendem em loja – terão ainda mais produtos da horta, como as ervilhas e as favas que o senhor António gosta de plantar.

O Castelo do Alandroal impõe-se no centro da Cidade do Vinho 2025, título partilhado com Borba, Estremoz, Redondo e Vila Viçosa, no território da serra d’Ossa

Caminhar por Évora fez parte do nosso passeio, sem multidões nem excursões, com acesso a arte a céu aberto. O Templo Romano de Évora, por todos conhecido como Templo de Diana, apesar de não existirem provas históricas da sua ligação à deusa romana da caça e do luar, mantém-se acessível no espaço público. Basta admirar e imaginar a sua edificação por volta do século I d.C., com mármore extraído nas proximidades de Estremoz.

Em 2017, uma requalificação repôs mais de 200 elementos de mármore que se tinham soltado das 14 colunas de estilo coríntio e de outras partes do monumento. Nas imediações, vale a pena visitar a Catedral Sé de Évora (arquitetura de estilo românico e gótico), a Universidade de Évora, de 1559 (a segunda universidade mais antiga de Portugal), a Capela dos Ossos e o Salão Central Eborense, edifício de 1916, antigo animatógrafo e cineteatro reinaugurado em setembro de 2024, pronto a apresentar peças de teatro, palestras, concertos, exposições e projeção de filmes. Mais um espaço cultural a juntar ao Teatro Municipal Garcia de Resende e ao Auditório Soror Mariana.

Livres como a pónei Matilde

Em maio fará um ano desde que João Dias, 51 anos, tomou as rédeas do restaurante 1/4 para as 9 – hora em que parou o relógio de parede desta antiga tasca e destilaria, que em 1977 passou a restaurante e cervejaria. João é outra referência no panorama gastronómico da cidade. Depois de 20 anos como funcionário público, assumiu o comando da Taberna Típica Quarta-Feira, aberta em 1991 pelo seu pai. Aqui, as refeições são uma surpresa do início ao fim, em que podem existir 18 momentos, das entradas às sobremesas. É uma refeição robusta, “não se escolhe, saboreia-se”, avisa João, que tem contado com a chefe Anabela Rochinha, desde 2018, para o crescimento do Quarta-Feira.

No 1/4 para as 9 criou um ambiente mais leve, numa sala luminosa, com 28 lugares. Se antes os clientes iam ali comer açorda de camarão e amêijoas (o prato mantém-se na ementa, €40/duas pessoas), hoje há mais 11 opções para tentar manter a história da casa: carne de porco com amêijoas (€19), sopa de cação (€18), borrego (€22), lúcio-perca com arroz de berbigão (€20), bochechas de javali (€22), entre outros. Aqui, os vinhos, todos servidos a copo (€5 a €30), são venerados, desde logo nas fotografias a preto e branco dos donos das adegas com quem trabalha (Mouchão, Sobroso, Dona Dorinda, Ervideira, Herdade da Barbosa, Monte das Bagas de Ouro, Morais Rocha). Saúde!

João Dias (em cima) é o anfitrião da Taberna Típica Quarta-Feira e do restaurante 1/4 para as 9, no centro de Évora. Na Tapada de Coelheiros, na Igrejinha, depois de um safari na herdade, segue-se uma prova vínica com almoço no Taco, antigo pavilhão de caça convertidoem sala de refeições

No Forno da Telha, inaugurado no final de janeiro, o vinho é também o anfitrião. Na adega à entrada, Cristiano Santos, diretor da casa, apresenta-nos o projeto do grupo hoteleiro AHM – Ace Hospitality Management com consultoria do chefe Miguel Rocha Vieira. Para abrir o apetite, o vinho da talha Branco do Tareco da adega XXVI Talhas e o Monte da Bonança tinto, de vinhas velhas de sequeiro na Azaruja. Antes de irmos para a mesa, molhamos o pão do Vimieiro no azeite da casa (€19,90), um blend de cobrançosa, picual e arbosana, feito no Lagar do Vale, em Serpa, com baixa acidez, aroma frutado e um final de boca ligeiramente picante. O vinho da talha volta a ser servido num original cocktail de autor (€12), feito com gin e uma solução cítrica de poejo e coentro.

Junto à rotunda de Aviz, do outro lado da Nova Porta de Aviz, esta antiga fábrica de tijolo instalada na Quinta do Poço Novo, construída no século XIX pelo general Godinho Caeiro, mantém o pé-direito alto, as suas divisões interiores a delimitarem salas de refeições diferentes. Os almoços de domingo são dedicados ao cozido de grão (€35/pax) ao som de cante alentejano ao vivo. Em maio, passa a abrir todos os dias ao almoço e ao jantar. E, no verão, o restaurante com piscina exterior abrirá o bar a fazer lembrar um beach club.

A terracota, as telhas (a forrar o balcão do bar) e as madeiras, mais o minimalismo das cerâmicas e a essência alentejana nos quadros e fotografias nas paredes, tornam o ambiente acolhedor para se comer iguarias clássicas, como lúcio-perca curado e braseado, migas e caldo de enchidos (€14), coelho assado no forno, em escabeche de cenoura e laranja (€12), pezinhos com kimchi de coentros (€12) e, o nosso preferido, bacalhau com grão, chouriço e estufadinho de línguas e samos (€22). Quando surge o carrinho das sobremesas, não resistimos à rabanada feita com bolo de medronho, mas também havia farófias com creme de espinheiro, mousse de chocolate e bolo de aguardente de medronho. Uma perdição.

Tal como Domingos e Florbela Canelas (em cima), donos do Botequim da Mouraria, são ilustres figuras de Évora, um dia também André Panoias, conhecido por Mal Barbado, será reconhecido como distinto artesão que, através das colheres, conta a história da arte pastoril

Do centro de Évora até Nossa Senhora de Machede distam cerca de 20 quilómetros, um instante até se estar em harmonia com a Natureza no Octant Évora, hotel de quatro estrelas com 56 quartos e 16 villas. A propriedade do hotel são duas herdades de dez hectares cada uma e a Reserva do Perdiganito fica na união das duas. É um trilho circular de dois quilómetros a unir as herdades com a Barragem do Monte Novo em pano de fundo.

Bem descansados e ainda mais bem alimentados – com um pequeno-almoço servido a preceito, incluindo favo de mel, granola caseira, iogurte da casa, smoothies e sumos de fruta, compotas, ovos e fruta fresca –, até chegarmos perto de água, passamos pela horta onde se apanham legumes para o restaurante À Terra, como poejo e outras ervas aromáticas, espinafres, alho, alface, rabanetes… Logo a seguir, três decks com piscina e espreguiçadeiras, cabanas com baloiço e sofás, um miradouro na Torre de Observação e estruturas de madeira e jogos na Terra dos Exploradores.

À solta pelo montado, além da pónei Matilde, há também ovelhas e cabras, e nas visitas aos domingos de manhã, as crianças são chamadas a limpar as boxes dos animais e a alimentá-los. Este é um lugar idílico para se ouvir o silêncio e desfrutar de tranquilidade ao ar livre. Outra novidade do hotel será a abertura, no dia 10 de abril, de um “laboratório gastronómico à boleia do vinho”. A enoteca com vinhos de 170 produtores alentejanos terá 580 referências para vender e para beber em provas, menus de degustação ou jantares vínicos.

Ovos de galinhas felizes

Muito do que hoje se está a fazer no Alentejo a nível de agricultura, de vinhedo e de criação de animais passa por técnicas regenerativas, sem uso de químicos nem de outros auxiliares. É a terra a trabalhar sozinha, a dar o melhor de si.

Num pequeno safari pela Tapada de Coelheiros, perto da Igrejinha, enquanto conduz o jipe, João Raposeira, diretor agrícola e de sustentabilidade, explica como nesta propriedade se tira partido da sazonalidade: além da cultura de vinha em 53 hectares (ha) – com vários terroirs, uns mais perto da água, outros em altitude, gerando “vinhos com maior acidez e frescura, um Alentejo mais fresco, menos compota escura”, complementa Ana Banha, gestora do enoturismo –, há tosquia em maio, seguida de desboia (extração da primeira cortiça), campanha de nozes (20 ha) e de azeitonas (2 ha). São 800 ha contíguos onde pastoreiam 1 200 ovelhas, há uma rede de abrigo de morcegos, dois apiários e um cercão para 80 veados e gamos. “60% de vinha é de sequeiro; é o que nos prepara para as alterações climáticas”, explica o cicerone.

Do pomar de nogueiras, considerado nos anos 1990 o maior da Península Ibérica, nascem frutos secos únicos, de gosto excecional em quatro espécies: as francesas Lara (mais adocicada, delicada) e Franquette (mais acutilante), as norte-americanas Pedro (mais adstringente, quase picante) e Chandler (mais consensual). São as primeiras a ser degustadas no almoço no Taco, antigo pavilhão de caça, a 360 metros de altitude, com uma panorâmica arrebatadora, principalmente ao pôr do sol, agora convertido em sala de refeições e provas.

No Octant Évora Hotel, a Reservado Perdiganito é um trilho circular de dois quilómetros a unir as duas herdades com a Barragem do Monte Novo em pano de fundo

Lá dentro cabem 20 pessoas sentadas, no máximo. “O almoço é sempre complementar ao vinho e à prova”, sublinha Ana Banha. Fizemos a prova do rosé nova colheita 2024, com Syrah e Touriga Nacional, a remeter para morangos, do branco com Arinto e Roupeiro, muito delicado, com untuosidade, e do tinto Taco 2014, 100% Petit Verdot, a saborear os queijos de ovelha do Vimieiro, da Queijaria Monte da Vinha, de Joana Garcia, enchidos de Estremoz, bochechas de porco preto estufadas em vinho tinto com migas e pastel de toucinho, doce típico de Arraiolos.

De volta à estrada, até ao Alandroal, Cidade do Vinho 2025, título partilhado com Borba, Estremoz, Redondo e Vila Viçosa, no território da Serra d’Ossa. Tocamos à campainha e abre-se o portão da Herdade das Parreiras. Dali da entrada não se vê o Land of Alandroal, mas sabemos que vai surpreender. O carro fica estacionado e o trajeto até à receção deste cinco estrelas faz-se em carrinhos elétricos. Este hotel rural de charme, aberto em maio de 2024, só para adultos, é resultado de um desejo de Lígia Fraga, empresária que reconstruiu este monte com três ruínas com mais de 200 anos, transformando-as em 24 quartos: dez na construção antiga e recuperada, por exemplo, o quarto nº 2 foi uma manjedoura, o nº 9 teve uma cozinha onde agora está o closet, o restaurante e a garrafeira ocupam a antiga vacaria e o estábulo; mais 14 numa construção moderna e recente, com um mural assinado pelo artista urbano Vhils – uma típica paisagem alentejana e um rosto masculino enrugado. Todos os aposentos estrategicamente com paisagens arrebatadoras graças aos declives dos montes e vales envolventes.

Anna de Brito é mentorada Terramay, quinta orgânica de onde saem os ingredientes para os restaurantes Rayae Pão & Pizza, no Alandroal

Antes que a noite caia, seguimos até ao Rosário, localidade vizinha. Cheira a sericaia acabadinha de fazer quando se entra no novo Pão & Pizza. Em novembro, esta antiga padaria com 40 anos e um forno enorme ganhou novos inquilinos e vida nova a servir pizzas fora da caixa: de açorda (pimento, piso de cinco ervas, coentro e ovo, €12), de beterraba e queijo de cabra (€10), de farinheira de castanha e porco preto, chutney de cebola, folhas verdes (€10).

Este é o filho mais novo da Terramay, quinta com 562 hectares nas margens do Alqueva, do casal luso-alemão David e Anna de Brito, mais o sócio suíço Thomas Sterchi, a quem se juntou há um mês Margarida Rego, uma cozinheira criativa e fervorosa adepta de um ecossistema equilibrado que produza alimentos saudáveis, tratando o meio ambiente e os animais com respeito. Um dia na Terramay, onde se criam 200 vacas da raça Mertolenga, 40 cabras, porcos pretos alentejanos e galinhas, pode incluir um passeio a cavalo, uma visita guiada à herdade ou um passeio de barco, com partida do ancoradouro da propriedade, até ao Raya, o restaurante na praia fluvial das Azenhas d’El Rei. Nos 15 hectares de horta, apanham-se vários tipos de alfaces, poejo, folhas de mostarda, ameixas para pickles, couve-romanesca, couve-roxa, rúcula, tudo semeado e colhido de acordo com os ciclos da Natureza. Na Terramay, no Raya ou no Pão & Pizza somos todos felizes, como as suas galinhas.

No Land of Alandroal, hotel rural de charme só para adultos, além dos 24 quarto sem que o moderno se funde com o rústico, salienta-se o mural assinado pelo artista urbano Vhils – uma típica paisagem alentejana e um rosto masculino enrugado

O nosso caderno de viagem

Tome nota dos restaurantes, monumentos, hotéis e adegas por onde andámos

A Cozinha do Paço
Adega Fita Preta, Paço do Morgado de Oliveira, Estrada M527, km 10, Évora > T. 91 588 0095 > seg-sex almoço 12h, 14h, qui-sex jantar 19h  > Menus Clássicos 6 momentos, 5 vinhos €135, Clássicos e Colheitas Antigas 6 momentos, 5 vinhos €180, Aquém e Além–Mar 9 momentos, 7 vinhos de Portugal continental e ilhas €255, O Enxarrama 9 momentos, 7 vinhos €285, todos com água, café e chá

Botequim da Mouraria
R. da Mouraria, 16A, Évora > T. 266 746 775 > seg-sex 12h30-15h

Mal Barbado – André Panoias
T. 96 460 3612 > instagram.com/malbarbado

Catedral Sé de Évora
T. 266 759 330 > seg–dom 9h-17h > €4, €5

Capela dos Ossos
Igreja de São Francisco, Pç. 1.º de Maio, Évora > T. 266 704 521 > seg–dom 9h-17h, até 18h30 no verão > €4, €6

1/4 para as 9
R. de Pedro Simões, 9A, Évora > T. 96 293 1375 > ter-sáb 12h30-15h, 19h30-22h

Taberna Típica Quarta-Feira
R. do Inverno, 16, Évora > T. 266 707 530 >ter-sáb 12h30-15h, 19h30-22h

Salão Central Eborense
R. de Valdevinos, Páteo do Salema

Octant Évora Hotel
Herdade do Perdiganito, Nossa Senhora de Machede, Évora > T. 266 248 530 > quarto duploa partir de €260com pequeno-almoço

Forno da Telha
Estr. Penedo do Ouro 18A, Évora > T. 91 639 8513 > seg-dom 12h30–15h (a partir de maio), 19h-22h

Tapada de Coelheiros
Igrejinha > T. 266 470 000, 92 732 4551 > seg-sex 9h30-17h30 > €130/pax passeiode jipe, almoço e prova de seis referências vínicas, duração 3h

Land of Alandroal
Herdade das Parreiras, Alandroal > T. 266 785 777, 92 405 0059 > quarto duplo a partir €180

Pão & Pizza
R. do Século, 17, Rosário, Alandroal >T. 92 654 3221 > qui-ter 9h-21h, jantares por marcação

Raya
Praia Fluvial das Azenhas d’El Rei >T. 93 391 6725

Terramay
Alandroal > T. 93 256 6672

Almograve

Primeiro balcão para o pôr do sol
Bar da Praia Almograve

Chega a primavera, os dias ficam maiores, todos ficamos a ganhar. Mas quem está no Bar da Praia Almograve tem um bónus, pois é o pôr do sol a ditar, de segunda a domingo, o encerramento da casa. É dos mais belos momentos que se podem escolher, ir a este bar de praia, um primeiro balcão privilegiado sobre o areal, com o mar em pano de fundo, para petiscar, fazer uma refeição ligeira (saladas, sanduíches, hambúrgueres), beber um copo (sumos, sangria, cocktails, vinho, cerveja) e desfrutar da boa onda. Quando as temperaturas estão mais convidativas, o biquíni, os calções e a toalha de praia devem fazer parte da indumentária.

Esta é uma concessão a cargo de José Cardoso, dono da Tasca do Celso na vizinha Vila Nova de Milfontes, uma instituição gastronómica da região com lista de espera e um anfitrião de mão cheia, juntamente com Luís Leote Falcão da Herdade do Touril, turismo rural de referência desde que abriu portas, há quase duas décadas, a dois passos da Zambujeira do Mar.

A praia de Almograve, inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano, pode dividir-se, na verdade, em duas, a de rochas e arribas negras de xisto a sul e a de areia encostada às dunas a norte, junto a este bar de praia e ao parque de estacionamento. No Instagram são divulgadas as datas das festas e dos sunsets com DJ ou com música ao vivo.

A partir desta localização, ficamos a 25 minutos da pequena localidade de São Luís, um microcosmos cultural e gastronómico, em que o restaurante Ar’Terra Bistro é o seu expoente máximo.

O rio Mira, vindo da serra do Caldeirão, atravessa o concelho de Odemira, de sul para norte, algo inédito, indo desaguar em Vila Nova de Milfontes. Por na região haver pouca indústria, o Mira é considerado um dos rios mais limpos da Europa. Este é um Alentejo quente e fresco, graças ao rio de água salgada.

Mértola

Terra islâmica
Mina de São Domingos

O Festival Islâmico de Mértola, com a sua 13.ª edição a decorrer entre os dias 22 e 25 de maio, dá o mote para uma proposta de passeio à vila-museu alentejana, com as suas ruas de casinhas brancas ladeadas pelo correr do rio Guadiana.

Uma boa maneira de apreciar a beleza de Mértola é num passeio de barco, entre Mértola e o Pomarão ou até Alcoutim, já no Algarve. Por aqui, a biodiversidade ainda se mantém intacta apesar do clima semiárido. Pode acontecer ver-se o lince-ibérico e aves, como cegonhas ou águias.

Outra particularidade desta antiga terra de mineiros é o complexo das Minas de São Domingos, encerrado em 1966, mas com visitas guiadas pela Fundação Serrão Martins, constituída pela autarquia e pela empresa La Sabina. Uma beleza crua, feita de ruínas, águas ácidas e terra vermelha. A contrastar, a paisagem da praia fluvial da Mina de São Domingos (ou da Albufeira da Tapada Grande), um pequeno oásis, com margens verdejantes e águas doces, é ideal para se passar um dia à beira de água.

Nisa

Pelo carril e no baloiço
Trilho da Barca D’Amieira

A caminhada começa no Miradouro Transparente do Tejo – Skywalk, junto à Barragem de Fratel, são 3,6 quilómetros fáceis de percorrer. Pelo passadiço de madeira, rapidamente chegamos aos dois baloiços pintados de lilás, para logo depois estremecermos na ponte pedonal suspensa sobre a ribeira de Figueiró. Agora, há mais uma atração para melhorar a aventura. A um quilómetro do miradouro inicial foi instalado um carril com duas pequenas carruagens movidas a pedais. Um ou dois passageiros podem pedalar cerca de 100 metros de trilho, bastam aproximadamente cinco minutos e a volta está feita, sem grande esforço físico. O melhor de tudo, além da paisagem, é ser de utilização gratuita.

Avis

Ambiente familiar
Casa da Moira

Com vista para a Barragem do Maranhão, a Casa da Moira, no centro histórico de Avis, junto da muralha medieval, conta com 11 quartos divididos por dois edifícios nobres – um do século XVII, outro do século XIX. As suítes são espaçosas e confortáveis (há, inclusive, uma suíte duplex), com zonas de estar e tetos trabalhados. Os hóspedes têm à disposição as áreas comuns das duas casas: terraços com sofás confortáveis, salas de estar aconchegantes, algumas com lareira, cantos de leitura e um salão de jogos. Uma sugestão para dar um passeio? O Centro Interpretativo da Ordem de Avis, no antigo Convento de São Bento de Avis, traça a história da ordem militar e destaca a importância da vila alentejana através dos séculos.

Lg. Dr. Sérgio de Castro, 1, Avis > T. 242 412 059 > a partir €165

Montemor-o-Novo

A fazer uma aldeia
Gandum Village

Criar uma aldeia com um hotel rural é a principal missão do casal luso-suíço João Almeida e Martina Wiedemar ao abrir as Casas do Monte do Gandum Village. Nesta propriedade com 14 hectares há espaços de trabalho, de produção, onde comer, para dormir e de lazer. Na área protegida do Sítio do Monfurado, o novo boutique hotel tem nos Quartos da Terra, os que ficam no edifício do claustro, o melhor exemplo da preocupação com o meio ambiente. Foram construídos em taipa, fazendo com que humidade e temperatura estejam equilibradas, e o design combina na perfeição com o rústico.

Além das bicicletas de montanha disponíveis, bem como as mesas de pingue-pongue e de matraquilhos, as piscinas com espreguiçadeiras e camas de rede são perfeitas para os dias abafados.

No meio desta agrofloresta, o restaurante Provenance, aberto a todas as pessoas, entra na corrente de valorização da origem dos ingredientes, mais locais, mais sazonais e muito frescos, aliando à tradição alentejana a cúmplice dieta mediterrânica.

R. de São Domingos, Estrada Municipal 537, Reguengo de São Mateus, Montemor-o-Novo > T. 266 079 000, 91 557 2888

Alcácer do Sal

Usar devagarinho
Alàpega

O conceito de slow living é a base desta herdade familiar transformada num alojamento, à beira da aldeia de Santa Susana, bem perto da Comporta. Sete anos de obras e abriu em 2024 o antigo curral onde se guardavam animais, com oito suítes, quatro delas viradas a nascente (as slow morning) e outras quatro a poente (cozy evenings), todas com pátio, deck de madeira e duas cadeiras. Além da cozinha social e do honesty bar, a piscina circular fará as delícias dos hóspedes: por ter o chão a imitar a areia, faz lembrar uma praia e algumas espreguiçadeiras estão mesmo dentro de água. Nos 282 hectares da herdade é possível fazer passeios de jipe ou ir até à aldeia a três minutos de distância.

Herdade da Alápega de Cima > instagram.com/_alapega > entre €150 e €240

Monforte

Criar a descansar
Val Farmhouse

Os avós maternos de Marta Menéres viveram na Herdade de Vale Guardez na década de 30 do século XX. As vivências e as memórias das férias ali passadas foram guardadas. Agora, o monte de 95 hectares funciona como um turismo criativo, em que de um lado fica a antiga habitação de família, onde os hóspedes são recebidos, e, do outro, a antiga zona agrícola e de tratamento de gado adaptada para se realizarem workshops e retiros criativos com artistas e artesãos, locais e internacionais. A inspiração é sempre alentejana e os ofícios também.

Os vários ambientes criados dentro e fora da casa típica da região têm a assinatura de Sam Baron, designer de origem francesa, que conseguiu o equilíbrio entre contemporâneo, local/rural e elementos antigos. Estão disponíveis cinco quartos, cozinha equipada, sala de jantar interior, um alpendre, jardim, piscina ao ar livre, com uma intervenção do artista português Mantraste, homenagem às mulheres da apanha da azeitona.

Herdade de Vale Guardez, Monforte > T. 96 382 2476 > Casa em regime de exclusividade (€830), com reserva mínima de seis noites

Aljustrel

Descer 30 metros
Parque Mineiro

Colete vestido e capacete posto, é hora de descer à antiga galeria do Piso 30, totalmente recuperada para se conseguir ver como se trabalhava 30 metros abaixo do solo. A viagem no tempo faz-se do calcolítico, passando pelo Período Romano, projetando também campos de investigação a céu aberto e debaixo da terra. Inaugurado no final de 2023, este novo parque incluiu a requalificação dos bairros mineiros, a construção de ciclovias e a colocação de passadiços na zona do Chapéu de Ferro. Foi também instalado junto ao Malacate Viana, um dos antigos “poços de descida ao fundo da mina”, um centro que conta com espaço museológico e uma área de exposições temporárias.

Centro de Receção e Interpretação do Parque Mineiro de Aljustrel, Vale de Oca, Aljustrel > T. 284 009 131 > ter-dom 9h-12h30, 14h-17h30

Mora

Em nome da memória
Museu do Megalitismo de Mora

Este é um museu interativo que pretende preservar o património megalítico do concelho de Mora e a memória histórico-cultural da sua população. Fica no centro da vila, a curtos quilómetros do Fluviário, e dele faz parte a antiga Estação de Mora, reabilitada, mais dois edifícios (núcleo museológico e cafetaria). Nos 750 metros quadrados do museu, dividem-se três espaços representativos do quotidiano das populações: a Vida, a Morte e a Contemplação.

R. da Estação, Mora > T. 266 439 074 > ter-dom 10h-12h30, 13h30-17h > €1,50 a €4

Vidigueira

Luxo com calma
The Wine Hotel by Quinta do Paral

Lentamente, o alojamento só abriu no verão do ano passado, mas a história do projeto da Quinta do Paral remonta a 2017, quando o empresário Dieter Morszeck comprou 85 hectares de terreno na Vidigueira, por ele considerada a “Toscana portuguesa”. A proposta do ex-presidente e neto do fundador da marca de malas de luxo Rimowa é descrita como um “luxo com calma”, em que se destacam serviços únicos como o avião privado do hotel, o Pilatus PC-12, com trânsfer aéreo até Beja, mordomo, jantares privados com chefe, observação noturna de estrelas deitados numa cama balinesa escondida no meio das vinhas, passeios equestres e provas de vinho.

Este “retiro vínico idílico”, a operar sob a chancela da rede Leading Hotels of the World, tem 22 alojamentos (de seis tipologias), entre quartos e suítes, um apartamento e uma casa senhorial. O chefe alentejano José Júlio Vintém, natural de Portalegre, tem a seu cargo a consultoria dos três espaços gastronómicos: The Wine Restaurant (cozinha de autor), The Estate Lounge (refeições ligeiras) e The Grape Rooftop (os melhores vinhos), este com vista magnífica sobre as vinhas, em especial no pôr do sol.

Vidigueira > T. 284 441 620, 284 243 762 (restaurante) > quarto a partir de €300

SW Sup
> T. 96 355 1232
> Aula sup €25 /1h, wing foil €140, passeio sup €25/1h, aluguer prancha sup €15/1h

Ferry Maresia do Mira
> T. 96 420 0944 > todos dias 8h30-19h > ida e volta €7, €4 (2-11 anos), passeio 1h €20, €15 (2-11 anos)

A Choupana
Praia do Farol

> T. 283 011 275 > ter-dom 10h-22h

A Fateixa
Lg. do Cais > T. 283 996 415 > qui-ter 11h-22h30

Tasca do Celso
R. dos Aviadores, 34 > T. 283 996 753 > ter-dom 13h-15h30, 19h30-23h30

Bar da Praia do Almograve
Todos os dias, das 11h até ao pôr do sol

O Josué
R. José António Gonçalves, 87 > T. 283 647 119 > qua-seg 12h-23h

Porto das Barcas
> T. 283 997 160 > qua-seg 12h30-15h, 18h-23h

Manjedoura
Cerca do Arneirão, R. António Mantas > T. 96 520 4477 > qui-ter 12h30-24h

Ar’Terra Bistro
São Luís > 96 758 7167, 96 866 0935 > sex-ter 17h-24h

Charm-In-Center
R. António Mantas, 29 > T.  96 874 6979 > duplo de €100 a €150/noite

Mute
R. dos Carris, 9 > T. 283 105 018 > beliche €22 a €50, duplo €85 a €179

Casa do Lado
Beco da Escola, 30A > T. 91 996 8116 > a partir €70

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