Os projetores estão na moda – algo que se nota pelo número de novos modelos que têm sido lançados. E é fácil perceber porquê: estão a melhorar muito na qualidade de imagem e prometem tamanhos de ecrã gigantes quando comparados com os televisores. Além disso, são práticos – ocupam menos espaço e até podem ser transportados com maior facilidade. Decidimos transformar o nosso teste num FAQ (perguntas e respostas), para que perceba o ‘fenómeno’ e também este modelo específico, o Samsung The Premiere 9.

O que é o The Premiere?

É a linha de projetores premium da Samsung. Mas não daqueles antigos como usávamos na escola. É uma versão muito mais moderna, muito melhor em todos os sentidos. A ideia, no entanto, é a mesma: um pequeno aparelho que projeta uma imagem de grande tamanho numa superfície plana.

Moderno em que sentido?

A tecnologia de imagem dos projetores melhorou substancialmente. No caso deste modelo da Samsung é utilizada a tecnologia laser (que por si só já é sinónimo de maior definição de imagem), mas a triplicar: existe um laser para cada cor primária (vermelho, azul, verde). A tecnologia laser além de garantir uma maior nitidez visual, neste caso de laser triplo, garante também uma melhor reprodução de cores e níveis de luminosidade superiores. 

E quão grande é o projetor?

Vamos dizer… grandito. Não é gigante, mas não é pequeno. Vai seguramente precisar de alguma força de braços para conseguir transportar em segurança o Samsung The Premiere 9 de um lado para o outro (pesa 11 kg). Mas este acaba por ser um ponto positivo – é mais fácil transportar este projetor do que um televisor. Ou seja, pode montar facilmente um cinema em qualquer divisão da casa desde que tenha parede suficiente para isso.

Samsung The Premiere 9

Como assim parede suficiente?

Apesar de este ser um projetor de ultra curta projeção (basicamente, basta estar a 11 centímetros da parede para criar uma projeção gigante), este modelo da Samsung foi criado especificamente para grandes projeções. O intervalo de projeção é entre as 100 polegadas e as 130 polegadas (entre 2,5 metros e 3,3 metros de diagonal). É um modelo topo de gama, criado para proporcionar, de facto, uma experiência próxima ao do cinema (e aí o tamanho importa). No entanto, caso queira a qualidade de imagem, mas não um tamanho tããão grande, é possível ajustar em percentagem o tamanho do ecrã (por exemplo, definir para 100 polegadas, mas depois ‘encolher’ em 20% o tamanho, para ficar com 80 polegadas).

Uau, um ecrã de 130 polegadas…

Exato! E a experiência é mesmo de encher o olho. E aqui podemos entrar mais em detalhe sobre a questão da qualidade de imagem. Há dois claros destaques neste Samsung The Premiere 9: as cores e o brilho. A saturação das cores, para aquilo que é habitual nos projetores, é muito boa. Conseguimos imagens muito vivas, o que tende a tornar alguns conteúdos (como desenhos animados, filmes de ficção científica e videojogos) mais apelativos. E se o conteúdo tiver um alto contraste dinâmico (HDR), melhor. E não exageramos quando dizemos que a experiência está de facto próxima daquela que conseguimos num cinema. É que o brilho, tipicamente um fator que deixa a desejar, aqui existe em quantidades abundantes. Mas o brilho garante mais – garante também uma melhor gradação das cores, e, no contexto dos projetores, melhor gradação dos tons escuros, ajudando a dar mais definição e textura às imagens. O único senão é que elementos demasiado brilhantes podem parecer, por vezes, sobreexpostos.

E qual a resolução?

A resolução deste The Premiere 9 é muito boa. A projeção final em Ultra HD garante definição a todos os conteúdos, mas é a mistura entre resolução e projeção a laser (que dá um recorte mais aprimorado aos elementos) que torna tudo mais apelativo. Isto para dizer que apesar do tamanho grande da projeção (tipicamente, o aumento de tamanho ‘dilui’ a nitidez), nunca sentimos que há uma perda significativa da qualidade de imagem. Além da resolução, outro elemento que nos encheu o olho foi a excelente fluidez de imagem. Apesar de não suportar taxas de atualização acima dos 60 Hz, vimos uma fluidez visual que está ao nível do que encontramos em televisores.

Como funciona o ajuste da imagem?

Uma questão muito importante. Não existe um sistema automático de correção do posicionamento da imagem. O que nos parece impensável neste nível de preço (até projetores mais baratos incluem um sistema de ajuste automático). As opções para o ajuste da imagem são mexer fisicamente o projetor até ao ponto certo, sendo possível fazer ajustes extra graças a dois suportes de rosca que existem na base do equipamento. Já do lado do software, existe uma opção chamada Keystone, que nos permite, de forma mais precisa, ajustar a posição da projeção às nossas necessidades. Mas qualquer pequeno toque que o projetor sofra (como durante a limpeza do pó ou um gato aventureiro que tenha lá por casa) vai obrigar a outro processo de ajuste manual e que demora sempre alguns minutos.

É o único problema?

Já lhe dissemos que este projetor cria um ecrã de 130 polegadas em sua casa? Se nem este fator o faz esquecer os pontos fracos associados a esta tecnologia, enumerá-mo-los na mesma. Um elemento no qual este Samsung The Premiere 9 não convence tanto é nos contrastes, com as cores mais escuras a apresentarem uma tonalidade acinzentada. E só conseguirá espremer o melhor da qualidade de imagem deste monitor num ambiente devidamente escurecido. Experimentámos, por exemplo, usar o projetor durante o dia, numa sala sem estores, e a imagem fica ‘deslavada’, com cores muito pálidas. Portanto, há condicionantes para conseguir a melhor qualidade de imagem.

Pode substituir um televisor?

A resposta é um claro não, exceto se apenas ligar o televisor em casa, no escuro, para ver conteúdos específicos. Aliás, se as tecnologias de projeção fossem tão boas quanto os televisores em diferentes contextos de utilização, suspeitamos que essa seria a escolha preferencial dos utilizadores, pela versatilidade de utilização e pelo tamanho extra que garantem.

Há algo mais que deva saber?

Sim. Um dos grandes pontos positivos deste Samsung The Premiere 9 é a integração de um sistema de som. É por isso um cinema ‘tudo-em-um’. E garantimos que a experiência sonora não sendo equivalente à de sistemas dedicados (como um home cinema), surpreendeu muito positivamente. Dá-nos volume, dá-nos alguma capacidade de reprodução de graves, essencial para os impactos fortes dos efeitos sonoros dos filmes, e, talvez mais importante, dá-nos amplitude sonora. O som é projetado de forma a envolver-nos, o que contribui de forma positiva para a experiência cinematográfica.

Samsung The Premiere 9

E como posso ver filmes neste projetor?

É literalmente à escolha do freguês. O projetor tem um sistema operativo próprio (Tizen OS), através do qual temos acesso às principais aplicações de streaming de vídeo e de música: Netflix, Amazon Prime, Max, Disney+, RTP Play, YouTube, Spotify… Além disso, existem três ligações HDMI na traseira do projetor, que permitem ligar leitores multimédia, consolas de videojogos ou até mesmo um computador. Aliás, sentimos que é na parte do software que a Samsung puxa dos galões e se destaca da concorrência. É possível controlar outros equipamentos ligados à internet através da plataforma Smart Things, há opções próprias para a ligações a computadores Windows e Mac, e até uma outra para ligar facilmente smartphones Samsung ao equipamento.

Até dá vontade de comprar um!

Ainda para mais sabendo que há outros elementos bem feitos. O comando, pequeno, prático e com carregamento solar (ou por USB), só peca por ser branco (dispositivos que andam muito pelas mãos não deviam ser brancos…). Há um assistente digital, o Bixby, disponível para fazer pesquisas por voz (ainda que só fale em português do Brasil e que não seja tão completo nas funcionalidades como o Assistente Google). Permite-nos ter dois conteúdos a serem projetados em simultâneo (ideal para as grandes competições desportivas). Tem uma galeria recheada de imagens e ambientes dinâmicos que pode usar para ‘embelezar’ a casa quando não está a ver filmes ou séries. E promete uma vida útil de 20 mil horas (o que a uma média de seis horas de reprodução por semana, equivale a sensivelmente 60 anos de utilização). Mas…

Mas…?

O preço. Este foi o projetor que nos deu, até ao momento, a melhor experiência cinematográfica chave na mão, entre qualidade de imagem, tamanho de imagem e qualidade sonora. Mas o preço além de só estar ao alcance de alguns consumidores, não é totalmente justificado. Já falamos da ausência do sistema de ajuste automático de imagem, mas também podemos referir a qualidade de construção desinspirada para este valor (que tal apostar em materiais como tecido, metal ou até mesmo madeira?). Em cima disto, testámos recentemente duas propostas da Hisense (com destaque para o PX3 Pro), cuja qualidade de imagem é também muito convincente e custa quase três vezes menos. Portanto, este Samsung The Premiere 9 acaba sempre por ser penalizado pela relação qualidade/preço mais fraca relativamente a outros rivais.

Tome Nota
Samsung The Premiere LPU9 | €7999
samsung.com/pt

Imagem Muito Bom
Som Muito Bom
Conectividade Muito bom
Software Excelente

Características Características Tamanho projeção: 100 – 130 polegadas • Resolução: 3840×2160 • HDR10+, HLG, Dolby Vision • Contraste: 1500:1 • Cores: 1,07 mil milhões • Brilho: 3450 lúmen • Vida útil anunciada da fonte de luz: 20.000 horas • Áudio: 2.2.2 canais (40 W), Dolby Atmos, OTS • 3x HDMI 2.0, 1x USB-A, áudio digital • LAN, Wi-Fi, Bluetooth 5.3 • Sistema operativo: TizenOS • 550×141,3×384,1 mm • 11,6 kg

Desempenho: 4,5
Características: 5
Qualidade/preço: 2

Global: 3,8

À medida que mais corpos vão sendo retirados dos escombros, sobe o número de vítimas mortais confirmadas do sismo de sexta-feira. São agora 1700 e 3400 feridos, mas mais de 300 pessoas estão ainda desaparecidas.

O sismo de magnitude 7,7 na escala de Richter foi registado às 06h20 (hora de Lisboa) de sexta-feira e provocou o colapso de vários edifícios e monumentos em Myanmar, antiga Birmânia, no sudeste asiático.

Devido ao abalo, pelo menos 18 pessoas morreram, outras 33 ficaram feridas e 78 estão desaparecidas em Banguecoque, capital da Tailândia, segundo o balanço mais recente das autoridades locais, divulgado no domingo.

O sismo foi também sentido com intensidade em várias cidades do sul da província chinesa de Yunnan, embora até agora os danos registados tenham sido pouco significativos.

No domingo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o sismo em Myanmar no nível mais alto de emergência e lançou um pedido urgente para reunir oito milhões de dólares (cerca de 7,4 milhões de euros) para salvar vidas e prevenir epidemias.

De Emmanuel Macron, presidente da França, a Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, passando pelo primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, e pelo futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, as palavras repetem-se: “Temos de preparar-nos para a guerra”. A ladainha é idêntica, desde os bálticos a Portugal, com o inquilino do Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa, a advertir que o nosso país tem igualmente de reforçar o seu orçamento para a Defesa e a Segurança, em plena sintonia com dois dos seus potenciais sucessores – Gouveia e Melo e Marques Mendes. 
Como sabemos, a União Europeia considera que os habitantes do Velho Continente devem quanto antes preparar-se para qualquer catástrofe e, na passada semana, aconselhou-os a criarem um “kit de sobrevivência com água, comida enlatada, medicamentos, lanterna e um rádio a pilhas que lhes permita sobreviver autonomamente durante 72 horas. Alarmismo excessivo? Vários governos, serviços de informações e estados-maiores alegam que a Rússia de Vladimir Putin pode atacar um qualquer país-membro dos 27 até ao fim da década e que é preciso elaborar planos de prevenção face a um eventual conflito com Moscovo – ou ainda para enfrentar uma nova pandemia ou um cataclismo natural. O Executivo comunitário quer criar, nos próximos meses, um comité de coordenação que possa lidar com todo o tipo de ameaças, embora ninguém esconda que a prioridade é a “nova economia” que prevê o rearmamento da Europa, a duplicação da despesa militar conjunta – neste momento a rondar os 423 mil milhões de euros  – e a drástica redução das importações de material bélico dos EUA, que representa quase 60% do arsenais militares do lado de cá do Atlântico.  
Esta segunda-feira, às 10h, o primeiro-ministro português, Luis Montenegro, e o titular pela pasta da Defesa, Nuno Melo, vão participar na sessão de abertura de uma conferência incompreensivelmente intitulada “ Land Defence Industry Day“, no quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia. Organizado por três organismos do Estado (idD Portugal Defence, AICEP e IAPMEI), o encontro visa “aprofundar a relação entre o Exército, que irá apresentar os seus programas no domínio terrestre, empresas nacionais, que apresentarão as suas capacidades em Veículos Terrestres e em Sistemas não Tripulados, e grandes fabricantes de plataformas militares.” Como já estamos oficiosamente em campanha eleitoral, não é de esperar que os dirigentes máximos da Aliança Democrática digam algo de concreto sobre como pretendem compatibilizar o propalado aumento do orçamento das forças armadas com a manutenção das despesas sociais e do Estado Providência. Era bom que o fizessem.

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Palavras-chave:

Na última década, Portugal aumentou duas vezes e meia o número de pedidos de patentes apresentados junto da Organização Europeia de Patentes (OEP). No ano 2024, destacou-se em várias frentes: a quantidade de candidaturas submetidas foi a maior de sempre, aumentou 4,8% em relação ao ano anterior e superou a média da União Europeia (UE). Além disso, foi o segundo país europeu com maior percentagem de pedidos com assinatura de mulheres inventoras. De acordo com as conclusões do relatório Patent Index 2024, esse valor, de 48%, foi quase o dobro da média registada pela organização.

Apesar de Portugal valer apenas 0,17% no mundo dos pedidos de patentes, estes indicadores são boas razões para que o economista Sandro Mendonça, responsável pelo Observatório de Patentes e Tecnologia da OEP, acredite que “alguma coisa tenha acontecido na economia nacional”. Sublinhando que o número de pedidos subiu de 141 em 2015 para 347 em 2024, argumenta que “o sistema de inovação nacional dá sinais de uma consolidação robusta e sustentada. Compara-se bem com as referências internacionais e está a puxar pela média europeia. Uma prova disso é que o número de pedidos subiu quase 5%, entre 2023 e 2024, enquanto na UE, assim como no resto do mundo, diminuiu”. A nível global, o declínio foi de 0,1%.

Da análise dos mais recentes dados deste índice de patentes, Sandro Mendonça destaca também outro facto positivo. “Quando olhamos para as nossas exportações, são os bens de equipamento – máquinas, ferramentas – que lideram, mas nas candidaturas submetidas por entidades portuguesas são as áreas da alta tecnologia – tecnologias de informação e comunicação e tecnologias biomédicas, seguidas pelos produtos farmacêuticos – que se destacam, alinhadas com a tendência mundial.” Para o economista, “estes dados mostram-nos que a agenda do conhecimento está à frente das exportações, já que as patentes são um indicador da capacidade futura de inovação. Portugal já não é só cortiça, vinho, têxtil e calçado, setores esses que, apesar de tradicionais, são também muito inovadores.”

Grandes no topo

NOS Inovação, Altice Labs e Universidade do Porto são as três entidades que lideram a tabela dos mais inovadores em Portugal, com 22, 11 e 10 candidaturas submetidas à OEP, respetivamente. Face ao ano anterior, a NOS Inovação mantém o primeiro lugar, embora com um menor número de pedidos; a Universidade do Porto desce um lugar e a Altice Labs entra diretamente para a terceira posição. Metade dos dez primeiros requerentes de patentes portugueses são universidades ou centros de investigação, como o INESC Porto, a Universidade de Aveiro, a Universidade do Minho e a Universidade Nova de Lisboa. A região Norte de Portugal foi responsável por mais de metade dos pedidos de patentes junto da organização.

Para Sandro Mendonça, a forte presença na tabela de instituições de investigação e de Ensino Superior “mostra que há um grande compromisso do Estado português em transformar o modelo económico do País e em fazer alguma coisa pela competitividade futura”. Uma ideia subscrita por Pedro Rodrigues, vice-reitor da Universidade do Porto com o pelouro de Investigação e Inovação. “Temos feito um caminho de aproximação às empresas e ao mercado. Cada vez mais, os nossos projetos de investigação são feitos por consórcios alargados, envolvendo empresas, beneficiando de instrumentos e financiamentos para esse fim. Estes números do Patent Index, de alguma forma, ilustram isso”, afirma o docente.

Um dos projetos desenvolvidos de raiz no ecossistema da Universidade do Porto, onde muitas startups começam, e que permitiu que o conhecimento gerado fosse patenteado, é o da BEAT Therapeutics, uma startup de biotecnologia focada em terapias inovadoras para o tratamento dos cancros mais agressivos, como o do pâncreas. “Foi uma ideia que apareceu por volta do ano 2020, beneficiou do apoio da Universidade do Porto, cresceu, passou as fases todas e agora está lançada. É isto que nós procuramos fazer, dando passos consistentes, apoiando as ideias que são boas e que permitem criar valor”, diz ainda o vice-reitor.

Também no mundo das “telco”, a inovação é crucial para que as empresas possam diferenciar-se e competir entre si. “Precisamos de inovar para proteger o nosso negócio, mas os resultados têm de ser sentidos pelas pessoas para terem impacto no mundo real”, afirma o diretor da NOS Inovação, João Ferreira.

Com uma equipa de 278 pessoas na área da inovação, a empresa é a que mais investe neste campo em Portugal, com os números oficiais a indicarem valores superiores a 80 milhões de euros por ano. Nos últimos dois anos, a NOS Inovação duplicou o número de parcerias com universidades e centros de investigação, uma estratégia que pretende “replicar também com as startups”.

Em 2024, alguns dos pedidos de patentes apresentados pela NOS Inovação foram nos domínios de cibersegurança, conteúdos, fake news, metaverso, acessibilidade, etc. “Temos dado uma atenção especial à voz e à maneira como pode usar sistemas de Inteligência Artificial para detetar, por exemplo, chamadas fraudulentas”, explica João Ferreira.

Sublinhando que “a igualdade de género nas tecnologias é uma preocupação”, João Ferreira adianta que “praticamente todos os pedidos de patentes da NOS Inovação apresentaram mulheres como inventoras”. O critério também está a ser seguido pela Universidade do Porto. Segundo Pedro Rodrigues, “há mais pedidos apresentados por investigadoras mulheres, razão pela qual estamos a pensar em fazer algo específico para ser liderado apenas por mulheres”.

No Patent Index 2024, Portugal e Espanha são os dois países onde as mulheres inventoras mais se destacam ao nível dos pedidos de patentes. Uma realidade que, para Sandro Mendonça, “é reveladora dos estereótipos com que, às vezes, se olha para o Sul da Europa. Podemos estar ainda aquém do ideal, mas há um caminho que foi, e está, a ser feito”.

4 passos para registar uma patente

Uma patente é uma forma de proteger uma invenção, garantindo a preservação das características técnicas de um produto ou de um processo produtivo e a exclusividade do seu rendimento por um período de 20 anos, evitando que terceiros os produzam ou vendam sem permissão

1 – Pesquisar, pesquisar, pesquisar. Uma patente tem mesmo de ser inovadora no mundo inteiro. Nada deve ser divulgado (em feiras, exposições), se não perde-se a novidade – e a patente. Se o inventor precisar de fazer uma apresentação para arranjar financiamento, deve fazer um pedido provisório para se proteger.

2 – Apresentar o pedido e cumprir as formalidades técnicas. A invenção tem de ser muito bem descrita, com textos e desenhos. Pode iniciar-se o processo com uma patente provisória antes do certificado definitivo, que chega a demorar cerca de três anos.

3 – Internacionalizar. Uma patente registada apenas em Portugal tem pouco valor.

4 – Vigiar, para evitar cópias no mercado. O prazo de vida da patente é de 20 anos, garantindo a exclusividade na produção de um produto ou serviço.

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1. On Falling, de Laura Carreira

Esta primeira longa-metragem de Laura Carreira nasceu como uma coprodução luso-britânica, entre a Bro Cinema (de Mário Patrocínio) e a Sixteen Films (produtora sediada em Londres e ligada ao realizador Ken Loach).

Durante praticamente todo o filme, somos espectadores da vida quotidiana de Aurora – numa interpretação segura de Joana Santos, que tem sobre si o peso de carregar todo o filme –, uma emigrante portuguesa na Escócia (tal como Laura Carreira) que trabalha como picker.

Em português a tradução mais certeira é “coletora”, mas não estamos familiarizados com ela porque não é um trabalho que exista em Portugal com a dimensão que vemos em On Falling. Os pickers andam quilómetros todos os dias, entre grandes prateleiras, sozinhos, transportando um carrinho com rodas e um leitor de códigos de barras, em forma de pequeno revólver, que disparam centenas de vezes. O seu trabalho é recolher os mais variados produtos que foram comprados online por alguém que os espera rapidamente em casa.

O “bip” que se ouve cada vez que a maquineta lê com sucesso mais um código de barras é a banda sonora por excelência deste filme que nos prende em rotinas repetidas diariamente. É um daqueles trabalhos que todos querem que sejam transitórios, até encontrarem um emprego melhor. Uma colega de Aurora exulta quando sabe que conseguiu o que sempre desejou: um trabalho qualquer à secretária, “sentada durante todo o dia!”.

A própria Aurora, uma espécie de personagem sem qualidades, com quem é fácil simpatizar, mas que nos é apresentada sem grandes características que a definam e distingam, procura outro trabalho, como cuidadora em serviços sociais. É na entrevista a que vai para conseguir esse emprego que melhor sentimos o assustador vazio que a jovem realizadora portuguesa nos quer mostrar. Aurora não consegue responder facilmente quando lhe perguntam o que mais gosta de fazer. Hesita, fala em “tratar da roupa”, diz, sem convicção, o que é suposto (estar com amigos, ir ao cinema…) e, em desespero de causa, até inventa uma viagem recente às Bahamas.

A ideia de “trabalho” é uma das grandes questões do nosso tempo, depois de há muito termos percebido que o desenvolvimento tecnológico, afinal, não nos permite ter vidas melhores e mais ociosas. Laura, aos 30 anos, sabe que a sua geração não olha para o mundo profissional da mesma forma que a dos seus pais e avós, e é essa convicção que dá força a este filme, tão contemporâneo nas suas inquietações. Temos salvação? P.D.A. De Laura Carreira, com Joana Santos, Inês Vaz, Piotr Sikora > 104 min

2. Misericórdia, de Alain Guiraudie

Com o sucesso inesperado de O Desconhecido do Lago (2013), Alain Guiraudie tornou-se um nome a seguir no cinema europeu, pela forma ousada e falsamente ingénua com que soube criar a sua linguagem. Misericórdia, baseado no romance que o próprio escreveu em 2021, é, de alguma forma, o filme da sua reafirmação.

Jérémie regressa a uma aldeia da Occitânia, não muito longe de Toulouse, para o funeral do seu antigo chefe, com quem aprendeu o ofício de padeiro. Entre segredos, mentiras e confissões, parece que toda a aldeia se apaixona por ele: desde a viúva ao filho do falecido, passando pelo padre e até pelo próprio morto. Alguns apaixonam-se ao ponto de o odiar.

Misericórdia começa por desenhar-se como um drama (homo)sexual amoral, cheio de intrigas e entrelinhas, com uma deriva existencialista. Subitamente, quase se transforma num policial. Uma história de crime, com ou sem castigo, que permite deambulações sobre a culpa, explorando uma das muitas frinchas psicológicas abertas por Dostoievski, mas fazendo-o de uma forma relativamente original, através da personagem do padre, que, mais do que absolver crimes, absolve castigos. Os diálogos com o padre são o ex-líbris de Misericórdia, o momento em que este se torna quase um filme-ensaio.

Contudo, a partir de determinada altura, começamos a perceber que o filme espalha, de forma deliberada, elementos de comédia. Essa revelação é feita de um modo claro com a introdução da dupla de agentes da polícia (que inclui a atriz portuguesa Salomé Lopes), que são, por assim dizer, muito patuscos. O humor vai repetindo-se em diversos detalhes. Esse registo de comédia permite a presença de personagens caricaturais e um contexto insólito, feito de coincidências e repetições. Misericórdia é um filme transgénero, em que começamos com um riso tímido e acabamos a rir à gargalhada. De Alain Guiraudie, com Félix Kysyl, Catherine Frot, Jean-Baptiste Durand > 104 min

3. Diamante Bruto, de Agathe Riedinger

A primeira longa-metragem de Agathe Riedinger abre perspetivas para um novo realismo suburbano francês, com um elevado grau de consistência – estética, narrativa e até moral. Diamante Bruto tem lá tudo. Centra-se numa adolescente inquieta, emancipada mas oprimida pelo seu contexto social e financeiro, que vê nas redes sociais, na possibilidade de se tornar uma influencer e participar num reality show, a única saída de um ambiente que lhe é particularmente hostil. Liane é um vulcão, que se exaspera por cumprir os parâmetros (talvez doentios) de beleza que a sociedade lhe impõe; uma personagem visceral interpretada com grande solidez por Malou Khebizi.

Diamante Bruto é um retrato de um mundo suburbano e jovem, onde se vislumbra uma nova ordem de valores. A forma como está filmado, o ritmo da montagem e a colorização correspondem, de forma absolutamente consistente, à linha narrativa. Um filme que tanto nos agita quanto nos desarma. De Agathe Riedinger, com Malou Khebizi, Idir Azougli e Andréa Bescond > 103 min

Escritora com colaborações nos jornais, nascida em 1988 e formada em Filosofia, Giulia Caminito já tem dois romances anteriores no currículo, em que as famílias ocupavam um lugar de destaque. Mas nenhum tem a ferocidade deste A Água do Lago Nunca é Doce (Lua de Papel, 304 págs., €17,90), romance da dureza extrema dos que vivem à sombra da belíssima monumentalidade de Roma. A jovem italiana escreveu um hino às classes trabalhadoras desfavorecidas cujos sonhos são sempre afogados – ou explorados. A luta por uma casa digna, e pelo direito a sonhar, atravessam estas páginas, despidas da luz onírica de Fellini, do humor saltitante de Totò ou de glamour Mastroianni: a jovem Gaia e a sua mãe, Antonia Colombo, dão o corpo feminino ao manifesto, para acabarem cheias de nódoas negras. Giulia Caminito inspirou-se em geografias, casos e pessoas reais. E entre a ternura e a tragédia, deste romance e desta Itália ninguém sai vivo da mesma forma.

“Eu nunca visitei o Coliseu, a Capela Sistina, o Vaticano, a Villa Borghese, a Piazza del Popolo”, diz Gaia. A Roma de A Água do Lago Nunca é Doce é muito diferente da cidade do postal. Os pobres perderam direito à sua cidade?
Desejei mostrar uma outra parte da cidade, aquela que é normal para nós [italianos]. Existe a Roma monumental, turística, mas há muitos outros bairros e comunidades que aí vivem. Roma é uma cidade difícil de ser narrada, porque existem muitas realidades distintas. E quis colocar esta família em cenários diferentes: na primeira parte do livro, os Colombo vivem numa zona muito periférica, San Basilio, de onde demoram uma hora no trânsito a chegar ao centro da cidade. Mas porque hão de ir até lá? É ruidoso, é caro, está cheio de multidões, e não mostra nenhuma bondade por eles. Atualmente, muitos romanos não estão a desfrutar da sua cidade: é como se os bairros históricos de Roma fossem uma outra cidade, é frustrante. E a grande maioria, que vive com dificuldades económicas, tem de escolher viver em subúrbios como o de Anguillara, para onde se muda depois a família de Gaia.

Mudam-se de uma divisão minúscula, com chão de cimento cheio de baratas e seringas, num “bairro popular de heroinómanos e velhos moribundos”. A casa é a metáfora desta nova realidade? 
Sim. Temos, hoje, um enorme problema de habitação em Roma, mas há imensos edifícios vazios que poderiam ser usados para a habitação social. Porém, estão a construir-se cada vez mais villas e, até nas zonas periféricas mais verdes, nascem condomínios muito cool apenas para quem tem muito dinheiro. É uma realidade complicada para os estudantes, para a classe trabalhadora, para as jovens famílias… As pessoas da minha geração têm imensas dificuldades para arrendar ou comprar casa própria. A menos que herdem uma casa da avó…

Em Lisboa, atribuem-se as culpas aos turistas e aos residentes estrangeiros. Em Roma, a culpa é do turismo ou da luta de classes?
O turismo sempre fez parte de Roma, é uma cidade que nasceu sobrelotada. Claro que, agora, os B&B [alojamentos locais] estão a transformar tudo, há grandes alterações na estrutura social, na maneira como percecionamos o nosso dinheiro, a nossa casa… Vivo no centro da cidade, e muita gente me tem dito: “Sai da tua casa durante o Jubileu e vai para fora de Roma, aluga-a. Vais fazer imenso dinheiro!” Não, um investimento é outra coisa, não é prescindir da minha própria casa. Mas muitos prédios, como aquele onde vivo e que era habitação social durante o fascismo, estão cheios de alojamentos locais. As famílias pobres saíram por causa dos preços. O que vai acontecer-nos? Todos estes bairros vão ficar vazios daqui a alguns anos? Não existe uma comunidade, e isso é assustador. 

A perda de solidariedade social é consequência dessa alteração?
Sim. A dada altura, a família de Gaia deixa San Basilio porque lhe foi atribuída uma casa no distrito financeiro de Roma, muito perto da Villa Borghese, onde encontra zero de solidariedade. Eles chegam e são as “pessoas pobres”, os “perigosos”, que fazem barulho…

É uma vizinha alemã a queixar-se. Foi uma vingança mediterrânica? 
[Risos] Bem, essa história é verdadeira. Eles chegaram lá e uma alemã gritou com toda a gente: “Estas crianças pobres que estragam a água da fonte do jardim!” O facto é que é impossível criar uma comunidade se não se toma conta de toda a gente. Antonia Colombo é pobre e tem uma consciência profunda sobre o que é o espaço público, o que pertence a todos. E, hoje, é difícil imaginar alguém ter esta consciência. 

É comovente “escutar” esta mulher humilde que diz à filha para não estragar os livros da biblioteca ou as flores dos passeios públicos, porque “pertencem a todos”. 
Sim, ela sabe que tem de se cuidar, por exemplo, dos parques infantis para as crianças pequenas tal como cuidamos do nosso próprio jardim. Antonia ensinou-me isto: temos de cuidar daquilo que pertence a todos. A comunidade é um espaço de relações, de proteção, de solidariedade com os outros. E, hoje, é mais importante do que nunca. 

A escolha dos nomes Gaia e Colombo é intencional: Colombo por descobrirmos um mundo escondido, Gaia pelo eco ambiental?…
Gaia foi uma escolha intencional: porque é a Mãe-Terra, e porque, em Itália, significa felicidade, e esta personagem exibe essa contradição: não é solar, tem uma raiva dentro dela. E o romance é sobre a forma como definimos a nossa identidade, e como esta é condicionada pela maneira como os outros nos veem. E eu queria explorar uma personagem feminina violenta, sair do estereótipo do homem violento. Já o apelido Colombo, escolhi-o a pensar num romance novo em que os pombos são importantes [em italiano, pomba diz-se colomba]. 

Lemos que Antonia “não tem religião, abandonou o partido, [tinha] uma tenaz fixação pelas coisas justas”. É a utopia que nos sobra?
Não me sinto representada por forças ou partidos políticos, e essa ausência de representação é também a da minha geração. Para Antonia, a política é uma ilusão, portanto ela decidiu que o melhor é ser ela a cuidar dos seus, a lutar pela sua versão de justiça. Isto é o que, hoje, podemos chamar bom senso. E o bom senso é uma ferramenta muito importante nestes dias difíceis que vivemos em Itália, nos EUA, na Alemanha, na Europa… 

Antonia é uma exceção num mundo em que muitos, incluindo a sua geração, parecem estar a desistir…
Sim, a minha geração é mais passiva por uma série de razões, em Itália, mas não só. E queria abordar essa questão de os adolescentes serem tão apolíticos: Gaia não quer saber do que acontece no mundo. Quando eu era adolescente, também não havia grandes conversas sobre política, economia, temas sociais. Ao contrário da geração dos meus pais, que eram politizados, liam muito, participaram em movimentos sociais. O que é que nos aconteceu? Acredito que Berlusconi desempenhou aí um grande papel, com a sua maneira de pensar sobre política, shows de televisão, média, dinheiro, mulheres… Foram 20 anos deste espetáculo, que influenciaram a formação da maioria dos jovens italianos. 

Itália teve Berlusconi, agora tem Meloni. O que mudou?
Pensei nisso ao ver as publicações nas redes sociais de Trump, aterrorizadoras. E a diferença é que Meloni não tem dinheiro como Berlusconi ou Trump, donos de edifícios, empresas, investimentos. Eles vieram desse mundo e depois decidiram entrar na política. Quando se tem essa quantidade enorme de dinheiro e essa visão [do mundo], é outro nível de perigo político. Giorgia Meloni não vem de uma família rica, as suas origens estão num bairro humilde, e conseguiu chegar aqui através da militância partidária. Ela é perigosa em termos políticos, mas não em termos sociais como Berlusconi. Ele tinha jornais, uma televisão, poder sobre a informação. E Trump é o mesmo perigo. Não precisa do dinheiro dos outros, vê o país e a presidência como um empresário: Trump apenas pensa em quanto dinheiro faz.

A única maneira de resistir é permanecer em comunidade. Não somos controlados por nenhum partido nem à esquerda nem à direita: somos escritores livres e a nossa única lealdade é para com o antifascismo e a nossa consciência

O que responde a quem diz que, nesta crise internacional, Giorgia Meloni não está a ser tão má como receavam?
Bem, é possível… Há um fator importante que é ela ser uma mulher. É claro que Meloni não é uma feminista nem está a fazer boas políticas nesse campo. Mas, pela primeira vez, há uma mulher na posição de primeiro-ministro, e isso é irreversível e um ponto positivo no nosso país, porque Itália é ainda completamente patriarcal. Mas, como disse, a sua personalidade é muito diferente dos governantes que vieram antes, como Berlusconi, que ia para compromissos internacionais, de bandana na cabeça, com vinho e champanhe e mulheres. Quem tem dinheiro não tem limites. Meloni sabe que tem de governar dentro de determinados limites – e mais ainda quando está fora do país. Em Itália, todos os dias há algo terrível feito pelo seu governo. Mas fora do país, ela sabe que tem de se comportar dentro de determinadas regras. 

Meloni mudou diretores estrangeiros de instituições culturais por italianos. Como é que o tecido cultural reage a isto?
Não concordamos com isto. Mas ela e o seu partido estão a fazer algo ainda mais grave: estão a substituir estes profissionais por pessoas leais ao partido. Por exemplo, tivemos muitos problemas com a Feira de Frankfurt em 2024 [Itália foi o convidado de honra], porque houve escritores que não foram convidados para integrar a comitiva [como o autor de Gomorra, Roberto Saviano, feroz crítico de Meloni], autores perseguidos devido às opiniões expressadas em entrevistas e no Instagram. A atmosfera cultural que se vive não é a melhor. Mas a única maneira de resistir a isto é permanecer em comunidade. Expressámos o nosso descontentamento [mais de 40 autores assinaram uma carta aberta denunciando a exclusão de Saviano como censura] e mostrámos que não somos controlados por nenhum partido, nem à esquerda nem à direita: somos escritores livres e a nossa única lealdade é para com o antifascismo, a nossa consciência e as nossas editoras, que foram fundadas no pós-guerra também num espírito antifascista.

Nas notas finais, sublinha os factos reais usados no livro e a importância do femicídio. Porquê?
Toda a gente em Itália está obcecada com a questão do femicídio, mas eu não estou interessada em usar uma primeira pessoa e ser lida como “a minha história”. Gaia não sou eu: eu tomo uma posição sobre o tema, muito importante para mim, através da personagem. Cruzei-me com muitas histórias [de violência, de femicídio] e não as evoco sempre de forma clara no romance… Mas há casos reais descritos de forma direta: é o caso da história terrível da Rádio do Vaticano [em 2017, o Papa Francisco desligou a maior parte das antenas da Rádio Vaticana, acusadas de terem provocado o aumento de tumores malignos e leucemias entre as crianças das populações circundantes]. Ou da água do lago de Bracciano, para onde Gaia vai viver, que foi sugada pela empresa ACEA de Roma… Os romances usam factos reais, mas digerem-nos.

Os corpos, as aspirações e as amizades femininas dominam este romance, como acontece nos livros de Elena Ferrante. Ela é uma referência ou um obstáculo para as novas escritoras italianas?
Elena Ferrante foi verdadeiramente importante para a cultura italiana porque teve uma repercussão mundial e, depois desta explosão, muitos livros nossos foram traduzidos. Não sei se estaria aqui a dar entrevistas se não tivesse havido uma Ferrante. Por outro lado, todas as escritoras italianas são agora comparadas com Ferrante. Perguntam-nos: “O que é que Ferrante lhe ensinou?” E eu respondo: “Não sei. Li Ferrante, mas ela não é uma das minhas referências literárias principais, há muitas outras escritoras italianas do último século por quem sou apaixonada.” Gosto muito dos seus primeiros três livros, mas sou uma leitora, escritora e pessoa diferente. Não me dedico às histórias das mulheres, quero explorar sempre novos temas, sejam estes dragões, homens ou o que for. Mas as expectativas confrontam-me, por vezes, com essa situação: a minha editora grega decidiu não lançar um dos meus livros, disseram-me que era difícil promover uma autora italiana com temas diferentes…

Aqui, a pobreza das classes trabalhadoras parece insuperável: Antonia defende os estudos como forma de a filha vingar no mundo, mas tal não se cumpre. Chegou ao fim o mito do sucesso inevitável?
Sim. Aliás, regressando a Ferrante, Lenu sai do bairro para ter uma vida melhor, mas a família de Lila não lhe permite estudar [no romance A Amiga Genial]. Esta é a narrativa dominante na nossa cultura. Os meus pais foram os primeiros das suas famílias a estudar [Letras] na universidade, e trabalharam nas bibliotecas públicas toda a vida. Isto já não acontece. Podemos estudar tudo o que quisermos, mas provavelmente não encontraremos oportunidades de trabalho, nem será fácil termos casa, família, projetos. Gaia decide estudar Filosofia, porque não?, e no fim não consegue nada: tem de trabalhar para sustentar a família. A vida real de muitos da minha geração é que, depois de estudarem, têm de trabalhar em restaurantes, ou em alojamentos locais a tratar de check-in e checkout… Isto é tão injusto! Ficam fora da conversação cultural, ao contrário daqueles que têm dinheiro.

A raiva de Gaia é a raiva visível na geração de Greta Thunberg pela luta ecológica, ou, no polo oposto, na que adere à extrema-direita?
A raiva de Gaia é egoísta e apolítica: ela quer apenas ter coisas, integrar-se. Gaia não é Greta Thunberg a usar a indignação para um objetivo. E há muitos partidos de extrema-direita a explorar a raiva e a frustração dessas pessoas apolíticas e individualistas para coisas terríveis. Mas há muitos pobres, mulheres, imigrantes, a votarem nestas forças políticas. Porquê?! Talvez porque sintam a sua raiva representada. Há algo a mexer, não sei. Mas eu tentei criar uma personagem que alguém poderia manipular nesse sentido.

Virá outro “terramoto” quando o Papa Francisco desaparecer?
Não sei. Em Itália, quando um Papa desaparece, é um acontecimento importante. Mas o verdadeiro debate dentro do Vaticano relaciona-se com a luta das mulheres: não é possível continuarem na situação em que não podem votar, expressarem-se sobre a instituição, ainda que sejam fundamentais no seu trabalho. A Igreja precisa de mudar se quiser sobreviver. Mas depois de Francisco, vão continuar as reformas ou retroceder? Esta vai ser uma questão basilar para Itália. E fala-se que o próximo Papa pode ser africano, um Papa negro: isto seria fortíssimo, agora que o debate sobre a imigração está descontrolado. Podia até ser só uma imagem simbólica, mas que imagem poderosa!

Palavras-chave:

A Europa enfrenta um dos seus piores momentos. Grave. Perigoso.

Ninguém pensava nisto. Mas dois fatores mudaram tudo. Trump. Putin. Mais ousados. Mais próximos.

Zelensky já percebeu. Querem eleições em Kiev. Já. Para manipular e desinformar. E o reconhecimento da perda dos territórios ocupados.

A guerra continua. Dura. Sem tréguas. Moscovo ataca com tudo. Todos os dias. E da Casa Branca não vem nada de bom.

Os líderes europeus sabem. Sentem. Estão em alerta máximo. São agora a última barreira contra Putin.

A maioria dos europeus ainda não vê. Mas os sinais estão aí. A UE já pede kits de sobrevivência. Para todos. Diz o que devem ter. Porquê? Porque o risco é real. Choque direto. Rússia contra NATO. Europa e Canadá.

A nossa liberdade está em risco. A nossa segurança também. A Ucrânia é a linha da frente. É a linha vermelha. Intransponível.

A Europa arma-se. A correr. Como não se via desde 1945.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Depois de cerca de 500 km de prova, a vitória geral no Oeiras EcoRally Portugal foi para a dupla ítalo-polaca Guido Guerrini e Artur Prusak, uma das fortes candidatas ao título de campeões do mundo no Bridgestone FIA EcoRally CUP. Nesta competição, o resultado é obtido através da conjugação da componente desportiva, em regularidade, com a componente eficiência energética. Ora, Guido Guerrini e Artur Prusak, ao volante de um Kia e-Niro, conseguiram a quinta posição na componente regularidade e a terceira na componente eficiência, conjugação que resultou no primeiro lugar na geral segundo as regras do campeonato internacional da FIA. Os dois restantes lugares no pódio foram para duas duplas portuguesas: Carlos Silva e Sancho Ramalho, em BMW i3, e Pedro Morais e Silvia Coutinho em Hyundai Ionic 5.

Portugueses brilharam

Além de ter sido a terceira prova do Bridgestone FIA EcoRally CUP, o Oeiras EcoRally Portugal também marcou o início do Campeonato de Portugal de Novas Energias – PRIO, assente na competição de regularidade – a eficiência é um troféu atribuído à parte. Nesta competição, o domínio foi para as duplas portuguesas, com uma ‘dobradinha’ da equipa da Kia, com Eduardo Carpinteiro Albino e José Carlos Figueiredo, e Nuno Serrano e Ivo Tavares a conseguirem, respetivamente, a primeira e a segunda posição. A fechar o pódio ficou a dupla francesa Emilien Le Borgne e Romain Montembault ao volante de um Alpine A290 GTS. Referência ainda para a quarta posição conseguida por Carlos Silva e Sancho Ramalho, atuais campeões nacionais da modalidade.

O bom desempenho nacional é evidenciado pelas seis duplas portuguesas no top 10, que contou com 34 equipas inscritas e uma forte presença internacional.

Sancho Ramalho em Carlos Silva, em BMW i3, Guido Guerrini e Artur Prusak em Kia e-Niro, Silvia Coutinho e Pedro Morais em Hyundai Ionic 5. Foto: Bernardo Lúcio

Ao longo do rio

Uma vez mais, as equipas internacionais não foram parcas em elogios à organização e traçado da prova, que apresentou um figurino invulgar em modelo maratona. Isto porque a prova teve início, na sexta-feira à tarde, nas Termas de Monfortinho. Depois de três classificativas na zona junto à fronteira com Espanha, a caravana ‘zero emissões’ voltou ao sítio da partida. E foi de Termas de Monfortinho que as equipas partiram no sábado de manhã, com várias especiais de classificação que aproveitaram a beleza local, com passagens por Vila Velha de Rodão, Mação e Abrantes. Como pudemos verificar, enquanto participantes, houve várias passagens junto do Rio Tejo e pelos vales e montanhas da zona, onde são notórias as consequências positivas das chuvas recentes: lagos e rios com níveis próximos do máximo e vegetação muito verdejante. No sábado a prova acabou em Oeiras, onde decorreu a especial Street Stage na marginal de Oeiras, onde muitos curiosos puderam comprovar o desempenho dos carros 100% elétricos.

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Foto: AIFA

As aventuras da equipa PRIO – Exame Informática – Peugeot

A Exame Informática, volta a participar neste campeonato. Não com objetivos desportivos, mas sim para ajudar a acompanhar, por dentro, a evolução da mobilidade elétrica. Foram dias com vários problemas, incluindo uma forte indisposição do condutor do Peugeot e-3008, que esteve prestes a desistir, e um furo no Peugeot e-208. Ainda assim, o Peugeot e-3008 conseguiu o 11º lugar na geral, o primeiro entre carros não equipados com sondas e sistemas avançados de controlo de distâncias e tempos – para saber mais, veja como funcionam os ralis de regularidade.

Operação improvisada para reparar o pneu furado do Peugeot e-208. Foto: Ricardo Rocha

Mas, como é típico destas provas, os problemas transformaram-se em aventuras para mais tarde recordar. Sobretudo no que diz respeito ao furo que ia desclassificando o Peugeot e-208, resultado de um toque numa pedra escondida no interior de uma curva. Ora, a substituição do pneu em tempo útil, que evitou a desclassificação, só foi possível devido a ajuda de um bom samaritano, Ricardo Rocha, que ajudou João Paulo Martinho e Pedro Brito a remover o pneu furado e levá-lo para substituição numa casa da especialidade em Mação. O nosso muito obrigado ao Ricardo Rocha. Sem a ajuda dele, João Paulo Martinho e Pedro Brito teriam sido desclassificados. E o que se passou com a forte indisposição, resultado de uma paragem digestiva que afetou Sérgio Magno? Ora, as náuseas e indisposição geral só não levaram à desistência porque a navegadora usou uma técnica especial para convencer o piloto a continuar.

Mas o melhor é ver o vídeo abaixo, que transmitimos no Facebook da Exame Informática, onde explicamos estas duas pequenas aventuras.

Um novo abalo sísmico de magnitude 5,1 na escala de Richter voltou a abalar Myanmar ( antiga Birmânia). O tremor de terra é uma réplica do terramoto de magnitude 7,7 que afetou vários países asiáticos na passada sexta-feira e provocou mais de 1 600 mortos e 3 400 feridos.

A réplica teve epicentro a 28 quilómetros a noroeste da cidade de Mandalay, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), e hipocentro a uma profundidade de 10 quilómetros. Não há, para já, registo de vítimas ou danos materiais.

O terramoto de 7,7 sentido na passada sexta-feira já teve várias réplicas. A mais forte, de magnitude 6,7, ocorreu minutos após o primeiro abalo.

A transição para a mobilidade elétrica tem sido uma das grandes preocupações da indústria automóvel nacional, que produz anualmente mais de 330 mil veículos e vende 11 785 milhões de euros de componentes para o exterior.

As perspetivas não são as melhores. A Europa, o nosso principal mercado de veículos e de componentes, atravessa um dos piores períodos da sua História, a perder produção para as novas marcas chinesas. O fabrico de automóveis ainda se mantém elevado e a crescer no nosso país, mas à medida que os elétricos vão tendo maior penetração, temia-se que as principais fábricas nacionais pudessem ficar de fora desta corrida.

Em 2023, o então presidente da Stellantis, Carlos Tavares, anunciou que a fábrica de Mangualde iria começar a produzir veículos elétricos a partir de 2025. Na altura, o anúncio foi encarado com muita satisfação por parte da indústria. Era um primeiro passo para a transição para a mobilidade elétrica.

Sines A CALB, uma das maiores empresas de baterias para automóveis do mundo, vai construir uma megafábrica em Portugal, num investimento total de dois mil milhões de euros

Foi criada a Agenda Mobilizadora GreenAuto, liderada pela Stellantis Mangualde e cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, que visava posicionar a indústria automóvel nacional na cadeia de valor dos veículos de baixas emissões.

Ao todo, estava previsto um investimento de 119 milhões de euros num projeto que envolvia 36 entidades. A unidade fabril foi alvo de uma série de transformações significativas para poder albergar uma nova linha de montagem para a integração das baterias no processo de fabrico e, antecipando o prazo previsto, em outubro de 2024 saíram os primeiros veículos elétricos da fábrica portuguesa da Stellantis – Citroën ë-Berlingo, Peugeot e-Partner, Opel Combo-e e Fiat e-Dobló.

Apesar de ser uma primeira mudança no panorama da indústria automóvel nacional, os carros da Stellantis são veículos muito específicos, mais vocacionados para o mercado empresarial e não para o mercado de massas. Além disso, Mangualde representa menos de um terço dos veículos que são produzidos em solo nacional. Segundo os dados da ACAP, no ano passado, por exemplo, foram fabricados 332 mil veículos em Portugal, dos quais 86 foram provenientes daquela unidade fabril.

Chega o ID.1

Para mudar este panorama, era preciso que a Autoeuropa, que no ano passado produziu 236 mil unidades em Palmela, entrasse na equação.

No passado dia 5 de março, eis que chegou a boa notícia. O Grupo Volkswagen atribuiu à fábrica portuguesa a produção do ID.1, que ainda tem o nome de código ID. Every1. O anúncio foi feito pelo presidente da Volkswagen, Thomas Schäfer, que disse que este veículo iria trazer “a mobilidade elétrica acessível a todos”.

O ID.1 é um veículo citadino, com 3,88 metros de comprimento, 1,81 de largura e 1,49 de altura, que será equipado com um motor de 95 cavalos. Ainda não se sabe qual a capacidade da bateria, mas, segundo as últimas informações, esta terá, no mínimo, capacidade para percorrer 250 a 300 km. Quanto a preços, a ideia da Volkswagen é que este seja o veículo elétrico mais acessível da marca, ou seja, que seja comercializado abaixo dos 20 mil euros. Em princípio, terá apenas quatro lugares, tal como o antigo UP.

“É com um grande entusiasmo que assumimos a produção do ID. EVERY1, um modelo que tornará a mobilidade elétrica mais acessível e sustentável na Europa. Esta conquista representa um marco para a Volkswagen Autoeuropa, assinalando a nossa entrada na era da eletrificação”, afirmou Thomas Hegel Gunther, o diretor-geral da Volkswagen Autoeuropa, agradecendo ainda o apoio do Governo português, que “nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País”.

Mangualde Os primeiros carros 100% elétricos começaram a sair da Stellantis em outubro de 2024

A avaliar pelo protótipo, o conceito do ID.1 está muito próximo dos outros modelos da marca no que diz respeito à tecnologia.

Irá ter um ecrã digital de infoentretenimento na zona central, com Android Auto e Apple CarPlay. Existirão botões físicos abaixo deste ecrã, de acordo com a última decisão da Volkswagen de garantir que cada novo modelo a partir do ID.2 tenha botões físicos para quatro recursos principais: temperatura, ventilador, volume e aviso de perigo.

Ainda não existe uma data concreta para o seu lançamento, mas segundo os planos do grupo, o veículo deverá começar a chegar aos concessionários já em 2027.

Até lá, a Autoeuropa continuará a produzir o T-Roc, o SUV mais vendido na Europa, que deverá ter uma versão híbrida que chegará ao mercado em 2026. Aliás, a fábrica de Palmela foi alvo de um investimento recente de 600 milhões de euros para começar a produzir a nova geração do T-Roc. Isto quer dizer que, pelo menos durante alguns anos, a Autoeuropa poderá acumular a produção de dois dos modelos com maior potencial de vendas da Volkswagen.

“A chegada do ID.1 reforça a importância estratégica da Autoeuropa no Grupo Volkswagen e assinala o início de uma nova fase, na qual a eletrificação desempenhará um papel central”, disse a Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa.

No comunicado, o organismo realça ainda que “este novo produto permite olhar para um futuro em que a confiança e a estabilidade são uma realidade mais próxima, não apenas no presente da fábrica, mas também para as novas gerações de trabalhadores”.

Com a produção destes dois modelos, a unidade de Palmela necessitará de investimento e de muitas transformações ao longo dos próximos dois anos para acomodar as duas linhas de montagem.

Nova oportunidade

A vinda deste novo produto para Autoeuropa abre também uma janela de oportunidade para a indústria nacional de componentes de automóveis. 

Como reconhece o ministro da Economia, Pedro Reis, este modelo “assegura o futuro da unidade de Setúbal, como uma fábrica de nova geração da Volkswagen, e de uma enorme cadeia de valor de fornecedores nacionais, por muitos anos”.

Para o governante, a fábrica de Palmela “vai tornar-se mais eficiente e capaz de competir com fabricantes mundiais, alinhando a empresa, e Portugal, com os objetivos climáticos europeus de neutralidade carbónica, num cenário em que a União Europeia está a limitar a produção de carros a combustão e híbridos”.

Em Portugal já existem várias empresas que produzem componentes para a “nova” indústria de automóveis elétricos, mas, como reconhece Pedro Reis, o ID.1 pode ser o catalisador de atração de mais empresas deste setor para Portugal.

O presidente da AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, José Couto, admitiu, em declarações ao Expresso, que várias empresas instaladas no parque industrial da Autoeuropa, bem como nalgumas zonas do Norte do País, têm vindo a ser sondadas pela Volkswagen para este projeto, que está a ser conduzido a partir da sede em Wolfsburg, na Alemanha.

E admitiu que algumas empresas nacionais possam estar a ser contactadas por outros fornecedores da Volkswagen com fábricas noutros países, para posteriormente produzirem peças que irão integrar os componentes que essas mesmas empresas irão produzir. Isto porque, na indústria automóvel atual, a grande maioria dos blocos já chegam praticamente montados às fábricas. São os fornecedores principais desses blocos que subcontratam outras empresas para lhes fornecerem os componentes.

Mercado As vendas de elétricos continuam a subir na Europa, o principal importador de carros “made in Portugal”

Para José Couto, a produção de um carro elétrico em Palmela é um sinal de que a indústria em Portugal “está a acompanhar o ritmo dos tempos”.

“Só esperamos que o Governo tenha negociado, como contrapartidas, que a Autoeuropa recorra tanto quanto possível a firmas nacionais ou implantadas em Portugal para o fornecimento de componentes”, disse o presidente da AFIA, acrescentando que “se já exportamos para toda a Europa, também gostaríamos de fornecer a Autoeuropa”.

Muitas destas decisões de fornecimento dos componentes para o ID.1 irão ser feitas ao longo deste ano, razão que leva a muita expectativa por parte das empresas fornecedoras. Segundo alguns especialistas, algumas das fábricas nacionais terão de se adaptar às novas exigências, pois muitos dos componentes para este veículo serão completamente diferentes dos usados no T-Roc. E esta adaptação terá de ser rápida, pois se o carro tem de estar pronto em 2027, muitos componentes terão de estar já a ser fabricados para serem testados no final deste ano, princípio de 2026.

Entrar nas baterias

Mas as boas notícias em matéria de evolução da indústria nacional do setor automóvel para a mobilidade elétrica não se ficam por aqui. Há cerca de um mês, os chineses da CALB, um dos maiores produtores do mundo de baterias para veículos elétricos, anunciaram que vão construir uma gigafábrica em Sines, num investimento que rondará os dois mil milhões de euros e terá apoios do Estado da ordem dos 350 milhões de euros, no âmbito do regime europeu de incentivos à reindustrialização e aceleração da inovação.

O projeto criará 1 800 postos de trabalho e deverá começar as operações em 2028. Terá uma capacidade de produção máxima de 15 gigawatts/hora, o equivalente a quase 40 milhões de células para baterias, o que permite criar, anualmente, quase 200 mil baterias para veículos elétricos.

O volume de negócios previsto deverá ascender a 1,6 mil milhões de euros por ano. O processo segue agora todos os trâmites legais, nomeadamente a avaliação do AICEP, para verificar se é elegível para receber apoios públicos e deverá entrar em funcionamento em 2028.

Na cerimónia de apresentação desta fábrica, que ocorreu no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, a administradora do AICEP, Madalena Oliveira e Silva, disse que a contratualização terá de acontecer em 2025, mas os contratos ainda levarão algum tempo a ser assinados “porque temos de estudar e discutir bem tudo o que é elegível e que não é elegível, os apoios, e só aí é que conseguimos ter uma proposta negocial acabada que passe a contratualização”.

A escolha de Portugal, e mais precisamente de Sines, para a implementação deste projeto na Europa deveu-se à localização e às infraestruturas existentes naquele local do País. “Escolhemos Portugal para instalar esta megafábrica europeia devido às suas vantagens estratégicas, ao forte potencial da economia e à mão de obra qualificada”, explicou Liu Jingyu, presidente da CALB.

Produto O T-Roc, produzido em Palmela, vai ter uma versão híbrida a partir de 2026

Para a CALB, Sines oferece uma logística excecional devido ao seu porto de águas profundas, que pode ser operado 24 horas por dia, sete dias por semana, ligado a uma boa rede ferroviária de carga.

“Estas são características ideais para a distribuição dos nossos produtos no mercado europeu. Além disso, a aposta portuguesa no apoio às energias verdes cria um ambiente perfeito para o sucesso da visão de longo prazo da CALB, pois o nosso objetivo é construir uma fábrica de última geração e com zero carbono de emissões”, acrescentou a presidente da CALB.

Antes deste, Portugal já teve outros três projetos para a instalação de uma megafábrica de baterias, mas ou acabaram por desistir, como foi o caso da Nissan, que chegou a lançar a primeira pedra para a sua construção na zona industrial de Cacia, ou escolheram outras paragens, como aconteceu com a Volkswagen e a Stellantis. A do grupo alemão, que envolvia um investimento total de dez mil milhões de euros, acabou em Valência, e a dos franceses, avaliada em 4,1 mil milhões de euros, foi para Saragoça.

A produção de veículos 100% elétricos nas duas maiores fábricas portuguesas e a fábrica de baterias são investimentos promissores para o futuro da indústria automóvel nacional, que nos últimos anos tem sentido uma descida das exportações.

Segundo a AFIA, no ano passado a venda de componentes para os mercados externos atingiu 11 785 milhões de euros, o que representa uma quebra de 4,5% em relação a 2023, que tinha sido o ano recorde de produção desta indústria.

A Europa é o principal destino dos componentes fabricados em Portugal, absorvendo 88,5% das exportações. As vendas para este mercado caíram 5,1% face ao ano anterior. Espanha mantém-se como o principal cliente, com 28,3% das exportações, seguida pela Alemanha, com 23,4%, e França, com 8,4%.

Logo após estes números serem divulgados, José Couto admitiu, em comunicado, que “os dados para o futuro próximo não são animadores. A redução das vendas de veículos no mercado europeu, juntamente com os sinais de queda, informados pelos clientes, que temos vindo a registar deixam antever tempos ainda mais conturbados para o setor automóvel, o que fará com que, provavelmente, as empresas tenham de ajustar a atividade e a capacidade de produção que existe neste momento no nosso País”.

Em relação à produção de automóveis, Portugal encerrou o ano com um total de 332 546, o que representa um aumento de 4,5% face ao ano anterior. Deste total, 97,7% dos veículos produzidos foram vendidos nos mercados externos, a sua grande maioria na Europa, que absorve 87,6% da produção nacional.

Com a produção de veículos elétricos, estes números poderão começar a subir, mantendo a indústria automóvel como um dos principais motores da economia nacional.

O setor automóvel nacional à lupa

Aumentámos o númerode veículos “made in Portugal” em 4,5%, mas as exportações de componentes caíram na mesma percentagem

332 mil
Número total de veículos fabricados em Portugal em 2024, um crescimento de 4,5%em relação ao ano anterior

97,7 por cento
Dos carros produzido sem Portugal são absorvidos pelos mercados externos

87,6 por cento
Dos veículos nacionais são canalizados para a Europa, sendo a Alemanha o principal importador

11 785 milhões
Valor total das exportações nacionais de componentes automóveis em 2024, uma descida de 4,5% face ao ano anterior

64 mil
Número de postos de trabalho diretos criados pela indústriade componentes nacional

88,5 por cento
Das exportações de componentes destinam-se ao mercado europeu, sendo Espanha o principal cliente