Luís Montenegro respondeu ao Bloco de Esquerda pouco antes de ir para a TVI dar uma entrevista, que será a primeira sobre o caso que o envolve. Nas respostas a que a VISÃO teve acesso, o primeiro-ministro confirma que usou uma conta caucionada para comprar um dos apartamentos na Lapa que adquiriu. Montenegro não justifica, contudo, porque fez esta opção.

Segundo o Correio da Manhã, a conta caucionada terá o valor de 200 mil euros (valor que não é referido nas respostas ao BE). A informação agora confirmada pelo próprio primeiro-ministro levanta algumas dúvidas sobre a racionalidade financeira desta operação.

Segundo a informação que consta do site do BCP, o banco onde Montenegro terá tido esta conta, as contas caucionadas servem para dar resposta a “necessidades ocasionais de tesouraria”.

Na verdade, este tipo de produtos financeiros é essencialmente usado por empresas, nomeadamente quando têm de fazer pagamentos a fornecedores antes de receberem dos seus clientes.

Normalmente, o crédito é usado por curtos períodos de tempo. Porquê? Porque os juros são muito altos. No site do BCP, a taxa anual efetiva para a conta corrente caucionada está definida nos 12,183 por cento.

O valor está muito acima das taxas de juro praticadas quando se trata de crédito à habitação, que oscilam entre os 2 e os 4 por cento.

A razão pela qual Luís Montenegro usou uma conta corrente caucionada para pagar o seu apartamento, juntamente com fundos do seu “perímetro patrimonial” declarado e com uma conta de 45 mil euros da sua mulher cuja omissão na declaração de rendimentos justificou com o facto de não ser titular dela (recorde-se que, segundo esclareceu à VISÃO a Entidade da Transparência, Luís Montenegro só poderia não a ter declarado caso  o seu saldo fosse proveniente de uma herança da mulher ou anterior ao casamento de ambos, uma vez que estão casados em comunhão de adquiridos).

Montenegro não revela outros clientes

Nas respostas ao BE, Montenegro também não diz quais são os clientes que citou no debate da moção de censura do Chega.

O primeiro-ministro mantém o entendimento que só os clientes poderão tornar pública a sua relação com Spinumviva.

Montenegro reitera ainda estar convicto de que não foi juridicamente nula a transmissão de quotas para a sua mulher, apesar de estarem casados em comunhão de adquiridos, citando alguns pareceres jurídicos que sustentam a sua tese.

O primeiro-ministro não revela todos os seus clientes, mas assegura que irá apresentar escusa caso tenha de decidir em qualquer assunto relacionado com eles, mesmo que no registo de conflitos de interesses não tenha declarado nada, quando tomou posse.

Em apenas 50 dias, Donald Trump conseguiu o impossível. Nunca ninguém, em nenhuma outra parte do mundo, alcançaria as proezas do presidente dos EUA:

  1. Ameaçou ocupar a Gronelândia e transformar o Canadá no 51.º estado da União.
  2. Impôs e retirou tarifas ao México, ao Canadá e à China, tendo agora a Europa na mira.
  3. Criou um departamento que está a despedir milhares de funcionários federais sob o pretexto de poupanças inglórias nos triliões do défice.
  4. Humilhou o presidente da Ucrânia e, por isso, os ucranianos, além de ter insultado todos os aliados europeus e da NATO.
  5. Avisou que não moverá um único soldado americano caso um membro da NATO seja atacado, fechando assim o guarda-chuva nuclear.
  6. Apresentou um plano de paz para a Ucrânia que passa pelo assalto aos minerais estratégicos, sem dar garantias de segurança.
  7. Quer retirar dois milhões de palestinianos da Faixa de Gaza para construir condomínios de luxo, casinos, hotéis e marinas.
  8. Admitiu a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, o que está a desestabilizar os mercados mundiais.
  9. Perdeu toda a credibilidade pessoal e colocou os Estados Unidos numa posição de completa instabilidade interna e externa.
  10. Colocou Washington em estado de revolta e medo com as suas atitudes imprevisíveis, megalómanas e infantis.
  11. Conseguiu que ninguém o queira visitar nos próximos tempos, muito menos estar na Sala Oval com o seu vice-presidente.

Os aliados estão em estado de choque, a ordem mundial está de pernas para o ar e a economia global à beira de um colapso. Não há quem o destitua? Não há quem exija uma perícia para avaliar o seu estado de lucidez? Em quatro anos menos 50 dias, o senhor Trump poderá destruir o seu país, todo o continente americano, a Europa e o Médio Oriente.

Isto estava escrito no Livro do Apocalipse?

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Numa semana decisiva para o País, o Conselho de Ministros reuniu-se esta manhã na residência oficial do primeiro-ministro, no Palácio de São Bento. Em resposta aos jornalistas, já durante a tarde, António Leitão Amaro falou sobre a atual crise política sublinhando que “os portugueses não querem eleições”. O Ministro da Presidência referiu que o Partido Socialista e o Chega “podem e vão determinar se há eleições, demissão do Governo ou não. [Vão determinar] se há verdadeira crise política”.

Leitão Amaro respondeu ainda ao apelo de Pedro Nuno Santos para o Governo retirar a moção de confiança sublinhando que “se o PS não quer eleições só tem de, amanhã, viabilizar a moção de confiança. É tão simples quanto isso”.

O Ministro explicou ainda a aprovação de um “conjunto de diplomas” legislativos que incluem a valorização de carreiras. “Começando pelas carreiras, são um conjunto de diplomas. Em todos os casos se trata de processos legislativos, que agora se concluem, depois de semanas ou meses”, explicou.

Sobre a criação de condições para alargar acesso ao pré-escolar, Leitão Amaro disse que esta é “uma medida muito importante para milhares de famílias, que é a criação de condições para alargar o acesso ao pré-escolar. Esse é um objetivo que este Governo e a maioria que o suporta defendem”, sublinhou.

O Governo aprovou ainda diplomas para a comunicação social, nomeadamente, “aquele que regula a oferta de assinatura de publicação periódica ou digital para os jovens”. “No caso da comunicação social, os diplomas aprovados são o Plano Nacional para a Literacia Mediática, o Plano Nacional para a Segurança dos Jornalistas, ambos diplomas que constam do plano para a comunicação social apresentado pelo ministro dos Assuntos Parlamentares”, elencou.

O Parlamento vota esta terça-feira a moção de confiança apresentada pelo Executivo. 

O Departamento de Justiça dos EUA insiste na necessidade de a Google vender o navegador de internet Chrome. Num documento submetido ao tribunal distrital do estado da Columbia, a propósito de um processo em curso de práticas anticoncorrenciais da tecnológica americana, os procuradores mantêm a proposta de venda do Chrome como uma forma de contrariar o domínio da Google no setor das pesquisas online.

“A conduta ilegal da Google criou um Golias económico, que causa estragos no mercado para garantir que – independentemente daquilo que aconteça – a Google ganha sempre (…) O povo americano é, assim, forçado a aceitar as exigências desenfreadas e as preferências ideológicas de um leviatã económico, em troca de um motor de busca de que o público possa gostar”, defende o Departamento de Justiça no documento submetido a tribunal.

Esta é a segunda vez que o Departamento de Justiça sugere a venda do Chrome como um dos remédios a adotar pela Google no desfecho deste processo. Além da insistência, esta posição é destacada pelos meios de comunicação norte-americanos como um sinal de que a nova administração liderada por Donald Trump estará a seguir a mesma linha de posicionamento assumida na presidência Biden.

Em agosto do ano passado, o tribunal distrital do estado da Columbia considerou a Google culpada de práticas ilegais para manter o monopólio das pesquisas online, algo que ficou provado pelos acordos estabelecidos pela tecnológica com outras empresas (como fabricantes de smartphones) para impedir que outros motores de busca ganhassem proeminência. Só no ano de 2021, a Google gastou mais de 20 mil milhões de dólares nestes acordos.

Já um outro pedido feito anteriormente pelo Departamento de Justiça dos EUA, e que na prática faria com que a Google tivesse de vender as participações em empresas de Inteligência Artificial que pudessem vir a criar produtos relacionados com a pesquisa de informação, foi agora alterado para que a empresa tenha, pelo menos, de notificar as autoridades federais e estatais sempre que faz investimentos em empresas de IA.

Segundo o The New York Times, a Google tenciona recorrer da decisão do juiz e também apresentou na semana passada o seu próprio conjunto de recomendações para evitar uma condenação mais pesada. O juiz do caso vai pronunciar-se sobre as propostas do Departamento de Justiça e da Google numa audiência a realizar em abril.

Uma investigação feita na Dinamarca aponta para que a qualidade do sémen, e não tanto a sua quantidade, esteja de alguma forma ligada à esperança média de vida dos homens, numa diferença que pode chegar aos dois e aos três anos por pessoa. O estudo, liderado pela investigadora Lærke Priskorn, tentou estabelecer uma relação entre a qualidade do sémen e os anos de vida, destacando-se pela base de dados: envolveu amostras de 78.284 pessoas e representam um período de 50 anos.

A teoria que se tentou provar é que a qualidade do sémen pode ser um bom indicador da duração de vida e também um potencial indicador para deteção precoce de doenças.  

O volume de dados recolhidos permitiu analisar parâmetros como “volume de sémen, concentração de esperma e a proporção de esperma em movimento e com formato normal”, conta a investigadora em comunicado citado pelo Interesting Engineering.

A equipa analisou as causas de morte de 8600 homens que tinham contribuído para os dados recolhidos entre 1965 e 2015, com uma porção a ter contribuído apenas entre 1987 e 2015. Para estes casos, os cientistas conseguiram encontrar uma diferença entre a baixa qualidade do sémen e os perfis mais saudáveis: “Os homens com melhor qualidade de sémen podem esperar viver dois ou três anos a mais, em média, do que os homens com qualidade inferior (…) Em termos absolutos, homens com uma contagem em movimento total de mais de 120 milhões, vivem mais 2,7 anos do que homens com uma contagem total entre 0 e 5 milhões”.

A análise da Universidade de Copenhaga aponta ainda que este estudo pode ser apenas o ponto de partida para outras conclusões e recomendações mais concretas. Niels Jørgensen, do Hospital Universitário de Copenhaga, conta que “precisamos de entender melhor a associação entre a qualidade do sémen e a saúde geral. No entanto, este estudo sugere que podemos identificar subgrupos de homens com qualidade de sémen inferior que estão aparentemente saudáveis quando a qualidade é medida, mas que estão em risco de desenvolver certas doenças mais tarde na sua vida”. A equipa vai tentar usar outros grupos de homens e identificar outros biomarcadores que possam ajudar a identificar homens em risco, “para se iniciar estratégias de prevenção relevantes”.

O estudo completo foi publicado no Human Reproduction.

https://academic.oup.com/humrep/advance-article/doi/10.1093/humrep/deaf023/8051460

São sete ‒ BYD Sealion 7, Citroën C3, Cupra Terramar, Dacia Duster, Kia EV3, Peugeot 3008 e Renault 5, por ordem alfabética – os modelos finalistas da edição de 2025 do Seguro Directo Carro do Ano/Troféu Volante de Cristal.

A escolha foi feita por um júri, composto por um total de 18 jurados de vários órgãos de comunicação nacional, entre os quais a VISÃO, que avaliou, ao todo, 72 automóveis inscritos para as oito categorias que compõem este evento, 43 veículos dos quais elegíveis para o principal troféu de Carro do Ano.

Um destes sete será o sucessor do BYD Seal, o grande vencedor da edição do ano passado. Além do principal troféu, irão ser ainda votados os veículos para as seguintes categorias: Citadino, Design, Desportivo/Lazer, Elétrico, Familiar, Híbrido Plug-in, SUV Compacto e Grande SUV.

Os resultados finais serão conhecidos no dia 11 de março, dia em que também será atribuído o Prémio Inovação e Tecnologia, no qual os jurados irão apreciar um conjunto de desenvolvimentos tecnológicos ou dispositivos inovadores, e igualmente será eleita a Personalidade do Ano, decisão que fica a cargo da organização do evento.

BYD Sealion 7
É o sétimo veículo 100% elétrico lançado pela marca chinesa na Europa. Trata-se de um SUV do segmento D, que, na Europa, pelo menos por agora, será comercializado apenas com a versão 100% elétrica.

Está disponível com duas configurações de bateria, uma de 82,5 kWh e outra de 91,3 kWh. No primeiro caso, com apenas tração traseira e uma potência de 313 cavalos, a autonomia atinge os 482 km. Já a segunda versão surge com dois motores, um em cada eixo, que, conjugados, conseguem debitar uma potência de 530 cavalos e percorrer 502 km com uma só carga. O preço começa nos 47 990 euros e estende-se aos 56 500 euros para a versão mais potente.

Citroën C3
Estamos perante a quarta geração do modelo mais vendido da marca francesa. Um citadino ágil e versátil que apresenta opções para quase todo o tipo de necessidades do comum dos condutores portugueses. A sua gama inclui um motor térmico a gasolina, um híbrido e duas versões elétricas com diferentes autonomias. No mercado, já está o ëC3, com uma bateria de 44 kWh, capaz de percorrer até 320 km, e, ainda este ano, será lançada a versão de 19 900 euros, com uma bateria de menor capacidade e uma autonomia de 200 km.

É um dos modelos que mais se aproxima da tão desejada democratização do carro elétrico, como forma de acelerar a transição para a nova mobilidade. 

Cupra Terramar
É uma aposta da Cupra num crossover mais vocacionado para as famílias, sem perder o cariz desportivo que tem orientado esta marca. Com umas linhas robustas e dinâmicas, o Terramar chega a Portugal com duas motorizações distintas, ambas equipadas com o motor 1,5 litros a gasolina. A primeira dispõe de um sistema mild hybrid, capaz de debitar 150 cavalos, enquanto o híbrido plug-in está dotado de um motor elétrico mais potente que consegue disponibilizar um total de 272 cavalos. A sua autonomia em modo exclusivamente elétrico é de 121 km, graças à bateria de 19,7 kWh. Quanto a preços, o mild hybrid está disponível por 43 218 euros, enquanto o PHEV ascende aos 56 635 euros.

Dacia Duster
Estamos perante um modelo que tem vindo a conquistar as preferências dos portugueses desde 2010, o ano em que foi lançado, graças ao seu compromisso na oferta de um veículo moderno com um preço acessível à grande maioria dos condutores.

A terceira geração está agora mais sofisticada, robusta e com um design atraente. Oferece opções de motorização bi-fuel ‒ gasolina e GPL ‒, mild hybrid (tração a duas ou quatro rodas) e um full hybrid.

O preço começa nos 19 350 euros para o bi-fuel e nos 27 200 euros para o full hybrid. Já os mild hybrid situam-se nos 22 300 euros para a versão com tração a duas rodas e nos 25 750 euros para o 4×4.

Kia EV3
O seu habitáculo espaçoso, quer nos bancos da frente quer nos de trás, prático e funcional é um dos destaques do novo SUV compacto da marca coreana. Com um design muito próximo do seu irmão mais velho, o EV9, este modelo da Kia é um veículo moderno e ousado, com bons argumentos para o segmento onde irá disputar o seu lugar no mercado.

Disponível com apenas um motor montado no eixo frontal, consegue uma potência de 204 cavalos. Já em termos de autonomia, pode optar-se por uma de duas baterias, a de 58,3 kWh ou a de 81,4 kWh, que permitem circular, com apenas uma carga, 436 km ou 605 km, respetivamente. O seu preço começa nos 39 900 euros.

Peugeot 3008
Mexer num dos veículos com mais sucesso desta marca do Grupo Stellantis pode não ter sido tarefa fácil, mas o resultado foi bem conseguido. O novo Peugeot 3008 assenta numa nova plataforma, concebida para modelos elétricos, que também possibilita a utilização de outras motorizações, o que permite estender a gama a um híbrido de 136 cavalos, um PHEV de 195 cavalos e dois elétricos. Nestes últimos, a opção pode recair sobre a bateria de 73 kWh, capaz de percorrer 526 km, ou a de 97 kWh, que permite uma autonomia de 684 km. Os preços começam nos 37 800 euros, para o híbrido e estendem-se até aos 55 800 euros para o elétrico com a bateria de maior capacidade.

Renault 5
Ir buscar inspiração ao passado para conquistar o mercado de futuro foi a estratégia da Renault ao lançar o seu novo trunfo nesta corrida da transição para a mobilidade elétrica. O novo Renault 5 tem como grandes atrativos o design, o preço e o comportamento dinâmico. Mas não só. A marca gaulesa aproveitou o lançamento para mostrar ao mercado o seu mais recente assistente de apoio ao condutor, o Reno, uma espécie de avatar bastante intuitivo, tornando-o um dos veículos tecnologicamente mais avançados dentro do seu segmento.

Disponível com a bateria de 52 kWh, o Renault 5 chega com uma autonomia de 410 km e um preço a começar nos 27 500 euros

Palavras-chave:

“Nós apelamos a que o senhor primeiro-ministro, democraticamente, se sujeite a um instrumento parlamentar, que é a comissão parlamentar de inquérito, em vez de provocar uma crise política, que significará que vamos para eleições sem isto esclarecido”, afirmou Alexandra Leitão na conferência de imprensa de apresentação do requerimento para a constituição de comissão de inquérito potestativa para avaliar o cumprimento das regras por parte do primeiro-ministro na sequência do caso da empresa familiar.

A líder parlamentar do PS considerou que quem perde com esta crise política é “seguramente a democracia”, se o primeiro-ministro se apresentar a eleições “sem o esclarecimento cabal de um conjunto de situações que não é o PS apenas que levanta, são os outros partidos” e a comunicação social.

“Desde sempre o secretário-geral do PS tem repetido que não viabilizaríamos moções de censura, mas que não seja pedido um voto de confiança porque esse, em consciência, não podemos dar e portanto é a situação em que nos encontramos agora”, sublinhou Alexandra Leitão, insistindo que “esse escrutínio democrático [a comissão parlamentar de inquérito ]se possa fazer nesta legislatura”. “Seria muito melhor para o País, para o sistema, para o regime, para a democracia” se as eventuais eleições antecipadas acontecessem “com todos os esclarecimentos feitos”, defendeu.

“Aquilo que nós vamos ter, se o Governo não recuar na apresentação da moção de confiança, é partir para eleições num contexto em que não temos estes esclarecimentos feitos. E, portanto, não só isso vai ser tema na campanha como os portugueses serão chamados a votar sem ter todos os elementos sobre uma coisa crucial que é saber se regras de natureza ética, legal e até do próprio código de conduta do Governo foram cumpridas pelo primeiro-ministro que se apresenta novamente em eleições”, justificou.

A 14 de março de 1979, numa sala do Collège de France, decorria uma aula de Michel Foucault sobre Biopolítica. Nessa quarta-feira, o professor Foucault, entre muitas outras coisas, disse aos seus alunos o seguinte: “Ora, é evidente que não temos de pagar para ter o corpo que temos, ou que não temos de pagar para ter o equipamento genético que é o nosso. Isso tudo não custa nada. Bem, não custa nada – será mesmo? Podemos muito bem imaginar uma coisa dessas a acontecer (o que estou a fazer nem chega a ser ficção científica…)”.

É difícil imaginar como reagiram os alunos a estas afirmações. Mas, 46 anos depois, é seguro dizer que a política do corpo está, mais do que nunca, no centro da discussão cultural do Ocidente: a luta pelos direitos reprodutivos das mulheres; pela igualdade salarial entre géneros; a afirmação da comunidade trans e suas reivindicações; as tentativas de reduzir as horas da jornada de trabalho…Tudo isto tem, no seu âmago, o corpo humano e a sua respetiva valorização.

No mais recente filme de Bong Joon Ho – quem ainda se lembra da sua maravilhosa obra, Parasite  – intitulado Mickey 17, o realizador aborda uma realidade distópica e futurista onde um Congressista americano com tiques ditatoriais e pouca apetência para vencer eleições decide iniciar um projeto de colonização de um planeta de gelo inabitado. Para este efeito, é lançada uma mega-campanha de recrutamento de pessoas com as mais variadas habilidades, de modo a garantir uma “sociedade perfeita”.

É aqui que entra a personagem protagonizada por Robert Pattinson, Mickey Barnes. O protagonista é um indivíduo sem nenhum talento em especial e atolado em dívidas por causa de um negócio ruinoso em que investiu com o seu amigo Timo, que já lhes estava a valer umas quantas visitas do gangue a que pediram o dinheiro emprestado. Por esses motivos, e sem ler as letras pequeninas do que estava a assinar, Mickey inscreve-se no programa de colonização como um “Descartável”. E o que é, então, um “Descartável”, nesta missão de anos? Alguém que serve somente para morrer vezes sem conta. Porém, há um catch: sempre que morre, Mickey é reimpresso por uma máquina capaz de fazer cópias integrais de corpos humanos, transmitindo a consciência do original para a cópia.

Esta produção de “Mickeys” faz com que a equipa de cientistas do projeto submeta este homem – o único “Descartável” na missão – às mais inusitadas situações: exposição a vírus letais, trabalhos extremamente perigosos, experiências mortais. Sempre com o mesmo fim: a morte.

É isto a vida de um “Descartável”: Mickey 1, Mickey 2, Mickey 3, Mickey 4, Mickey 5…Mickey 17, Mickey 18.

A mensagem de Bong Joon Ho parece clara: uma crítica ao capitalismo utilitarista – existe outro? – que vê no Ser Humano apenas o seu valor enquanto força de trabalho, enquanto produtor de algum valor – o corpo como uma máquina ao dispor de governos e empresas. Tudo isto apresentado num cenário futurista, com naves espaciais, num planeta de gelo com formas de vida inteligente. Mas basta olhar para lá dos efeitos especiais para ver a desumanização do corpo humano, a noção de material genético enquanto capital, uma ditadura que pretende controlar os corpos dos seus súbditos para criar um “planet of purity” como diz o Congressista Kenneth Marshall, e a perigosa obsessão com o “espécimen perfeito”.

No meio desta exposição de temas tão importantes e complicados, o realizador deixa também uma mensagem de esperança: todas as impressões de Mickey saem sempre com diferenças de personalidade em relação às cópias anteriores. Porventura, uma tentativa de Bong Joon Ho de nos mostrar que, apesar de toda a ciência de ponta, todos os cálculos corretos e métricas certinhas, o que é humano tem sempre algo de incontrolável e não reproduzível. Há em cada um algo de humanamente inabalável que sobrevive a cópias, mutações e fabricações.

No seu core, Mickey 17 é um filme sobre a condição humana, sobre o corpo humano e a respetiva existência do mesmo num sistema económico que vive para produzir, produzir, produzir.

O que teria achado Foucault deste filme?

Nota: a citação de Foucault pode ser encontrada no seu livro “Nascimento da Biopolítica”, na aula de 14 de Março de 1979.

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Palavras-chave:

De acordo com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, a revisão à ajuda internacional vai permitir que os EUA poupem “dezenas de milhares milhões de dólares” em iniciativas que “não funcionaram” e que “em alguns casos até prejudicaram” os interesses da nação.

Numa publicação na rede social X, Rubio disse ainda que o Governo de Donald Trump quer manter apenas 18% dos programas, o que corresponde a “aproximadamente mil” contratos. Estes programas “serão geridos agora de uma forma mais eficaz pelo Departamento de Estado”, escreveu agradecendo o trabalho do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk – que há pouco tempo tinha acusado a agência USAID de ser uma “organização criminosa”. “Agradecemos ao DOGE e à sua equipa que trabalhou muitas horas para concretizar esta tão aguardada reforma histórica “, lê-se.