O Exército israelita reconheceu esta quinta-feira o “fracasso total” para impedir os ataques do Hamas de 7 outubro de 2023, que mataram cerca de 1.200 pessoas no sul de Israel, revelam os resultados de uma investigação militar agora divulgados.
O relatório conclui que o Hamas conseguiu realizar naquela data o ataque mais mortífero da história de Israel, porque o Exército avaliou mal as intenções do grupo islamita palestiniano e subestimou as suas capacidades.
A investigação militar interna israelita descreve que os ataques ocorreram em três vagas sucessivas e que mais de cinco mil pessoas atravessaram a fronteira da Faixa de Gaza para o sul de Israel naquele dia.
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“A primeira vaga […] incluiu mais de mil terroristas da Nukhba [unidade de elite do Hamas] que se infiltraram sob a cobertura de fogo pesado”, referiu um resumo da investigação fornecido pelo Exército.
A segunda vaga incluiu dois mil combatentes e a terceira foi caracterizada pela chegada de outras centenas, bem como de vários milhares de civis.
“No total, aproximadamente cinco mil terroristas infiltraram-se em território israelita durante os ataques”, referiu a investigação interna.
O Exército “não podia imaginar” um cenário como o de 7 de outubro, comentou um dos seus oficiais à agência France-Presse (AFP) a propósito das conclusões hoje reveladas.
O mesmo oficial disse que os combatentes palestinianos liderados pelo Hamas apanharam Israel de surpresa, não só pela escala e alcance dos ataques, mas também pela sua brutalidade.
“Muitos civis morreram nesse dia a perguntar-se no seu coração ou em voz alta onde estava o Exército israelita”, acrescentou.
Vamos começar este texto com um parêntesis. Sabemos que não é usual, nem graficamente apelativo, mas tem de ser:(Supperclub – usamos a palavra inglesa porque são precisas várias em português para descrever o conceito – é uma espécie de restaurante, em casas particulares. Trata-se de uma experiência intimista e mais acolhedora do que as que estamos habituados em locais públicos.)
Dois dias antes de entrarmos neste Boato, recebemos uma mensagem por WhatsApp com a sua localização e com meia dúzia de conselhos vínicos para que o pairing entre o que se vai beber e comer resulte melhor – primeiro os brancos, que os tintos guardam-se para a segunda parte do menu de degustação que será servido pelo chefe Miguel Ângelo. As bebidas são da responsabilidade de cada comensal, mas a ideia é partilhá-las com o resto da mesa. Tal e qual como fazemos quando vamos jantar a casa de amigos. A ideia da partilha, aliás, é transversal a toda a experiência.
Quando chegamos a esta casa, nos Olivais, em Lisboa, já lá estão os outros curiosos que arriscaram a sentarem-se com desconhecidos, para um jantar de sexta-feira à noite. Rita Pinto, 31 anos, é a namorada do chefe e também vive neste T1 acolhedor, encarregando-se de tudo o que tenha a ver com a comunicação deste projeto. E também serve à mesa, claro.
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O chefe mete a mão na massa mesmo à nossa frente para ultimar os pratos; É a esta mesa impecavelmente posta que vão chegando os petiscos, à moda de Espanha, com assinatura de Miguel Ângelo. Fotos: DR
Nenhum deles nos dá pistas sobre o que vamos comer, mantendo um propositado mistério. Deixemo-nos ir que o menu tem 10 pratos (€50) – isso sabemos de antemão – será baseado nas experiências que o chefe teve nas suas viagens gastronómicas, adiantam-nos perante as perguntas insistentes. A coisa promete e não vai desiludir – sim, somos spoilers, mas sem entrar em pormenores.
Depois de um brinde quebra-gelo logo à entrada, e de observarmos os últimos retoques do chefe na sua cozinha, passamos para a mesa, arrumada à justa na pequena sala de jantar. À justa, mas está lá tudo: a toalha branca, impecavelmente passada, os guardanapos, os copos elegantes, as cerâmicas artesanais a ornamentar o centro e a loiça bonita, que se adapta a cada prato. A luz é ténue e há uma grinalda que contorna a janela que tem a persiana para baixo para não incomodar os vizinhos. Algumas polaroids de outros boatos estão à mão de se olhar, para que se ateste como foram sorridentes os convívios anteriores.
Caso não haja empatia imediata entre quem aqui se senta, encontramos umas cartinhas de jogar, com afirmações e perguntas que podem rolar entre todos. Rita explica, enquanto traz o pão e a manteiga da kitchenette (a única coisa que não sai das mãos do chefe), que criaram esta espécie de jogo depois de uma vez terem entrado na sala e encontrado um silêncio incomodativo entre as pessoas. Assim, já não há desculpas… Nada disto se aplica, claro, se as pessoas já se conhecerem entre si. Nesta noite, por exemplo, havia uns repetentes e até familiares dos responsáveis pelo Boato. Foi fácil soltar a conversa, apesar das diferenças entre todos (até de idade).
A cavala à Bulhão Pato inaugura o desfile que se prolongará noite dentro – o Boato não tem hora para acabar. O chefe vem à sala e explica como chegou até a esta versão da receita típica portuguesa (há de fazê-lo em todos os momentos) e até parece fácil. Diz que fez uma marinada com sal e açúcar e temperou o peixe com alho e limão. “Bom apetite! Até já”, eis a assinatura de Miguel Ângelo.
A cavala substitui a sardinha, peixe que desagrada ao chefe, nesta interpretação livre dos santos populares. Foto: DR
Seguem-se uns croquetes de camarão, ao estilo espanhol, com base de bechamel, que se comem com as mãos, mas deixam marcas. Depois, em cima de um azulejo bem português, há de vir uma das mais icónicas receitas deste Boato que se espalha desde outubro passado: o pastel de nata que, apesar da massa clássica que o rodeia, e do aparente creme de ovo (na verdade é molho holandês), está recheado de coxa de pato confitada. Ainda mal pousou na mesa e este snack já está em pose para o Instagram. A versão de Miguel do italianíssimo maritozzo, um brioche com chantilly, é salgada e está recheada, imagine-se, de escabeche de mexilhão. Na verdade, come-se quase de um trago só.
Não é suposto revelar-se todo o menu, pois a surpresa faz parte desta mise-en-scene que vai muito para lá da comida, mas não resistimos a dar mais uma ou duas pinceladas gastronómicas nesta prosa. Na verdade, por muito que se descrevam os pratos, nada substitui o palato e as sensações que ele nos dá depois de provarmos as combinações pouco prováveis deste chefe. Pode lá imaginar quão bom foi comer o prato outonal, em que impera uma bolacha de farinha de cogumelos acamada num delicioso creme de castanhas, tal como atesta a foto em baixo?
Além de saborosos e com técnica apurada, os pratos de Miguel Ângelo são lindos de morrer. Foto: DR
O resto da passagem de modelos há de incluir um simples esparguete com manteiga fumada e pó de cebola (poderia lá faltar uma bela pasta, quando Itália está subjacente enquanto influência?), um robalo cozinhado a baixa temperatura (Miguel ainda não tem fornecedores fixos para este menu, vai procurando-os consoante aquilo de que precisa) e uma perninha de codorniz com cebola caramelizada.
Este trio vem precisamente antes de duas sobremesas surpreendentes. Uma leva-nos até à Índia, através de um gelado de lima e coentros com merengue de cardamomo verde – a explicação parece complexa, mas o resultado é de uma frescura na medida certa, sem nos inundar de açúcar. A outra trata-se de um quente e frio especial e talvez um pouco pesado para esta altura da refeição. Falamos de um brioche para molhar num creme de cappuccino, “uma lembrança dos meus pequenos-almoços em Turim”, remata Miguel. Depois disto, ficamos de pernas para o ar. Valha-nos seguir-se um programa que mete dança para desmoer este festim de surpresas e de nova gastronomia que não se limita a alimentar-nos, mas também nos conta histórias e cria memórias irrepetíveis.
No final, há um jogo sobre o qual não posso alongar-me sob pena de estragar a surpresa. Não é obrigado entrar nele, claro, mas saibam que, depois desta brincadeira, nunca sai daqui ninguém mal disposto. Aliás, note-se, já houve encontros destes que acabaram num grupo de WhatsApp.
Quem é o chefe que nos serve?
Foto: DR
Miguel Ângelo, 33 anos, estudou na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Passou, ainda em modo estágio, pelo restaurante Il Gallo D’oro, na Madeira, com duas Estrelas Michelin, e pelo Eleven, com uma. Cansou-se do mundo estrelado nacional e aventurou-se por outras cozinhas da Europa. Esteve em Berlim, a convite do amigo Daniel Sangareau, foi a seguir para Barcelona, onde trabalhou no Nino Viejo, Hoja Santa e Mont Bar, e depois para Turim, em que chefiou equipas no Al Garamond e no Eragoffi. Quando regressa a Lisboa, Miguel decide ficar de fora das grandes cozinhas e concentrar-se no seu aconchegante Boato. Além das refeições que concebe em sua casa, e que no futuro podem ser a quatro mãos, também atende a pedidos para servir o catering noutras paragens. E, boa notícia para os mais gulosos, vende para fora a sobremesa de brioche para molhar num creme de cappuccino.
Avaliar o contributo do Terminal de Cruzeiros para a economia da cidade de Lisboa foi o objetivo do estudo solicitado à Nova School of Business and Economics (Nova SBE) pela Administração do Porto de Lisboa (APL). O presidente da autoridade portuária, Carlos Correia, rejeita que tenha sido uma resposta às queixas dos lisboetas e às críticas do autarca Carlos Moedas, que em setembro do ano passado reprovou a inserção do terminal na zona histórica de Lisboa e considerou que o turismo de cruzeiros “não ajuda nada a cidade, nem interessa à cidade”. Certo é que, contra os argumentos, a APL tem agora factos. As conclusões do estudo da Nova SBE indicam que os mais de 758 mil turistas que em 2023 embarcaram ou desembarcaram no maior porto de cruzeiros do País contribuíram com 794 milhões de euros para o PIB nacional (0,3% do total) e criaram, direta e indiretamente, cerca de 20 mil postos de trabalho. O gasto médio de cada passageiro (€159) ainda não atingiu um valor muito elevado, mas duplicou nos últimos dois anos, em grande parte devido à atração de cruzeiristas provenientes dos Estados Unidos da América e do Canadá. Mas como a relação do Porto de Lisboa com a cidade não se esgota na indústria de cruzeiros, a conversa com o presidente da APL incidiu também na requalificação das zonas ribeirinhas e na abertura ao público das gares de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos para finalmente poderem ser apreciados os 14 painéis de Almada Negreiros ali existentes.
Foto: Luís Barra
O estudo sobre o impacto económico da indústria de cruzeiros foi uma resposta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que disse que a atividade não interessa à cidade, e também aos lisboetas que residem perto do terminal, localizado no centro histórico, que se queixam do afluxo de turistas, do ruído e das emissões poluentes? Não foi uma resposta ao presidente da câmara nem a ninguém. O estudo foi iniciado em 2023, os resultados coincidiram com essas declarações, que não comento, mas surgiu essencialmente da necessidade de perceber o impacto da indústria de cruzeiros na criação de emprego e na dinamização económica da cidade e da região. A localização do Terminal de Cruzeiros de Lisboa [em Santa Apolónia] foi decidida em 2012 e resultou de uma parceria estabelecida entre a APL e a câmara municipal, na altura presidida por António Costa. O grande mérito deste terminal é precisamente a sua localização na zona histórica da cidade. A inserção e a construção do edifício, da autoria do arquiteto Carrilho da Graça, é uma mais-valia para aquela zona, e não gerou qualquer reação negativa dos habitantes.
O pior foi mesmo quando os magotes de turistas dos navios começaram a chegar? Tenho ouvido duas críticas em relação à atividade dos cruzeiros. Uma é sobre o pouco impacto na atividade económica da região. Nas estadas curtas, o gasto médio por passageiro é de €39, mas quando falamos do passageiro turnaround [que inicia ou termina em Lisboa as viagens de cruzeiro], o gasto médio sobe para €573. São gastos feitos no alojamento, na restauração, em pacotes turísticos. Cada cruzeiro que vem a Lisboa gera uma receita de 2,29 milhões de euros. Direta e indiretamente, estamos a falar de mais de 20 mil postos de trabalho criados pela atividade. Acho que o estudo evidencia o forte impacto na região, não só a nível económico, mas também na criação de emprego. A segunda crítica que oiço é sobre o excesso de turistas na cidade, que os cruzeiros contribuem para agravar ainda mais. Mas é preciso perceber, e o estudo demonstra-o, que o pico da atividade dos cruzeiros ocorre, por um lado, nos meses de abril e maio, e por outro, em setembro, outubro e novembro, ou seja, fora do verão e dos períodos de maior pressão, aproveitando a capacidade turística já instalada. Além do mais, o turismo de cruzeiros tem outra vantagem: é previsível. Conseguimos saber, com dois anos de antecedência, quantos navios vêm, em que horários, e podemos planear as chegadas.
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B.I.
NOME Carlos Alberto do Maio Correia
VIDA Nasceu em 1968. É licenciado em Engenharia Civil, no ramo de Planeamento Territorial e Transportes, pelo Instituto Superior Técnico. Fez todo o percurso profissional no setor da mobilidade e transportes
CARREIRA Acumula a presidência da Administração do Porto de Lisboa com a dos Portos de Setúbal e Sesimbra desde outubro de 2022. Fazia parte do anterior conselho de administração desde 2016. Entre 2011 e 2013, presidiu ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres e, entre 2009 e 2010, dirigiu a Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa
Ficou surpreendido com as conclusões do estudo ou a APL já tinha noção do real impacto económico da atividade, nomeadamente ao nível do emprego? Ficámos meio surpreendidos. Tínhamos noção de que havia um impacto forte da atividade dos cruzeiros, mas os números do estudo surpreenderam-nos pela positiva. Temos apostado no crescimento do turnaround, que em 2022 valia €367 por passageiro e agora vale €573 por passageiro. Este aumento, muito significativo, resulta de dois fatores. Um tem a ver com a inflação dos preços, o outro resulta de uma mudança na origem dos passageiros. Começámos a receber mais passageiros dos Estados Unidos da América e do Canadá, com uma capacidade económica superior à dos cruzeiristas tradicionais da Europa. Estes dois fatores potenciaram o aumento muito significativo da receita por passageiro turnaround.
Como vê a evolução da indústria de cruzeiros nos próximos dois anos? Vai continuar a aumentar ou vai estabilizar e consolidar-se? Deverá haver uma estabilização. Em 2024, o número de navios cresceu 3,7%, mas em 2025 antevemos uma estabilização no número de passageiros, assim como nos anos seguintes, apesar de 19 novos navios irem fazer escala pela primeira vez no Porto de Lisboa. São estreias, embora parte deles seja de substituição.
Significa que esses navios vão regressar? Vão passar a incluir Lisboa nas suas rotas. Estamos a alargar o mercado a novos navios e a novas companhias que virão a Lisboa pela primeira vez. Desde a pandemia, os navios transportam menos passageiros por razões de saúde pública e, por isso, receber mais cruzeiros não significa mais passageiros. Outro aspeto muito importante, não tão evidenciado no estudo, é que os cruzeiristas, mesmo estando de passagem, manifestam a intenção de voltar a Lisboa em turismo. Os cruzeiros funcionam como um cartão de visita para que as pessoas conheçam a cidade e, a seguir, venham visitá-la com mais tempo.
Hoje, a APL defenderia a construção do Terminal de Cruzeiros no centro histórico, apesar das críticas sobre o afluxo de turistas e sobre o impacto ambiental? A localização no centro histórico é uma mais-valia para a atividade dos cruzeiros em Lisboa. Não é por acaso que o Terminal de Cruzeiros, pela nona vez consecutiva, voltou a ser galardoado este ano como o melhor terminal de cruzeiros da Europa. A localização do edifício, a facilidade com que os passageiros desembarcam no centro e podem visitar a cidade a pé, tem muito impacto. Relativamente às questões ambientais, desenvolvemos durante um ano um estudo de monitorização da qualidade do ar e da água na zona envolvente do terminal, que vai continuar a ser feito através da instalação de cinco estações fixas de medição das emissões. Todos os resultados do estudo estão abaixo dos limites europeus para as emissões de gases com efeito de estufa, e na sua maioria abaixo dos limites [mais restritivos] da Organização Mundial da Saúde. Estamos a fazer tudo para melhorar a sustentabilidade do terminal. O maior contributo virá de um projeto de eletrificação.
Não há muito tempo, uma ONG considerou o Terminal de Cruzeiros de Lisboa como o quinto pior da Europa em termos de emissões poluentes. Como é que explica esse resultado? Não sei como foi feito o estudo dessa ONG, mas tenho dúvidas sobre os resultados. Os maiores níveis de emissões registam-se nas manobras de atracagem e de partida dos navios, mas a indústria tem investido na melhoria das condições ambientais das embarcações. Hoje, utilizam combustíveis com baixo teor de enxofre [o dióxido de enxofre é um dos principais responsáveis pelas emissões] e dispõem de filtros que fazem retenção de partículas quando os motores estão ligados. São regras internacionais determinadas a nível global.
O que é que já foi feito na área da eletrificação e o que falta fazer para que os navios possam desligar os motores durante o tempo que permanecem no terminal? Para manterem os equipamentos ligados, os navios recorrem a geradores que utilizam combustíveis fósseis. Com a instalação do sistema Onshore Power Supply (OPS), que permite a eletrificação do cais, o navio pode ligar-se à rede e passar a ser abastecido por energia elétrica, o que vai permitir a redução do ruído e a redução das vibrações transmitidas ao cais, melhorando ainda mais a questão ambiental do terminal de cruzeiros.
Em que fase está o projeto de eletrificação do terminal? O objetivo é instalar até 2029 o sistema OPS no Porto de Lisboa. A obra iniciar-se-à no próximo ano. Como não temos, na zona do terminal, potência de rede suficiente para abastecer os navios, temos de ir buscar rede em alta tensão onde ela existe, a uma subestação da E-Redes situada a cerca de quatro quilómetros, no Alto de São João. Na zona do Terminal de Cruzeiros, vai ser construída, pelo Porto de Lisboa, uma subestação elétrica para o abastecimento em média tensão do Terminal de Cruzeiros, e em baixa tensão dos cinco terminais de contentores existentes na zona oriental. Este projeto não se limita aos cruzeiros. Engloba também a carga porque, a partir de 2030, os navios com mais de cinco mil toneladas serão obrigados a ligar-se à rede elétrica quando estiverem atracados no porto. Uma vez que estamos a negociar os prolongamentos das concessões dos terminais de contentores, o investimento caberá aos concessionários.
Qual o investimento previsto? São cerca de 18,4 milhões de euros até à subestação do terminal, a cargo do Porto de Lisboa. A APL tem um financiamento comunitário aprovado de cerca de 14,8 milhões de euros. O projeto total custará cerca de 36 milhões de euros.
É possível quantificar a redução das emissões poluentes prevista? A redução será de cerca de 77%, uma vez que apenas inclui as cerca de oito a dez horas que os navios passam atracados em cais. Quando chegam e quando partem, fazem-no com os motores ligados, por isso a redução nunca será de 100%. A eletrificação diminui também muito o ruído, a poluição sonora. Se quisermos comparar, é como passar de um automóvel a combustão fóssil para um veículo elétrico.
A APL foi anfitriã da 19ª conferência mundial da Association Internationale Villes et Ports, que se realizou em Lisboa em novembro. Que conclusões saíram do encontro? Esta associação estuda a relação entre portos e cidades e a importância que estas atribuem aos seus portos enquanto motores de desenvolvimento. Nos últimos anos, tem havido uma melhoria na relação entre o porto e a cidade de Lisboa. Enquanto administração portuária, temos a perceção de que quem faz a gestão do território são os municípios. Por isso, há que incorporar as lógicas e as pretensões dos municípios na nossa estratégia de desenvolvimento. É possível alcançar um equilíbrio entre a gestão do território e a atividade portuária sem se viver em tensão permanente. A conferência mostrou como é que outros países abordam essa questão e como é que integram a atividade portuária nas dinâmicas do seu território. No final, a APL assinou uma carta de compromisso com a AIVP para o desenvolvimento do Porto de Lisboa de acordo com as boas práticas da associação.
Que tipo de integração deve ter o porto de Lisboa com a cidade? Temos vários projetos. Nos aniversários da APL, fazemos sempre algo de perene para a própria cidade. Executámos o mural do Vhils no Cais da Rocha do Conde de Óbidos [uma homenagem aos refugiados da II Guerra Mundial] e estamos a desenvolver o projeto Ocean Campus [na Doca de Pedrouços] com a Câmara Municipal de Lisboa e com a Fundação Champalimaud [e com uma sociedade de reabilitação entretanto anunciada pelo Governo] para promover a investigação associada à economia azul e às questões do mar. Temos também um projeto de requalificação da zona portuária de Alcântara. Em parceria com a Associação do Turismo de Lisboa, estamos a fazer um centro interpretativo dos painéis de Almada Negreiros na Gare Marítima de Alcântara e na Gare da Rocha do Conde de Óbidos. A recuperação [dos 14 painéis, símbolos do modernismo português] está a ser feita, e esperamos que possam ficar acessíveis ao público a partir do primeiro trimestre de 2025. Uma nova centralidade vai ser criada em toda esta zona portuária a partir da recuperação do passeio norte, conhecido como Doca do Espanhol, com áreas de atividades performativas, de lazer e espaços verdes. Outra intervenção da APL decorrerá na zona oriental da cidade, entre Santa Apolónia e o Poço do Bispo, onde estão os nossos cinco terminais de contentores. No âmbito do prolongamento das concessões, queremos fazer a integração dos terminais na zona envolvente, através da criação de espaços verdes.
Quais são os valores investidos? São investimentos consideráveis. No passeio da Doca do Espanhol, estamos a falar de cerca de oito milhões de euros. Na parte oriental da cidade, o investimento será da ordem dos 15 milhões de euros, envolvendo também a recuperação de um edifício do arquiteto Troufa Real que vai ser transformado em zona de restauração. É nossa intenção incluir também no projeto a recuperação da Doca do Poço do Bispo, reproduzindo a ideia das barcaças atracadas no rio Sena que durante os Jogos Olímpicos de Paris foram adaptadas para receber piscinas, restaurantes, etc.
E qual o valor do investimento na recuperação dos painéis de Almada Negreiros? Esse investimento resulta de uma candidatura ao World Monuments Fund (WMF), uma associação vocacionada para a recuperação do património histórico e cultural que atribuiu um financiamento de cerca de 700 mil euros. A APL vai investir cerca de quatro milhões de euros na recuperação das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos. A Associação de Turismo de Lisboa está a investir mais quatro milhões de euros na concessão do centro interpretativo e na abertura de um restaurante na Gare de Alcântara, decorado em estilo Art Déco, remetendo para a época da criação dos painéis, que também servirá de atração.
Com as alterações climáticas, e a subida do nível médio das águas do mar, como é que uma cidade portuária como Lisboa pode defender-se? Todos os novos projetos incorporam essas preocupações. Todas as construções novas na zona ribeirinha de Lisboa terão uma cota de soleira de cinco metros, segundo uma proposta da Agência Portuguesa do Ambiente. Mais difícil é a intervenção sobre as estruturas já existentes, porque exigem investimentos muito vultuosos. Nos planos de emergência dos terminais, temos procurado ter algum cuidado com a localização dos equipamentos. Essa preocupação estende-se também à prevenção de tsunamis ou cheias, criando condições que facilitem o acesso das pessoas aos pisos superiores dos equipamentos.
Lisboa, capital dos cruzeiros
Um estudo da Nova SBE mede o impacto dos navios de cruzeiro que passam pelo porto da capital, o que mais passageiros recebe a nível nacional
Os longos períodos de paragem durante a pandemia afetaram o Turismo a nível global, mas, assim que os confinamentos terminaram, a vontade de viajar era imensa – houve mesmo quem lhe chamasse revenge travel (viagem de “vingança”, em tradução livre). Em pouco tempo, a atividade regressou aos valores pré-pandemia e bateu novos recordes. Um dos segmentos que maior crescimento registou foi a indústria de cruzeiros, que tem na cidade de Lisboa uma importância cada vez maior. Os números assim o indicam. Em 2023, a capital recebeu 347 dos 980 navios de cruzeiro que fizeram escala nos portos portugueses, e acolheu mais de 758 mil dos 1,7 milhões de passageiros que pisaram solo nacional.
Só na cidade de Lisboa, o turismo de cruzeiros duplicou, em apenas quatro anos, o seu peso no PIB nacional, subindo de 0,16% em 2019 para 0,3% do PIB em 2023, e gerando um contributo de 794 milhões de euros, ou seja, mais 458 milhões de euros face aos 336 milhões de euros registados em 2019. As conclusões são do estudo de Avaliação do Impacto Económico da Indústria de Cruzeiros em Lisboa 2023, realizado pela Nova School of Business and Economics (SBE) e assinado pelos economistas Pedro Brinca e João Bernardo Duarte.
Se olharmos apenas para o PIB do Turismo nacional, o impacto dos navios de cruzeiro que partiram, chegaram ou fizeram escala de algumas horas em Lisboa cresceu de 1,84% para 2,16% nestes quatro anos. E o contributo para o município de Lisboa aumentou de 1,4% para 1,7%, no período analisado.
Numa análise mais fina, o estudo da Nova SBE indica que cada navio de cruzeiro que atracou no Porto de Lisboa contribuiu, em média, com 2,29 milhões de euros para o PIB, gerou 910 mil euros em receitas fiscais e criou 59 postos de trabalho, o que traduz um crescimento significativo face a 2019. Se considerarmos os efeitos totais ‒ direto, indireto e induzido ‒, a indústria de cruzeiros teve, no seu conjunto, um impacto na economia da cidade de 1 934 milhões de euros, rendeu ao Estado 317 milhões de euros em impostos (a maior fatia foi do IVA, com 147 milhões de euros) e criou 20 383 postos de trabalho. Estes valores comparam favoravelmente com os de 2019, segundo os quais o impacto económico foi de 840 milhões de euros, a receita fiscal de 133 milhões de euros e os empregos criados em número de 8 863.
Gasto médio de €159
Os passageiros dos cruzeiros de visita à capital gastaram, em média, 159 euros, um valor que é quase o dobro do montante de 82 euros apurado numa análise intercalar efetuada em 2022. Estes gastos são feitos principalmente nos segmentos do alojamento, agências de viagens, comércio a retalho, restauração e transportes.
No entanto, os autores do estudo isolaram “dois perfis de passageiros distintos”: os que chegam e partem nos navios em trânsito, permanecendo em Lisboa, em média, entre 8h e 10 horas, e os que iniciam ou terminam em Lisboa as suas viagens de cruzeiro (turnaround), fazendo estadas mais longas que incluem dormida.
Os dois perfis originam valores muito diferentes. Enquanto a despesa média dos passageiros em trânsito foi de 39 euros, excedendo apenas ligeiramente o valor de 37 euros apurado em 2022, já o gasto médio dos passageiros turnaround foi de 573 euros, um valor bastante superior aos 367 euros obtidos em 2022. É no transporte, compras a retalho e pacotes turísticos que os passageiros em trânsito gastam o dinheiro, mas, no caso dos passageiros turnaround, o alojamento absorve a maior parte da despesa, seguido pelos pacotes turísticos, restaurantes e cafés e compras no comércio a retalho.
Este aumento do gasto médio por passageiro resulta, por um lado, da inflação verificada nos preços durante o período em análise ‒ atingiu 10% entre maio de 2022 e maio de 2024 ‒ e, por outro, do acréscimo em 200 mil do número de passageiros turnaround e também da sua maior propensão para gastos mais elevados, principalmente por parte dos cruzeiristas vindos dos Estados Unidos da América e do Canadá (ver entrevista com presidente da APL).
No estudo, os economistas da Nova SBE encontraram um multiplicador de produção para a indústria de cruzeiros que consideram como sendo “elevado”. A estimativa “mais conservadora”, por incluir apenas os efeitos indiretos da atividade, indica que, entre fornecedores e passageiros, cada euro gasto pela indústria de cruzeiros em Lisboa “gera 1,65 euros na economia”. Se forem incluídos os efeitos induzidos, então cada euro gasto irá gerar “3,57 euros de atividade económica”.
Além do retorno para a economia, o Porto de Lisboa tem um compromisso com a sustentabilidade, estando a desenvolver projetos para reduzir as emissões poluentes dos navios de modo a “assegurar que Lisboa continue a ser um destino de excelência no setor do turismo de cruzeiros, equilibrando a proteção ambiental com o crescimento económico sustentável”.
Artigo publicado na Exame nº 487 de janeiro de 2025
Desde muito novos que estamos habituados a ouvir coisas como: “arruma o quarto, isto está uma desorganização que não se pode, se alguém vir isto é uma vergonha”, “arruma a tua secretária, é impossível encontrares alguma coisa aí nessa confusão”, “quarto arrumado, cabeça organizada.”
Ainda que de forma provavelmente inconsciente, sempre fomos educados no sentido de organizar o espaço da melhor forma, tanto por mera necessidade de arrumação, como pela imagem que uma casa ou uma secretária desorganizada passa para quem as vê.
É pena que, à medida que vamos crescendo, essa noção de espaço se limite mesmo à casa e ao local de trabalho e não à própria organização das nossas cidades. O caso de Lisboa é paradigmático.
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Todo o cidadão que reside ou que, pelo menos, trabalha em Lisboa, depara-se, todos os dias com um ruído visual e olfativo que ultrapassa os limites da decência, bem como denota que os locais públicos estão em degradação do ponto de vista da utilização e vivência da experiência da cidade.
Tudo isto é comunicação. O espaço está em constante comunicação com os indivíduos que nele vivem e se movem.
Neste momento, Lisboa, com a falta de espaços públicos gratuitos que apresenta – é quase impossível, hoje, sair à rua e não gastar dinheiro -, os espaços verdes em deterioração apenas salvos por cidadãos bem intencionados que agem como guerrilheiros florestais, os passeios de dimensão mínima para os pedestres, os buracos de 50 em 50 metros, e até os cartazes de eleições políticas passadas (bem passadas…), está a dizer aos seus residentes e trabalhadores: “fujam, caso o lixo por todo o lado e o mau cheiro não vos seja suficiente para zarpar!”
Lisboa, sob a presidência de Moedas, passou a falar apenas para os turistas. A expulsão de pequenos negócios locais históricos e sua substituição por Ale-Hops, Tigers e Normals faraónicas dizem algo muito claro: Lisboa é agora um parque de diversões para o turismo. Em vez de apostar na cultura portuguesa, a presidência da Câmara opta por vender a cidade à plasticidade estrangeira.
Urge que se organize melhor o espaço da cidade de Lisboa para que a própria cidade comunique positivamente com os cidadãos. Lisboa está um caos e esse caos entranha-se no espírito das pessoas, no seu mood, e na sua disposição para investir a sua energia na cidade, para querer ficar e desenvolver trabalho aqui.
Lisboa está a arriscar-se a, seguindo este caminho provinciano de cedência total ao que é estrangeiro, deixar de ser uma cidade portuguesa culturalmente interessante pela sua particularidade para passar a ser uma Disneyland barata que se pode visitar em qualquer capital banal. Se é verdade que o turismo constitui uma fatia substancial nas receitas de todo o país – não exclusivamente Lisboa -, também é verdade que o que atrai os turistas para Lisboa não são as lojas a que podem ir em todos os países do mundo desenvolvido, mas sim o pequeno comércio, os restaurantes locais e a arte portuguesa.
Organizar melhor o espaço para comunicar mais eficazmente com aqueles que pela cidade se movimentam – uma ideia clara que, apesar de não ser tão simples assim, tem de ser concretizada.
É caso para dizer: “Câmara Municipal de Lisboa, é favor de arrumar melhor a sua cidade! Se alguém vir isto é uma vergonha!”
Por mais estranho que possa parecer, foi o choque petrolífero de 1973, responsável por inúmeras falências um pouco por todo o mundo, que viria a dar origem à Jular, uma das maiores empresas de construção de casas e estruturas em madeira em Portugal, com uma faturação superior a nove milhões de euros. Para contar a história temos de recuar 50 anos, quando Amaro Santos, um empresário ligado ao ramo da cerâmica, recebeu uma chamada do seu irmão, que vivia em Angola, onde tinha uma fábrica de construção de travessas de madeira para as linhas dos caminhos de ferro.
Na altura, o seu principal cliente era a África do Sul, mas o choque petrolífero daquele ano iria parar o desenvolvimento das linhas ferroviárias naquele país. Com o fim destes contratos, a madeira foi-se acumulando nas instalações da fábrica. Sem saber o que fazer a tanta madeira, ligou ao seu irmão a dizer-lhe que iria enviar, à consignação, um navio carregado de madeira para este a tentar vender em Portugal.
No dia em que chegou o primeiro navio ao cais de Xabregas, ainda Amaro Santos não sabia o que iria fazer com toda aquela carga, mas, pouco depois do navio atracar, foi abordado por um senhor que lhe perguntou qual o preço a que pretendia vender a madeira. Tratava-se de António Galvão de Melo, um dos maiores empresários portugueses do setor madeireiro.
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Acertaram o preço e Galvão de Melo apenas lhe pediu uma condição: toda a madeira que chegasse de Angola teria de ser vendida em exclusivo a ele.
Ao longo desse ano, foram quatro os navios que chegaram a Portugal e Amaro Santos tornou-se um intermediário do negócio entre o seu irmão e o empresário português. Até que um outro evento viria a mudar toda esta história. O quinto navio chega a Portugal no dia 24 de abril de 1974, na véspera da Revolução, e com a atividade económica quase paralisada, a madeira ficou sem comprador. “Foi nessa altura que o meu pai se começou a dedicar verdadeiramente a este negócio”, recorda Hélder Santos, o atual presidente da Jular.
E se já tinha um problema entre mãos, acabou por ampliá-lo. “Devido à instabilidade e incerteza quanto ao futuro do País, o meu pai foi ao Brasil para estudar a possibilidade de levar para lá a família caso as coisas se complicassem por cá. Mas, quando regressou, trouxe com ele mais um navio carregado de madeira”, recorda.
Com tanta matéria-prima nas mãos, a Jular compra um terreno em Camarate e começa a produzir madeiras para a indústria do mobiliário, carpintarias e marcenarias.
A atividade foi prosperando e em 1986 decidem mudar-se para a Azambuja, onde investiram numa unidade fabril com serração, secagem e transformação de madeiras.
“Durante muitos anos, fornecemos ripas e vigas para as estruturas dos telhados, mas no princípio dos 90 fomos desafiados a montar os telhados das casas em vez de vendermos apenas a madeira”, lembra Hélder Santos.
A empresa deixava de ser um mero fornecedor do setor da construção, transformando-se num fabricante de estruturas. Foram acumulando conhecimento e experiência nesta área e, em 2005, decidem criar um departamento de construção modular de madeira.
Em 2008, ganham o primeiro grande projeto, a construção das casas do ZMar Eco Camping Resort, junto à Zambujeira do Mar, um empreendimento inovador na altura, com preocupações de sustentabilidade ambiental.
Depois desse, ganham outra grande encomenda de casas modulares em madeira em Angola. A empresa começava a prosperar, mas, no ano seguinte, Portugal é intervencionado pela “troika” e toda a atividade voltou quase à estaca zero.
Porém, o que parecia um problema acabou por se tornar uma oportunidade de internacionalização. “Para não ficarmos parados, decidimos ir para fora, tentar vender casas noutros países, nomeadamente Inglaterra, Suíça e França, onde hoje, a par de Angola, temos um dos maiores mercados externos”, afirma Hélder Santos.
O “boom” da madeira
Apesar de serem habituais noutras regiões do globo, como na América do Norte, na Escandinávia ou mesmo no Japão, a grande afirmação das casas de madeira nasce com um movimento iniciado no Canadá, que começou a revolucionar este negócio.
“No final dos anos 90, por iniciativa do governo canadiano, começou a trazer-se o conhecimento para a construção deste tipo de casas. Até ali, as estruturas eram de madeira maciça e sem qualquer incorporação de tecnologia. Com esta iniciativa, começou a investir-se muito, para se tirar o maior partido das vantagens deste material e eliminar ou minimizar as suas desvantagens. Surgiram o que hoje chamamos as madeiras engenheiradas”, explica o gestor.
Está provado que a maneira mais eficiente de voltar a aprisionar o carbono que libertamos para a atmosfera é construir em madeira
Isto é, são produtos homogéneos, fáceis de caracterizar, o que permite serem usados facilmente por projetistas, engenheiros ou arquitetos, tal como os materiais mais convencionais da construção civil. Anteriormente, estes profissionais tinham alguma dificuldade em trabalhar com a madeira, devido às diferentes características, desde o peso, a densidade e a resistência, entre muitos outros fatores. Este avanço permitiu também o desenvolvimento de software de projeto para as madeiras, tal como existia para o ferro ou o cimento, facilitando ainda mais a sua utilização.
Outra das grandes vantagens trazidas pela construção em madeira foi deslocar a obra do local de edificação para as fábricas. “Mais de 90% da obra fica pronta aqui nas nossas instalações, e só depois é colocada no local onde o cliente a pretende. Desta forma, conseguimos diminuir as imprevisibilidades que surgem nas obras e temos um maior controlo sobre o projeto, o que permite um melhor cumprimento dos prazos de entrega de obra”, conta Hélder Santos.
Segundo o gestor, esta produção em fábrica é uma grande vantagem, sobretudo quando as casas estão situadas em zonas onde escasseia a mão de obra especializada. “Por vezes, temos o pedreiro, o pintor, mas falta um ladrilhador, ou um canalizador, e a obra acaba por ficar parada. Na fábrica, temos todas as especialidades, não corremos esse risco”, justifica.
Por fim, e não menos importante, a madeira está a ganhar o seu espaço na construção civil, devido à cada vez maior consciência ambiental da sociedade.
“Está provado que a maneira mais eficiente de voltar a aprisionar o carbono que as últimas oito ou nove gerações libertaram na atmosfera é construir em madeira. É o único material de construção que tem um saldo de carbono negativo, ou seja, em vez de libertar carbono aprisiona. E tem um duplo efeito. Por um lado, retém o carbono e, por outro, evita a utilização de materiais de construção que o libertam”, esclarece Hélder Santos.
Mais procura
A grande maioria das encomendas das casas modulares é feita por empresas, sobretudo do setor hoteleiro. Além do ZMar, a Jular já efetuou trabalhos para o Hotel West Cliffs, na Praia de El Rei, perto da Lagoa de Óbidos, as Caju Villas, junto à barragem de Montargil, a Muda Reserve, na Comporta, ou o W Algarve Hotel & Residences. Mais recentemente, deram início à construção para o projeto Costa Terra, na Lagoa de Melides
“Trabalhamos muito com profissionais, equipas de arquitetura e temos alguns nichos em que o tipo de construção faz mais sentido, como os pequenos resorts, hotéis de menor dimensão, restaurantes de praia, entre outros. Gostamos de entrar nestes empreendimentos ainda na sua fase de conceção, desenhando um projeto que vá ao encontro do que o cliente procura”, salienta.
Um segmento de mercado que se desenvolveu muito na altura da pandemia, e que se tem mantido, são as microunidades hoteleiras. “Estamos a falar de famílias que decidiram sair dos centros urbanos e foram procurar outro estilo de vida fora das cidades, criando unidades hoteleiras com meia dúzia de alojamentos. E o nosso produto encaixa-se perfeitamente nestes casos devido à sustentabilidade, ao reduzido impacto visual que estas casas provocam nos terrenos e pela rapidez da sua instalação”, explica.
Segundo Hélder Santos, em Portugal existe cada vez maior procura por este tipo de casas para primeira habitação, sobretudo por parte de estrangeiros que decidiram vir viver para Portugal. “São sistemas de construção, normais nos seus países de origem, aos quais já estão habituados. Além disso, como não são residentes, faz todo o sentido terem apenas um único interlocutor em todo o processo de conceção e construção da casa”, afirma.
A interação do cliente com a Jular pode ser feita através de três modalidades. A primeira passa pela escolha de uma casa pelo catálogo da Jular, com várias opções de edifícios já concebidos. Outro método dá a opção do cliente construir a sua casa através da seleção de módulos predefinidos e, dessa forma, construir o lay-out pretendido. Por último, embora não seja tão procurado, a empresa ainda dá a opção dos seus clientes fazerem a casa de raiz à medida do que realmente pretendem.
Apesar da maior procura, as casas de madeira não são necessariamente mais baratas do que as de construção convencional. Hélder Santos admite que o preço por metro quadrado pode ficar cerca de 10% acima, mas alerta que, para que o saldo final fique bem feito, temos de levar em conta outros custos que, regra geral, não são contabilizados.
E dá exemplos: “A Comissão Europeia avalia o tempo de duração de um edifício convencional em 50 anos e um de madeira em 70 anos. Se formos fazer a amortização do investimento pelos anos de vida, a casa de madeira fica mais barata. Além disso, se um dia tivermos de destruir a casa para edificar outra, o processo de demolição da madeira não só é mais barato, como todo o material pode ser reciclado e gerar rendimento para o proprietário. E, como a madeira conserva melhor o calor, os custos energéticos futuros também serão mais baixos.”
Além das casas de madeira, a Jular desenvolve outras atividades relacionadas com este material. Um deles é a criação de estruturas para edifícios, sendo um dos melhores exemplos a pala em madeira do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em Lisboa, ou o Pavilhão Inovação da Feira Internacional de Lisboa.
“Gostamos de fazer esse tipo de trabalho, que implica alguma criatividade de engenharia. Um dos melhores exemplos foi a estrutura que desenvolvemos para a cimeira da NATO, entre a FIL e o Pavilhão Atlântico. Foi pensada para ser montada em três semanas e desmontada em duas. A solução foi idealizada para que os painéis fossem facilmente desmontados para serem usados noutras obras”, explica.
Outra das áreas de atividade importantes da empresa são as madeiras decorativas, como os pavimentos, decks, revestimentos de fachadas, entre outros. Mais recentemente, começaram um projeto de aproveitamento das madeiras antigas retiradas dos edifícios que estão a ser remodelados na Baixa de Lisboa.
Apesar do crescimento da procura por este tipo de casas, ainda existem algumas dúvidas sobre a sua durabilidade e fiabilidade por parte da população. Hélder Santos responde que basta olhar para o exemplo de alguns dos países mais desenvolvidos do mundo, que ainda hoje usam a madeira na construção, como é o caso do Canadá, da Suíça, Japão ou da Escandinávia.
E se dúvidas existirem, o edifício mais antigo do mundo ainda em utilização, o templo Horyu-ji, no Japão, tem mais de 1 400 anos e é feito todo em madeira, e uma boa parte dela ainda é a original.
Artigo publicado na EXAME nº 487 de janeiro de 2025
De acordo com o novo relatório “Liberdade no Mundo 2025: A Batalha Difícil para Salvaguarda os Direitos”, divulgado esta quarta-feira pela Freedom in the World, a liberdade mundial está em declínio pelo 19.º ano consecutivo. “A liberdade global sofreu outro golpe durante um ano repleto de eleições em todas as regiões”, referiu Gerardo Berthin, copresidente da Freedom House.
O estudo revela que, dos 66 países e territórios que realizaram eleições nacionais em 2024, cerca de 40% apresentaram violência relacionada com os processos eleitorais. “Os candidatos foram atacados em pelo menos 20 países, enquanto os locais de votação foram atacados em pelo menos 14”, pode ler-se.
Os investigadores da Freedom House consideraram ainda que as guerras civis e os conflitos mundiais que existem atualmente, impediram também o exercício dos direitos fundamentais, tornando o mundo menos seguro e menos livre em 2024.
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O relatório sugere ainda que cerca de 20% da população mundial vive em países classificados como “livres” e 40% em países “não livres”.
Em 2024 apenas 34 países alcançaram melhorias, incluindo a Síria – +4 pontos – que registou melhorias na segurança física, liberdade de movimento e liberdade de reunião após a queda do regime de Bashar-al-Assad. Também o Bangladesh (+5), Butão (+5) e o Sri Lanka (+4) estão entre os países que registaram um maior aumento e melhores pontuações gerais.
Já países como o Kuwait (-7), Tunísia (-7), El Salvador (-6) e Haiti (-6) registaram os maiores declínios e piores pontuações gerais.
“A liberdade global enfrenta sérios desafios em 2025, incluindo ameaças à segurança decorrentes de múltiplos conflitos armados, o aprofundamento da repressão em autocracias emergentes e líderes democraticamente eleitos que procuram avançar com os seus objectivos ignorando os controlos institucionais sobre o seu poder. É do interesse vital de todos aqueles que acreditam na democracia investir em instituições democráticas, denunciar os ataques aos direitos no estrangeiro, trabalhar em conjunto para promover uma paz duradoura e apoiar os defensores dos direitos humanos onde quer que atuem”, lê-se.
Avolumam-se os sintomas de que a nossa sociedade – a portuguesa – está cada vez mais anémica de valores civilizacionais básicos, a começar pela decência. No passado mês de janeiro, por exemplo, imagens amplamente partilhadas nas redes sociais e em espaços informativos mostraram, numa escola da Moita, durante a hora de almoço, um aluno mais velho a agredir um colega mais novo, este diagnosticado com perturbação do espectro do autismo. O bárbaro ato foi captado em vídeo por outros estudantes, que não intervieram para travar o agressor e auxiliar a vítima. Muito pelo contrário: riam-se à gargalhada com o que estavam a ver. O agressor foi suspenso temporariamente da escola e enfrenta um processo disciplinar – provavelmente, duas medalhas que agora traz com orgulho ao peito. Quanto aos que assistiam e se riam, até se pode trazer aqui à colação que apenas mimetizaram os adultos que, em acidentes de viação ou confrontos entre claques de futebol, por exemplo, sacam logo dos seus telemóveis para filmar, em vez de ajudar ou intervir. Mas prevalece sempre a perplexidade e a indignação, que o escritor Luís Osório expôs assim num seu Postal do Dia, na Antena 1: “Que mundo é o que vimos no recreio daquela escola na Moita? Quem é aquele miúdo que espanca um colega autista? Que o humilha? Quem são os que gravam as imagens nos seus telemóveis? Os que riem alarvemente enquanto rodeiam o que é agredido numa arena de animais selvagens? O que esperar de todos eles no futuro? O que raio serão dentro de uns anos? Há alguma razão objetiva para esperarmos uma redenção? Um volte-face? O ganho de uma consciência? Uma luz que lhes rebente a negritude?” Como qualquer pessoa decente, Luís Osório perguntou e perguntou-se.
A vida de árbitro de futebol não é fácil. Mesmo quando consegue realizar uma partida perfeita, sem erros em lances capitais do jogo, há sempre quem não fique contente com o resultado e consiga encontrar no homem do apito o responsável pelos desaires da sua equipa ou um excelente bode expiatório para os seus próprios erros. É possivelmente por isso que são muito poucos os árbitros que conseguiram ter uma carreira de destaque no futebol após abandonarem os relvados. Mas há exceções e uma delas é Pedro Proença, que, na segunda-feira, 24, tomou posse como presidente da Federação Portuguesa de Futebol, uma semana depois de ter sido eleito para o cargo com uma expressiva votação que atingiu os 75%. Depois de quase duas décadas a arbitrar e de mais uma a presidir a Liga Portugal, que reúne os clubes de futebol profissionais, Proença chega, com 54 anos, ao posto mais alto do desporto-rei nacional, num trajeto verdadeiramente meteórico, durante o qual tem conseguido ser quase sempre consensual e raramente encontrou verdadeira oposição.
Glória e dor
Pedro Proença de Oliveira Alves Garcia nasceu a 3 de novembro de 1970, em Lisboa. Inscrito na Associação de Futebol da capital, enveredou cedo pela carreira de árbitro, chegando à primeira categoria em 1998. Cinco anos depois, chegou a internacional. Até 2015, data em que abandonou a arbitragem, apitou 480 partidas, a maioria na primeira (178) e na segunda (117) ligas. O ponto mais alto da sua passagem pelo futebol foi o ano 2012, em que lhe coube arbitrar as finais da Liga dos Campeões, entre o Chelsea e o Bayern Munique, e do Campeonato da Europa, entre Espanha e Itália. Nessa temporada, foi eleito pela Federação Internacional de História e Estatísticas de Futebol o melhor árbitro do mundo. Uma honra para qualquer homem do apito, mas sobretudo para este que, ainda um ano antes, terá vivido o pior momento da sua carreira, quando foi alvo de uma agressão à cabeçada num centro comercial de Lisboa. O adepto do Benfica (clube que, curiosamente, Pedro Proença nunca escondeu ser o da sua simpatia), responsável pela ação violenta de que resultou a perda de dois dentes, acabaria, em 2014, condenado a um ano e meio de prisão com pena suspensa.
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Alma de gestor
Formado em Gestão de Empresas e tendo por profissão a de diretor financeiro, o árbitro lisboeta não demorou muito tempo a encontrar um desafio após ter pendurado o apito, em janeiro de 2015. Meio ano depois, em finais de julho, venceu as eleições para a presidência da Liga Portugal, somando mais votos do que Luís Duque. Daí para a frente, nos mandatos que se seguiram, foi vencendo sempre sem oposição, sinal de que a maioria dos clubes profissionais estava contente com a sua atuação. É certo que nunca conseguiu atingir dois dos seus principais objetivos, que eram a internacionalização da Liga portuguesa e a pacificação das relações entre os principais clubes do futebol nacional, que continuaram às turras e a trocar acusações. Ainda assim, é assinalável que tenha sobrevivido dez anos à frente de um organismo em que se degladiaram, à vez, Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, Bruno de Carvalho, Frederico Varandas e Rui Costa. Deixou, sobretudo, como principais legados a inauguração, em 2024, da nova e moderna sede da Liga Portugal, no Porto, e a introdução do formato de Final Four na Taça da Liga, que reúne normalmente os três grandes numa minicompetição em janeiro.
Novo desafio, novo triunfo
Perante a inevitável saída de Fernando Gomes da presidência da Federação Portuguesa de Futebol por ter completado o terceiro mandato, Pedro Proença não hesitou e avançou, determinado, para a sucessão do grande responsável pelo sucesso desportivo e financeiro do organismo máximo do futebol nacional. Proença não consegue garantir que se repitam os títulos conquistados no Euro2016 e na Liga das Nações, nem as vitórias das seleções de futsal e de futebol de praia. Promete, isso sim, criar novas fontes de receita, nomeadamente com a (será que é desta?) internacionalização do futebol português e a hipótese de levar a final da Supertaça para as arábias. Compromete-se, também, a lutar para que o Governo aceite aplicar verbas do PRR na construção de infraestruturas, sobretudo para acomodar mais campos de treino para o futebol feminino, e baixar o IVA dos bilhetes. Traçou, finalmente, como desígnio “unir o futebol português”. Talvez a sua mais difícil tarefa, a avaliar pelas constantes e repetidas trocas de acusações entre dirigentes e estruturas de comunicação, sobretudo dos chamados três grandes. Ainda assim, não deixou de ser curioso assistir à amena cavaqueira entre os presidentes Rui Costa e Frederico Varandas na tomada de posse de Pedro Proença. Uma galhofa pegada que se seguiu ao simbólico momento de união de Benfica e Sporting, juntos na completa abstração relativamente à morte recente de Jorge Nuno Pinto da Costa.
Sempre a subir
Árbitro Foi árbitro entre 1998 e 2015, tendo apitado 480 jogos. Em 2012, foi considerado o melhor árbitro do mundo pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol. Nesse ano, apitou as finais da Liga dos Campeões e do Europeu.
Liga de Clubes Foi eleito presidente da Liga Portugal em 2015, sendo posteriormente reeleito em 2019 e, de forma unânime, em junho de 2023
European Leagues Em novembro de 2023 assumiu a presidência da European Leagues e em fevereiro de 2024, por inerência, foi ratificado como membro do Comité Executivo da UEFA
É CEO do Grupo Evolutio em Portugal desde maio de 2023 e da Warpcom desde 2024. Que balanço faz deste período?
O balanço é bastante positivo. Ao longo do tempo construímos uma base sólida, conseguimos incorporar novas capacidades e ajustar a empresa de forma a manter o seu crescimento, focando-nos na melhoria contínua do serviço prestado aos nossos clientes. Portugal é um mercado prioritário e estratégico para o Grupo Evolutio, e a Warpcom é um ativo crucial na concretização desta visão.
A Warpcom tem reforçado a sua liderança nas áreas de cibersegurança, cloud, networking e experiência digital e feito um forte investimento no sentido de entregar serviços especializados e soluções inovadoras aos nossos clientes. O nosso foco é, de facto, continuar a escalar este sucesso, mantendo a aposta em serviços diferenciadores como o MXDR (Managed Extended Detection and Response), e na dedicação das nossas equipas locais, que asseguram a proximidade necessária para preparar os clientes para os desafios atuais e futuros. Esta combinação de know-how, experiência, inovação tecnológica, proximidade e confiança dos nossos clientes, coloca-nos numa posição ímpar.
Quando tomou posse disse que se manteriam atentos a operações de crescimento inorgânico. Neste âmbito, está prevista alguma operação para breve?
Mantemos o compromisso de explorar oportunidades de crescimento inorgânico que fortaleçam a nossa oferta e posição no mercado. Estamos atentos a potenciais aquisições que adicionem valor, seja pela expansão de competências ou acesso a novos mercados.
Angel Mateos Aguado, CEO Warpcom
Acreditamos que ter uma cultura de inovação, onde incentivamos a formação dos nossos colaboradores e, paralelamente, nos desenvolvemos em conjunto com os nossos parceiros, permite mantermo-nos na vanguarda da inovação
Em 2024, a Warpcom registou um volume de negócios de 52,9milhões de euros. Que factores permitiram este crescimento de 20,2% face ao ano anterior?
Apesar dos desafios impostos pela incerteza geopolítica internacional e o impacto da inflação nas decisões de investimento dos nossos clientes, conseguimos manter uma trajetória de crescimento graças à combinação de alguns fatores. Em primeiro lugar, a nossa equipa demonstrou uma dedicação incansável e uma capacidade de adaptação excecional, garantindo a excelência na entrega dos nossos serviços e projetos. Em segundo, a confiança contínua dos nossos clientes foi decisiva. A Warpcom foi capaz de conquistar novos projetos de grande impacto, especialmente em setores estratégicos como a Administração Pública, o setor Financeiro, Indústria e Utilities. Esta confiança reflete a qualidade das nossas soluções e o nosso foco em oferecer serviços de alto valor. Por último, a captação de novos clientes também foi um fator determinante ao permitir-nos diversificar a base de clientes existentes e aumentar a presença em áreas de grande relevância para o futuro.
Estes fatores permitiram-nos manter o crescimento expressivo em 2024, que se materializou num volume de negócios de 52,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 20,2% face a 2023.
Com quantos colaboradores contam atualmente em Portugal e em que áreas?
Atualmente, a Warpcom conta com cerca de 150 colaboradores distribuídos pelos escritórios em Lisboa, Porto, Funchal e Madrid. A nossa equipa está organizada em torno de várias áreas estratégicas, com destaque para Cibersegurança, Networking & Infrastructure, Data Center & Cloud, Digital Experience e Serviços (Consultoria Tecnológica, IT Operations, NOC, SOC e Serviços de Suporte).
Qual a importância do programa Warp Trainee, que estrearam este ano? Irá manter-se nos próximos anos?
O programa Warp Trainee tem um papel central na nossa estratégia de atrair e desenvolver os melhores talentos na área das tecnologias. Este programa não só proporciona aos estagiários uma formação técnica sólida, como também promove o desenvolvimento de competências interpessoais que consideramos fundamentais para o sucesso de cada colaborador, e da empresa como um todo. Acreditamos que a inovação e o futuro da nossa empresa passam pelo investimento nas pessoas, e no seu desenvolvimento profissional. O Warp Trainee é um reflexo desse compromisso.
Através deste programa, fomentamos a inovação e proporcionamos uma melhor integração dos trainees na nossa cultura organizacional, o que é crucial para garantir que os novos talentos estão alinhados com os nossos valores e objetivos de longo prazo. Investimos significativamente neste programa porque acreditamos muito no seu potencial transformador.
Quanto à sua continuidade, o nosso plano é mantê-lo nos próximos anos, já que vemos nele uma ferramenta essencial para fortalecer a nossa equipa com novas ideias, perspetivas e, claro, para garantir que retemos os melhores talentos do mercado. Este mês (fevereiro) vamos lançar a primeira edição do Warp Trainee, dando as boas-vindas a cerca de dez jovens talentos para integrarem a empresa e desenvolverem competências em áreas estratégicas do setor tecnológico.
Vamos continuar a evoluir como um parceiro de confiança para as organizações que procuram inovar com segurança e resiliência no seu percurso de transformação digital
A inovação constante é um marco no mercado das TIC. Qual o segredo da Warpcom para se manter a par das tecnologias mais recentes?
Acreditamos que ter uma cultura de inovação, onde incentivamos a formação dos nossos colaboradores e, paralelamente, nos desenvolvemos em conjunto com os nossos parceiros, permite mantermo-nos na vanguarda da inovação. Só com este mindset conseguimos antecipar tendências e necessidades do mercado.
No entanto, não nos podemos cingir a acompanhar as tecnologias emergentes, temos de nos questionar constantemente como é que estas podem ser aplicadas de forma a criarmos soluções inovadoras que tragam verdadeiro valor acrescentado para os nossos clientes. Por isso, há que manter uma colaboração estratégica tanto com os nossos parceiros como com os nossos clientes. Só tendo uma abordagem colaborativa nestas duas frentes, conseguimos identificar oportunidades de inovação e de negócio. Esses fatores juntos garantem que a Warpcom não permaneça apenas relevante, mas também se posicione como um líder no mercado de TIC.
O foco na sustentabilidade tem sido uma marca no percurso da empresa. Que iniciativas estão em curso neste âmbito?
O foco na sustentabilidade reflete o nosso compromisso em conciliar crescimento económico com responsabilidade social e ambiental. Na Warpcom as preocupações com a sustentabilidade existem desde a génese da empresa e têm vindo a crescer, ocupando um lugar cada vez mais de destaque no dia a dia da nossa organização. Temos diversas práticas implementadas há muitos anos e procuramos diariamente envolver os colaboradores numa cultura ética e responsável em relação à proteção do planeta, de forma a despertar uma maior consciência sobre o impacto que cada um de nós pode ter no mundo.
Além disso, fazemos uma seleção muito criteriosa de fornecedores para que que sejam comprometidos com práticas sustentáveis, medimos e monitorizamos indicadores como emissões de CO2, consumo de energia e uso de água, mantemos uma aposta forte na mobilidade sustentável na tentativa de reduzir significativamente a nossa pegada de carbono e temos procurado realizar atividades que visam a preservação da natureza e dos ecossistemas. Estamos sempre à procura de novas formas de integrar práticas sustentáveis no nosso dia a dia, incentivando os nossos colaboradores a tornarem-se embaixadores da sustentabilidade tanto dentro quanto fora da empresa.
Quais as tendências do mercado das TIC que antevê para 2025?
Na minha opinião, o mercado das TIC em 2025 vai ser pontuado por três fatores principais: cibersegurança, inteligência artificial e o aumento da regulamentação. Com a digitalização das organizações e o valor crescente dos dados, a cibersegurança deixará obrigatoriamente de ser secundária para se tornar numa prioridade essencial. No caso da IA, esta tecnologia já desempenha um papel crucial na proteção cibernética, mas com ferramentas de machine learning, será possível identificar padrões suspeitos e prevenir ataques em tempo real, tornando a defesa mais preparada e proativa. Por fim, a implementação da NIS2 trará novas exigências para diversos setores. Mesmo empresas fora do alcance direto da Diretiva vão sentir a pressão, com a conformidade a estender-se a toda a cadeia de fornecimento.
Que novidades trará o próximo ano para a Warpcom?
Vamos continuar a evoluir como um parceiro de confiança para as organizações que procuram inovar com segurança e resiliência no seu percurso de transformação digital. A nossa estratégia está focada na oferta de serviços geridos onde pretendemos reforçar a nossa posição como Trusted Partner no mercado, para isso vamos continuar a desenvolver novas capacidades em áreas como a Cibersegurança, DC & Cloud, Digital Experience e Inteligência Artificial, para que possamos expandir ainda mais a nossa oferta de serviços.
Com o avanço da regulamentação, como a NIS 2, as empresas vão precisar de apoio especializado para garantirem conformidade e proteção, nesse sentido a cibersegurança será um dos pilares centrais da nossa abordagem, com o fortalecimento dos nossos serviços MXDR e soluções avançadas de deteção e resposta a ameaças e, é precisamente aí, que pretendemos fazer a diferença.