De facto, a Comissão de Estudo sobre o Diaconado Feminino sugeriu agora ao Papa Leão XIV a não-aceitação da ordenação de mulheres como diáconos.
O documento faz o ponto da situação, de acordo com o jornal digital 7 Margens: “considerado nas suas implicações mútuas, exclui a possibilidade de prosseguir na direção da admissão de mulheres ao diaconado entendido como grau do sacramento da ordem.”
Mas, nessa comunicação, o cardeal Giuseppe Petrocchi e o bispo Denis Dupont-Fauville, respetivamente presidente e secretário da Comissão de Estudo, ensaiam mesmo o que parece uma argumentação cínica. Ou seja, dizem que “à luz da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério eclesiástico” as mulheres não podem ascender ao diaconato, mas, ainda não se pode concluir por um julgamento definitivo ‘como no caso da ordenação sacerdotal”.
A proposta da comissão, que parte supostamente dum conjunto de numerosas contribuições solicitadas e recebidas, depois da Assembleia do Sínodo dos Bispos em outubro de 2024, deu agora origem a uma proposta absolutamente incompreensível. Veja-se este trecho em particular: “A masculinidade de Cristo, e portanto a masculinidade daqueles que recebem as Ordens Sacras, não é acidental, mas parte integrante da identidade sacramental, preservando a ordem divina da salvação em Cristo. Alterar essa realidade não seria um simples ajuste do ministério, mas uma rutura do significado nupcial da salvação.”
Por conseguinte, o que a comissão faz é associar o género à economia da salvação, excluindo assim por essa via a maioria dos fiéis, isto é as mulheres. Mais. Inventa o conceito de “identidade sacramental” para as excluir, na linha do pensamento medieval.
O que se sugere é que a igreja católica é estrutural e exclusivamente masculina, a partir duma tradição que persiste em desprezar a cultura e a própria realidade das comunidades. Assim, lançam-se ao lixo um conjunto de factos para insistir numa dada interpretação da história da fé.
Desde logo porque foi uma mulher que trouxe ao mundo Jesus, o Salvador, e os evangelhos relatam a existência de inúmeras mulheres discípulas do Mestre Jesus durante o seu ministério público. Foram elas as primeiras testemunhas da ressurreição. No dia de Pentecostes, as mulheres estavam congregadas com os homens em oração no Cenáculo, onde foram cheias do Espírito Santo, sem qualquer discriminação.
S. Paulo tinha inúmeras colaboradoras mulheres, inclusive no apostolado. A primeira pessoa convertida à fé em Cristo na Europa foi uma mulher. O baptismo, como rito iniciático cristão é igual para homens e mulheres. E o apóstolo diz de forma clara e explícita que em Cristo foi derrubada a barreira cultural de género, tal como as barreiras religiosas e sociais: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:26-28).
Escrevendo às comunidades cristãs da Galácia, o apóstolo sublinha, a traço forte, o facto de o ato do batismo colocar em pé de igualdade (em termos de dignidade e posição espiritual), homens e mulheres, mas também afirma expressamente que para Deus não há qualquer distinção entre eles.
É lamentável que as questões meramente culturais ainda se sobreponham às espirituais e, sobretudo, à autoridade das Escrituras. O movimento We Are Church International respondeu assim: “Em 1975, a Pontifícia Comissão Bíblica sobre a Ordenação de Mulheres confirmou que não havia nada nos Evangelhos que excluísse as mulheres da ordenação. E em 26 de outubro de 2025, o Papa Leão XIV confirmou que a inclusão das mulheres era uma questão cultural. Como tal, deveria ser incluída no processo sinodal. Apelamos ao Papa Leão XIV para que promova a ordenação de mulheres, pois é um escândalo para a nossa Igreja tratar as mulheres como inferiores e subordinadas aos homens.”
O diácono católico Joaquim Armindo afirma no 7 Margens: “A Igreja Católica tão lesta na defesa dos direitos humanos, deveria escutar a voz daqueles que são subordinados por uma questão de género, será este desrespeito pela dignidade do ser humano uma contradição da Igreja Católica sobre os pobres e oprimidos, figurando-se como claríssima opressão a questão da ordenação feminina, é uma opressão e violação do Evangelho.”
Afinal, quem tem medo das mulheres?
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