No dia seguinte às primárias republicanas terem oficializado o fim do partido de Lincoln e Reagan e o renascimento de um outro baseado exclusivamente num culto da loucura trumpista, Joe Biden dirigiu-se ao Congresso e ao país, num grande discurso de arranque da campanha presidencial.
Um ponto prévio às suas propostas políticas passa por assumir que é praticamente impossível destruir a cegueira do culto, base sempre mobilizada, mas apesar de tudo curta para garantir a vitória de Trump em novembro ou maiorias republicanas nas duas câmaras. De facto, pondo tudo em perspetiva, Trump venceu graças ao efeito surpresa de 2016, e mesmo assim apenas no colégio eleitoral, não no voto popular. Nas intercalares de 2018, perdeu a maioria na câmara baixa; nas presidenciais de 2020 foi derrotado, com os democratas ganhando a maioria nas duas câmaras; e, em 2022, os republicanos recuperaram a câmara baixa, por uma curta margem, mas não o Senado, frustrando as elevadas expetativas de punição ao mandato de Biden, sempre com popularidade baixa e alvo de uma cruzada de ilegitimidade eleitoral por parte dessa mobilizada falange trumpista. Significa isto que há margem para Trump ser derrotado, se a estratégia não incidir na caricatura daqueles que seguem o culto, que não desmobilizará nem votará democrata, mas numa frente de democratas, republicanos e independentes, os primeiros com provas dadas anti-Trump, os segundos embaraçados com o triste rumo do partido republicano e os terceiros menos arregimentáveis, mas suscetíveis de alinhar com algumas posições de Biden. Estão neste grupo sobretudo mulheres e jovens, essenciais em 2020 e novamente em 2024. Foi para eles que parte do discurso do Estado da união se dirigiu.