Três meses passaram desde o terrível ataque terrorista do Hamas em Israel. Três meses passaram desde o início da retaliação maciça de Israel a Gaza. Dois acontecimentos marcados pelo horror contra civis, pela violência dos meios empregues, e pela distinta natureza do uso da força. Pede-se a um Estado que a use como último recurso, num quadro de legítima defesa, proporção de meios e distinção de alvos; não se pede a um grupo terrorista que siga qualquer critério que, apesar de tudo, regula a guerra e os seus inomináveis efeitos. Há, por isso, uma legítima expectativa sobre as partes: que se pautem por padrões diferentes, tendo em conta a sua natureza, exigindo sempre muito mais a um Estado, ainda para mais democrático, do que a um grupo terrorista, por mais força política que possa ter. É sobre este plano que, na minha leitura, a evolução da complexidade histórica e identitária deste conflito específico também deve assentar.
Posto isto, que leituras podemos retirar deste último trimestre. A primeira é que a capacidade militar do Hamas e a resistência da sua marca política, postas em prática antes e depois do ataque de 7 de outubro, são mais fortes do que se imaginava. Foram apetrechadas do exterior, nos últimos anos, pelo Irão e pelos circuitos que alimentaram financeiramente o grupo, beneficiando de autênticos salvos-condutos à sua cúpula dirigente nos vários países da região ou em praças financeiras ocidentais, alvos de sanções apressadas nas últimas semanas, revelador da total negligência com que se olhou para o problema. E foram ainda protegidas pela logística dos túneis, dando condições para uma certa fabricação militar endógena, que, mesmo tendo alguma monitorização tecnológica israelita, tem funcionado como defesa e operacionalização para ataques.