As notícias sobre a morte do trumpismo são manifestamente exageradas. Na essência, essa degenerescência do republicanismo permanece forte, mobilizada e dispersa territorialmente. Veicula o negacionismo da eleição de Joe Biden, a fraude em qualquer votação onde saiam derrotados, a violência verbal contra adversários, a teoria da substituição do homem branco, o fascínio pelo autoritarismo, a intromissão das Forças Armadas no processo político, a mistura apoteótica entre fanatismo religioso e políticas públicas, e a recusa do primado científico na saúde pública ou nas alterações climáticas. Sem surpresa, qualquer semelhança com o bolsonarismo não é pura coincidência. Continuam a votar nesta mundivisão milhões de norte-americanos, os quais, por razões conjunturais, não têm sido suficientes para alcançar vitórias hegemónicas, desde a surpreendente eleição de 2016. Tal não significa que, por não terem protagonizado uma “onda vermelha” nas intercalares para o Congresso, não continuem a ser um perigo para a democracia norte-americana, bastante competitivos eleitoralmente e inspiradores de movimentos fora dos EUA.
Desde a eleição de Donald Trump em 2016, os republicanos capturados pela sua figura perderam a Câmara dos Representantes em 2018 (mantendo o Senado), a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso em 2020, sem recuperarem o Senado em 2022. Na melhor das hipóteses, as projeções dão-lhes uma curta maioria na câmara baixa. Diz-nos a tradição que das trinta e nove eleições intercalares, desde o final da guerra civil, o partido do Presidente em exercício perdeu terreno em trinta e seis. Ora, o ressurgimento mediático de Trump não reforçou a tradição, nem parece ter beneficiado uma dinâmica avassaladora, expectável por quase todos. Apesar disto, Trump teve em 2020 mais doze milhões de votos do que em 2016, sobreviveu a dois impeachments e, até ver, à investigação sobre a incitação a um golpe de Estado. Alguém que continua a movimentar-se na política norte-americana como vimos nesta campanha, está longe de estar morto politicamente.