António, responsável por um determinado setor de um serviço público numa pequena cidade do nosso país, andava há meses à espera que um serviço específico da Câmara Municipal lhe resolvesse um problema relacionado com o saneamento do edifício onde funcionava o setor pelo qual era responsável.
Sempre que telefonava para a Câmara Municipal referiam-lhe que os Colaboradores que tinham essa função estavam muito ocupados e que logo que possível tentariam solucionar o problema.
A determinada altura, em conversa sobre o assunto com os serviços de manutenção do seu setor, decidiram comprar um produto para aplicar nas caixas de saneamento e assim tentarem solucionar o problema. Logo que o produto chegou, o António fez questão de ler as instruções de aplicação do mesmo e em conjunto com um Colaborador da manutenção procedeu à sua aplicação. Por qualquer motivo, ao aplicarem o produto deu-se uma qualquer reação química que projetou parte do mesmo para o corpo do António, queimando-lhe a roupa e pequenas partes do corpo, o que implicou uma ida de imediato às urgências do Hospital. Felizmente os danos ficaram-se apenas pelas roupas e pouco mais.
Tempos mais tarde, o António encontrou-se com um seu amigo – o Francisco – a quem contou toda a história. O Francisco disse-lhe que esses Colaboradores da Câmara Municipal só passariam no serviço dele a resolver o problema se lhe desse uma “lubrificadela”, ou seja, lhe pagasse “por fora” um determinado montante. O António não queria acreditar no que estava a ouvir e exaltado referiu – Então esses Colaboradores da Câmara Municipal não recebem o vencimento deles para fazerem esse mesmo serviço? O Francisco assentiu e acrescentou – E como deves calcular não têm muito que fazer dado que esses serviços são pontuais. Mas ficas a saber que se queres resolver o problema tens que lhes pagar “por fora”. Quando precisares, eu tenho o contacto de um indivíduo e é só dar-lhe uma apitadela.
O António recusou sempre ter de pagar “por fora” aos Colaboradores da Câmara Municipal para resolver o problema. Contudo, um dia de inverno quando chegou ao serviço pela manhã, o edifício estava inundado e não era possível trabalhar sem resolver o problema. Contactou imediatamente os serviços da Câmara Municipal, mas a resposta foi parecida com as anteriores: – Temos muito trabalho hoje, mas vamos aí logo que possível. Desesperado, ligou ao Francisco a pedir-lhe que entrasse em contacto com o tal indivíduo que em tempos lhe falara. Poucos minutos depois era o Francisco que lhe ligava de volta a perguntar-lhe: – Podes pagar 50€ a cada um de três Colaboradores da Câmara Municipal? Ao que o António respondeu: – Como não tenho outra alternativa terei de aceitar. O Francisco disse-lhe: – Muito bem! Aguarda cerca de trinta minutos que os Homens já passam por aí. Tem o dinheiro preparado para o entregares a um deles logo que cheguem e nada de reclamações. Entendido? – Sim, entendido!
Os Colaboradores da Câmara apareceram antes de decorridos trinta minutos, receberam o dinheiro conforme combinado e realizaram o serviço de desentupimento do saneamento em pouco mais de uma hora.
Ao passo que uns são bons servidores e zeladores do serviço público prestado por entidades públicas, outros há que contribuem para a prestação de um mau serviço público e para a sua destruição.