Lula da Silva recuperou o slogan “paz e amor”, e apresentou-se como pomba da paz para tentar ajudar a uma pacificação da guerra da Ucrânia. “Com declarações que replicam argumentário do Kremlin e o aproximam de Putin. Um embaraço para todos os democratas, às portas do 25 de Abril, data em que marcará presença na Assembleia da República”, arranca Mafalda Anjos no programa Olho Vivo desta semana.
Depois do Presidente da República ter anunciado a sua presença em Portugal na tomada de posse a 1 de janeiro, e depois de o ministro dos negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho ter anunciado, em Brasília, que discursaria no Parlamento, na sessão comemorativa do 25 de Abril, causando indignação da Assembleia, acordou-se que falaria na manhã, fora da sessão oficial. “Conseguiu-se uma solução diplomática para disfarçar o embaraço institucional, mas é uma solução para brasileiro ver. O problema mantém-se – o convite é um erro político crasso, porque Lula é uma figura divisiva e importa para Portugal um clima de trincheira que não é benéfico para o 25 de Abril – e agravou-se com as declarações recentes sobre a Guerra na Ucrânia”, explica a diretora da VISÃO.
“A paz que Lula da Silva defende é a ‘Pax Russa’. Tudo o que ele disse sobre a guerra na Ucrânia é o que temos ouvido ao PCP no último ano”, diz Filipe Luís. “O Brasil tem direito à sua própria política externa, que não tem de estar alinhada com a política externa portuguesa. Mas embora isso não deva afetar as relações entre os dois países, com certeza que as condiciona. Os valores subjacentes ao que Lula defende para resolver o conflito na Ucrânia são incompatíveis com um discurso na ‘Casa da Democracia’ portuguesa e logo no Dia da Liberdade…”, acrescenta o editor-executivo da VISÃO.
“As declarações de Lula estão erradas. Há um invasor e um invadido e só um país tem a sua integridade territorial violada. Elas são até incongruentes com as votações do Brasil nas Nações Unidas”, refere Nuno Aguiar. “Mas devem elas envenenar a diplomacia? Ainda recentemente, nas mesmas votações nas Nações Unidas, Angola e Moçambique abstiveram-se. O que devemos fazer?” “O pior deste caso é que, por mais um ano, o 25 de Abril vai ser contagiado por um debate que apenas causa divisões durante um momento do ano de união em torno dos ideais da Revolução”, conclui o jornalista da Exame e da VISÃO. “Alguns partidos têm tentado quebrar esse consenso e certos erros têm contribuído para isso.”
“O próprio presidente brasileiro devia ser protegido de situações como aquelas com que poderá ser confrontado, na Assembleia, por parte de alguns deputados, e estou a pensar no Chega. Pode haver cenas que deslustrem a forma como um convidado estrangeiro deve ser recebido – e ninguém pensou nisso. Wle, a seguir, sai da ‘taberna’ e voará para Madrid, onde almoçará, de candelabros na mesa, com os reis de Espanha…”, nota Filipe Luís.
Outro tema em análise no Olho vivo desta semana foi o anúncio de dois aumentos de pensões: um aumento extraordinário de 3,57% para todos os pensionistas já em julho; e outro para Janeiro de 2024, cumprindo-se assim a atualização que a lei previa.
“É incrível como debate está inquinado no tema dos pensionistas”, sublinha o jornalista Nuno Aguiar. “Assentada a poeira, o governo adiantou três meses o aumento de 2023 e seis meses o aumento de 2024. Provavelmente nenhum grupo recebeu mais apoios neste momento de inflação e, mesmo assim, o enquadramento é negativo.” “As pensões em Portugal são muito baixas, mas se a ideia é atuar sobre isso, há outros instrumentos, do CSI a transferências sociais, como tem sido feito com famílias carenciadas”, acrescenta.
“Se o aumento dos pensionistas tivesse uma motivação social, haveria formas de esse apoio ser prestado, dirigindo-o àqueles que têm as pensões mais baixas – e muitos têm ficado de fora dos programas de apoio às famílias mais vulneráveis. Mas a motivação não é social: é eleitoral”, diz Filipe Luís. “Os pensionistas não têm poder reivindicativo, nem podem fazer greve, mas têm um poder silencioso decisivo: o do voto. Votam muito, abstêm-se pouco e são numerosos. A medida anunciada por António Costa é a compra de uma apólice de seguro eleitoral para o PS.“
“Depois do Iva zero e da tributação dos lucros excessivos, é a terceira vez que o Governo vem desdizer o que andou meses a defender. Agora é legítimo que os portugueses se perguntem, afinal, se esta é uma medida racional em termos económicos ou se é apenas para fazer face às sondagens em queda. No passado sempre disse que a Segurança Social não suportaria, por causa de uma situação transitória, que o Estado assumisse um aumento permanente. O que mudou de forma permanente? Só há uma razão evidente: a base eleitoral do PS tem uma fatia importante de pensionistas e funcionários públicos”, sublinha Mafalda Anjos. “Para o Presidente da República, foi a segunda vitória da semana, depois do PSD ter demarcado a linha vermelha com o Chega”, destaca a diretora. “Estes eram dois temas em que exercia forte pressão”.
Debaixo de olho neste programa estiveram ainda as declarações na entrevista de Luís Montenegro, a recusa da entrega à Comissão Parlamentar de Inquérito dos pareceres jurídicos para a demissão da administração da TAP e o tema de capa da VISÃO sobre quem ganha com a inflação.
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