A Espanha é a minha aposta para ganhar o Euro. Pode parecer anti-patriótico, mas é apenas um palpite. E os palpites, como se sabe, não têm pátria. Bem sei que o meu palpite, a acontecer, significará duas coisas: uma, não será Portugal a ganhar; duas, os espanhóis vão empanturrar-se de tal maneira com a vitória que até vai parecer que a Península é toda deles. Mas como os palpites têm vida própria, não me confundam com eles. Eu não me responsabilizo pela irresponsabilidade dos meus palpites.
Mas porquê a Espanha?, perguntarão.
Eu explico.
Ao contrário da Holanda, que parece uma equipa de apetite voraz, atlética e mágica, mas está de tal maneira inchada que vai rebentar ao primeiro alfinete bem espetado, a Espanha tem as costuras todas à mostra: uma defesa de susto, um tipo de jogo que por vezes só funciona aos repelões, a sorte dos postes e dos minutos finais. A honestidade é uma vantagem. A Espanha jogará nos limites em todos os jogos, nem que tenha de perder os calções pelo caminho. E isso é quase uma garantia de vitória. Depois, tem Torres, o mais prático e elegante avançado do futebol mundial. Tem Villa, que deve fazer treinos a desmarcar-se dos colegas em cabines telefónicas. E tem Senna, o Paulo Assunção deles. A Holanda joga bem, mas à Néné: se acontece borrar os calções, está tudo estragado.
Bem sei que os holandeses são agora os favoritos. Despacharam a França e a Itália, sem estragar sequer a pintura. É claro que os árbitros deram um jeitinho nos dois jogos. Jeitinho, faz favor! Jeitinho é linguagem de “Apito Dourado”. No caso do “Euro”, os árbitros têm dado um jeitaço. Não se perdia nada se a PJ pusesse alguns sob escuta. Podemos vir a precisar. A julgar pela “fruta” que se vê nas bancadas, os homens do apito não devem andar mal servidos.
Era suposto falar aqui da Suécia. Que perdeu com a Espanha no último minuto. Os suecos, a jogar à bola, são como Ingmar Bergman: abundam as questões existenciais. A dada altura, os jogadores parece mesmo que se perguntam: “O que estamos aqui fazer, de onde viemos, para onde vamos?”. Ao contrário dos Abba, não deixarão saudades. A Espanha é, de facto, almodovariana: desespera e suplanta-se, ri e chora, transfigura-se, entra na farra e brinca com o seu próprio destino. O seu padrão é não ter um padrão. A Espanha é o elogio da loucura em campo. Dá para morrer ou para matar. Mas sempre em glória. Descalça, de saltos altos ou à beira de um ataque de nervos, a Espanha vai chegar à final e dizer: “Ata-me, a ver se eu deixo!”.