Nas últimas semanas têm sido notícia as ocupações de faculdades portuguesas por parte de estudantes em solidariedade com a Palestina. O movimento estudantil encontra-se vivo para denunciar o silêncio por parte das instituições de ensino superior quanto ao genocídio em curso na Palestina e ao regime de apartheid por parte do Estado Israelita.
Este é um movimento internacional de estudantes pela Palestina que ganha força em diferentes países do mundo, sendo o caso dos EUA, com enormes movimentações de denúncia do Estado sionista de Israel, assim como aqui ao lado, no Estado Espanhol, onde as estudantes fizeram com que todas as universidades públicas e privadas comunicassem que irão suspender acordos com faculdades e centros de investigação israelitas caso não exista um cessar-fogo imediato. Tal exemplo foi seguido por outros países e, em Portugal, o diretor da Faculdade de Belas Artes, ocupada no dia 13 de maio, subscreveu as reivindicações dos alunos na exigência de um cessar-fogo em Gaza, apoiando ainda a decisão do Tribunal Internacional no pedido mandato de captura para Netanyahu.
Desde a Universidade do Minho, Porto, Coimbra, Lisboa, as estudantes têm sido voz ativa em torno da luta pela Palestina, juntando não apenas colegas estudantes, como também professores, investigadores, diferentes movimentos sociais da sociedade civil. No caso da Universidade do Porto, a academia e centros de investigação têm ligações ao Estado de Israel, assim como a empresas israelitas, sendo o boicote e o fim das mesmas a grande reivindicação das e dos estudantes. Na Universidade do Minho o coletivo Academia pela Palestina Braga também tem trabalhado em torno destas questões, junto de estudantes internacionais, docentes e investigadores que se juntam para dinamizar ações que passam por protestos e greves estudantis à ocupação dos espaços da faculdade com referência às pessoas assassinadas pelo genocídio.
As ocupações têm sido espaços de aprendizagem, de luta e de cultura onde a Palestina é tema central, desde rodas de conversa sobre o porquê da importância do boicote académico até à história da Nakba como expressão mais violenta do projeto colonial israelita, à poesia Palestiniana, ocupamos os nossos espaços de ensino com as cores da Palestina. Com assembleias populares a cartas abertas às direções das faculdades, as exigências das estudantes passam pela tomada de decisão pública das Universidades e Faculdades em solidariedade com o povo palestiniano, o fim das relações e parcerias institucionais com empresas que lucram com o colonialismo israelita, o boicote académico, económico e cultural com Israel. Para além destas reivindicações, exigem ao Estado Português o reconhecimento do Estado da Palestina. O Estado Espanhol, a Irlanda e a Noruega já o reconheceram e estudantes por todo o mundo acampam pelo cessar-fogo. Ao Governo português perguntamos: está à espera do quê?
Também nesta última quarta-feira, tivemos a vigília semanal pela Palestina, tendo sido esta diferente das outras, uma vez os coletivos em solidariedade com a Palestina organizaram um protesto em frente ao Cinema S.Jorge em Lisboa contra um evento que celebrava o genocídio em Gaza. No passado dia 22 de maio o S.Jorge foi palco de um evento que comemorava o 76º aniversário da “independência” de Israel, promovido pela embaixada israelita, quando na realidade estes 76 anos representam a limpeza étnica da Palestina iniciada com a Nakba de 1948. Nas imagens referentes a este dia podemos encontrar rostos de jovens estudantes que têm estado presentes nas ocupações nas faculdades, fazendo de cordão entre as forças policiais e os manifestantes, mostrando como as estudantes são a vanguarda internacional da luta pela libertação da Palestina.
As estudantes continuarão a luta através de reivindicações e ações que seguem o exemplo dos movimentos estudantis por todo o mundo em solidariedade com o povo palestiniano, por uma Palestina livre desde o rio até ao mar.
Um dia voltaremos ao nosso bairro
e fruiremos das nossas mais doces esperanças
Voltaremos qualquer que seja o prazo
e as longas distâncias que nos separam
Portanto paciência, irmã, não te deixes vencer
no caminho do regresso pela lassidão
Que tormento seria se os pássaros esvoaçantes
partissem e nós por aqui ficássemos
(…)
Voltaremos: o rouxinol confidenciou-me
quando na curva do caminho o encontrei
que, além, todos os rouxinóis continuam
a alimentar-se com os nossos poemas
e que ainda resta, nas colinas da nostalgia
entre os seus habitantes, um lugar para nós
Ai coração, como os ventos dispersaram
Vem! Abalemos! Eis chegado o tempo do regresso!
– Haroun Hachim Rachid, Voltaremos Um Dia
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