Está por todo o lado: nas estradas, nos pequenos ecrãs nos nossos bolsos, nas televisões e até no exterior dos autocarros e dos táxis. A publicidade reveste todo o mundo em que vivemos desde que me lembro de nele viver. Quando estava na escola, os meus professores diziam que Nova Iorque era a cidade da “poluição visual”. Esqueçamos isso: o Ocidente é poluição visual.
Vivemos a época do stress, da pressa e do conteúdo digital — cada vez mais stress e cada vez mais pressa.
Vemos pessoas, de todas as idades, nos mais variados espaços, a deslizar sequências infinitas de vídeos verticais nos seus smartphones e feeds intermináveis. As salas de espera e os transportes públicos são hoje espaços de consumo de conteúdo digital. Já não é propriamente o ler “notícias” nem o “responder mensagens”: é uma corrida pelo consumo de informação. Nem sequer temos tempo de a digerir; muito pouco é realmente apreendido e muito menos questionado ou pensado. É o consumo pelo consumo, o “ver” por “ver”, o “ler” por “ler”.
A sociedade de consumo conseguiu transformar toda a nossa relação com a informação numa eterna ida a ver as montras — e está tudo em montras à nossa espera: nos feeds as notícias estão no seu sensacionalismo supremo, com títulos grandes e descrições breves e temos os vídeos curtíssimos de receitas, lifestyle ou opiniões políticas condensadas em todas as redes sociais. Alguns segundos passaram a ser o necessário para transmitir qualquer informação ou opinião, seja ela qual for. Vale tudo na corrida da comunicação.
A informação foi banalizada, condensada e esvaziada: parou de informar para servir apenas para consumo. Falamos de guerras e homicídios com a mesma banalidade que falamos de divórcios de celebridades em programas da manhã e banalizamos o ódio racista e xenófobo das forças da extrema direita como se tratasse da mais inofensiva preferência gastronómica.
Com o aproximar das legislativas, os debates televisivos têm por volta de 25 minutos. É suposto acreditarmos que esse é o tempo suficiente para se fazerem apresentações (por mais breves que sejam) concretas e estruturadas, de dois programas eleitorais, seguidas de uma discussão sobre o mesmo, de forma eficiente? Há mais tempo dedicado a comentadores políticos que debatem sobre os debates do que tempo de antena dedicado aos debates em si.
Ao mesmo passo que a minha geração é das mais bem qualificadas de sempre, também somos a primeira a nascer envolvida num ocidente digital. Somos uma geração frequentemente bombardeada por desinformação (um estudo da Comissão Europeia indica que 63% dos jovens europeus deparam-se com mais de uma notícia falsa por semana) e frequentemente desvalorizada na comunicação social. Apesar do problema da alienação devido à utilização de dispositivos eletrónicos ser um problema transversal, que afeta desde crianças em idade pré-escolar a pessoas de todas as idades, a ideia de que a geração Z é aquela que está completamente alienada, perdida e incapaz de socializar é frequentemente reproduzida nos media (apesar de alguns estudos mostrarem que é praticamente a única geração que em média não tem aumentado o seu tempo gasto nas redes sociais).
Estamos na época crucial para repensar a nossa relação com a informação e os meios de comunicação. Só tenho medo que seja uma corrida contra o tempo devido à ascensão da extrema direita.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.