Bem adivinhou o Presidente da República ao convocar eleições legislativas para esclarecer o quadro de governabilidade. Tudo como esperado — e tudo ao contrário. Inesperado.
O novo Governo da AD terá um apoio mais substancial no Parlamento, com ou sem a ajuda da IL, pela simples razão de ter subido quase 6% nos votos entre 2024 e 2025. Dito de outra forma: os eleitores punirão fortemente qualquer nova instabilidade governativa, e por aí estamos conversados.
Os resultados eleitorais revelam uma complexidade nas variações políticas: a AD cresceu essencialmente à custa dos «socialistas» do PSD — os “democratas de Reagan” — que mudam conforme os ventos, e, obviamente, também de eleitores da IL, que não cresceu como pretendia.
A confusão começa agora: o Chega teve uma subida espectacular à custa de votos do PSD e do PS, sendo que uns preencheram o vazio deixado pelos outros. Cada eleitor que mudava de partido era compensado por outro, vindo de banda oposta, e o resultado foi crescimento. O PS, diga-se, perderia sempre estas eleições, com Pedro Nuno Santos ou com qualquer outro secretário-geral socialista.
PNS apanhou com o cansaço dos eleitores à esquerda e ao centro, e não teve um resultado pior apenas porque conseguiu captar votos do Bloco, do PCP e do Livre. Esta esquerda precisa de se refazer urgentemente. Nenhum governo governa bem sem uma oposição forte, sensata e vigilante dos atos do Executivo.
Conclusão: todos sabíamos que a AD sairia vitoriosa, que Luís Montenegro receberia um voto de confiança dos portugueses, sendo popularmente indigitado para primeiro-ministro. Mas ninguém previa o vulcão de votos que caiu sobre o Chega. Hoje, Portugal tem três grandes partidos — e o Chega até pode vir a ser o segundo partido do sistema com os votos da imigração. As coisas são o que são.
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