Yalta. Crimeia. Ucrânia. Simbólico e penoso. Para os ucranianos.
A Cimeira de Yalta, quase no final da Segunda Guerra Mundial, reuniu Estaline, Roosevelt e Churchill para definir a repartição da Europa em zonas de influência. “Quero a Polónia”, dizia Estaline. “Então, a Grécia fica connosco”, replicava Churchill. “Vamos criar as Nações Unidas”, pedia Roosevelt, já no final da sua vida, sem forças para enfrentar Estaline e incapaz de dar a devida atenção aos avisos solenes do primeiro-ministro britânico.
Agora, são apenas dois: Putin e Trump. Cada um deles deseja imitar o homem que traçava linhas no mapa. Vão tratar de dividir os “territórios”. Não os da Rússia, claro, mas os da Ucrânia. A Crimeia nunca voltará, e o Donbass está fora de hipótese. NATO, nem pensar, talvez a União Europeia. A Yalta dos tempos modernos faz-se por telefone, entre as potências “vencedoras”. Uma que não venceu coisa nenhuma e a outra que acredita que tem Kiev no bolso.
Esta Yalta, tal como a histórica, é uma vergonha para o mundo democrático. Um autocrata que enviou dezenas de milhares de soldados russos para a morte e o outro, quase autocrata – ou a caminho da autocracia –, que não tem nenhum respeito pela Ucrânia, pelos seus 44 milhões de cidadãos, pelos mortos e feridos desta guerra. Trump não gosta de Zelensky – é um ódio visceral – e faz chantagem pura e dura para vergar os ucranianos: mais dinheiro e equipamento militares apenas se Kiev aceitar os termos de Putin. Que são, afinal, os de Trump. Um e outro falam a mesma linguagem, adoram as salas douradas, os visitantes vestidos a rigor e a divisão de “territórios”.
Trump para Putin: “Eu dou-te os territórios da Ucrânia, e tu aceitas que eu ocupe a Gronelândia. Eu faço de conta que fico irritado e ofendido, e tu fazes ameaças. Borrifamo-nos para Zelensky. Depois tratamos dos restos. Do que sobra para dividir.”
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.