Há um equívoco generalizado quando tentamos analisar Trump do ponto de vista político. Esse conceito simplesmente não existe na sua cabeça. Quando manifesta interesse pela Gronelândia (3,7 vezes maior do que a Península Ibérica) ou pensa na Faixa de Gaza (do tamanho do Concelho de Sintra), fá-lo como empreiteiro ou mestre de obras. Que vastidões geladas belas e promissoras do território autónomo da Dinamarca, e as maravilhosas praias e potenciais campos de golfe em Gaza.
É verdade que Gaza tem dois milhões de habitantes, o que não complica os seus planos de edificação. Já encontrou uma solução: deportá-los para países árabes. Pressionou a Jordânia, o Egito e, com toda a certeza, os países ricos do Golfo. Para ele, a população não é um problema. Prova disso é que a Gronelândia só tem 56 mil almas. Dois milhões ou 56 mil é tudo igual. Nada de política, nem de questões humanitárias, muito menos estratégicas. Trump não pensa assim. É urgente abandonarmos essa métrica.
O diretor do Politico.com, que não se assume como democrata nem republicano, publicou na semana passada um editorial fora do vulgar: considera que Trump poderá ser um dos melhores presidentes dos Estados Unidos. E apresenta razões para isso. Afinal, quem mais suportaria duas tentativas de destituição, processos judiciais contínuos, uma sentença, uma derrota eleitoral em 2020 e ainda assim regressar, de forma majestosa e poderosa, à Casa Branca? – perguntava o editor americano.
Trump não é político. Muito menos estratega. Jamais filósofo. Não tem amigos nem os deseja. Trump é um empreendedor pragmático, que apenas avalia o terreno, a quantidade de cimento, e o valor a gerar ou gerado: daí o interesse pelo Canal do Panamá.
Portugal deve acautelar-se rapidamente. Temos as regiões autónomas dos Açores e da Madeira que, a qualquer momento, poderão constar da lista de compras ou anexações do presidente americano.
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