A maioria esmagadora dos americanos, 70%, queria que Biden desistisse da corrida presidencial, e nesses estavam 65% dos democratas. O destino de Biden estava selado. Não havia volta a dar. Não há como rebobinar as suas condições físicas e mentais para enfrentar uma campanha que tem um ritmo alucinante, nem drogas que atenuem os lapsos cognitivos. «Desistir é do interesse do partido e do país», disse na sua carta de abandono da reeleição.
É tarde para os democratas. Muito tarde. A três meses das eleições não é só a Casa Branca que poderá estar perdida, mas também a maioria no Senado e menos lugares na Câmara dos Representantes. E também é tarde para quem vem a seguir, Kamala Harris. No discurso à Nação, esta semana, Biden tem de dar um empurrão forte à sua vice-presidente, ajudar na campanha, e pedir unidade no partido. Caberá agora a Kamala indicar um candidato a vice, e rezar para que os americanos lhe entreguem a Presidência.
O pior que poderia acontecer, agora, seria uma luta interna, tipo primárias que já passaram, ou uma Convenção com o voto em aberto, que desfocava o partido, perdendo-se em batalhas internas pelo poder. Biden fez o que já deveria ter feito, no ano passado, quando já eram visíveis para todos, nos EUA e no mundo, os sinais de agravamento das suas condições físicas e de percepção da realidade. A marcha parkinsónica não enganava ninguém, e muito menos os lapsos cognitivos. Agora recomeça tudo no Partido Democrata. Nunca tal tinha acontecido. A três meses e uns dias das eleições.