Não sei se o momento foi oportuno, e a circunstância certa, mas o que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse no Conselho de Segurança não é motivo para a fúria e o desatino israelita. Não foi a ONU que criou todo este drama e conflito.
Guterres condenou vigorosamente os atos de terror horríveis e sem precedentes do Hamas, no dia 7 de Outubro, vincando que nada (!) justificava o assassinato, o ataque e o rapto de civis. E acrescentou: «as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas». Até aqui nada disse Israel.
Mas quando Guterres decidiu lembrar a «ocupação sufocante» a que os palestinianos estão sujeitos há mais de 56 anos, saltou a raiva incontida das autoridades israelitas. Só faltaria dizer que Guterres é como Erdogan, que classifica o Hamas como um movimento de libertação!
Noutra altura seria um discurso normal para um secretário-geral da ONU, mas agora, sem o poder e a glória de outros tempos, com um Conselho de Segurança paralisado, e uma organização de Nações desavindas, qualquer avaliação histórica sensata e correta transforma-se em mais uma batalha verbal. Guterres já lamentou a interpretação errada das suas palavras, mas Telavive não abranda na sua exigência de demissão. Agora está tudo nas mãos de Biden. Só ele pode travar a raiva de Israel, ou tirar o tapete a Guterres.
À parte: há «Speaker», finalmente. Neste caos global, ter uma Câmara dos Representantes paralisada, e também o Senado, por efeito colateral, era colocar os EUA sem rumo, sem governo, e sem horizonte estratégico. Não basta ter um presidente e uma administração. Quem governa, mesmo, é o Congresso.
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